sexta-feira, 19 de agosto de 2011

RALI DOS SERTÕES 2011

            Termina hoje a maior prova do rali nacional, a edição 2011 do Rali dos Sertões, com a chegada prevista de todos os competidores remanescentes à Praia do Cumbuco, em Fortaleza, no Ceará. Depois de praticamente 10 dias de competição, desde a largada na cidade de Goiânia, no dia 9 deste mês, vamos ver quantos conseguirão chegar inteiros até a linha de chegada na capital cearense. Esta é a 19ª edição da prova, que teve sua primeira edição em 1993, e de lá para cá, consolidou-se e ganhou fama internacional. Pode-se dizer que, ao lado do Dacar, desde que o rali mais famoso do mundo passou a ser realizado na América do Sul recentemente, o Rali dos Sertões é a principal prova do gênero off-road do continente.
            Uma prova que, a exemplo do Dacar, já sofreu inúmeras mudanças de percurso em suas várias edições, e já teve até um trajeto bem mais longo do que o disputado atualmente. De 1993, ano de sua primeira realização, até 2001, o rali começava no Estado de São Paulo, terminando sempre em algum lugar do Nordeste. A partir do ano seguinte, e até hoje, a competição passou a ter a largada em Goiânia, sempre com destinos finais variando de acordo com os anos da competição. Na primeira realização, a largada foi dada em Campos do Jordão, na Serra da Mantiqueira, e os competidores foram encerrar a disputa em Natal, no Rio Grande do Norte, após mais de 3.500 quilômetros de percurso. Nos anos seguintes, a chegada final da competição terminava em Natal (1993, 1994, 1995, 1997, 1998, 2008, e 2009), Fortaleza (1996, 1999, 2000, 2001, 2002, 2004, e 2010), São Luís (2003), Porto Seguro (2006), e Salvador (2007). Em 2005, tivemos a única edição onde a prova começou e terminou na mesma cidade, Goiânia, após perambular pelos Estados de Goiás, Mato Grosso, Pará, e Tocantins.
            Em 1995, já em sua 3ª edição, a prova passou a ter reconhecimento da Federação Internacional de Motociclismo (FIM). A primeira edição da competição, em 1993, teve apenas 34 competidores, todos em motos. Em 95 houve a estréia dos carros 4x4, e pouco tempo depois, em 2000, os caminhões entraram na competição. Hoje, inclusive, o Rali dos Sertões conta como uma das etapas do Mundial Cross-Country da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) para carros e caminhões.
            Assim como o Dacar, o Rali dos Sertões é dividido em categorias: motos, caminhões, carros e quadriciclos. Houve mais de 60 times inscritos nas categorias carros e caminhões, enquanto nas motos e quadriciclos foram mais de 80 equipes, números bastante representativos da importância da competição. Até o fechamento desta coluna, a equipe formada pelos pilotos Edu Piano, Solon Mendes e Davi Fonseca liderava na categoria caminhões, com uma vantagem de quase 2 horas no acumulado de 8 estágios sobre o time de Rafael Martinez-Conde, José Papacena e Leandro Oliveira, ambos competindo com modelos da Ford. Na 3ª posição, o time de André Azevedo, Sidnei Broering e Ronaldo Pinto, competindo com um modelo Mercedes-Benz, já acumulava mais de 2 horas e meia de desvantagem. Os competidores dos caminhões, aliás, enfrentaram diversos percalços durante a competição, entre elas pontes quebradas e trilhas estreitas demais para seus possantes veículos. Na categoria quadriciclos, Tom Rosa liderava com mais de 3 horas e meia de vantagem para Leonardo Franco, na 2ª posição. Nas motos, o destaque internacional, com o francês Cyril Despres, tricampeão do Dacara, da equipe Red Bull KTM na dianteira com um vantagem apertadíssima de pouco menos de 2 minutos sobre o brasileiro Felipe Zanol, do time Gas Gas Brasil Moto Tour. Com quase 1 hora de desvantagem, o brasileiro Dário Júlio Souza tentava diminuir a distância na 3ª colocação. E nos carros, a dupla Guilherme Spinelli e Youssef Haddad, pilotando um Mitsubishi Lancer, comandava a competição com pouco mais de meia hora de vantagem sobre a dupla Paulo Nobre e Felipe Palmeiro, ao volante de um BMW X3.
            Como de costume, cada edição de um rali tem os seus acidentes, e o Rali dos Sertões 2011 já teve alguns de seus competidores que ficaram pelo meio do caminho. Na etapa especial entre Pirenópolis a Porangatu, no Estado de Goiás, no dia 11, o casal Willim van Hees e sua esposa Doris van Hees sofreu um capotamento com seu veículo, com certa gravidade. A navegadora sofreu fraturas expostas em dois dedos da mão direita. Tendo sido encaminhada para o hospital de helicóptero, Doris van Hess passou por uma cirurgia e felizmente não teve maiores ferimentos, assim como seu marido Willim. Com certeza o maior susto que o casal, veterano já de 6 edições do Rali dos Sertões, passou na competição. No dia 15, o francês David Frétigné sofreu um acidente com sua moto por volta do meio dia e acabou ficando desacordado, sendo imediatamente socorrido pela equipe de socorro médico da prova. Conduzido ao hospital, constatou-se duas vértebras fraturadas, além de um coágulo no cérebro, mas felizmente sem maior perigo.
            Na altura em que esta coluna estiver sendo lida, provavelmente o resultado final da competição já estará praticamente acertado, dadas as diferenças entre alguns dos competidores em algumas categorias. No ano passado, o espanhol Marc Coma venceu na categoria Motos, enquanto nos quadriciclos Rafal Sonik, da Polônia, foi o grande vencedor. Nos carros, o título ficou nas mãos da dupla brasileira Guilherme Spinelli e Youssef Haddad, e nos caminhões o triunfo foi do trio Marcos Cassol/Rodrigo Mello/Davi Fonseca, do Brasil.
            Importante salientar o lado ambiental do rali, que tem uma equipe de apoio exclusivamente para deixar limpos os locais por onde a competição passa. O grupo Ação Ambiental tem a responsabilidade de recolher todos os lixos e detritos gerados pelo rali em todo o seu percurso e nos acampamentos utilizados pela competição, entre os quais vidros quebrados, pedaços de ferro e fibra como pára-choques ou portas e até mesmo derramamento de óleo dos veículos. E mostrando que o grupo leva a sério sua função, eles estão preparados até com equipamentos específicos para a contenção de óleo derramado, seja ele tanto na terra quanto na água, utilizando um tipo de absorvente ecológico, especialmente preparado para absorver derivados de petróleo e outros materiais orgânicos que possam ser nocivos ao meio ambiente. Eles também se encarregam de limpar as trilhas e os acampamentos por onde passa a caravana, mostrando que a competição está cada vez mais consciente de sua responsabilidades ecológicas. E o rali também tem um lado de ação social, atendendo os municípios com Índice de Desenvolvimento Humano inferior ao índice nacional e com população de até 50.000 habitantes que estejam no roteiro da competição ou nas suas imediações. Esta ação social do rali atua dentro de escolas nas cidades, realizando capacitações, atendimentos médicos e doação de equipamentos, com o objetivo de auxiliar educadores e gestores e garantir o pleno aprendizado dos alunos. Algo a se elogiar, pois não é qualquer competição que se dispõe a tanto.
            A cada ano a competição vem ganhando mais competidores, e a disputa vem crescendo também. Para os fãs de rali, talvez a única reclamação seja a competição atualmente não passar mais pelos Estados do Sudeste, mas de certo modo, a competição faz juz ao seu nome: sertões, e o Nordeste, ao lado do Centro-Oeste, são as regiões brasileiras que mais se identificam com este nome. Então, é de esperar pelo menos orgulho de ver que hoje, perto de completar 20 anos de vida, o Rali dos Sertões já é uma prova de fama mundial, e que vem crescendo todos os anos. Uma prova genuinamente nacional, para nos colocar em evidência no mundo do esporte off-road mundial.
            Independentemente de quem seja o ganhador da prova, o maior vencedor é o torcedor nacional de corridas e o próprio Rali, por mostrar que, apesar das dificuldades que o esporte a motor enfrenta em nosso país, ele ainda consegue brilhar e nos proporcionar boas provas, seja em quais categorias e modalidades forem.

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