quarta-feira, 24 de agosto de 2011

ARQUIVO PISTA & BOX – NOVEMBRO DE 1994

            Continuando com a publicação de minhas antigas colunas, chegamos agora à edição escrita no fim de novembro de 1994, com alguns comentários sobre o fim do campeonato daquele conturbado ano. Ainda que por meios tortos, a Fórmula 1 ofereceu grandes emoções na reta final do certame, e Michael Schumacher conquistara o seu primeiro título de forma questionável na manobra de fechar Damon Hill quase descaradamente em Adelaide, provocando uma colisão entre ambos que resultou no abandono do inglês e encerrando a disputa pelo título ali. Schumacher havia sido o melhor piloto da temporada, mas poderia passar sem essa mancha no currículo, convenhamos.
            E Damon Hill ao final de 94 era um piloto muito mais completo do que aquele que iniciara o ano apenas como coadjuvante na Williams. Quis o destino que o inglês tivesse de assumir a condição de protagonista, depois do falecimento de Ayrton Senna. Hill cresceria ao ponto de se tornar o único filho de piloto campeão de F-1 a repetir o feito do pai, enquanto Michael tornaria-se o maior vencedor da F-1 até hoje. Então, vamos ao texto daqueles dias...

FIM DE CAMPEONATO

Adriano de Avance Moreno

            Finalmente, o campeonato da Fórmula 1 de 94 chegou ao seu final. Fez-se a justiça, e Michael Schumacher é o campeão deste ano conturbado e trágico com todos os méritos. Sem Ayrton Senna, o alemão da equipe Benetton é o melhor piloto da categoria no momento. A disputa pelo título, apesar das manobras políticas da FIA a meio da temporada, que tiraram Schumacher de combate por 4 provas, deixaram a disputa reequilibrada. Foram manobras de caráter duvidoso, mas serviram para, em parte, resgatar a emoção que a F-1 parecia ter perdido com a morte de Senna, ainda que isso não sirva como justificativa. Mas é verdade também que Schumacher e a Benetton, em sua soberba, deram a corda que a FIA precisava para colocar em seus pescoços.
            As duas últimas provas do ano foram as melhores da temporada, e tudo indica que o ano de 1995 seja marcado por um maior equilíbrio na categoria TOP do automobilismo mundial. Em Suzuka, contrariando todas as expectativas, Damon Hill provou que pode sim ser um piloto vencedor de verdade. E endossou nas ruas de Adelaide, onde apesar de ter perdido o título em parte por não ter o “felling” da situação na tentativa de ultrapassar Schumacher, o inglês fez uma pilotagem agressiva e tenaz, perseguindo o piloto alemão sem tréguas, o que levou Michael a cometer o erro que arruinou sua corrida, quando errou a freada na curva anterior à East Terrace.
            Sobre os protagonistas da disputa do título de 94, podemos constatar duas coisas: Hill teve uma notável evolução ao longo do ano, passando de mero segundo piloto da Williams a primeiro piloto e líder da escuderia com todos os méritos, e mostrou pelo seu desempenho nas últimas duas corridas do ano que pode melhorar ainda mais em 95. Já Schumacher confirmou seu talento de piloto vencedor e campeão, quase imbatível, mas também mostrou um sério ponto fraco: quando está sob forte pressão, comete vários erros, o que pode ser muito bem explorado por seus futuros adversários, confirmado pelas próprias palavras de Rubens Barrichello: “Ele (Schumacher) vai sofrer quando tiver um rival de verdade.” E a prova de Adelaide é um bom exemplo: no treino de sexta-feira, ao ver Nigel Mansell definir a pole, Michael saiu para a pista numa tentativa de tudo ou nada para superar o tempo do inglês, com receio de largar atrás e provavelmente perder a corrida e o título. O resultado foi uma forte batida do alemão numa das curvas do circuito, destruindo o seu carro. Na corrida, aconteceu algo parecido: Michael conseguiu arrancar para a liderança da corrida, mas ao contrário do que estava acostumado a ver durante todo o ano, desta vez ele não conseguiu em nenhum momento abrir vantagem sobre Hill, que sempre esteve em seus calcanhares desde a largada, apesar do circuito travado de rua favorecer o carro mais equilibrado da Benetton.
Forçando o ritmo ao máximo e talvez além, Schumacher acabou errando a freada numa curva, batendo o carro de leve no muro e voltando para a pista aparentemente intacto, mas sem condições de manter-se na prova. Em Hockeinhein, entretanto, já se percebia que Michael poderia pisar na bola com alguma facilidade quando pressionado: na corrida, ele andou quase feito um desesperado, tentando tirar a liderança de Gerhard Berger, que largara na pole e dominava a prova. O que se viu foi o alemão estourar o motor de seu carro, devido ao forte ritmo que tentou acompanhar. Se lembrarmos que este foi o único motor quebrado no carro de Schumacher durante todo o campeonato, e a reconhecida durabilidade dos motores Ford, pode-se ter a nítida impressão de que Michael exigiu demais do propulsor nesta corrida, onde a diferença de velocidade de ponta de Berger para Schumacher atingiu no ponto mais veloz quase 18 Km/h a favor do austríaco, graças à potência do motor V-12 de sua Ferrari.
            Nigel Mansell pode ser a bia revelação do fim da temporada. Apesar de ainda estar meio fora de forma, o piloto inglês conseguiu na Austrália reviver suas velhas e boas corridas: cometeu erros, saiu da pista, fritou pneus em freadas, teve bons pegas (com Rubens Barrichello, Mika Hakkinem e Gerhard Berger), e ainda venceu a corrida. Se Mansell recuperar-se bem para a próxima temporada, teremos uma atração a mais para ver nas pistas da categoria.
            Terminada enfim a temporada, agora é hora de relaxar e descansar, mas a F-1 não descansa nem pára, e logo começarão os testes para a próxima temporada. Até lá, então!

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