quarta-feira, 17 de agosto de 2011

ARQUIVO PISTA & BOX – OUTUBRO DE 1994

            Dando seguimento à publicação de minhas antigas colunas, eis aqui a que escrevi em outubro de 1994. O campeonato naquela altura já estava quente: Damon Hill aproveitou bem as etapas em que Michael Schumacher foi suspenso e encostou no piloto alemão. Mas bastou o germânico retornar para ele mostrar porque era considerado o melhor da categoria após a morte de Ayrton Senna. E para muitos, Hill não passava de um piloto “comum”, e portanto, até indigno de ser campeão de F-1. Claro que a história da categoria já mostrava que nem sempre apenas pilotos acima da média eram campeões, e como vimos depois, Damon nos mostrou que podia sim ser campeão, tendo qualidades para tanto, embora não estivesse à altura de Michael Schumacher. E vamos ao texto então...

BASTIDORES QUENTES

Adriano de Avance Moreno

            A F-1 experimenta uma verdadeira ebulição nos bastidores neste fim de temporada. Há muitas negociações, jogadas, lances e troca-trocas em andamento. A única jogada que continua na mesma é a disputa do título mundial, que continua como sempre esteve, e que aponta o alemão Michael Schumacher como provável campeão de 1994. Vamos para as duas últimas etapas com o campeonato em aberto, e os melhores prognósticos indicam que a decisão do título deve dar-se apenas em Adelaide. Embora muitos concordem que o título já é de Schumacher, não devemos nos esquecer que tudo pode acontecer numa corrida. Damon Hill pode não merecer ser campeão, mas já houve muitos pilotos nesta situação. Só para citar dois nomes, é o caso de James Hunt e Jody Schekter.
            Hunt era considerado mais um playboy do que um excelente piloto: levou o título por ter nas mãos o excelente carro preparado por Émerson Fitipaldi no ano anterior, o McLaren M23, e ao violento acidente que quase matou Niki Lauda em Nurburgring, tirando-o de algumas corridas. Já Schekter também beneficiou-se do excelente carro que tinha em 1979, quando a Ferrari foi imbatível: o sul-africano era considerado por muitos um “troglodita” ao volante, sem nada de excepcional como piloto. Não fosse a inconstância de Gilles Villeneuve, seu companheiro de time na escuderia italiana, Jody provavelmente nunca teria um título no currículo. Pode ser o caso de Hill, que é tido por muitos apenas um piloto “comum”.
            A maneira como Schumacher humilhou Hill no GP da Europa credencia o alemão como melhor piloto da temporada. Nigel Mansell, retornando à Williams, terá de mostrar serviço se quiser continuar no time em 95. Muitos dizem que o “Leão” já está velho para a F-1. Pode até ser verdade, mas aqueles que dizem que ele está acabado para a categoria estão exagerando. A meu ver, é impossível alguém se adaptar perfeitamente à F-1, depois de passar o ano inteiro competindo na F-Indy, em apenas 4 dias. Lembrem-se de que Mansell, quando mudou-se para a F-Indy, fez mais de 30 dias de testes com seu novo Lola/Ford, antes de estrear oficialmente em sua primeira corrida na categoria. Na minha opinião, o piloto inglês precisa apenas de mais quilometragem para voltar a mostrar o que sabe. A questão é se a Williams vai lhe dar chance de conseguir esta quilometragem.
            A Mercedes agitou o fim deste mês com o anúncio de que passará a equipar a McLaren em 95, com um contrato válido por 5 anos. Não há dúvidas de que a Mercedes está jogando alto para voltar a ter na F-1 o domínio que teve na categoria quando participou das corridas na década de 1950. Tamanho investimento está fazendo todas as outras marcas de motores se mexerem também, cada uma à sua maneira, o que perfaz um novo e interessante horizonte para a F-1 nos próximos anos.
            A nova “era” Schumacher na F-1 também significa o fim dos grandes nomes da década de 1980 na F-1. Apenas Gerhard Berger deve continuar nas pistas em 1995, dos pilotos que já venceram corridas na década passada, caso Nigel Mansell não continue na categoria. Mansell, aliás, não deve continuar mesmo na Williams, mas essa é uma corda que está pendendo para os dois lados: muitos dos patrocinadores do time querem um piloto campeão na escuderia, e para eles, Mansell é este piloto. A Williams, entretanto, vem demonstrando preferência pelo jovem David Couthard, um piloto que já mostrou suas habilidades nas corridas que teve chance de disputar este ano, e que muitos consideram como um piloto muito promissor.


Terminou o campeonato da F-Indy, e ficou provado que a Penske massacrou mesmo a concorrência na temporada 94. Para 95, a tendência é diminuir tal domínio, já que apenas Al Unser Jr. E Émerson Fittipaldi serão os pilotos do time. O tiro, entretanto, para desespero da concorrência, pode sair pela culatra, pois a Penske terá apenas 2 carros para se concentrar, e não 3. Roger Penske tem uma mentalidade vencedora que se equivale à de Ron Dennis na McLaren, e para ele, o objetivo é manter o domínio da Penske, e quem sabe, até aumentá-lo. A F-Indy constantemente fica se gabando de ter provas mais competitivas do que a F-1. Este ano, entretanto, não teve muito equilíbrio, o que mostra que, mesmo na F-Indy, apesar de seu regulamento propiciar maior competitividade, também há espaço para desigualdade entre as equipes, e que ficou patente este ano...

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