sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O QUE ESPERAR DA WILLIAMS?

            Um dos assuntos em voga recentemente na Fórmula 1 tem sido o destino de Rubens Barrichello na categoria. Será que o veterano piloto, que está disputando sua 19ª temporada, conseguirá renovar com a Williams para 2012, e assim atingir sua 20ª temporada na competição, o que seria um recorde absoluto para um piloto na história da F-1, ou poderá ser obrigado a encerrar a carreira, caso o time inglês opte por não renovar o vínculo com o brasileiro? Até algumas semanas atrás, tudo parecia bem encaminhado, tanto que o próprio Rubens declarava que só faltava praticamente assinar o novo contrato. Nos últimos dias, contudo, o tom mudou, e a renovação parece ter empacado em algum ponto. Não há dúvidas de que a Williams é a grande decepção da atual temporada, que é praticamente a pior da história da escuderia, em seus mais de 30 anos de existência.
            Mas fica a pergunta: o que se pode esperar da Williams para o futuro? A escuderia iniciou uma reestruturação na área técnica, com um pessoal novo que estará coordenando os projetos, ao mesmo tempo que alguns nomes importantes na estrutura da equipe estarão se despedindo, entre eles Sam Michael, que foi o grande nome técnico do time nos últimos anos, e mais importante, Patrick Head, sócio do time e praticamente braço direito de Frank Williams, uma dupla que iniciou sua aventura na categoria lá nos anos 1970, e tem estado junta até agora. Até o momento, a única notícia mesmo positiva para a próxima temporada é a confirmação do uso dos motores Renault, bem melhores do que os atuais Cosworths usados pelo time sediado em Grove. Mas apenas um motor melhor não será a salvação da pátria para a Williams. A Lótus está aí para provar isso: continua sendo um time ainda incapaz de ameaçar os já estabelecidos, tendo se sobressaído apenas sobre a Virgin e a Hispania, o que não quer dizer muita coisa, uma vez que estas duas escuderias ocupam sempre os finais dos grids e classificações de corridas.
            Pela lógica, o mais sensato para a Williams seria manter sua dupla de pilotos. Tanto Rubens Barrichello quanto Pastor Maldonado estão fazendo o máximo dentro de suas possibilidades para levar a Williams adiante nos grids e nas corridas, mas o carro é tão ruim que nem um nem outro tem conseguido obter resultados satisfatórios. Para piorar, quase todos os novos desenvolvimentos projetados têm sido infrutíferos, levando Barrichello a perder literalmente as sextas-feiras de cada GP testando peças e sistemas que muitas vezes não têm levado a lugar nenhum. Por mais que a capacidade de acertar carros do brasileiro seja reconhecida – com exceção claro, de um punhado de brasileiros que acha Rubens a maior enganação do mundo, e que nos últimos dias voltaram com tudo a fazer coro para que a F-1 se livre do piloto veterano, que na sua opinião só envergonha o Brasil perante o mundo (na opinião deles, claro), ele não vai conseguir produzir avanço se o corpo técnico não consegue desenvolver melhorias no projeto do carro, que infelizmente, nasceu errado, e quando isso acontece, é muito difícil conseguir corrigir o rumo. A direção da Williams já deu a entender que os pilotos estão fazendo o que podem, e neste caso, renovar o contrato de ambos seria o mais coerente, para manter a base de comparação técnica para a nova estrutura que está sendo montada, com vistas a promover uma renovação no projeto do carro de 2012. Mas, em sua história, a Williams já deu vários exemplos de que toma atitudes muitas vezes ilógicas quando o assunto é manter coerência tanto na área técnica quanto na direção da escuderia, especialmente no que tange a seus pilotos. Não há time na história da F-1 que tenha dispensado e/ou perdido tantos pilotos campeões quanto a escuderia inglesa. Nomes de peso como Nélson Piquet, Alain Prost, Nigel Mansell, e até mesmo Damon Hill, Alan Jones e Jacques Villeneuve mostram como o time não pensou duas vezes quando o assunto era deixar seus melhores pilotos partirem para novos lugares.
            Para piorar a situação, o caixa da escuderia não está necessariamente nos seus melhores dias. O time perdeu patrocínios importantes nos últimos dois anos, e nesta temporada, o orçamento trazido por Maldonado da PDVSA foi a salvação do time. Contudo, apesar do contrato de patrocínio ser longo, os fracos resultados podem levar à revisão dos valores, para não mencionar que, depois de mais de uma década sendo usada a torto e a direito nos devaneios populistas de Hugo Chávez, a empresa petrolífera venezuelana anda bem mal das pernas, técnica e financeiramente. E, com o caixa baixo, a PDVSA poderia também rebaixar a quantia que paga à Williams para estampar sua marca na escuderia.
            A possibilidade de o time contar com ainda menos recursos na próxima temporada é bem séria e real. Os fracos resultados deste ano já irão render ao time muito menos recursos oriundos da divisão de lucros da FOM para o próximo ano. E a chance de o patrocínio da petrolífera venezuelana encolher só tenderão a tornar os recursos de Grove mais escassos do que nunca. Será preciso muito trabalho, criatividade e seriedade para conseguir dar a volta por cima em um panorama sombrio destes. Não é impossível para a Williams dar a volta por cima em 2012, mas é extremamente difícil. E a história mostra que um time dificilmente consegue recuperar-se tanto de um ano para o outro. O exemplo do carro fracassado da Honda de 2008, que em 2009 tornou-se vencedor não pode ser aplicado, pois em meados de 2008, quando se percebeu que o carro daquela temporada era um fiasco total, todos os recursos foram empregados no desenvolvimento do monoposto que surpreendeu a categoria em 2009. E estes recursos eram fartos, bancados pela Honda, antes da fábrica japonesa decidir por abandonar a competição. Calcula-se que pelo menos mais de US$ 400 milhões foram dispendidos no projeto. E ainda teve o adicional motor Mercedes-Benz, que conseguido à última hora, ainda se encaixou como uma luva no carro, somando forças ao que já era bom. Se a Williams terá de fato um motor melhor em 2012, não há os recursos fartos que permitiram a Ross Brawn transformar um panorama que todos julgavam ser quase um fracasso certo em um sucesso estrondoso.
            Neste panorama que se apresenta incerto e até tenebroso com relação ao possível futuro da Williams, algumas publicações lançam mão de boatos que colocam novamente Nico Hulkenberg de volta na Williams. Nem mesmo Pastor Maldonado estaria garantido, pois o contrato com a PDVSA não liga a petrolífera necessariamente ao piloto venezuelano, mas a um grupo de pilotos que poderia ser mudado o titular de acordo com a necessidade ou conveniência. Até mesmo Adrian Sutil estaria na parada para ser titular da Williams, mas o maior problema do time não são seus atuais pilotos. Barrichello tem andado bem, e superado Maldonado em quase todas as corridas, embora o venezuelano tenha se dado melhor nas classificações. Mas se o brasileiro não tem alcançado o Q3 como seu companheiro tem feito algumas vezes, Barrichello por outro lado tem avançado para a frente nas corridas, enquanto Pastor, vitimado pelo péssimo desempenho de corrida do FW33, vai caindo para trás em todas as provas que larga no Q3, impossibilitado de se defender de carros com melhor ritmo de corrida. E, analisando pela lógica, Adrian Sutil está em um time em ascenção no momento, a Force Índia. Trocaria um time que no momento está crescendo, por um futuro incerto na Williams? E Nico Hulkenberg sabe que é questão de tempo até a Mercedes requisitar Paul Di Resta, o que abriria uma vaga para ele no time indiano, onde já está se dando muito bem. Voltaria à Williams, que o dispensou? Neste momento, seria infrutífero.
            Uma troca de pilotos neste momento também não agregaria melhoras significativas à escuderia, muito pelo contrário. Já há mudanças demais ocorrendo no staff técnico, e manter os pilotos, que são quem menos tem culpa no mal desempenho do carro atual, é até uma questão de justiça, além de se manter um ponto de referência seguro para se avaliar nas novidades que deverão ser implantadas no projeto do carro de 2012. Frank Williams mais do que ninguém sabe que eles estão fazendo o seu possível, tentando se manter firmes e motivados, mesmo com os resultados ruins, e não se pode cobrar menos ou mais do que isso.
            Ao lado da Ferrari e da McLaren, a Williams é um dos times mais tradicionais da história da F-1. Sua luta para competir nos últimos anos faz lembrar a lenta decadência da equipe Tyrrel e da Lótus original, que lutaram o quanto puderam contra as adversidades que os custos descabidos adotados pela categoria nos últimos anos impuseram a uma série de times. Que a Williams consiga se reerguer para competir novamente, e não ser mais um nome a figurar apenas na história e estatísticas da F-1...

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