Após o trauma que foi a morte de Ayrton Senna, a Fórmula 1 tentava voltar a seu dia-a-dia. Havia um campeonato em andamento, e na tentativa de aumentar a segurança, várias medidas foram tomadas. O certame parecia ter um fim prematuro, com a supremacia de Michael Schumacher. Mas havia algumas esperanças de melhoria na competição. Este foi o tema da minha segunda coluna de maio de 1994, onde todos nós tentávamos seguir adiante, e lembrar que, dali em diante, não haveria mais Ayrton Senna na F-1. Fiquem agora com o meu texto daquela época...
TENTANDO SEGUIR EM FRENTE
Adriano de Avance Moreno
O Mundial de F-1 avança, e com ele, surgem algumas novidades na disputa do campeonato. Com a morte de Ayrton Senna, Michael Schumacher passou a ser o franco favorito, para não dizer único, na luta pelo título. A Benetton mostrou que tem carro e piloto, e provavelmente ganhará o mundial sem dificuldades, pela performance que o alemão vem apresentando.
Mas as outras equipes estão se mexendo: a vitória de Damon Hill na Espanha, apesar de se concretizar apenas em virtude dos defeitos surgidos no câmbio do carro de Schumacher, já indica que a Williams está se empenhando no sentido de voltar a ficar à frente da concorrência. A McLaren também vem no embalo, e já mostra que seu novo MP4/9 é tão rápido quanto o modelo FW16 do time de Frank Williams. E olha que o motor Peugeot está fazendo apenas sua 1ª temporada na F-1, e segundo Ron Dennis, seus pilotos, e a própria Peugeot, o motor ainda não está rendendo tudo o que pode. Isso quer dizer que o propulsor francês tem muito potencial e deve melhorar ainda mais. Mika Hakkinem só não conseguiu sua 1ª vitória na categoria em Barcelona porque o motor quebrou quando vinha no encalço de Hill, e andando muito mais rápido do que o inglês da Williams. Estas duas equipes ainda irão dar o que falar até o fim do campeonato.
Quem parece continuar onde estava é a Ferrari: o novo modelo 94 até agora não dá sinais de maior competitividade e, se no início ainda andava na frente da McLaren, agora não só está andando atrás, como parece perder até para a Tyrrel, como visto em Barcelona. Algo precisa ser feito em Maranello para levar a Ferrari de volta às primeiras posições.
Quem já está se sentindo de volta a seus melhores dias é J.J. Letho, que em Barcelona fez sua primeira corrida satisfatória com a Benetton, andando entre os primeiros, e só não chegando ao pódio porque o motor acabou quebrando, e quem sabe, possa complicar um pouco as coisas para Schumacher nas próximas corridas.
Christian Fittipaldi e Rubens Barrichello mostraram seu talento em Mônaco e Barcelona. Ambos conseguiram, um em cada corrida, largar da 3ª fila do grid, suas melhores posições de largada na carreira, mas não conseguiram chegar ao final por culpa de problemas mecânicos. Jordan e Arrows mostraram seu potencial como equipes, e com o talento dos brasileiros, andaram entre os primeiros colocados, mas também acabaram deixando-os a pé, por falta de fiabilidade nos carros. O câmbio arrasou Christian nas duas corridas, enquanto Rubinho teve em seu motor Hart duas panes seguidas. Ambos concordam em um fato: seus times têm de se empenhar mais se quiserem resultados, e não só expectativas, como seus pilotos tem conseguido, com suas excelentes qualificações. Talento não lhes falta, tanto que ambos já estão na mira de Williams e McLaren, visando a temporada de 1995. Isso parece ser quase certo, só não se sabe quem vai para onde.
Com relação às novas regras impostas aos carros, acabou se confirmando a previsão de que, com estas mudanças bruscas a meio da temporada, os monopostos acabariam ficando mais instáveis e nervosos de pilotar. É preciso lembrar que um carro de F-1 é projetado em muitas semanas, num trabalho meticuloso e bem estudado, e não se pode impor mudanças repentinas de uma hora para outra, sem alterar drasticamente a performance e estabilidade dos carros. Vários pilotos admitiram que seus monopostos ficaram até mais perigosos depois das mudanças. Dizer que os carros estavam ficando mais perigosos é ridículo perto das reações que estão apresentando agora. Algo precisava ser feito, é verdade, mas não impondo regras de supetão e a torto e a direito, pois alguns dos aparatos aerodinâmicos restringidos fizeram os carros perderem em muito a estabilidade. Quem tentou andar em ritmo mais forte acabou rodando, sendo que alguns sofreram acidentes, como Pedro Lamy e Andrea Montermini. É esta a F-1 mais segura que Max Mosley criou? Sinceramente, espero que não.
No embalo da comoção da morte de Senna, era preciso tomar alguma providência e tentar seguir em frente. Mas fica o receio de que, na tentativa de mostrar serviço, algumas das providências não tenham sido justamente na direção errada...
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