sexta-feira, 3 de junho de 2011

HAMILTON E SEUS EXCESSOS

            Lewis Hamilton foi um dos destaques da corrida de domingo passado, em Mônaco. Mas, ao contrário do que geralmente acontece, desta vez o intrépido inglesinho da equipe McLaren foi o ponto negativo da corrida, que até que foi bem movimentada, embora tenha tido um final brochante para quem esperava uma disputa ferrenha nas voltas finais, em virtude do acidente envolvendo Vitaly Petrov e Jaime Alguerssuari na curva da Piscina, que motivou uma bandeira vermelha e “matou” a disputa do final da corrida permitindo que todos pudessem trocar seus pneus. Algo permitido pelo regulamento, diga-se.
            Mas Hamilton praticamente esteve envolvido em quase todas as confusões em Monte Carlo. Depois de tomar duas punições durante a corrida, Lewis ainda soltou os cachorros em entrevista após a prova, acusando os outros pilotos e até os comissários, e insinuando até ser vítima de “racismo”, por ser o único piloto negro da categoria. Mais tarde, após aparentemente ter pensado melhor, ou levado uma bela bronca interna da McLaren, Hamilton tentou se desculpar, sem conseguir convencer muito. Foi um excesso do piloto inglês, considerado hoje o mais arrojado da F-1, capaz de arrancar uma ultrapassagem praticamente no grito, e que pode significar o fim do marasmo em algumas provas. Mas os outros pilotos não compartilham muito do entusiasmo de arrojo de Hamilton, especialmente se isso significar acertar os demais pilotos todas as vezes que for tentar disputar uma posição.
            Na disputa com Massa, Lewis forçou onde não devia, e até ali, encarei como um incidente de corrida, mas a disputa roda a roda com o brasileiro teve conseqüências logo depois, onde Felipe saiu do trilho no início do Túnel, pegou sujeira, e bateu no guard-rail. Achei a punição exagerada, pois ultimamente a categoria anda muito burocrática, onde o arrojo dos pilotos tem sido podado por comissários zelosos demais, que não permitem manobras mais ousadas. Em contrapartida, a disputa de Hamilton com Pastor Maldonado, nas voltas finais, isso foi exagerado, com a McLaren do inglês a empurrar a Williams do venezuelano contra a barreira de pneus na curva Saint Devote. A punição, acrescendo 20s ao tempo de Lewis no resultado da prova foi inócuo, dada a vantagem que ele acumulara para os pilotos de trás. Mas Hamilton tem de rever suas posições, dentro e fora da pista.
            Dentro da pista, ele precisa aprender que arrojo não é simplesmente jogar o carro em cima dos outros sem maiores cuidados. Ayrton Senna, que era considerado arrojo puro no quesito pilotagem, pode até ter cometido alguns erros deste tipo em disputas de posição, mas o brasileiro aprendeu que efetuar ultrapassagens sem exagerar na dose era muito mais proveitoso do que ficar batendo rodas a torto e a direito. Hamilton precisa entender isso, e nem precisa lembrar de coisas distantes: foi cometendo este tipo de barbeiragem que ele abandonou duas provas consecutivas no final do ano passado, perdendo as chances de lutar pelo bicampeonato. Em ambos os casos, o inglês forçou passagem onde não dava, os carros se tocaram, e ele foi o grande prejudicado, em que pese seus adversários naqueles momentos terem tido alguns prejuízos também, mas continuaram na corrida.
            Se Hamilton continuar forçando a barra deste jeito, dali a pouco, os pilotos não vão dar mole para ele de jeito nenhum, e até manobras aparentemente sem problemas poderão ficar complicadas, com risco de acidentes, pois seus desafetos vão simplesmente se recusar a dar passagem, e como Lewis não tem o hábito de recuar, pode sobrar para os dois pilotos ou até mais gente, com conseqüências perigosas. Fora da pista, Hamilton tem de botar a cabeça no lugar, pois declarações como a do último domingo só revelam imaturidade e falta de esportividade. Se não mantiver a cabeça no lugar, Hamilton será o pior inimigo de si próprio, e se sua destemperança começar a colocar em risco melhores resultados para o time, a McLaren pode se voltar para Jenson Button, que não costuma criar casos e pilota sem criar problemas na pista. Pior, Hamilton pode perder o respaldo do time, que já não anda mais morrendo de amores por ele como antigamente, especialmente depois de algumas trapalhadas como a da Austrália no ano retrasado, que o deixou queimado com a equipe na ocasião.
            Há algum tempo atrás, Hamilton passava a imagem de garotinho mimado. Pensou-se que ele tivesse amadurecido e aprendido algumas coisas. Parece que não aprendeu tanto assim, e a fama de mimado também parece continuar. Uma hora, isso vai criar problemas sérios. E pior, pode acabar sobrando para outros que não tem nada a ver com a história...


A comemoração dos 100 anos das 500 Milhas de Indianápolis não poderia ter tido um desfecho mais dramático do que o ocorrido domingo passado. Sob os olhares incrédulos de mais de 400 mil pessoas lotando as arquibancadas do Indianápolis Motor Speedway, o novato John R. Hildebrand surgia como um dos azarões para vencer a mais famosa corrida do mundo, e levar seu time, a Panther à glória na história da corrida, onde já havia batido “na trave” por duas vezes nos últimos dois anos, tendo ficado em 2° lugar. Mas eis que na última volta, na última curva, Hildebrand abre para ultrapassar um retardatário...e bate no muro da reta dos boxes, com a bandeirada à vista. O carro seguiu se arrastando junto ao muro, e por um instante, deu-se a impressão que ele venceria assim mesmo. Mas nos metros finais, acabou superado por Dan Wheldon, que assim faturou sua segunda vitória na Indy500. Hildebrand classificou-se em 2° lugar, sem sombra de dúvidas a colocação mais ingrata de sua carreira até aqui, e que com certeza vai marcá-lo por um bom tempo, principalmente pela quase vitória que poderia ter obtido. A ironia da situação é que Dan Wheldon ficou sem lugar para correr este ano, pois seu time em 2010, a Panther, o dispensou para contratar o americano. Wheldon correu por um time formado por Bryan Herta, ex-piloto da categoria, que montou um esquema para correr apenas a Indy500. Faturou mais de US$ 2,5 milhões pelo triunfo na “Brickyard Line”. Hildebrand, pelo 2° lugar, ainda faturou alto: pouco mais de US$ 1 milhão, mas certamente não há prêmio que sirva de consolação a esta altura do que aconteceu...


Tony Kanaan mais uma vez foi o destaque brasileiro em Indianapolis. O piloto baiano terminou na 4ª colocação, e não fosse por ter uma de suas paradas de box arruinada por Pippa Man, que entrou em sua frente na hora de fazer o pit stop, e o fez perder muito tempo nos pits, o jogando para o final do pelotão, poderia até ter chances de vitória. Tony teve de escalar novamente a corrida rumo às primeiras colocações, tarefa bem complicada em alguns momentos da corrida. Mas ainda não foi desta que vez que Kanaan sentiu o gosto do triunfo na Indy500. Em 1993, Raul Boesel, que tinha um dos carros mais rápidos da prova, também sentiu a frustração devido a duas punições que recebeu por infrações nos boxes, que o jogaram para o fim do pelotão, e o obrigaram a recuperar novamente o terreno perdido. Assim como Tony, Raul terminou aquela corrida em 4° lugar, e carregou o estigma de nunca ter conseguido vencer na corrida mais importante dos Estados Unidos.


Penske e Ganassi, as grandes forças da Indy Racing League, tiveram atuações distintas em Indianápolis: enquanto a Ganassi liderou boa parte da prova, e parecia fadada até a conseguir uma vitória em dobradinha, os carros de Roger Penske tiveram problemas a rodo durante as 200 voltas. Will Power e Hélio Castro Neves perderam qualquer chance de disputar os primeiros lugares devido a um pneu que se soltou (Power) após o pit, e um pneu furado (Helinho). Já Ryan Briscoe foi mais um a acertar o muro do IMS, felizmente sem gravidade. Mas em nenhum momento os carros da Penske mostravam ritmo para lutar pela vitória. A Ganassi ainda conseguiu terminar pelo menos à frente dos pilotos da Penske, e Power ainda lidera o certame com alguma folga.

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