quarta-feira, 22 de junho de 2011

ARQUIVO PISTA & BOX – JULHO DE 1994 - I

            Continuando a trazer as antigas colunas de automobilismo por mim escritas, eis aqui a primeira relativa ao mês de julho de 1994, enfocando como tema as possibilidades de mudanças dos motores entre as escuderias da F-1 que poderiam ocorrer na temporada seguinte. Algumas mudanças se concretizaram, enquanto outras não. Eis o texto, e boa leitura...

GUERRA DOS MOTORES PARA 95

Adriano de Avance Moreno

            A guerra dos pilotos da F-1 este ano pode não estar fervendo, em virtude do domínio avassalador de Michael Schumacher, mas no campo dos motores, a briga entre as escuderias está muito mais intensa do que nunca, visando aos propulsores que irão utilizar na temporada de 1995. O ambiente está quente em praticamente todas as equipes, mesmo aquelas que em teoria já tem contrato de fornecimento garantido para o ano que vem.
            Um exemplo é a Williams: o contrato da escuderia inglesa com a Renault vai até o fim do próximo ano, mas o fraco desempenho do time nesta temporada tem gerado certas críticas da fábrica francesa, que pioraram depois da morte de Ayrton Senna. A compra da Ligier pela Benetton no fim de junho deu o passo inicial para que a equipe multicolorida, que vem dominando o campeonato da atual temporada, venha a utilizar os poderosos motores V-10 franceses já em 1995. A Ligier, então, usaria os motores Ford Zetec-R utilizados pela Benetton atualmente. O boato é tão forte que já correm até rumores de que o time de Flavio Briatore teria exclusividade no uso dos motores franceses em 95, algo que teoricamente só poderia ocorrer a partir de 1996. Não seria algo impossível de acontecer, principalmente com a Williams; basta lembrar do que aconteceu quando tinha os motores da Honda.
            Em 1987, a fábrica japonesa praticamente anunciou o fim de seu acordo de fornecimento de motores com a Williams, mesmo o time inglês tendo contrato para fornecimento dos propulsores nipônicos até o fim de 88. A Honda alegou que a escuderia rompeu os termos do contrato ao perder Nélson Piquet, que seria tricampeão naquele ano com os motores Honda, para a Lótus, que em 88 também usaria motores Honda. Este ano, a Williams perdeu Ayrton Senna no fatídico GP de San Marino, o que poderia dar o principal motivo para a Renault debandar em direção ao time de Briatore & Cia. Até o time de Frank Williams já trabalha com a possibilidade de perder os motores franceses, e já estaria buscando um eventual fornecimento alternativo. Fala-se nos motores V-10 da Mercedes, como os que são utilizados atualmente pela equipe suíça Sauber, que no momento é o time oficial da fábrica alemã na categoria.
            A Jordan aparece como potencial candidata a se tornar a equipe oficial da Ford se a Benetton mudar para os motores Renault. Eddie Jordan poderia então passar a receber os excelentes motores Ford Zetec-R, em versão 1995, passando a ter todo o desenvolvimento dos motores custeados pela fábrica estadunidense. Atualmente, o time usa motores desenvolvidos por Brian Hart, e todo o trabalho de desenvolvimento dos propulsores tem de ser bancado pela própria equipe, que não dispõe de tantos recursos para isso, limitando seu potencial de crescimento.
            A McLaren também é outra candidata a receber os motores Ford. Comenta-se que a escuderia de Ron Dennis não está nem um pouco satisfeita com o desempenho dos motores Peugeot, que estrearam na F-1 este ano, e já estaria procurando um novo fornecedor já para 95. Mas Ron Dennis já deveria saber que não deveria esperar um grande sucesso com os motores Peugeot. A Honda e a Renault levaram anos para conseguir se projetar como marcas vencedoras na F-1, e com a Peugeot não está sendo diferente. Na verdade, até que o novo propulsor francês está indo razoavelmente bem, tendo conseguido alguns pódios nesta temporada, sendo que a McLaren é o 5° time na classificação do mundial de construtores, empatada com a Jordan. Mas Ron Dennis parece não estar disposto a ter paciência para continuar bancando o desenvolvimento da Peugeot, e quer retornar às vitórias o mais rápido possível, mesmo que isso signifique quebrar o contrato de fornecimento assinado com os franceses. Daí as especulações sobre as opções de motores que a McLaren poderia usar no próximo ano.
            A Sauber deve garantir o seu fornecimento dos motores Mercedes, já que ambas são sócias no esquema de F-1: o time projeta e constrói os carros, e a fábrica alemã fornece os motores, tal como faziam quando participavam da categoria Esporte-Protótipos. Mas os boatos de que os V-10 alemães poderiam passar a equipar os carros de Frank Williams no próximo ano já andam tirando o sono de Peter Sauber...

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