sexta-feira, 22 de abril de 2011

UMA CORRIDA DA CHINA

            Quem criticava que as novas regras técnicas implantadas na Fórmula 1 seriam mais um novo paliativo para devolver a emoção às corridas, parece ter de encarar que, ao menos desta vez, a FIA parece ter acertado no alvo pretendido. Apesar dos críticos que ainda reafirmam que as ultrapassagens fomentadas pela asa móvel são artificiais, o que se viu em Shanghai não foi exatamente isso. E ainda tivemos a melhor corrida da temporada até o momento, para não falar até dos últimos anos. Tudo ajudou a termos uma corrida movimentada: o circuito, a asa móvel, o kers, e principalmente, os pneus Pirelli. Só faltou mesmo a ajuda de São Pedro, mas felizmente, não foi preciso chover desta vez para assistirmos a um GP que foi acima das expectativas, e com direito a interrupção da supremacia de Sebastian Vettel e da Red Bull.
            Não que o time austríaco tenha ficado para trás. O RB07 ainda é o carro a ser batido na atual temporada. Mas a concorrência, leia-se McLaren, está chegando mais perto, e com a dificuldade de se acertar a melhor estratégia do uso dos pneus na corrida, formou-se o panorama que permitiu a Lewis Hamilton vencer a prova chinesa e ajudar a dar um tempero novo ao campeonato, pelo menos na expectativa até a próxima corrida, na Turquia, já em maio. Se Vettel acabou acusando o golpe da escolha errada de apenas 2 paradas, Mark Webber teve uma corrida para se redimir de suas até então apáticas performances no ano. Saindo de 18°, o australiano poderia até ter vencido a corrida, se esta tivesse algumas voltas a mais. Terminou a prova praticamente logo atrás de Vettel, contabilizando uma parada a mais que o alemão, pra não mencionar todo o tempo que perdeu nas disputas por posição ao longo da corrida.
            Conforme já havia mencionado na coluna passada, ritmo e performance parecem estar ligeiramente dissociados este ano, com o ritmo de corrida não correspondendo exatamente à performance que cada time exibe na classificação. Essa incerteza não chegou a transformar os carros mais lentos em mais rápidos durante a corrida, o que seria pedir demais, mas deixou uma interrogação suficiente para embaralhar algumas expectativas em alguns casos. Com o uso do kers e da asa móvel, alguns times podem ter sua chance de redenção na corrida, quando falham a classificação, ou mais precisamente, alguns pilotos. Só que nada é garantido. Ao contrário da Malásia, onde exibiu um comportamento na corrida melhor do que nos treinos, na China a Ferrari voltou a sucumbir ante McLaren, Red Bull, e até a Mercedes. Mas isso se deveu, em parte, à estratégia de apenas 2 paradas, já que em determinado momento da corrida, Felipe Massa andou tão rápido quanto os líderes, e até se cogitou a possibilidade do brasileiro vencer a corrida, situação similar à de Nico Rosberg. Mas a degradação dos pneus frustrou os planos do brasileiro, que teve como único ponto positivo ter corrido melhor do que Alonso em toda a corrida, algo que deixou o piloto espanhol intimamente irritado, como deu para perceber nas entrelinhas de suas declarações depois da prova. Uma parada a mais era a solução para um melhor resultado? Sim, e talvez não: poderiam ter melhor ritmo com pneus novos, mas se iriam recuperar na pista o tempo perdido nos boxes, é uma incógnita, pois a degradação dos compostos não é uniforme, variando de carro para carro, de piloto para piloto, e até mesmo de situação para situação. E neste ponto, a prova chinesa foi pródiga em disputas: tivemos luta por mais da metade do grid, e em boa parte da corrida. E estas brigas ajudaram os pneus a sofrer ainda mais, dependendo de qual carro e piloto equipavam, além de seu momento na pista, andando livre, ou sofrendo e/ou pressionando alguém.
            Essa inconstância de performance foi o que permitiu a Hamilton surpreender Vettel nas voltas finais e permitir ao piloto da McLaren assumir a liderança e vencer a corrida. Normalmente mais agressivo com seu equipamento, desta vez Hamilton conseguiu poupar seus compostos o suficiente para ir para o ataque, compensando a parada extra que teve de fazer em relação a Vettel. E a asa móvel teve sua utilidade na pista de Shanghai, onde seu uso na grande reta oposta, se não permitia a ultrapassagem ali, deixava o piloto de trás bem próximo do da frente, e nos dois trechos seguintes, que também eram de retas – incluída a dos boxes, saíram diversas ultrapassagens, sendo que estas foram feitas sim no braço dos pilotos, com ou sem kers (que podia ser usado por ambos os pilotos em disputa, dependendo de suas utilizações na volta). Isso deixou o público ligado nas arquibancadas, e o panorama da corrida passou a ser de incerteza: ninguém sabia dizer com certeza se não poderia haver surpresas até a bandeirada, o que quase nunca ocorria nos anos anteriores. Dito e feito: Hamilton, em ultrapassagem arrojada por dentro de uma curva, superou Vettel a 5 voltas do final, e logo atrás, Webber, em sua recuperação, vinha passando todo mundo. O australiano assumiu o 3° lugar a praticamente 2 voltas do fim; tivesse mais algumas voltas, poderia roubar o 2° lugar de Vettel, e talvez até mesmo a vitória de Hamilton. Lá atrás, Massa se esforçava para não ser ultrapassado, mas sucumbiu a vários pilotos. E Alonso, por sua vez, enfrentou forte pressão de Michael Schumacher nas voltas finais, de onde o espanhol poderia até perder facilmente a sua posição. Em outras palavras, até a bandeirada final, não se podia ter certeza de quem terminaria em qual posição. Incerteza quase total. A expectativa deixou todo mundo na sala de imprensa com atenção redobrada nos telões, afinal, tudo parecia poder acontecer a qualquer momento.
            O panorama do campeonato, em si, não mudou tanto assim: a Red Bull ainda é o time a ser batido. Os demais times, McLaren incluída, precisam caprichar na estratégia, e ainda contar com erros da favorita para chegar na frente. E chegar na frente, dependendo da situação, não é tão impossível como parecia, mas vai exigir sorte, especialmente se o time austríaco resolver seus problemas com o kers, até o momento, seu único ponto fraco. Os outros times, com exceção da McLaren, ainda precisam melhorar muito para desafiarem Vettel e Webber. E, no pelotão intermediário, os times também estão se mostrando inconstantes, com desempenhos variados. Por incrível que pareça, as certezas estão sendo superadas em muito pelas incertezas vistas até o momento. Não se pode falar exatamente em estratégias erradas ou certas, apenas pelo que se viu em Shanghai, afinal, todos os times ainda estão aprendendo a lidar com os pneus da Pirelli, e o risco da estratégia mais conservadora poderia ter dado certo. Foi uma aposta, e ninguém pode ser acusado de não tentar algo diferente.
            E é na tentativa de se fazer algo diferente, com as novas ferramentas e regras à disposição, que a F-1 parece estar achando um perfil mais emocionante nas corridas a serem disputadas nesta temporada. Neste quesito, então a prova de Shanghai foi uma verdadeira corrida da China. Esperemos agora que os próximos GPs consigam mostrar que o panorama visto no último domingo sejam a tônica para o resto do ano...


Um detalhe incrível do GP da China: com exceção de Jaime Alguersuari, da Toro Rosso, todos os pilotos que largaram receberam bandeirada em Shanghai. O piloto espanhol, aliás, abandonou por um fator alheio a seu controle: ficou sem uma das rodas traseiras, logo após realizar o seu pit stop. Felizmente, o pneu saiu sem machucar ninguém, e Alguersuari conseguiu parar também sem problemas.


Lucca de Montezemolo mais uma vez saiu soltando os cachorros contra a F-1: disse que a categoria ficou muito artificial, e que se as regras não mudarem, a Ferrari pode sair da categoria ao final de 2012. Faço de conta que acredito... Mas que o clima está pesado pelos lados de Maranello, isso está, e não é apenas Montezemolo que está irritado com o atual nível de competitividade da Ferrari...um certo bicampeão espanhol está quase pronto para voltar a ter chiliques...

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