sexta-feira, 15 de abril de 2011

RITMO E PERFORMANCE

            Como muitos já esperavam, as novas regras técnicas adotadas este ano na Fórmula 1 mostraram-se bem mais efetivas e contundentes na prova da Malásia, primeira corrida do campeonato disputada em um circuito de verdade, ao contrário da prova da Austrália, disputada em um circuito urbano montado em um parque no centro de Melbourne, e que por causa disso, não permitiu que as mudanças fossem mais perceptíveis. Ainda que Sebastian Vettel tenha faturado mais uma vitória, atrás dele a prova malaia mostrou muitas disputas por praticamente todo o resto do grid, o que dá mostras de que, ainda que tenha adotado algumas regras questionáveis, a F-1 parece ter dado uma bola dentro, afinal.
            O grau de degradação dos novos pneus da Pirelli foram decisivos para deixar a grande maioria dos pilotos meio desnorteada em alguma parte da corrida. E isso já foi suficiente para se constatar que nos carros atuais, ritmo e performance passaram a ter caras diferentes. O desempenho que as escuderias estão mostrando nas classificações tem fugido em boa parte do ritmo que elas apresentam nas corridas, o que não deixa de ser uma notícia interessante. Do contrário, onde veríamos uma Ferrari, que foi aparentemente mal na classificação malaia, mostrar um desempenho bem animador durante a corrida, sem que acontecesse um evento fortuito que alterasse sobremaneira o desenrolar da etapa, como chuva, por exemplo? Do mesmo jeito, vimos uma McLaren ainda mais ameaçadora para a supremacia da Red Bull, mas que na corrida, não rendeu tanto quanto se esperava. Pelo mesmo caminho, vimos a equipe Renault novamente subir ao pódio, enquanto um dos times que teoricamente muito prometia na pré-temporada, a Mercedes, ter saído de Kuala Lumpur mais abatida do que em Melbourne, um panorama que também serve para ilustrar a situação da Williams.
            Basicamente, o desempenho obtido em uma volta lançada não sugere que o bólido consiga manter uma performance similar durante várias voltas com os atuais compostos de pneus. A performance de cada time passou a mostrar altos e baixos, alguns mais, outros menos, em um conjunto de fatores variados que tem mostrado influência maior no resultado final. Se até o ano passado quem largava na frente já era tido como o mais rápido a tempo integral, agora isso passou a ser algo mais incerto. Sair na frente não garante mais a supremacia da performance, e quem sai atrás não está mais, aparentemente, condenado a ficar nessa posição, impossibilitado de desafiar os ponteiros do grid.
            A asa móvel traseira mostrou algum serviço, mas ainda não foi dessa vez que as ultrapassagens foram banalizadas, como alguns temiam que fosse acontecer. Por mais artificial que seja o dispositivo, e de uso um tanto injusto, afinal, quem vai à frente não pode defender-se de quem vem atrás usando o mesmo recurso, ele sem dúvida dá algum alento a melhorar os duelos na pista, mesmo que não seja necessariamente nas retas. Ao permitir a aproximação nestes trechos, quem vem atrás, se souber aproveitar a chance, consegue ultrapassar, mas na maioria dos casos, o resultado é conseguir chegar mais próximo de quem vai na frente, e com isso, fazer mais pressão, e forçar um eventual erro, e quem sabe, até obter a ultrapassagem em um momento de vacilo, ou pegar melhor a próxima reta e concluir a ultrapassagem. Nesse ponto, o kers é algo mais justo, por ambos os pilotos em disputa poderem usar o dispositivo, dentro de seu limite de uso, que é a quantidade de carga do sistema por volta, onde cabe a quem o usa a melhor maneira de administrá-lo.
            Os pneus, em seus diferentes tipos, com uma degradação mais acentuada, começaram a exibir os sinais externos de como oferecem performances diferentes dependendo do carro, e do piloto que os utilizam. Como já mencionei em coluna anterior, pilotagens agressivas costumam consumir mais pneu, dependendo do estilo do piloto, que tem de saber ser rápido e ao mesmo tempo conservar seu equipamento. O caso mais evidente na Malásia ficou para a dupla da McLaren: Jenson Button, se não andava no mesmo ritmo de Lewis Hamilton, por outro lado, soube conservar melhor seus pneus, evitou uma ida a mais aos boxes, e foi o segundo colocado. Hamilton, por sua vez, além de seu estilo mais agressivo, ainda sofreu um desgaste mais acentuado de seus pneus no duelo que travou com Fernando Alonso, e o toque do espanhol em um dos pneus traseiros da McLaren do inglês, se não furou o pneu, com certeza deve ter piorado seu estado.
            No ritmo de corrida, embora Vettel não tenha construído uma vantagem significativa, é bem verdade que, em momento algum foi ameaçado de fato pelos concorrentes, o que indica que o alemão campeão mundial andou apenas o suficiente para se manter na frente, sugerindo que, se necessário, a Red Bull ainda teria uma folga para acelerar se fosse necessário. A recuperação de Mark Webber, que caiu praticamente para o meio do pelotão, deu uma amostra do poderio do RB07, e o australiano foi o 4° colocado, com uma parada a mais, e muito tempo perdido em disputas para recuperar as posições perdidas na largada.
            Se o time das bebidas energéticas ainda tem alguma margem de segurança, logo atrás a situação é um pouco mais parelha. McLaren e Ferrari até tiveram bons pegas em Sepang, mas a Renault foi quem soube aproveitar das disputas entre estes dois times para se manter em evidência. Uma excelente largada de Heidfeld, aliada às brigas de italianos e ingleses favoreceu o time francês, que dá mostras de ter um ritmo um pouco inferior a eles, mas sabendo manter uma constância melhor em corrida.
            Daí para trás, vemos times que ainda estão cheios de altos e baixos, e alguns que já demonstram um pouco a que vieram. Hoje, nos treinos de Shangai, poderemos ver um pouco mais de como estão as relações de forças, embora a hora da verdade seja apenas na corrida propriamente dita. A se persistir o panorama visto em Kuala Lumpur, o campeonato pode reservar algumas surpresas bem agradáveis nas próximas corridas, com as incertezas dos pneus deixando muitos engenheiros, pilotos e chefes tentando achar o rumo certo. E, na torcida, os expectadores torcem para que eles não acertem o rumo tão cedo. A incerteza é a garantia de emoções na disputa. E a F-1, nos últimos tempos, nunca gostou de ver incertezas pelo caminho, e não vai ser agora que vai engolir isso sem lutar...


A Curva do Café, em Interlagos, vai ganhar uma área de escape, visando aumentar a segurança no local. Para tanto, parte da arquibancada logo junto da curva será demolida, visando criar uma área de escape com cerca de 8 a 15 metros de distância a mais além da atual. Ainda não se sabe se a área de escape terá brita ou será asfaltada, como se prevê inicialmente, mas já é um início. Mas prefiro ver tudo terminado para constatar se a lição terá sido válida, e não um anúncio de “ocasião” para dar alguma satisfação ao público. Aguardemos, portanto...

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