quarta-feira, 20 de abril de 2011

ARQUIVO PISTA & BOX – JANEIRO DE 1994 - II

            Continuando com a publicação de minhas antigas colunas, eis aqui mais uma coluna escrita em janeiro de 1994. Ao fim de janeiro, já haviam acontecido algumas sessões de testes, coletivas e “solos” das escuderias na época. Como de costume, não dava para fazer uma avaliação precisa do que viria pela frente, assim como hoje, e o fato de haverem mais testes, que na época eram liberados, só ajudava na confusão de tentar entender as entrelinhas dos resultados obtidos pelos times. Como sempre, o segredo era, e ainda é, a alma do negócio. Ficava também complicado estar presente a todos os testes, e às vezes, eles aconteciam em lugares diferentes ao mesmo tempo, daí a necessidade de se escolher onde se iria cobrir. Às vezes, era bom, outras vezes, nem tanto.
            Então, fiquem agora com mais um texto de uma F-1 que hoje parece mesmo muito distante do que conhecemos...mas nem tanto.

PRIMÓRDIOS DE 94

Adriano de Avance Moreno

            O mês de janeiro já se foi, e como de costume, as perspectivas para a próxima temporada são animadoras. É claro que até agora não pudemos ver muita coisa. Alguns prognósticos, porém, podem ser feitos. Um deles é que a F-1 de 1994, sem toda a eletrônica presente em 1993, não deverá ser menos veloz. O tempo conseguido por Ayrton Senna no autódromo de Estoril, ao volante do Williams FW15 de 93 já mostra uma evolução nesse sentido. O fato de Rubens Barrichello ter sido tão rápido quanto Senna é a confirmação disso. Rubinho já conseguiu o tempo usando o Jordan 94, enquanto Ayrton só utilizou o carro de 93 adaptado às novas regras.
            O fato de a Williams não ter andado tão rápido quanto em 93 está no fato de que o FW15 foi projetado para utilizar todos aqueles recursos eletrônicos de que se ouviu falar tanto ano passado (suspensão ativa, freios ABS, acelerador inteligente, etc). Sem esses recursos, o carro perdeu boa parte de sua eficiência, um defeito que sem dúvida será sanado no novo FW16, que está em fase final de confecção, e será totalmente concebido de acordo com o novo regulamento. Isso deve colocar a Williams, logicamente, de volta na dianteira. A questão é quanto ficará adiante dos demais times, e isso é uma incógnita até o momento.
            Outra incógnita fica por conta das outras equipes de ponta. A Ferrari fez muitas melhorias nos seus testes particulares e em breve apresentará o novo carro projetado por John Barnard. A Ferrari está toda mobilizada para voltar ao topo da F-1, e contratou gente muito competente para o serviço: Niki Lauda, tricampeão mundial, acessora os pilotos, Jean Alesi e Gerhard Berger; Jean Todt, campeão com a equipe Peugeot no mundial de Esporte-Protótipos, chefia a equipe; John Barnard projeta os carros; e os motores ficam a cargo de Osamu Goto, ex-chefe da Honda na F-1 e ex-funcionário da McLaren. Se a Ferrari não conseguir se reerguer em 94 com o esforço de todo esse pessoal, cuja competência não deixa margem a dúvidas, não deve conseguir fazê-lo nunca mais.
            A Benetton é outra incógnita até o momento. O novo carro de 94 parece prometer muito, mas os testes foram ínfimos: com Michael Schumacher completando sua recuperação de uma pequena operação na perna feita em dezembro, os testes de pista acabaram ficando para J.J. Letho, o novo contratado da equipe. O finlandês, entretanto, sofreu um forte acidente em Silverstone, ocasionando a destruição de um dos novos carros, e sendo submetido a uma pequena operação que pode deixá-lo fora da primeira etapa, em Interlagos. A Benetton terá de recorrer a seu novo piloto de testes, o holandês Jos Verstappen, que impressionou muita gente nos testes coletivos do Estoril em outubro passado, mas que não possui tanta habilidade no acerto e desenvolvimento de carros. Com a volta de Schumacher à pista agora em fevereiro, o time pode tentar recuperar o tempo perdido.
            A McLaren, mais uma vez, também é uma incógnita. Se em 93 todos duvidavam que a equipe se mantivesse no topo após a saída da Honda, o que se viu foi um carro muito bom, o MP4/8, utilizando os motores Ford, a disputarem a liderança do campeonato até a prova do Canadá, com Ayrton Senna exibindo toda a sua pilotagem. O novo MP4/9 traz essa incerteza, aumentada pelo fato de a Peugeot estar ingressando na F-1 pela primeira vez, e não podendo mais contar com Senna, que foi para a Williams. Se Ron Dennis conseguir colocar Alain Prost, recém-aposentado, de volta ao volante de seus carros, a situação da McLaren pode voltar a tirar o sono dos concorrentes...
            Enquanto as coisas não se definem, continuamos a fazer conjecturas sobre o que pode vir por aí na F-1 este ano. E elas parecem ser muito boas por enquanto. Vamos esperar que continuem assim, pois parece que finalmente teremos um campeonato equilibrado...

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