sexta-feira, 12 de setembro de 2025

TROCA PRECIPITADA

Volta dos motores V-8 à Fórmula 1: idéia interessante, mas com péssimo timing.

            Por ocasião do Grande Prêmio da Itália, a Fórmula 1 voltou a falar mais uma vez no retorno dos motores V-8 à competição, como uma forma de simplificar o equipamento e baratear os custos. Estava agendada uma reunião que, no final das contas, acabou cancelada, adiada para data posterior pela FIA, indicando que não haveria consenso sobre o assunto entre os fornecedores da categoria. E lá vamos nós de novo para uma discussão inócua e inútil, pelo menos nas bases em que estão sendo discutidas no momento.

            Porquê? Ora, em 2026, a F-1 inicia uma nova era de regras técnicas, especialmente no campo dos propulsores, que já terão uma estrutura mais simples que as atuais, embora boa parte dos motores V-6 siga intacta. Não sou contra mudanças técnicas na competição, mas em um certame onde milhões de dólares são investidos pelos participantes, ao ponto em que a F-1 se tornou atualmente, mudanças de porte como os propulsores precisam ser discutidas com certo apuro e tempo de oportunidade. E o maior indício de que esta conversa do retorno dos V-8 não vinha em boa hora era da FIA querer propor tal mudança já para 2029, talvez 2030, o que daria apenas 3 ou 4 anos de uso para as novas unidades motrizes que nem sequer estrearam na competição. Ainda mais depois que os fabricantes já gastaram os tubos desenvolvendo os novos equipamentos, que neste contexto proposto, teriam uma vida útil extremamente reduzida, inconcebível para justificar gastos de tamanha monta.

            Não sou contra simplificar a competição da F-1, e de fato, os antigos V-8 poderiam retornar, mas sou mais idealista: gostaria que a categoria máxima do automobilismo fosse mais liberal nas regras, como nos bons tempos, e não apenas defendo a volta dos V-8, mas também dos V-10 e dos V-12, e respeitadas certas normas técnicas, os fabricantes poderiam escolher quais lhes atraem mais, levadas a cabo eventuais vantagens e desvantagens de cada configuração. Mas a F-1 atual é “engessada”, e qualquer sistema ou inovação que “saia” do contexto, é logo punida, ou banida da categoria, visto o sistema de refrigeração desenvolvido pela McLaren, que é uma das grandes vantagens do carro da equipe inglesa, que vem dominando a temporada: está proibido para o ano que vem, num verdadeiro atentado contra a inovação e criatividade que deveriam, respeitados os limites econômicos, prevaler na competição.

A Honda teve um motor turbo V6 imbatível na segunda metade dos anos 1980.

            E, mesmo que se acerte a volta dos velhos V-8, isso precisa estabelecer um tempo ideal, a fim de que os fabricantes possam capitalizar o imenso investimento que estão fazendo nas novas unidades híbridas que estréiam em 2026. Embora alguns tenham dito que não veem isso possível antes de 2031, eu vou um pouco mais longe: tal mudança deveria vir penas em 2035, oferecendo uma década para os fabricantes desenvolverem a contento a tecnologia que será a regra a partir do próximo ano, um tempo bem mais razoável para se manter uma tecnologia em uso nas pistas, do que sair mudando tudo de uma hora para outra. Nos velhos tempos, quando tudo era mais simples, e os motores também, mesmo mudanças nos formatos das unidades e das regras técnicas eram anunciadas com certa antecedência, de modo a proporcionar a todos os fabricantes na competição, e eventuais interessados em adentrá-la, tempo razoável para poderem conceber seus equipamentos, à luz das novas regras.

            Nos dias atuais, contudo, diante da eletrônica, e demais setores de tecnologia de última geração, fazer uma mudança conceitual no conceito das unidades de potência é algo que demanda um maior prazo de adequação, para se projetarem os equipamentos. E, também, estabelecer um tempo de vida útil que compense os grandes investimentos feitos na concepção e no desenvolvimento de tal tecnologia, pois ninguém investiria rios de dinheiro para algo que seria utilizado em poucos campeonatos. As fábricas querem racionalidade neste sentido, e não despender uma soma considerável de recursos que não gerarão retorno suficiente para o esforço dispendido, especialmente em termos financeiros.

A unidade V-12 da Ferrari, usada nos anos 1990.

            E neste ponto, algumas discordâncias. Mercedes e Ferrari, ao que tudo indica, estavam até interessadas em embarcar nesta mudança, mesmo já para 2029. Outros, porém, como Audi e Honda, por outro lado, seriam contra. A Honda vem de campeonatos recentes como campeã do mundo de pilotos, e tal sucesso a fez investir forte no novo projeto de propulsor a ser estreado no próximo ano, quando também iniciará sua parceria com a Aston Martin, deixando a Red Bull. E a Audi, depois de tanto assédio por parte da F-1, quando finalmente aceitou o desafio de entrar na competição, inclusive adquirindo um dos times existentes (o sonho da F-1 em si), e já tendo gastado os tubos para criar seu próprio equipamento, com vistas a estrear nas pistas em 2026, não ia querer ter tão pouco tempo para usufruir de seus esforços, e já ter que projetar e construir uma nova e diferente unidade motriz.

            Mohammed Ben Sulayem tem tido uma presidência altamente questionável na FIA, e infelizmente, tem tomado atitudes que considero corretas para o esporte, mas parece ser mais para desancar a F-1 do que qualquer outra coisa mais palpável. A briga que vivenciamos para que a categoria enfim tivesse um 11º time no grid, por mais que fosse bem-vinda, pareceu mais para atacar a categoria, que infelizmente se portou de forma lamentável neste quesito, quase “proibindo” novos times, a menos que o suborno – sim, falo sem meios-termos, fosse considerável, a fim de evitar “prejuízos” aos times já existentes (prejuízos, cara pálida? Uma cara de pau daquelas, isso sim, por parte da cartolagem da F-1). E agora, ficar aventando uma troca de motores, quando a nova geração, anunciada há algum tempo atrás, nem entrou nas pistas ainda, parece mais provocação barata do que preocupação genuína em tentar deixar a competição menos complicada e mais acessível. Qualquer um, com um mínimo de consideração, faria um debate e proposta mais saudável aventando o uso dos novos equipamentos para daqui a um par de anos, e não já para 2029 ou 2031, como sugeria as conversas iniciais.

            Isso é crucial para demonstrar respeito aos fabricantes envolvidos. A F-1 pode estar perdendo a Renault, que desistiu de participar da competição diante dos enormes gastos envolvidos, preferindo usar motores de terceiros em seu time, a Alpine, mas em contrapartida, está ganhando a entrada da Audi, que estréia ano que vem, e a Cadillac também está vindo aí, para não mencionar no retorno da Ford em 2026, como parceira da Red Bull Powertrains, com todos eles investindo pesado para suas empreitadas na competição, e que não podem ser simplesmente menosprezados só porque o presidente da FIA inventa, ainda que com aval velado de alguns participantes, de trazer de volta os motores V-8, pelo menos, da forma como a discussão está sendo feita até aqui. E como já frisei, nada contra o retorno destes propulsores, apenas a discussão tem de ser conduzida com mais responsabilidade, propondo idéias e motivos para angariar apoio, e verificar a viabilidade crível da adoção destas unidades no futuro próximo (na próxima década, pelo menos) da F-1. E o principal: conciliar os interesses de todos os fabricantes envolvidos, de modo a conseguir a sinergia necessária para a aprovação em termos ideais das novas regras, sem criar conflitos com ninguém.

A Renault dá adeus à F-1 o fim desta temporada. Montadora não participará da nova era híbrida que inicia no ano que vem.

            No presente momento, como podemos ver, nem todo mundo é a favor do V-8, e quem se manifesta a favor pode muito bem estar apenas descontente com sua situação atual na competição, não conseguindo os resultados que almeja. A Mercedes dominou a competição na maior parte da era híbrida instituída de 2014 para cá, mas a nova era do efeito-solo, iniciada em 2022, alterou este equilíbrio de forças, com o time alemão perdendo seu protagonismo desde então. Mas agora verá seu motor ser campeão novamente, ainda que com a McLaren. Já a Ferrari parece um ioiô – ora vai bem, ora vai mal. Foi bem no ano passado, e está indo mal este ano, pelo menos do jeito como imaginavam inicialmente. Mas o problema maior é a concepção de seus carros. Façam um trabalho mais competente, e certamente voltarão a brilhar como gostariam. Não é mudando as regras dos motores que isso ficará mais fácil.

            A idéia de simplificar os propulsores, e ainda assim manter níveis de desenvolvimento tecnológico ideais em consonância com a sustentabilidade ambiental é boa. Só precisa ser desenvolvida da maneira certa, e com as diretrizes adequadas para cativar os fabricantes, que precisam sair ganhando nesta nova definição de regras. Mas, acima de tudo, também proporcionar um diálogo sadio, e com prazos de discussão e implementação que permitam a capitalização do capital investido, que não é pouco. Todos saem ganhando. Ou, pelo menos, devem sair, se tudo for feito de acordo com os ditames da boa conversa, e não ficar em discussões com detalhes inconvenientes, e prazos exíguos de aproveitamento do regulamento atual.

            Um exemplo contundente da inconveniência da proposta é quem sequer estrearam ainda os propulsores do novo regulamento técnico. Uma discussão deste tipo serve apenas para desmerecer os novos motores que irão estrear no próximo ano. Depois de vermos os resultados por pelo menos duas temporadas, aí sim acredito que este tipo de discussão viria muito bem a calhar, onde se poderia avaliar os prós e contras das novas unidades de potência, e não agora, quando ainda nem sabemos o quanto elas poderão render, quem sairá melhor do que os demais, etc. Se a competição ficará melhor ou pior, isso dependerá muito mais do projeto dos carros onde serão instaladas do que pela unidade propulsora propriamente dita. E não se precisaria antecipar este tipo de discussão, que por enquanto, não serve de nada, além de tumultuar as expectativas técnicas do setor.

            No devido tempo, esta discussão certamente terá o seu lugar merecido, com as chances de promover melhorias efetivas, depois de um entendimento entre todos os participantes, e não antes. Não adianta ser precipitado neste movimento...

 

 

Contrariando as expectativas, Max Verstappen dominou o Grande Prêmio da Itália, domingo passado, e com uma folga que até assustou quem imaginava que a McLaren poderia novamente deitar e rolar em cima da concorrência. Os carros de Woking, em especial com Lando Norris, até vinham fazendo bonito nos treinos, mas sem dar indício de que faria um tradicional massacre, e no treino de classificação, até mesmo a pole, mesmo inesperada, do tetracampeão holandês, foi encarada com algumas ressalvas, uma vez que poderia ser um resultado momentâneo para o treino, tirando asa para ganhar velocidade nas retas, algo crucial em Monza, a pista mais veloz do calendário. Todos imaginavam que, na corrida, a McLaren voltaria a se impôr, e a Verstappen, com sorte, teria garantido pelo menos o 3º lugar, já que ninguém imaginava se Ferrari e Mercedes teriam ritmo para complicar os planos do time dos energéticos. Mas não foi o que se viu. Max Verstappen não apenas se impôs, como dominou a corrida, e pouco a pouco, foi desgarrando de Lando Norris e Oscar Piastri, que pouco pareciam poder fazer para impedir que o holandês sumisse na liderança. Mesmo uma mudança para pneus macios no final da corrida não surtiu efeito, embora a McLaren tenha queimado sua imagem com uma nova troca de posições entre seus pilotos, ordenando a Piastri que devolvesse a posição a Norris, diante do inglês ter perdido a posição com um pit stop mais lento devido a um problema em uma das pistolas pneumáticas, algo que muitos viram como completamente desnecessário, e contrário à esportividade. Até Verstappen deu risada do ocorrido, e sem ter nada a ver com isso, venceu de forma categórica em Monza, lembrando seus dias recentes de domínio na competição, onde só era visto na hora de dar volta em cima dos retardatários, tendo cruzado a linha de chegada com praticamente 20s de vantagem para Lando Norris.

Max Verstappen: Show em Monza com vitória para ninguém botar defeito, principalmente as McLarens.

 

 

O piloto inglês, aliás, saiu duplamente derrotado em Monza. Por mais que tenha chegado em 2º lugar, e à frente de Oscar Piastri, que foi o 3º colocado, tudo o que ele conseguiu foi tirar apenas 3 pontos da desvantagem para seu companheiro de equipe, que ainda ostenta confortáveis 31 pontos na liderança do campeonato, e neste ritmo, não conseguiria descontar tudo até o encerramento do campeonato. E, o pior, foi precisar da inversão de posições, diante de um problema alheio a seu controle, que foi o pit stop, onde perdeu a posição para Piastri, e a ganhou de volta por ordem do time, em nome de uma suposta “justiça” da escuderia para compensar o seu erro nos boxes. Piastri até aceitou sem relutância, mas foi um verdadeiro anticlímax para a McLaren, e até para Norris, que se quiser ser campeão de fato e de direito, precisa ser muito mais incisivo e determinado na pista. E a McLaren, claro, não precisava disso para manchar, mesmo que de leve, a sua grande temporada de redenção na F-1, onde está voltando ao topo para vencer mais um campeonato de pilotos, o primeiro desde 2008...

 

 

Bastou Felipe Drugovich começar a ser possivelmente cotado para ser piloto da Alpine na próxima temporada, para Flavio Briatore começar a falar na manutenção de Franco Colapinto no time. A justificativa do dirigente, conhecido por já ter sido implacável com vários pilotos e defenestrado vários deles, com demissões sumárias, agora vem falar em manter a estabilidade da escuderia, ainda mais diante dos novos regulamentos técnicos que serão implantados em 2026, para não mencionar na mudança mais drástica, que será passar a utilizar motores de terceiros nos carros da equipe francesa, já que a Renault abandonou a F-1, e a partir do ano que vem, a Alpine passará a ser suprida pela Mercedes, utilizando os motores alemães na categoria máxima do automobilismo. O dirigente, aliás, prega o otimismo, dizendo que com estes propulsores, o time não terá desculpas para não vencer na competição. Será mesmo? Os propulsores da Renault podem não ser os melhores, mas estão longe de serem uma piada também. Mas acusar a ruindade do carro parece tão óbvio que Briatore parece querer que todos se esqueçam disso. Pelo sim, pelo não, vamos ver como a Alpine se sairá no ano que vem. E Drugovich parece estar com uma zica daquelas, onde é só mencionar o menor raio de esperança de ele conseguir enfim um lugar no grid, para tudo desmoronar logo em seguida, a ponto de até mesmo um vigarista como Briatore vir falar de manter a estabilidade do time para segurar Franco Colapinto na escuderia? Só se os patrocinadores trazidos pelo piloto forem de fato muuito bons, e sejamos francos, melhores do que os patrocinadores que viriam com Drugovich, infelizmente, eles são..

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