quarta-feira, 10 de setembro de 2025

ARQUIVO PISTA & BOX – JULHO DE 2000 – 21.07.2000

            Hora de voltar com uma de minhas antigas colunas, e esta foi publicada no dia 21 de julho de 2.000, e o assunto era a expansão da F-CART (a antiga F-Indy) para a Europa, onde a categoria de monopostos dos Estados Unidos vivenciava um de seus momentos mais prósperos. A categoria iria ter provas na Alemanha e na Inglaterra, em pistas ovais, mostrando o seu show de velocidade, que encantava a todos pela TV, aos fãs da velocidade do Velho Continente. Isso até funcionou, mas durou pouco, e a crise que atingiu a categoria algum tempo depois implodiu o que poderia ter sido uma nova opção de entretenimento para os fãs de corridas. Uma boa leitura a todos, e em breve devo trazer mais colunas antigas para colocar aqui. Até breve...

A F-CART PREPARA-SE PARA INVADIR A EUROPA

 

            As escuderias da F-CART iniciam hoje os treinos oficiais para as 500 Milhas de Michigan, que serão disputadas neste domingo naquela que é a pista mais veloz do campeonato, o Michigan International Speedway. Na pista, o bom momento vivido pelos pilotos brasileiros na categoria é apenas um dos assuntos mais discutidos no paddock, mas que tem no atual momento do campeonato a discussão sobre a chegada da categoria finalmente à Europa, o que irá ocorrer em 2001.

            De olho em ampliar seus horizontes e conquistar novos mercados, a F-CART desembarcará ano que vem na Europa, feito considerado por muitos impossível até pouco tempo atrás. Depois de balançar a Fórmula 1 na década passada, a categoria americana mostrou-se uma opção viável não apenas para os torcedores amantes da velocidade, mas também para os pilotos, que viram no campeonato Indy original uma nova opção de carreira que até alguns anos atrás era ou ignorada, ou desconhecida.

            Émerson Fittipaldi foi o primeiro nome de peso a competir integralmente na categoria, em meados dos anos 1980. Outros nomes que já haviam competido na F-1 já haviam dado as caras no certame americano, mas com exceção de Mario Andretti, campeão pela Lotus em 1978 na F-1, nenhum deles era um nome de grande expressão. Mario, por sua vez, era um nome visto como exceção. Bicampeão da F-1, Émerson começou a mudar um pouco esse panorama, especialmente depois de vencer as 500 Milhas de Indianápolis de 1989 e conquistar o campeonato da categoria no mesmo ano.

            Mas o terremoto viria mesmo com a participação de Nigel Mansell em 1993. O inglês, campeão pela Williams na F-1 em 1992, sentindo-se desprestigiado pela escuderia, que teria Alain Prost no ano seguinte, resolveu chutar o pau da barraca e mudar-se de mala e cuia para os Estados Unidos no ano seguinte. Além de competir por um dos melhores times da categoria, a Newmann-Hass, que tinha um excelente carro naquele ano, Mansell atraiu uma legião de jornalistas europeus, movidos pelo interesse dos fãs da F-1 em acompanharem o campeão em sua empreitada na América. Interesse que só aumentou quando Mansell conquistou o título da então F-Indy em 1993.

            Ter uma corrida na Europa, muitos diziam, era questão de tempo. Apesar de planos de se manter fiel ao público americano, a categoria tinha desde 1991 uma corrida fora da América, o GP de Surfer's Paradise, na Austrália, que era um sucesso de público. Até então, a categoria no máximo tinha algumas corridas no Canadá, mas sendo ali ao lado dos Estados Unidos, isso não significava ir longe. O sucesso de Mansell e Fittipaldi, contudo, deu à categoria uma visibilidade maior do que todos imaginavam, e correr em outros lugares não parecia tão impossível assim.

            E o Brasil saiu na frente, com uma prova em um circuito oval construído em Jacarepaguá, que se mostrou muito bem aceita logo de início, e tendo sempre um bom público, em que pese que poderia ter sido melhor divulgada. Mesmo assim, os resultados comerciais sempre foram bons. E agora, a categoria prepara-se para aumentar seu repertório. Para a temporada 2001 devem ser programadas 22 corridas, contra as atuais 20 presentes no calendário deste ano. O México deve ter uma prova em Monterrey, que está sendo fechada com a organização da categoria, a CART, presidida pelo tricampeão Bobby Rahal. Rahal, aliás, viajou recentemente à Europa, para fechar os acordos que permitirão à F-CART desembarcar no Velho Continente na próxima temporada.

            Os países que sediarão as etapas européias do campeonato serão Inglaterra e Alemanha. No país da Grã-Bretanha, o palco será o autódromo de Rockingham, localizado em Northamptonshire. O circuito terá duas opções principais de traçado, um misto e um oval, sendo esta última configuração o palco que será usado pela F-CART na prova do ano que vem. A pista oval, com um formato similar a um quadrado/trapézio, terá 2,38 Km de extensão. A pista mista, aliás, terá opções de personalização na área interna do circuito oval, permitindo modificações do traçado de acordo com a categoria que for disputada, totalizando 13 opções, de acordo com o projeto do autódromo. Será certamente um autódromo versátil para receber várias corridas, de campeonatos variados. Quem sairá ganhando é o torcedor inglês, que ama as corridas como poucos, e agora terá a chance de conhecer os monopostos nos quais seu grande ídolo, Nigel Mansell, foi campeão em 1993. Uma pena Mansell ter encerrado a carreira já há alguns anos, depois de seu infrutífero retorno à F-1 ao fim de 1994, poderia ter tido vida longa na F-CART se tivesse permanecido na competição, e quem sabe, até ter a chance de disputar esta corrida perante seu grande e amado público.

            A outra pista européia que irá receber os velozes carros da categoria é o autódromo de Lausitzring, que a exemplo de Rockingham, terá várias opções de traçado, entre elas o circuito oval em formato triangular, similar à pista de Pocono, em Long Pond, Estados Unidos, que até 1989 fazia parte do calendário da competição, sediando uma prova de 500 milhas, ao lado de Indianápolis e Michigan. Este traçado oval, com 3,256 Km de extensão, deixou tanto Bobby Rahal quanto Émerson Fittipaldi, que acompanhava o dirigente, de queixo caído com a qualidade das instalações. Aliás, a pista de Lausitz tem altas pretensões, e não quer ficar apenas com a F-CART: seus dirigentes já confessaram o objetivo nada modesto de levar para lá nada menos do que o GP da Alemanha de F-1, para o traçado misto do autódromo, que tem 4,345 Km de extensão. Sonhar não é pecado, mas creio que dificilmente eles conseguirão arrancar a prova germânica de Hockenhein, pista que apesar de ter um traçado até simples em termos de desenho, tem um visual espetacular com as longas retas na floresta, onde os motores da categoria máxima do automobilismo roncam tudo o que podem.

            Há alguns anos, para pacificar os atritos com a FIA, a CART estabeleceu um acordo de realizar corridas fora da América do Norte apenas em circuitos ovais, daí o fato das provas do Brasil, e agora as da Europa, serem disputadas neste tipo de circuito. Não deixa de ser uma atração a mais para o público, uma vez que correrem em pistas mistas faria a F-CART ser muito comparada à F-1, e o certame americano é muito mais versátil, pelo menos em termos de variedade de autódromos, e certamente, muito superior nos quesitos equilíbrio, competitividade, e ambiente muito mais relaxado e próximo do público, algo que dificilmente se vê na F-1.

            Mesmo assim, a categoria americana tem tudo para conquistar os europeus, uma vez que hoje já conta até com pilotos do velho continente competindo regularmente por lá, como o escocês Dario Franchiti, o espanhol Oriol Sérvia, o inglês Mark Blundell, e o sueco Kenny Brack. E o equilíbrio da competição, com vários pilotos tendo a chance de vencer e possivelmente de conquistar o título, deve ser um diferencial gritante em relação à F-1, onde apenas quem está na Ferrari ou McLaren tem reais chances de vencer e ser campeão.

            Está na hora da F-CART iniciar a conquista do Velho Continente. A F-1 que se cuide, e embora seja exagerado dizer que o certame americano vá "roubar" os torcedores para seu campeonato, não se pode negar que a competição americana vai dar uma balançada na categoria máxima do automobilismo em seu quintal até então exclusivo.

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