quinta-feira, 11 de setembro de 2025

GLOBO: A VOLTA DA FÓRMULA 1

O filho pródigo à casa torna: depois de cinco anos de ausência, a F-1 voltará a ser exibida pela TV Globo, a partir do próximo ano. 

 

OBS: Devido a problemas variados, duas colunas regulares ficaram sem ser publicadas no mês de agosto. Eis que faço aqui a publicação da primeira delas, esta, que deveria ter sido publicada no dia 22 de agosto de 2025, e que agora está disponível para todos. Boa leitura...

            Este assunto já foi notícia há algum tempo atrás, mas diante de outros assuntos para discorrer aqui na coluna, tive de adiar a análise deste acontecimento, tido por muitos como inevitável, depois dos percalços enfrentados pela Bandeirantes no ano passado na manutenção dos direitos de transmissão do campeonato da Fórmula 1, que acabaram mantidos para este ano, mas que em 2026, voltarão para a emissora do Jardim Botânico, que transmitiu a competição ininterruptamente entre 1981 e 2020.

            Sem interesse em manter as transmissões ao fim de 2020, e com a pandemia causando estragos financeiros em muitos setores, a Globo desistiu de manter a F-1 na sua grade de programação, e durante algum tempo, os boatos de quem assumiria as transmissões pipocaram forte no meio jornalístico. Bandeirantes, Record, e até mesmo SBT eram as opções que surgiam de interessados em assumir a empreitada, e assim, garantir que a categoria máxima do automobilismo continuasse firme na TV aberta brasileira, um panorama cada vez mais escasso nas transmissões da F-1 pelo mundo afora, atualmente mais concentrada em canais pagos, elitizando o seu acesso, apesar do lançamento de seu próprio aplicativo de streaming.

            E eis que a Bandeirantes se colocou como nova emissora da F-1, e logo em 2021, acabou brindada com o campeonato mais disputado da categoria em muitos anos, que só foi resolvido praticamente na última volta da última corrida, em Abu Dhabi, naquela decisão polêmica que definiu o título a favor de Max Verstappen contra Lewis Hamilton. E a emissora paulista deu um tratamento que há muito a F-1 carecia na TV aberta, com transmissões dos treinos classificatórios e de todas as corridas, além de um pré-GP generoso que, apesar de alguns percalços e falhas, encheu os olhos dos fãs e torcedores, especialmente diante do descaso que a categoria vinha enfrentando na Globo nos últimos anos, onde a emissora cortou a transmissão dos treinos de classificação, restringindo-a ao canal pago SporTV, e nem mais a mostrar a cerimônia do pódio, cortando a transmissão tão logo os pilotos recebiam a bandeirada, frustrando os torcedores. Completando a cereja do bolo, a emissora paulista ainda por cima contratou toda a equipe que cuidava das transmissões na Globo, garantindo a fluidez e naturalidade da empreitada, oferecendo aos fãs da velocidade não apenas vozes conhecidas e reconhecidas, mas dando-lhes muito mais liberdade do que tinham na emissora carioca.

Nos seus anos áureos, a Globo foi responsável por transmitir os campeonatos que foram vencidos por Nélson Piquet (acima, na Williams, em 1987) e por Ayrton Senna (abaixo, na McLaren, em 1991). 


            E agora, os fãs ficam apreensivos, com a volta da F-1 à sua antiga casa, que já definiu que nem todas as corridas irão ser disponibilizadas na TV aberta, território cada vez mais escasso para as transmissões da categoria no mundo inteiro. Quem quiser acompanhar tudo, dos treinos às corridas, precisará ter o aplicativo oficial da F-1, ou pelo menos ter um pacote de TV por assinatura que englobe os canais SporTV, onde estará tudo na íntegra. Das 24 corridas, pelo menos 15 serão transmitidas no canal aberto da Globo, ficando o restando sendo transmitido em VT ao final do dia, possivelmente. Quem quiser ver ao vivo tudo, que vá arrumar o SporTV ou o aplicativo oficial da F-1, que agora a Globo teve de aceitar para voltar a ter a F-1 em seus domínios. E, claro, fica a questão da qualidade das transmissões, que a própria Globo vinha definhando em seus últimos anos de transmissão, o que não quer dizer a qualidade técnica da mesma, por assim dizer, mas a qualidade de seus integrantes de transmissão.

            Para quem estava acostumado com a equipe que comando as transmissões na Bandeirantes nestes últimos cinco anos, o choque poderá ser radical. A Globo, segundo consta, teria tido interesse em contar com Felipe Giaffone, que é comentarista na emissora paulista, para onde migrou junto com o restante do pessoal após a Bandeirantes assumir as transmissões em 2021, mas em mais ninguém do elenco. Assim, ficarão de fora o narrador Sérgio Mauricio, o comantarista Reginaldo Leme, e a repórter Mariana Becker, que já tinham larga experiência de várias temporadas nas transmissões da TV Globo, inclusive Giaffone. Só Luciano Burti, ex-piloto, continuou na Globo, e ele deve voltar a participar das transmissões da F-1 agora com o retorno da competição à grade.

            O contrato firmado pela Liberty Media com a Globo terá duração de três anos, de 2026 a 2028, e engloba Globo, Sportv e GloboPlay, o streaming do Grupo Globo. Pelo acordo, os fãs terão então 15 corridas na televisão aberta, e todos os 24 GPs sendo transmitidos no canal fechado do SporTV. As etapas do Bahrein, Arábia Saudita, Miami, Canadá, Estados Unidos, México e Qatar devem ser transferidas ao Sportv por conflito de horário na grade aberta, com a Globo dando a prioridade ao futebol, como já vinha fazendo anteriormente. Treinos livres, e também os treinos de classificação, além das corridas Sprint também estarão integralmente apenas no canal fechado, para desilusão de quem ainda esperava ver pelo menos os treinos classificatórios e as corridas curtas em TV aberta. Não há como negar que, diante dos tempos recentes, a resposta do público é das mais negativas, com o receio de que a F-1 volte a ser apenas “mais uma atração” do canal, uma vez que a Globo tinha prática de transmitir coisas que não eram dela propriamente apenas como uma formalidade, sem dar maiores destaques. Não há como contestar este tipo de preocupação, afinal, mesmo com seus prós e contras, a Bandeirantes soube dar um espaço mais do que merecido à categoria máxima do automobilismo nestes cinco anos em que está transmitindo a competição. Poderia até fazer melhor, mas está dando para o gasto, e satisfazendo a maioria do público.

            As categorias suporte da Fórmula 1, como a F-2, a F-3, a F-1 Academy, e a Porsche Supercup, também estão englobadas no acordo firmado, e serão transmitidas na íntegra no Sportv, a exemplo do que a Bandeirantes já vinha fazendo, disponibilizando estes campeonatos no seu canal pago Bandsports.

            O que pegou todo mundo de surpresa foi que a Globo não teria feito a melhor oferta financeira. Por incrível que pareça, até a TV Record entrou na briga, sendo que a emissora da Barra Funda teria apresentado a melhor proposta em termos financeiros, seguida, claro, da Bandeirantes. Mas a opção da Liberty Media pela Globo teria, entre os motivos principais, o alcance da emissora carioca em todo o país, além de ter um conjunto de plataformas mais variado que o das concorrentes. A Liberty Media priorizou audiência em detrimento do fator financeiro, praticamente.

            Na Globo, qualquer programa transmitido no domingo de manhã tem uma audiência flutuante de 8 a 10 pontos. Na Bandeirantes, com muito esforço, um GP alcançava, quando muito, 5 pontos de audiência. Mais do que apenas a audiência, este detalhe impacta diretamente nos custos de publicidade no horário. Menor audiência se traduz em preços menores para os anúncios publicitários, e vice-versa. Assim, a audiência maior da Globo, mesmo básica, já costuma ser quase o dobro da média obtida pelas transmissões da Bandeirantes, uma vez que a emissora carioca possui um alcance bem maior do que a rival do Morumbi. E isso, por si só, já vai se traduzir em maiores ganhos financeiros, os quais serão repassados também à Liberty Media, cujo contrato certamente impõe parte de transferência destes recursos, em percentual estabelecido em contrato. Em teoria, Globo e Liberty sairão ganhando, de qualquer maneira. E, curiosamente, o fato de a maior proposta financeira não ter levado a melhor deveria ser algo elogiado, ainda mais quando se critica o poder financeiro acima da qualidade nos dias atuais. Mas aqui, o que poderia ser uma notícia positiva, gera incerteza e preocupação, justamente pelo temor de a transmissão cair de qualidade, se formos tomar como referência o que a Globo vinha fazendo em seus últimos anos de transmissão da F-1. Um dos motivos certamente foi o fato de não termos um piloto brasileiro no grid, o que levou a emissora a perder o interesse em seguir com a F-1. Mas agora, com Gabriel Bortoleto na pista, e conseguindo fazer bonito, e com melhores perspectivas para o ano que vem, as chances da audiência ter um forte impulso são boas. E é preciso esperar para ver se a Globo mostrará um vigor renovado em suas transmissões, depois destes cinco anos de ausências.

Rubens Barrichello protagonizou a última vitória de um piloto brasileiro na F-1, ao vencer o Grande Prêmio da Itália, em 2009, com transmissão da Globo.

            Por mais que seja óbvio dizer que não dá para julgar antes de ver, o próprio formato anunciado pela Globo já indica uma queda de qualidade na transmissão, ao reduzir o alcance no canal aberto, priorizando a transmissão no canal fechado. Praticamente um terço da temporada não será exibida ao vivo no canal aberto, um buraco considerável, que certamente poderá impactar nos índices de audiência, que certamente não serão compensados pela transmissão completa no SporTV, ainda que a transmissão seja de melhor qualidade, diante do menor alcance do canal de TV por assinatura diante de um canal de sinal aberto.

            Também não dá para dizer que a qualidade da transmissão, em termos de equipe, seja duvidosa, antes de vermos como eles se sairão. Na Bandeirantes, mesmo mantendo a maioria dos nomes que faziam a transmissão na Globo, aos poucos eles foram incorporando novos profissionais, em especial nos treinos livres, que tem se mostrado muito competentes no serviço, e portanto, deve-se dar a chance de ver como o novo pessoal que a Globo está escalando irá se apresentar para o desafio. A equipe de transmissão deverá ser composta por Luís Roberto e Everaldo Marques na narração, Luciano Burti e Rafael Lopes nos comentários e reportagem de Júlia Guimarães, Guilherme Pereira e Marcelo Courrege, que irão se revezar nas corridas. Vale destacar que as transmissões das corridas no Sportv e Globo acontecerão de forma simultânea, mas com equipes diferentes, algo que ocorria antigamente na emissora, com as transmissões da Globo contando com uma equipe diferente da que fazia a mesma transmissão no SporTV. Nos últimos anos de veiculação da competição, contudo, a transmissão foi uniformizada, sendo a mesma equipe tanto no canal aberto quanto no fechado, sendo que este apenas reprisava a transmissão do canal aberto, já que era normalmente transmitida em VT, quando a transmissão original não era no próprio canal fechado.

            Infelizmente, o panorama atual das transmissões da F-1 é completamente diferente de antigamente, quando as exibições em canais abertos eram a regra. Hoje, são a exceção, e a imensa maioria das emissoras que transmitem a categoria máxima do automobilismo o fazem em sistemas fechados, nos canais de TV por assinatura, com poucas provas sendo efetivamente exibidas em seus canais abertos. Isso provocou uma elitização das transmissões, que foram realocadas para canais pagos, acessíveis a menos pessoas que os canais abertos. Mesmo no exterior, isso virou norma, com as provas sendo exibidas em canais abertos sendo exceções. O Brasil era um caso à parte, onde pelo fato da maior parte da população não ter condições de possuir TV por assinatura, o sinal aberto ainda era a chave indispensável para se fazer sucesso no país, e a audiência que a Globo alcançava com as transmissões era significativa. Mas os tempos mudaram, e com o lançamento de sua própria plataforma de streaming, a F1TV, a F-1 passou a depender menos do alcance das emissoras abertas.

            Aliás, este foi um fator que levou a Globo a desistir de renovar com a F-1 em 2020, porque a Liberty Media insistia no lançamento do seu aplicativo para o Brasil, e a Globo, que queria manter a exclusividade, se negava a aceitar dividir o palco com as transmissões pela internet. Agora, isso mudou, e o Globoplay também poderá transmitir as corridas. No aplicativo da F-1, eles atualmente utilizam a transmissão produzida pela Bandeirantes para as opções em português. No caso da Globo, ainda não foi informado se isso será feito, e com qual transmissão eles trabalharão. E o fã menos abastado, lamentavelmente, terá de se acomodar a este novo sistema. Quem tem mais condições certamente continuará tendo a F1TV como opção às transmissões televisivas, se não mesmo acompanhando pelo SporTV. E veremos se, ao final destes três anos de contrato, se tudo continuará por lá, ou se novamente as transmissões da F-1 migrarão para outro canal.

            Só nos resta torcer para que a Globo tenha consideração, e volte a fazer um trabalho de qualidade, como costumava fazer em seus bons tempos, quando foi a principal responsável por cativar, e sobretudo, conseguir manter o interesse dos fãs e telespectadores, mesmo nos momentos mais complicados.

 

 

Qual será o destino de Franco Colapinto? O piloto argentino chegou causando sensação na F-1 anos passado, quando a Williams sacou o estadunidense Logan Sargeant, diante da falta de resultados, pelo argentino, que foi logo dando uma canseira em Alexander Albon, algo que Sargeant nunca havia conseguido fazer. Franco também foi marcando alguns pontos, mostrando como a Williams poderia ter tido resultados mais expressivos no campeonato, se tivesse contado com Colapinto deste o início da temporada. Isso chegou até a causar uma certa disputa pelo piloto, onde até mesmo a Red Bull teria entrado na parada. O problema é que não demorou até o argentino começar a bater demais, o que esfriou os ânimos em torno de sua possível contratação. Afinal, mesmo se mostrando muito rápido, a propensão para acidentes não era algo visto com bons olhos, ainda mais em época de teto orçamentário, onde batidas custam caro para serem incluídas no teto de gastos imposto. Quando se deu a sua contratação como piloto reserva da Alpine, todo mundo já imaginava o que aconteceria: Jack Doohan, segundo piloto da equipe, já estaria na marca do pênalti, pronto para ser substituído logo que terminasse sua “provação” de cinco corridas, não importando o que ele conseguisse. E foi o que aconteceu. Só que, desde que reestreou na competição, o piloto argentino não conseguiu pontuar, e para variar, também se envolveu em alguns acidentes. A falta de resultados, em que pese o péssimo carro do time francês, já andou deixando Flavio Briatore inquieto, a ponto do dirigente começar a dizer, nas entrelinhas, que a contratação de Franco foi um erro. Mas, trazer Doohan, que também não havia pontuado, de volta, está fora de cogitação, e colocar outro piloto no lugar de Colapinto também não traria dividendos nesta temporada, o que sugere que, pelo menos até o fim do ano, o argentino deverá continuar como titular, indo contra o ímpeto crucificador de Briatore, que já demitiu pilotos por muito menos em seus tempos áureos de canalhice no comando de uma escuderia. Pelo sim, pelo não, Franco já estaria sondando alternativas para 2026, fora da F-1, diante da perspectiva, cada vez mais forte, de que não terá lugar na Alpine no próximo ano, e que dificilmente outra escuderia na categoria máxima do automobilismo estaria interessada nele, diante do que tem mostrado nas pistas este ano..

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