Voltando a trazer mais um texto antigo, esta coluna foi publicada no dia 28 de julho de 2.000, e estávamos às vésperas do Grande Prêmio da Alemanha daquela temporada, e a expectativa de um novo duelo entre Ferrari e McLaren era forte, sendo que a dúvida era quem seria mais forte na pista alemã que cortava a Floresta Negra, onde suas belas e longas retas impunham um desafio único na temporada para os propulsores, que eram exigidos em força máxima. De quebra, nos tópicos rápidos, algumas notícias do mundo da velocidade, entre elas o fato das 500 Milhas de Michigan, válidas pelo campeonato da F-CART, contar com nada menos do que 10 brasileiros no grid, número impensável de se imaginar nos dias atuais, onde na atual temporada ficamos praticamente sem nenhum representante regular no grid da atual Indycar, que nem de longe tem a exuberância da categoria original. Uma boa leitura a todos, e bom divertimento...
DUELO EM HOCKENHEIN
Chegou a hora do Grande Prêmio da Alemanha, e lá vamos nós de novo para mais uma batalha particular entre a McLaren e a Ferrari, como tem sido todas as corridas nesta temporada. O ingrediente que torna a situação diferente no circuito alemão da Floresta Negra é a situação em que ambas as equipes se encontram. Depois de um início vitorioso nas primeiras corridas do ano, agora a Ferrari se vê potencialmente ameaçada pela McLaren, que teve alguns percalços no início do campeonato e agora parte em recuperação para lutar pelo seu terceiro título consecutivo e o último título da F-1 do Século XX.
É uma situação parecida com a da Ferrari nos últimos dois anos, quando o time de Maranello saia perdendo nas primeiras corridas para depois recuperar o terreno perdido e chegar às etapas finais disputando o título. Pois bem, é o que a McLaren está fazendo agora. Além de recuperar a forma esperada do início da temporada, as coisas começam a ficar quentes pelo lado da própria Ferrari no que tange a Schumacher. O piloto alemão não pontua há 2 etapas, vítima de abandonos por quebra mecânica e incidente de largada. Uma péssima hora para isso acontecer, pois a McLaren vem em ascensão e não vai desperdiçar as chances. Quem conhece o histórico da McLaren sabe que o time de Ron Dennis é muito forte nestas situações. Um exemplo, embora de outra época na F-1, é de 1974, quando Émerson Fittipaldi chegou de trás para ser o campeão da temporada daquele ano. É verdade que hoje os tempos são outros, mas que ninguém duvide que a McLaren tem chances de repetir a dose.
Para evitar que isso aconteça, a Ferrari trabalhou dobrado nas últimas duas semanas, testando incansavelmente novos componentes no F1-2000 a ponto de conseguir qualquer trunfo que lhe permita enfrentar a McLaren em melhores condições nas próximas etapas. Apesar da boa performance do carro da Ferrari, a McLaren ainda é aerodinamicamente superior ao carro italiano, o que garante um desempenho muito mais estável nas pistas dealta velocidade, que é praticamente o que mais temos daqui para a frente.
Na Áustria, vimos uma McLaren superior à Ferrari, tanto em classificação como em ritmo de corrida, apesar das declarações de Rubinho de que, pelo incidente na largada, não pôde exigir tudo de seu carro. A pista de Hockeinhein é similar à de Zeltweg em vários aspectos, especialmente no quesito velocidade. É aqui no circuito alemão que os F-1 atingem suas maiores médias horárias em velocidades de ponta em toda a temporada, graças às grandes retas que cortam o trecho da floresta onde o circuito se encontra. O pico de velocidade chega na casa dos 350 Km/h na grande reta após a pequena reta dos boxes. Mesmo com as chicanes que entremeiam o circuito, a média horária é elevada. E, nesta corrida de pé embaixo, o carro aerodinamicamente mais estável leva vantagem. É esse o medo da Ferrari, que vê na corrida alemã a prova mais potencialmente perigosa até então no ano, com Schumacher a ter de defender uma liderança que, até então, estava mais do que confortável. O pior é como a liderança está sendo ameaçada; ao contrário dos anos anteriores, desta vez Schumacher não está sendo ameaçado apenas por Mika Hakkinem. David Coulthard, em grande fase, mostra que quer o título, e é o rival mais potencial do alemão neste momento do campeonato. E Coulthard promete esquentar bastante esta briga. Além de não estar sendo afligido por quebras mecânicas como em anos anteriores, desta vez o escocês também está pilotando muito, recuperando a forma do velho Coulthard que estreou na F-1 como uma das maiores promessas do automobilismo britânico.
Enquanto isso, pelos lados da Ferrari, Schumacher começa a sentir a pressão. Além de defender a liderança do campeonato, Schumacher corre em casa. Rubens Barrichello, que vem de uma boa seqüência de pódios consecutivos, enfim recebeu ordens do time para ajudar Schumacher no que puder, mas ao contrário de Irvinne, o alemão terá de fazer sua parte melhor do que nunca para não comprometer também a corrida do piloto brasileiro, pois em situações anteriores, a atenção 100% dada ao alemão acabou prejudicando ambos os pilotos.
Os outros pilotos? Bem, a esta altura do campeonato, todos os demais passam a ser meros coadjuvantes do show. McLaren e Ferrari estão dando as cartas e, pelo menos até o momento, ninguém parece capaz de discutir isso a sério.
Jacques Villeneuve voltou a ser destaque na imprensa automobilística esta semana. Para quem já dava como certa a sua transferência para a Benetton em 2001, foi uma surpresa o comunicado oficial da BAR anunciando a renovação do contrato do piloto canadense por mais 3 anos, pela “bagatela” de US$ 45 milhões. Apesar de declarar que dinheiro não foi o fator preponderante, ninguém duvida que foi um negócio altamente rentável para Jacques. Oficialmente, a desculpa para não ir para a Benetton foi que Jacques não iria querer começar outro projeto do zero. O da BAR já foi suficiente para ele. “Começar do zero”, só para inteirar, se refere ao fato da Benetton sofrer uma reformulação total no ano que vem para ser novamente o time Renault na F-1.
A guerra verbal promovida entre Schumacher e Coulthard ganhou novo round ontem, na coletiva de imprensa em Hockeinhein. Ao ser indagado sobre o que achava de seus rivais potenciais na luta pelo título, o bicampeão alemão apontou para Hakkinem e o definiu como o único piloto capaz de complicar seus planos de chegar ao tricampeonato. Coulthard, do outro lado, não gostou do menosprezo, mas preferiu deixar para responder à cutucada do alemão hoje na pista.
A Peugeot anunciou sua saída da F-1. Alain Prost, cuja equipe usa os motores da fábrica francesa, não sabe se isso é uma vantagem ou uma desvantagem, visto os maus resultados de seu time com os propulsores franceses. Mas, de fato, é um problema para 2001, pois terá de procurar novos motores. A situação fica complicada porque os motores Mercedes não estão disponíveis, os quais eram objeto de anseio por parte de Prost (daí o fato de ter contratado o alemão Nick Heidfeld para correr no time nesta temporada). Ao que tudo indica, a Prost terá de se virar em 2001 com os motores Renault-Mecachrome da Supertec.
Enquanto isso, a Arrows recebe novos ânimos. A Peugeot repassou toda a sua divisão de competições para a Asia Motors, que irá assumir os projetos da Peugeot em relação à F-1. E a Arrows já assinou contrato para ter estes motores em 2001. A Arrows tem sido uma das sensações da temporada, com seus pilotos dando alguns shows em diversas etapas. O time só não tem mais pontos porque a fiabilidade do carro têm deixado Verstappen e De La Rosa na mão em algumas paradas.
Do lado de cá do Atlântico, a F-CART inicia hoje os treinos para o GP de Chicago, a penúltima etapa em circuito oval da temporada. Se depender do que aconteceu em Michigan, deveremos ter outro show na pista. As 500 Milhas de Michigan foram uma das provas mais emocionantes do ano na categoria. As últimas 20 voltas, com o duelo entre Juan Pablo Montoya e Michael Andretti, foram eletrizantes, com trocas de posições constantes entre ambos até a bandeirada de chegada; só nas últimas dez voltas foram quase 20 trocas de liderança entre um e outro. Acabou vencendo o colombiano, que dá à Toyota (que, por coincidência era a patrocinadora da corrida) a sua primeira vitória em uma prova de 500 Milhas.
Mais um piloto brasileiro na prova da F-CART neste fim de semana. Guálter Salles corre no lugar do japonês Takuya Kurosawa, que bateu forte em Michigan e está fora desta etapa. Com isso, a Dale Coyne terá dois pilotos brasileiros em seus carros, a exemplo da Penske. Com isso, entre 25 pilotos, o Brasil simplesmente tem o maior número de representantes no grid: 10 pilotos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário