sexta-feira, 5 de setembro de 2025

NORRIS A NOCAUTE?

Duas realidades opostas no GP da Holanda: Oscar Piastri (acima) comemora mais uma vitória; já Lando Norris (abaixo) amarga um abandono por quebra de motor a poucas voltas do fim, e vê o companheiro de equipe disparar na liderança do campeonato.


            O Grande Prêmio da Holanda deste ano até que foi bem agitado, diante de alguns percalços ocorridos, o que resultou em uma prova com várias alternativas e algumas surpresas, que se não mudaram o panorama geral da temporada, ao menos conseguiu oferecer algumas opções interessantes nas disputas, ainda que nem todas tenham terminado da melhor forma possível, como se pode conferir.

            A McLaren voltou as férias de verão dominante como sempre, oferecendo poucas opções de real disputa, pelo menos em Zandvoort, de uma briga pelas primeiras duas posições na pista. Max Verstappen, sempre ele, até que tentou dar uma agitada, mas foi fogo de palha, diante da diferença de equipamento entre o time de Woking e a esquadra de Milton Keynes, que já teve seus momentos de domínio avassalador com o holandês, e em tempos bem recentes. Como diz o ditado popular, um dia é da caça, outro, do caçador…

            E a disputa entre Lando Norris e Oscar Piastri é o que temos para nos distrair em termos de disputa pelo título, ou tínhamos, depois do desaire que foi a quebra do carro do piloto inglês, quase no final da corrida, dando um verdadeiro banho de água fria nas expectativas de um duelo mais renhido pelo título da temporada, que agora tem Oscar Piastri mais favorito do que nunca, diante dos 34 pontos de vantagem abertos pelo australiano na classificação. É verdade que ainda temos muitas corridas pela frente, e cantar vitória, a esta altura, é totalmente precipitado. O problema é que, pelo retrospecto da temporada até aqui, Norris precisaria de um desastre similar ocorrendo com Piastri para poder reequilibrar a disputa, do contrário, daqui em diante ele precisará partir para o ataque sempre e com tudo, se quiser inverter as expectativas. E a questão é que, nessa forçada, tudo pode acontecer.

            Piastri, por sua vez, parece ter gasto toda a sua cota de azar logo no início do ano, justamente em sua terra natal, na Austrália, quando rodou no piso molhado e caiu lá para trás, algo que foi evitado por Norris, que venceu a corrida e dava pinta de que poderia quase já correr para o abraço do troféu de campeão. Só que, desde então, o australiano não mais cometeu erros daquela envergadura, colocou o foco e a cabeça em ordem, e dali em diante, virou o jogo e está comandando a temporada, tendo deixado Lando desnorteado em algumas provas, onde o inglês surgia como favorito, mas errava nos momentos decisivos. Nas últimas corridas, Norris até veio revertendo a tendência do favoritismo do companheiro de equipe, algo mais do que necessário, especialmente depois do erro crasso cometido em Montreal, onde numa tentativa estabalhoada de ultrapassagem sobre o próprio companheiro de equipe, acertou o muro dos boxes e ficou por lá, deixando Piastri abrir grande vantagem na pontuação, que a muito custo o inglês foi conseguindo reduzir nas últimas corridas, aumentando as perspectivas de duelo pela liderança do campeonato.

Na comemoração da McLaren por mais uma vitória, enquanto Piastri está todo sorridente, Norris se esforça para demonstrar felicidade, depois do revés sofrido.

            E agora, o abandono em Zandvoort, o primeiro da McLaren em muito tempo. Acabou o campeonato para o inglês, alguns disseram. Não chega a tanto, mas como mencionei, tirar toda essa diferença exigirá uma postura completamente diferente de Lando, que terá de partir para o ataque, pura e simplesmente. Se considerarmos a obtenção de dobradinhas, seriam necessárias cinco corridas, com Norris vencendo, e Piastri chegando em segundo, e ainda assim, o inglês ficaria à frente do australiano apenas por um ponto. Ele consegue? Até consegue, mas faltará combinar com Piastri, que dificilmente vai deixar a situação correr desta maneira. Norris precisará engatar uma sequência de triunfos, sem deixar espaço para Piastri reagir, só que o australiano é quem tem a melhor sequência de triunfos no ano. E especialmente, quem tem deixado menos oportunidades escaparem, ao contrário de Norris.

            Vejamos: tirando a etapa da Austrália, o ponto fora da curva de Piastri, apenas em Mônaco o australiano ficou “longe” de Norris na bandeirada final, terminando a corrida no principado em 3º lugar, enquanto Norris foi o vencedor. Nas demais provas, quando Norris vencia, Piastri estava logo atrás, em 2º lugar. No Japão, no triunfo de Max Verstappen, Piastri também ficou “colado” em Norris, que terminou em 2º, com o australiano em 3º, fechando o pódio. Com efeito, podemos ver o australiano, quando superado, chegando logo atrás do companheiro de equipe, e com isso, minimizando os prejuízos da pontuação menor, com as exceções já citadas acima.

            Por outro lado, Norris não tem conseguido fazer o mesmo, e das sete vitórias de Piastri no ano, em apenas quatro o inglês conseguiu terminar logo atrás. No Bahrein, George Russell terminou em 2º, com Norris, em 3º, ficando “distante” do triunfo do parceiro Piastri. Logo em seguida, na Arábia Saudita, o resultado foi pior, com Lando terminando em 4º, vendo Max Verstappen e Charles LeClerc ficarem entre ele e Oscar. E, claro, domingo passado, tudo se encaminhava para mais uma dobradinha da McLaren, até o propulsor Mercedes do carro de Norris deixar o inglês a ver navios a poucas voltas do final.

            Para alguns, o inglês precisou forçar o ritmo para quebrar a vantagem acumulada por Piastri no início da prova, quando o australiano, partindo da pole, foi embora, e Lando, em uma dividida com Verstappen, acabou preso atrás do holandês, o que permitiu a Piastri acumular mais de 4s de dianteira que, logicamente, ele passou a administrar durante o restante da prova, controlando as investidas de Norris. Até mesmo nas intervenções de bandeira amarela o inglês não deu sorte, com a McLaren parando os dois pilotos juntos, e claro, com Piastri à frente, mantendo a dianteira. Mas o argumento é apenas parcialmente correto, se lembrarmos que com as intervenções do Safety Car, as diferenças foram neutralizadas, e nas relargadas, Piastri sempre conseguiu retomar o controle da prova, impedindo que Norris tentasse um ataque para brigar pela posição. Mesmo assim, se Lando precisou impôr um ritmo que forçou o propulsor, para tentar brigar com o companheiro de equipe, não foi bem-sucedido, porque ele nunca chegou perto o suficiente para tentar uma manobra de ultrapassagem. Claro que não podemos ignorar que a pista holandesa não é exatamente o circuito mais favorável para ultrapassagens, mas se Norris quer de fato brigar pelo título, ele precisava ser incisivo neste objetivo. Mas mesmo que tivesse já resignado a terminar em 2º lugar, minimizando o prejuízo, a quebra do motor foi algo completamente inesperado, potencializando um cenário que ainda não era tão dramático, a esta altura do campeonato, mas que agora pode ter um impacto ainda mais significativo.

            Para alguns, o ocorrido em Zandvoort, guardadas as proporções, pode ter o mesmo efeito sofrido por Lewis Hamilton em 2016, quando o inglês, em recuperação no campeonato, vinha para vencer na Malásia, quando seu motor também quebrou, deixando seu então companheiro de equipe, Nico Rosberg, com uma liderança folgada na classificação, que o alemão foi controlando nas corridas restantes da temporada. Não adiantou Hamilton vencer todas as corridas restantes da temporada, quando Rosberg apenas se concentrou em terminar as provas logo atrás, administrando a situação, e evitando se expor a problemas, o que resultou no título de Nico. Ainda temos muito mais tempo e corridas para fechar o ano, mas diante do que temos visto em termos de desempenho entre Oscar Piastri e Lando Norris, não podemos dizer que a situação do australiano é desconfortável.

            Primeiro porque o desempenho dos dois pilotos, em seus melhores momentos, é bem parelho, onde nenhum deles tem uma vantagem significativa sobre o outro em ritmo de corrida. Mas, por isso mesmo, quando ocorre um erro, seja na classificação, seja em algum momento da prova, torna-se mais complicado descontar a diferença, sem forçar o equipamento mais do que o necessário. E como isso tem ocorrido mais com Norris do que com Piastri, quando o australiano consegue obter uma vantagem, ele raramente perde essa vantagem, a menos que ocorra algo fora de seu controle, como por exemplo, ter problemas maiores com o tráfego na hora de superar retardatários, ou algum imprevisto na parada de box. Já com Norris, não é que ele esteja mais vulnerável do que Piastri, mas diante do que vimos no ano até aqui, se ele começa a corrida em desvantagem, tem se mostrado mais difícil em reverter esse panorama, pelo menos na totalidade do que se necessitava. Foi o que vimos em Zandvoort: Norris dominou os treinos com aparente facilidade, parecendo que ditaria o ritmo em todo o final de semana, enquanto Oscar parecia ter maiores dificuldades para acertar o carro e o ritmo, mas na classificação, foi Piastri quem saiu na frente, mesmo que por uma margem mínima, e Lando não conseguiu dar o troco. Na largada, apesar de não ter largado mal, acabou permitindo o ataque de Verstappen, com o holandês assumindo a vice-liderança da corrida, e com isso, Norris viu Piastri escapar livre na ponta por aproximadamente 10 voltas, enquanto ele perdia tempo tentando superar Verstappen, o que só não comprometeu totalmente a prova do inglês diante das oportunidades das bandeiras amarelas que neutralizaram a vantagem que Piastri acumulara até então. Mas o australiano, ciente do que precisava fazer, soube cumprir com perfeição a sua missão, relargando com competência tão logo a pista era liberada, e não deixando brechas para sofrer uma inversão de posição com Norris, que por sua vez, tinha de se preocupar com uma investida mais agressiva por parte de Max Verstappen, e não permitir uma repetição do que ocorrera na largada. Daí que isso fazia o inglês ver o australiano escapar com mais facilidade.

Isack Hadjar foi o grande nome da prova da Holanda: conquistou o 3º lugar e foi ao pódio com uma performance firme, coroando sua temporada de estréia na F-1.

            Basicamente, quem largar na frente, lá costuma ficar. Piastri e Norris não tem feito disputas de posição durante a temporada, e não estão proibidos de fazê-lo, mas a McLaren só impõe uma regra: que eles não batam um no outro. Na Hungria, quase que eles se estranharam em determinado momento, mas para desilusão da torcida, que queria ver um duelo mais apimentado, não passou de um momento isolado. A menos que um deles cometa um erro crasso, as posições dificilmente mudarão na pista em uma briga de posição. Por isso mesmo, as largadas tem sido muito mais decisivas. E principalmente Piastri já mostrou que tem sido mais eficaz neste quesito do que Norris, que volta e meia ainda sofre com as lembranças de 2024, quando largar mal virou uma de suas falhas capitais no campeonato. Um erro de estratégia de corrida sempre pode acontecer, e virar a esperança de Norris ou Piastri mudarem o rumo da prova, mas com o domínio acachampante que o time de Woking tem imposto na competição, deslizes neste quesito tem sido muito difíceis de acontecer, tanto que nas poucas provas onde Max Verstappen discutiu a vitória, não houve um esforço válido da McLaren para reverter a desvantagem, até porque isso ocorreu muito na primeira parte do campeonato, e o time inglês, ciente da vantagem técnica que desfrutava, podia se dar ao luxo de não arriscar em estratégias alternativas para mudar a situação da corrida, o que não quer dizer que tenham abdicado de vencer a prova, apenas não era necessário arriscar além de certo ponto.

            Hoje, aqui em Monza, o panorama mais uma vez começou favorável a Lando Norris, que comandou o segundo treino livre, com Oscar Piastri ficando em 4º. Mas a diferença entre a dupla da McLaren não foi significativa, apenas 0s181. E vamos lembrar que Piastri iniciou a sexta-feira em Zandvoort parecendo estar bem mais complicado. É amanhã, na classificação, que iremos ver se o australiano dará novo bote no inglês, e se colocará em xeque uma possível reação de Norris. A pista de Monza, de alta velocidade, em tese facilita as ultrapassagens, mas alguns carros, como a Williams e a Ferrari, e até mesmo a Red Bull com Verstappen, podem aproveitar as brechas que surgirem, e se intrometerem no meio dos dois pilotos, podendo complicar os planos de quem, por algum motivo, ficar para trás. Uma nova derrota para Piastri, em caso de dobradinha do time de Woking, elevaria a desvantagem de Lando para 41 pontos, e com uma corrida a menos, começaria realmente a complicar a posição do inglês no duelo pelo título, se nada de anormal ocorrer com Piastri. E aí, Norris poderia ir mesmo a nocaute no campeonato.

            E a partir daí iremos ver quem de fato consegue manter o foco na competição. Se Norris conseguir inverter a situação, e diminuir a desvantagem, Piastri certamente não vai se abalar com isso, pela vantagem que ainda irá possuir, exceto se algo inesperado ocorrer, como o que houve com Norris em Zandvoort. Mas, e se Piastri aumentar ainda mais sua dianteira? Como Lando irá encarar isso nas próximas corridas? O australiano, como já mencionei, tem conseguido se manter mais frio e focado este ano, em comparação com Norris. E Lando, se sentir a situação fugindo do controle, manterá a cabeça no lugar, ou começará a pipocar na competição? Monza pode responder a estas questões, dependendo do que acontecer na pista. Ou não… Veremos quem sairá vencedor no embate deste final de semana, e como isso poderá definir de forma contundente a disputa do título da temporada entre a dupla do time papaia...

 

 

Desgraça pouca é bobagem, diz o ditado, e no caso de Lewis Hamilton, isso parece estar virando regra, e não a exceção. O heptcampeão ainda está devendo na Ferrari, e na Holanda, teve um revés duplo: cometeu um erro de principiante (apesar das reclamações do carro) e bateu, e pior ainda, vai perder 5 posições no grid domingo aqui em Monza, por ter passado acima do limite de velocidade permitido em regime de bandeira amarela. O ditado, contudo, também pode ser aplicado à Ferrari, que em nenhum momento se viu em condições de brigar pelo pódio, tendo passado a corrida inteira sem conseguir superar a excelente atuação de Isack Hadjar com a Racing Bulls, e numa briga de foice com a Mercedes, que no caso de Charles LeClerc, cortou bravo na barbeiragem de Andrea Kimi Antonelli, que ao tentar superar o monegasco logo que este saiu dos boxes, acabou atingindo a Ferrari, e provocando o abandono de Charles, culminando em um abandono total da Ferrari na corrida, para desespero dos ferraristas, e claro, dos torcedores, e ainda mais sendo uma corrida anterior justamente à da Itália, onde o time de Maranello tem obrigação de dar satisfações à torcida, depois do fiasco nos Países Baixos. O problema é que o modelo SF-25 parece não ajudar muito, o que não torna mais fáceis a situação para sua dupla de pilotos. As maiores esperanças, claro, estão em LeClerc, especialmente pelo desempenho do piloto na temporada, onde foi o único a subir ao pódio pelo time (a corrida sprint da China, vencida por Hamilton, não é considerada “pódio”) com performances mais firmes. Claro que não se pode menosprezar Lewis Hamilton, mas será que o inglês desencanta, enfim? Tomara, porque será muito necessário, ainda mais em Monza, e até para compensar a punição de 5 posições que tomou, o que vai exigir recuperar posições na corrida…

Charles LeClerc: desilusão da Ferrari após receber um toque de Andrea Kimi Antonelli.

 

 

Uma no cravo, outra na ferradura: a FIA continua um acinte no que tange a algumas punições, e na Holanda, a discórdia foi a respeito da punição aplicada a Carlos Sainz Jr., depois do toque que teve com Liam Lawson, onde a culpa foi muito menos do espanhol do que do piloto da Racing Bulls, e mesmo assim, foi Carlos a receber a punição, completamente sem entender o motivo, e claro, arruinou sua corrida, onde tinha tudo para brigar por resultados pontuáveis, como se já não tivesse perdido tempo nos boxes precisando trocar a asa dianteira… Sainz é outro que precisa se benzer, porque o azar vez ou outra vem dando mole em cima dele, enquanto seu companheiro de time, Alexander Albon, vai comandando a Williams na pista, deixando o companheiro de equipe cada vez mais para trás. 

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