sexta-feira, 11 de julho de 2025

O PRIMEIRO PÓDIO

Quem espera sempre alcança, e depois de 239 corridas, enfim Nico Hulkenberg conquistou seu primeiro pódio na Fórmula 1.

            Mais do que uma corrida caótica pelas mudanças climáticas típicas da Inglaterra, a corrida domingo passado em Silverstone foi marcada por um evento talvez pequeno para alguns, e sem importância até para outros, mas devidamente reconhecido por muitos outros mais: Nico Hulkenberg, da Sauber, subiu ao pódio em 3º lugar, após uma corrida ousada e talvez a melhor performance de todo o GP e da temporada de 2025 da F-1 até aqui. E não apenas por ter largado quase lá no fundão do grid, em 19º lugar, mas por ter sido o primeiro pódio do piloto alemão em sua longeva, e instável, carreira na categoria máxima do automobilismo.

            Sim, com 239 corridas nas costas, desde sua estréia na temporada de 2010, pela equipe Williams, e tendo como companheiro naquele ano o brasileiro Rubens Barrichello, Nico Hulkenberg só foi sentir a glória de subir ao pódio domingo passado, no tradicional circuito inglês que, em 1950, sediou a primeira corrida da história do campeonato da F-1 como o conhecemos. Era uma estatística das mais incômodas para o piloto alemão, que chegou à categoria máxima do automobilismo há praticamente uma década e meia, sendo mais um talento com potencial para ser campeão. E, como já aconteceu com muitos, ele não deslanchou. Pelo menos, não como poderia fazer. Mas diversos fatores contribuíram para isso. Mesmo tendo ido bem em sua temporada de estréia, ele foi dispensado ao fim do ano, em prol do venezuelano Pastor Maldonado, e seus petrodólares, em um momento onde a Williams corria atrás de pilotos pagantes.

            E, a partir dali, a carreira de Nico no circo da F-1 viraria uma romaria por diversas equipes. Ficou como reserva da Force India em 2011, sendo efetivado para a temporada de 2012. Em 2013, mudou-se para a Sauber, e por lá ficou apenas um ano, voltando justamente para a Force India em 2014, e lá ficando até o fim da temporada de 2016. No ano seguinte, talvez a melhor chance da carreira do piloto alemão na F-1 até então: ele foi contratado pela Renault para ser um dos titulares do time da marca francesa na categoria máxima do automobilismo, e lá ficou por três temporadas, de 2017 a 2019. Mas o time, sempre prometendo que, dessa vez ia, não foi a lugar nenhum, e mesmo Hulkenberg também não conseguiria ir muito longe por lá, de modo que, para 2020, o alemão estava praticamente sem lugar no grid, e não foi por falta de talento ou capacidade. Desde sua estréia, em 2010, Hulkenberg sempre mostrou talento e aos poucos, foi desenvolvendo sua capacidade, como um piloto centrado, que comete poucos erros e sabe aproveitar as oportunidades de corrida, algo muito valorizado no pelotão intermediário, onde bons resultados são cada vez mais preciosos.

            Mas havia também um pequeno porém a assombrar a carreira de Nico: apesar dos bons feedbacks, do talento, da velocidade, e capacidade do piloto de enxergar as corridas, ele nunca havia conseguido um pódio sequer na vida. Sim, o melhor resultado que ele já havia conquistado até então era alguns quartos lugares, num total de 3 finalizações nesta posição. Ele fez fama como piloto constante e regular, capaz de tirar tudo do carro, e lutar por lugares pontuáveis, mas mesmo assim, nunca havia tido aquela sorte de eventualmente, um piloto de um time intermediário conquistar um TOP-3. E isso foi se tornando quase que um fantasma no currículo de Nico até então.

Em sua temporada de estréia na F-1, pela Williams, em 2010, Nico largou na pole-position em Interlagos.

            E, paralelamente à carreira na F-1, em 2015 Nico foi chamado para defender o time oficial da Porsche no Mundial de Endurance na mais famosa corrida de longa duração da competição, nada menos que as 24 Horas de Le Mans. Pois Hulkenberg foi lá, e venceu a corrida, obtendo grande destaque pelo feito, que infelizmente não se reverteu em melhores ofertas tanto na F-1, como no próprio WEC. Bernie Ecclestone, nunca amigável com feitos que não fossem da F-1, pareceu até desdenhar da conquista de Nico, como se fosse algo à toa, só para não valorizar o feito de um piloto de sua categoria em outro certame. Tudo indicava que a carreira de Hulkenberg na F-1 caminhava para um fim obscuro, como já acontecera com diversos outros pilotos que passaram pela categoria máxima do automobilismo.

            Os três anos seguintes, de 2020 a 2022, foram difíceis para Nico, mas ele conseguiu se manter ativo como piloto substituto, em especial de pilotos que eram acometidos de Covid-21 e não podiam competir durante a pandemia. E isso rendeu bons elogios ao trabalho do alemão, que mesmo sem conhecer os carros a fundo, foi lá e apresentou performances sólidas nas equipes Racing Point (ex-Force India) e depois Aston Martin.

            Assim, quis o destino dar uma última, e mais do que merecida chance a Hulkenberg. Depois de padecer com pilotos pagantes e inexperientes, a equipe Haas viu que não podia mais se dar ao luxo de ficar arriscando. Preferiu jogar no seguro, e tratou de contratar Hulkenberg para ser o novo companheiro de Kevin Magnussen no time para a temporada de 2023, depois que dinarmaquês pulverizou Mick Schumacher no time, onde o filho do lendário heptacampeão de F-1 deu mais pontos de prejuízo do que de lucro à escuderia. E o resultado foi mais do que positivo, com Hulkenberg deixando até Magnussen na sobra, o que se repetiu no ano passado.

De 2012 a 2019, Hulkenberg parrou por alguns times, como Force India (acima) e Renault (abaixo), com alguns bons resultados, mas sem conseguir nenhum pódio.


            Nico fez um retorno com a corda toda. Ele deixou o próprio Magnussen na saia justa, ao marcar durante o ano de 2023 9 pontos com o carro da equipe norte-americana, enquanto o dinamarquês fez apenas 2 pontos na temporada. A diferença foi ainda maior no ano passado, em 2024, quando Nico, mais uma vez, impressionou em diversas provas, marcando 41 pontos, enquanto Kevin ficou apenas com 17. E essas performances, ainda mais com um carro limitado, mas que permitia, vez ou outra, o piloto mostrar suas qualidades, chamou a atenção justamente da Audi, que entrará na competição oficialmente em 2026, tendo comprado a Sauber, que cumpre sua última temporada da história na competição.

            O objetivo era ter um piloto experiente para liderar o time na pista, ao lado de um jovem talento potencial, que foi escolhido o brasileiro Gabriel Bortoletto. Escolhas que faziam, e fazem todo o sentido. E o que ninguém esperava era ver a equipe de Hinwill obtendo resultados marcantes este ano, diante dos maus resultados do ano passado, e sabendo que 2025 seria apenas um ano de travessia, com dificuldades óbvias, mas com o olho voltado para o futuro, de modo que sua dupla de pilotos, a princípio, apenas cumpriria tabela, esperando os tempos mais promissores da nova equipe Audi. E o início da temporada até mostrou isso, com a Sauber tendo o pior carro do grid, e que seus pilotos teriam um ano muito complicado pela frente, talvez ocupando apenas lugar no grid, sem chances de obter resultados reais. Mesmo a atuação distinta de Nico Hulkenberg em Melbourne, conseguindo logo de cara um 7º lugar surpreendente, foi visto não só como cartão de visitas do talento de Nico, mas também algo excepcional, oriundo das condições malucas em que a corrida se transformou com a chuva presente.

            As corridas seguintes confirmaram o prognóstico inicial de que o ano seria mesmo conturbado, com um carro problemático e muito pouco competitivo. A menos que houvesse uma virada inesperada, o destino da dupla de pilotos na temporada estava selado. Mas, felizmente, não foi o que ocorreu. A reestruturação interna da Sauber, em andamento deste o ano passado, com a chegada de importantes profissionais, para começar a moldar a estrutura da futura equipe Audi, começou a dar resultados, e um importante pacote de atualizações introduzido na etapa da Espanha, em Barcelona, mostrou-se certeiro ao transformar quase completamente o comportamento do carro, que ganhou melhor performance, e mais importante, encontrou nas mãos firmes e talentosas de Nico Hulkenberg alguém que soube expressar essa importante evolução que o carro alcançou.

            O pódio do alemão foi quase mais comemorado em Silverstone do que a dobradinha da equipe McLaren, que levou mais um triunfo, com Lando Norris, e Oscar Piastri em 2º lugar. Aliás, a dupla do time de Woking deu uma bela ignorada no seu colega de pódio, aparentemente ignorando, ou deixando para lá a comemoração do piloto alemão em seu maior resultado, pelo menos até aqui, na F-1. Ninguém dava a mínima para o time da Sauber este ano, e os próprios resultados iniciais davam a forte impressão de que 2025 seria apenas um ano de “passagem” para a escuderia, despedindo-se do nome original, para ganhar uma nova e completa identidade em 2026, quando, teoricamente, deverá vir brigar por melhores resultados na competição.

Na Haas, nos últimos dois anos, Nico mostrou sua capacidade, mesmo já veterano, e abriu as portas para a chance na Sauber e futura Audi.

            A insensibilidade da dupla da McLaren rendeu críticas do público, pelo modo como eles aparentemente ignoraram a situação. Em 2000, quando Rubens Barrichello ganhou seu primeiro GP, na Alemanha, a então dupla da McLaren, Mika Hakkinen e David Coulthard comemoraram efusivamente a vitória do brasileiro, apesar de terem sido derrotados, chegando ambos a erguer Rubinho nos braços, mostrando consciência do momento e das dificuldades vividas pelo piloto até aquele momento. Mas teve quem reconheceu e mostrou em gestos o que isso representava: Toto Wolf, da Mercedes, por exemplo, mandou duas garrafas de champanhe para a Sauber comemorar a conquista, valorizando o feito de Hulkenberg, mesmo que a performance do time alemão em Silverstone tenha sido desastrosa.

            Este pódio faz de Nico um dos grandes destaques da temporada, pois o carro da Sauber, mesmo que tenha melhorado, ainda não é um monoposto que permita esse tipo de resultado. O clima instável em Silverstone pode ter ajudado, mas foi o talento, o feeling, e a capacidade de evitar os erros em que os outros caíram que fez Hulkenberg conquistar este resultado épico, não apenas para ele, o primeiro pódio em toda a sua carreira na F-1, mas também o que poderá ser o último pódio da equipe Sauber na categoria máxima do automobilismo, antes de sua despedida e posterior mudança para Audi a partir do ano que vem. E onde novos resultados como este possam vir a serem conquistados com maior frequência e naturalidade, e com isso Hulkenberg tendo enfim a merecida valorização e oportunidade na carreira que há muito já vinha merecendo. E na F-1, segundas ou até terceiras chances são muito difíceis de acontecer, e de se fazer sucesso, até quase impossíveis.

            Mas Hulkenberg, depois de 15 anos, finalmente chegou lá, e veremos do que ele ainda será capaz de nos proporcionar...

 

 

E Christian Horner despedido da Red Bull, depois de 20 anos à frente do time. Assunto para a próxima coluna na semana que vem, se nada mais relevante ocorrer...

 

 

A Indycar prepara-se para sua única rodada dupla da temporada 2025, no pequeno circuito oval de Iowa, com provas neste sábado e no domingo. A corrida neste sábado terá largada às 18:00 Hrs., enquanto a prova no domingo será a partir das 14:00 Hrs., pelo horário de Brasília. Inclusive, por causa disso, a corrida de sábado será exibida em VT na TV Cultura, no horário das 22:30 Hrs.no canal aberto, mas poderá ser acompanhada ao vivo no aplicativo Culturaplay, e no site da TV Cultura. Já a corrida de domingo será exibida ao vivo no canal aberto da emissora. No canal pago ESPN e no sitge de estreaming Disney+ as corridas estarão disponíveis ao vivo em seus respectivos horários.

 

 

A Formula-E chega a Berlim para a provável decisão do título da temporada, a depender do que Oliver Rowland, o líder da competição, e os rivais, puderem aproveitar da rodada dupla do fim de semana na pista montada no antigo aeroporto de Tempelhoff. As corridas de sábado e domingo têm largada prevista para as 11:00 Hrs. da manhã, pelo horário de Brasília, com transmissão oficial ao vivo pelo canal do You Tube do site do Grande Prêmio (www.grandepremio.com.br), e pelo canal por assinatura Bandsports.

A pista montada no aeroporto de Tempelhoff poderá ver a decisão da temporada da Formula-E.

 

 

Para o Brasil, é um momento especial a rodada dupla de Berlim, pois estaremos com três representantes no grid. Além de Lucas Di Grassi, defendendo a Lola Yamaha ABT, teremos também Sergio Sette Câmara correndo pela Nissan, substituindo Norman Nato, que está em Interlagos, para a prova das 6 Horas de Interlagos, pelo Mundial de Endurance. Pelo mesmo motivo, Felipe Drugovich estará também na pista, substituindo Nyck De Vries na Mahindra. O ponto positivo é que ambos poderão usar a rodada dupla para mostrarem seus cartões de visita para cavar potenciais lugares para a próxima temporada. Na Nissan, ninguém esconde que o desempenho de Nato não tem sido compatível com o que Rowland tem demonstrado, com o piloto já sendo dado como carta fora do baralho para o próximo campeonato, em que pese isso ainda não ter sido decidido. E Câmara, se fizer um bom trabvalho, com um carro que tem se mostrado um dos melhores da temporada, pelo menos na mão de Oliver Rowland, é uma chance de ouro para o brasileiro voltar oficialmente ao grid, depois de ter sido dispensado de forma pouco elogiosa por seu time na transição da ERT para a Kiro. Sergio tem tido bons elogios dentro do time pelo feedback que tem fornecido no trabalho nos simuladores, e fazer bonito na pista poderá ser uma chance única da Nissan, que tem tudo para levar o título de pilotos com Rowland, muito provavelmente neste final de semana, poderá olhar para o brasileiro como um substituto natural para Nato, sem precisar ir ao mercado para buscar um novo nome. A situação de Drugovich é menos possível na Mahindra, uma vez que sua dupla está firme e deve continuar na próxima temporada, mas uma boa apresentação de Felipe tem boas chances de render convites em outros times potenciais que estarão com mudanças em seu line-up titular para o próximo campeonato. Portanto, uma boa apresentação na pista é essencial. Drugovich já impressionou nos testes que fez pela categoria de carros elétricos, mas manteve firme sua opção de ainda tentar algo na F-1, o que até agora não deu resultado, mas quem sabe? Até porque a disputa pela vaga na nova equipe Cadillac vem ficando mais concorrida, e o brasileiro não pode se dar ao luxo de ficar sem opções. E, outro ponto interessante, é que o carro da Mahindra vem se mostrando competitivo, então Felipe tem chances, assim como Câmara, de impressionar efetivamente pelo potencial do carro que terá em mãos. Resta esperar para que nada dê errado no final de semana duplo na capital alemã…

 

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