A Aston Martin é a nova casa de Adrian Newey na F-1. |
O martelo foi batido, e o tão aguardado novo destino de Adrian Newey se revelou: ele está com a Aston Martin a partir da próxima temporada. O projetista inglês, considerado o mais talentoso da F-1 nos últimos tempos, iniciará agora um novo desafio em sua carreira, que será repetir o sucesso obtido em suas passagens anteriores, e levar a equipe inglesa ao triunfo. Irá conseguir?
Disposição não falta a
Adrian, que entrou no mundo da F-1 em 1980, no time dos irmãos Fittipaldi após
se graduar na faculdade. Com o fim da equipe brasileira, Newey enveredou por
outros caminhos no mundo do automobilismo, passando inclusive pela F-Indy, antes
de retornar à categoria máxima do automobilismo em 1987 pela equipe March, e
ajudar a projetar o carro da temporada de 1988. O modelo CG881 surpreendeu em
algumas pistas, mesmo dispondo do fraco motor Judd V-8 aspirado, contra os mais
potentes Honda e Ferrari, além dos Ford de última geração. No ano seguinte, o
modelo CG891 por pouco não venceu uma corrida, ainda que precisasse de pistas
extremamente uniformes para poder render tudo o que poderia.
Contratado pela
Williams, Newey começaria ali sua trajetória como projetista de sucesso, onde
suas idéias inovadoras encontraram em Patrick Head, o projetista-chefe da
escuderia, um mentor que alinhava suas idéias a parâmetros menos radicais e
mais funcionais, um aprendizado que seria muito útil a Adrian. Em 1992, a
Williams ganharia os títulos de pilotos e construtores de lavada, no primeiro
carro projetado pelo inglês a ser campeão. A passagem do projetista em Didicot
foi breve, até 1996, quando ele saiu para ir para a McLaren. Antes, porém, ele
deixou o projeto do carro de 1997 pronto, no que foram as últimas conquistas de
títulos da Williams em sua história na categoria máxima do automobilismo.
Na McLaren, os carros
de 1998 e 1999 foram campeões com Mika Hakkinen, mas a partir de 2000, a
Ferrari se mostrou suprema com Michael Schumacher. Alguns anos depois, Newey
partiu para um novo desafio, na Red Bull. Em 2009, o time austríaco obteve suas
primeiras vitórias, e entre 2010 e 2013, seus primeiros títulos de construtores
e pilotos, com Sebastian Vettel. A era de supremacia da Mercedes, porém,
interrompeu o domínio da Red Bull, que ainda se manteve forte como um time de
ponta, que em 2021 voltaria a ser campeã, e até os dias atuais, com Max
Verstappen. Mas o ambiente interno da escuderia dos energéticos, especialmente
na disputa de poder entre Christian Horner e Helmut Marko, apimentada pelo
escândalo de Horner com uma funcionária, tumultuaram o ambiente no time, a
ponto de Newey se sentir muito desconfortável naquela situação, e ainda por
cima tendo de tomar partido de um lado ou outro.
Com 65 anos de idade,
ele poderia facilmente dar sua missão como projetista por encerrada, e
aproveitar uma bela aposentadoria desfrutando do que ganhou nestes anos todos,
sendo talvez o único projetista da F-1 a ter um status salarial equivalente a
um piloto de ponta da categoria. Até aí, nada mais justo. Mas ele sentiu o
quanto ainda era valorizado na competição, a ponto de vários times o procurarem
para integrar suas fileiras. Ferrari, Williams, McLaren, além da Aston Martin,
o assediaram, e por algum tempo, imaginou-se que a Ferrari o conquistaria. Até
sua maior implicância, que seria morar fora da Inglaterra, parecia estar
superada, ao se saber que ele estava procurando um imóvel na Itália, o que
fazia quase todo mundo já dar como certa sua contratação pelo time de
Maranello. Mas, nem tudo correu como se imaginava.
O modelo FW14B (acima) foi o primeiro carro campeão projetado por Adrian Newey, na Williams, em 1992. A última conquista veio no ano passado com o modelo RB19 da Red Bull (abaixo). |
Algumas desavenças surgiram nas exigências de Newey, que gostaria de ter maior controle sobre o corpo técnico, e a partir daí as conversas com os italianos teriam naufragado. McLaren? O time tem o melhor carro do momento, e Newey poderia não agregar tanto como se imagina, e o velho engenheiro gosta de estar no controle da situação, e sentir que faz a diferença. Na Williams, o time teria os recursos necessários para bancar sua contratação e promover as melhorias técnicas necessárias? Um pouco difícil. E então sobrou mesmo a Aston Martin, que restou vencedora desta disputa, e já anunciou a contratação de Adrian esta semana com toda a pompa. Oficialmente, Newey só poderá trabalhar efetivamente em seu novo time em meados do ano que vem, cumprindo a regra de “quarentena” da F-1, mas enganam-se quem imagina que ele ficará parado neste período. O time, contudo, aceitou as exigências feitas pelo inglês, que além de um salário estimado em US$ 30 milhões por ano, terá também ações da Aston Martin, além da facilidade de poder continuar morando na Inglaterra, um fator crucial para ele ter assinado com o time sediado em Silverstone.
Ainda que o projeto do
novo carro de 2025, o AMR25, não leve seu nome, o projetista certamente já dará
idéias de como aprimorar o projeto do carro, enquanto se concentra de mala e
cuia no projeto do carro de 2026, este sim o seu primeiro carro autoral na
Aston Martin, até mesmo pela introdução das novas regras técnicas da F-1.
Segundo Newey, o que mais o impressionou foram as novas instalações da equipe,
construídas ao lado de Silverstone, que estão entre as mais modernas de toda a
F-1, consequência dos investimentos de Lawrence Stroll para transformar sua
escuderia na mais nova força vencedora da categoria máxima do automobilismo. Um
desafio que, claro, não surge de um dia para o outro, mas vem sendo construído
paulatinamente nos últimos anos, desde que comprou a antiga Force India, e a
transformou na atual Aston Martin, resgatando um nome icônico do indústria
inglesa para a F-1.
Vários profissionais
chegaram recentemente a Silverstone, e no campo de pilotos, veio Fernando
Alonso, que mesmo tendo passado dos 40 anos, ainda é capaz de pilotar em alto
nível. O acordo para ser o time oficial da Honda em 2026, e agora, a chegada de
Adrian Newey, sem dúvida o nome mais indicado para o projeto de transformar a
Aston Martin em um time vencedor. Recursos e nomes capacitados não faltam na
equipe. Mas agora o desafio é transformar isso tudo em um time de real sucesso
na F-1. E aí estão as maiores dificuldades, que a Aston Martin precisa superar.
No ano passado o time surpreendeu na primeira metade da temporada, com um carro inspirado no modelo RB18 da Red Bull de 2022, que havia sido campeão com Max Verstappen. Com Fernando Alonso mostrando sua classe, a escuderia só não venceu uma corrida diante da hegemonia da Red Bull, mas o bicampeão espanhol colecionou vários pódios e se colocava, em determinado momento, até na briga pelo vice-campeonato. Mas, conforme a temporada avançava, o time mostrou um ponto fraco primordial: não conseguia evoluir o carro conforme se esperava, e o modelo AMR23 começou a perder terreno para os concorrentes como Ferrari, Mercedes, e até McLaren, que foram aprimorando seus projetos, e superaram o time de Silverstone na segunda metade do ano. Todas as evoluções planejadas não surtiram os efeitos desejados, e em determinado momento, só recuperou parte da competitividade retornando aos ajustes anteriores e descartando as inovações produzidas.
Esta incapacidade de
conduzir as atualizações do carro é um ponto fraco mortal para um time que se
pretende ser vencedor na F-1. O time técnico da Aston Martin praticamente não
soube conduzir as atualizações, e por tabela, indica um desconhecimento do
próprio projeto, ainda mais baseado no carro de um time rival. Não basta saber
copiar, é preciso compreender o que faz um projeto funcionar, e este ano, mesmo
tendo retornado a um carro mais autoral, o modelo AMR24 está longe de ser
competitivo como foi o AMR23. A escuderia retornou aos tempos de 2022, quando
em determinadas provas sofria até para chegar nos pontos. Todo o progresso
conquistado em 2023 não foi mantido, e este será sem dúvida o principal desafio
de Adrian Newey na escuderia, que será fazer a área técnica saber trabalhar em
conjunto, e acima de tudo, entender o que dá certo e o que não dá. Para o
próximo ano, certamente Newey irá atuar em desenvolver essa sinergia entre o
setor de engenharia da escuderia, para que em 2026 entre com tudo com o projeto
do futuro AMR26, sob o novo regulamento técnico.
É consenso que a
temporada de 2025 será meio que de “transição” para as escuderias, com os times
que estão bem posicionados apenas tentando manter suas posições, com
desenvolvimentos mais padronizados de seus projetos, enquanto canalizam o
grosso de seus recursos para o novo regulamento técnico de 2026. E quanto antes
Newey conseguir que os setores entendam a fundo como analisar de desenvolver um
projeto, melhor, até mesmo para a temporada do próximo ano, onde, repito, ele
oficialmente não estará envolvido, mas certamente já contribuirá com as
diretrizes que gostaria de verem seguidas.
Outro ponto
interessante fica para o papel de líder da escuderia. Fernando Alonso, que terá
45 anos em 2026, ainda tem gás para efetuar esse papel, como vimos ano passado,
quando deixou Lance Stroll nas sobras, e certamente ainda está motivado para
tentar dar novos vôos, especialmente em um carro potencialmente vencedor, como
se espera do carro de 2026. Quanto a Lance Stroll, por melhor que seja, ele
infelizmente já se mostrou um piloto de capacidades limitadas, não um piloto
ruim exatamente, mas não o nome ideal para tanto liderar um time, quando brigar
pelo título. Talvez no máximo vencer uma corrida, dependendo das
circunstâncias. Mas um eventual sucesso potencial da Aston Martin pode fazer o
time ser cobiçado por outros pilotos. E vale lembrar que em 2026, a depender
das circunstâncias, alguns nomes podem estar potencialmente disponíveis, a
começar por Max Verstappen, dependendo de como a Red Bull se portar em 2025.
Alonso certamente deve ficar até o fim de 2026, pois o espanhol apostou sua
permanência no time, e vai querer ver do que Newey é capaz. E Lance Stroll
parece garantido ad eternaum na escuderia, por ser filho do dono.
E, claro, há outro
detalhe a considerar? Newey vai conseguir repetir na Aston Martin o sucesso
obtido em seus times anteriores? E quando isso irá acontecer? No seu primeiro
ano na Williams, o time já disputou o título em 1991 com Nigel Mansell. Não
ganhou, mas garantiu as bases de sua hegemonia para os anos seguintes. Na
McLaren, o time virou a potência em 1998, e na Red Bull, se é verdade que o
sucesso não veio tão rápido, deve-se lembrar que em 2009 a F-1 experimentou um
novo regulamento técnico, e a Red Bull então despontou na competição como time
de ponta, por pouco não chegando aos títulos de pilotos e construtores, diante
da gordura acumulada pela Brawn GP no início do ano. E em 2026 teremos um novo
regulamento técnico, então isso dá o que pensar...
Ainda devemos levar em
consideração o fato de que seu próximo carro será mesmo o projeto de 2026, e
ele terá mais de um ano para se concentrar nisso, a exemplo do que ocorreu no
fim de 1996, quando ele deixou a Williams e foi para a McLaren, concentrando-se
totalmente no carro de 1998, que fez o time de Woking ser campeão naquela
temporada. Mesmo que possa ser difícil, não é impossível. E o trabalho pesado
ficará mesmo em 2025, coordenando e reestruturando a área técnica para atuarem
conforme suas diretrizes em 2026, condição que será essencial para que o carro
de 2026, se bem nascido, seja ainda melhor desenvolvido, trabalhado com
competência por um setor técnico preparado para não apenas evoluir como
desenvolver o projeto. Há pessoas competentes em Silverstone. Mas elas
conseguirão trabalhar efetivamente em conjunto, e fazer a soma de suas forças?
Uma contratação de peso de Lawrence Stroll, cuja meta é transformar a Aston Martin em campeã na F-1. |
Não é uma dúvida casual. Vemos times de futebol cheios de “medalhões” que, entretanto, a despeito de seus talentos, não conseguem coordenar suas forças e mostrar do que são capazes. É preciso saber coordenar tudo para que seus esforços sejam direcionados no objetivo comum, e agregarem-se uns aos outros. Além do que já foi mencionado: saber trabalhar adequadamente um projeto e evoluí-lo. Adrian Newey pode ser a argamassa que irá unir todas estas peças do escopo técnico da Aston Martin. Para 2025, a ordem é apenas tentar melhorar o que for possível. É em 2026 que as cobranças efetivamente virão de fato. E Newey terá certamente que saber montar essa estrutura. Quando chegou na Williams e McLaren, ele soube se integrar às estruturas já montadas nestes dois times. Na Red Bull, sim, ele precisou montar todo o time técnico para atuar conforme suas premissas, e isso fez com que os resultados demorassem mais a aparecer. Na Aston Martin, a situação será parecido, com a vantagem de que a estrutura já está praticamente montada, faltando pequenos detalhes, além de fazer o pessoal saber se entrosar e combinar suas aptidões e talentos. Isso ajuda, mas não quer dizer que não será trabalhoso. Tem condições de conseguir? Sim, tem? Vai conseguir? Muito certamente. A dúvida apenas é se irá conseguir isso já em 2026, ou se irá demorar mais.
Se conseguir
transformar o time de Lawrence Stroll numa escuderia vencedora, e capaz de
disputar o título, terá conseguido mais um grande feito ao seu currículo. Mas o
trabalho está apenas começando, e teremos muito chão pela frente, até vermos os
resultados. Até lá, será preciso paciência, e aguardar tudo entrar nos eixos.
Certas coisas, por mais talentosos e brilhantes que sejam as pessoas
envolvidas, não podem ser apressadas. Mas a paciência tem tudo para render bons
frutos.
Numa jogada finalmente
inteligente, a F-1 realocou a prova do Azerbaijão, na pista de Baku, entre as
etapas da Itália e de Singapura, colocando um pouco mais de coerência em um
calendário que por si só já é caótico e estressante do ponto de vista pessoal.
E a corrida em Baku tem tudo para ser mais uma vez imprevisível. A McLaren tem
tudo para novamente ser a favorita, mas entre se mostrar capaz de ganhar, e
fazê-lo efetivamente, falta combinar com a concorrência, a exemplo do que vimos
na Itália. E a Ferrari, terá de fato força para mostrar, ou o triunfo de Monza
foi apenas ocasional e sorte? A Mercedes, por sua vez, é outra interrogação, pois
esperava ter ido melhor na Itália, e acabou superada com relativa facilidade
pela Ferrari e McLaren, e superou a Red Bull por pouca diferença. Aliás, o time
dos energéticos tem tudo para sofrer um novo calvário em Baku, diante da
melhoria dos rivais, de modo que Max Verstappen precisará dar duro para
administrar os resultados novamente, a menos que o time austríaco tenha
conseguido achar um ajuste melhor no seu carro. A corrida tem largada para as
08:00 Hrs. deste domingo, e por enquanto, ainda com transmissão ao vivo pela TV
Bandeirantes.
Penalizado por ter atingido o limite de 12 pontos na carteira, o dinamarquês Kevin Magnussen está fora da etapa em Baku, onde será substituído por Oliver Bearman, que assumirá seu carro no próximo ano. Pietro Fittipaldi, que ainda tem conexões com o time de Gene Haas, não poderia substituir Magnussem por estar participando da etapa de encerramento da temporada 2024 da Indycar, no circuito oval de Charlotte, neste mesmo fim de semana. Para a Haas, será uma boa oportunidade para dar quilometragem ao garoto, que saiu-se bem na etapa da Arábia Saudita, quando precisou substituir Carlos Sainz Jr., com uma apendicite. Mas lá ele teve uma Ferrari nas mãos, e agora, vamos ver como se sairá com o carro da Haas, muito diferente do bólido vermelho, e menos competitivo. Mas, com a vaga já garantida para 2025, Bearman precisa apenas cumprir o fim de semana sem cometer erros, e tentar mostrar o que sabe sem a pressão por resultados imediatos, já que só poderá ser efetivamente cobrado por isso no próximo ano.
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