sexta-feira, 13 de setembro de 2024

O NOVO DESAFIO DE ADRIAN NEWEY

A Aston Martin é a nova casa de Adrian Newey na F-1.

            O martelo foi batido, e o tão aguardado novo destino de Adrian Newey se revelou: ele está com a Aston Martin a partir da próxima temporada. O projetista inglês, considerado o mais talentoso da F-1 nos últimos tempos, iniciará agora um novo desafio em sua carreira, que será repetir o sucesso obtido em suas passagens anteriores, e levar a equipe inglesa ao triunfo. Irá conseguir?

            Disposição não falta a Adrian, que entrou no mundo da F-1 em 1980, no time dos irmãos Fittipaldi após se graduar na faculdade. Com o fim da equipe brasileira, Newey enveredou por outros caminhos no mundo do automobilismo, passando inclusive pela F-Indy, antes de retornar à categoria máxima do automobilismo em 1987 pela equipe March, e ajudar a projetar o carro da temporada de 1988. O modelo CG881 surpreendeu em algumas pistas, mesmo dispondo do fraco motor Judd V-8 aspirado, contra os mais potentes Honda e Ferrari, além dos Ford de última geração. No ano seguinte, o modelo CG891 por pouco não venceu uma corrida, ainda que precisasse de pistas extremamente uniformes para poder render tudo o que poderia.

            Contratado pela Williams, Newey começaria ali sua trajetória como projetista de sucesso, onde suas idéias inovadoras encontraram em Patrick Head, o projetista-chefe da escuderia, um mentor que alinhava suas idéias a parâmetros menos radicais e mais funcionais, um aprendizado que seria muito útil a Adrian. Em 1992, a Williams ganharia os títulos de pilotos e construtores de lavada, no primeiro carro projetado pelo inglês a ser campeão. A passagem do projetista em Didicot foi breve, até 1996, quando ele saiu para ir para a McLaren. Antes, porém, ele deixou o projeto do carro de 1997 pronto, no que foram as últimas conquistas de títulos da Williams em sua história na categoria máxima do automobilismo.

            Na McLaren, os carros de 1998 e 1999 foram campeões com Mika Hakkinen, mas a partir de 2000, a Ferrari se mostrou suprema com Michael Schumacher. Alguns anos depois, Newey partiu para um novo desafio, na Red Bull. Em 2009, o time austríaco obteve suas primeiras vitórias, e entre 2010 e 2013, seus primeiros títulos de construtores e pilotos, com Sebastian Vettel. A era de supremacia da Mercedes, porém, interrompeu o domínio da Red Bull, que ainda se manteve forte como um time de ponta, que em 2021 voltaria a ser campeã, e até os dias atuais, com Max Verstappen. Mas o ambiente interno da escuderia dos energéticos, especialmente na disputa de poder entre Christian Horner e Helmut Marko, apimentada pelo escândalo de Horner com uma funcionária, tumultuaram o ambiente no time, a ponto de Newey se sentir muito desconfortável naquela situação, e ainda por cima tendo de tomar partido de um lado ou outro.

            Com 65 anos de idade, ele poderia facilmente dar sua missão como projetista por encerrada, e aproveitar uma bela aposentadoria desfrutando do que ganhou nestes anos todos, sendo talvez o único projetista da F-1 a ter um status salarial equivalente a um piloto de ponta da categoria. Até aí, nada mais justo. Mas ele sentiu o quanto ainda era valorizado na competição, a ponto de vários times o procurarem para integrar suas fileiras. Ferrari, Williams, McLaren, além da Aston Martin, o assediaram, e por algum tempo, imaginou-se que a Ferrari o conquistaria. Até sua maior implicância, que seria morar fora da Inglaterra, parecia estar superada, ao se saber que ele estava procurando um imóvel na Itália, o que fazia quase todo mundo já dar como certa sua contratação pelo time de Maranello. Mas, nem tudo correu como se imaginava.

O modelo FW14B (acima) foi o primeiro carro campeão projetado por Adrian Newey, na Williams, em 1992. A última conquista veio no ano passado com o modelo RB19 da Red Bull (abaixo).


            Algumas desavenças surgiram nas exigências de Newey, que gostaria de ter maior controle sobre o corpo técnico, e a partir daí as conversas com os italianos teriam naufragado. McLaren? O time tem o melhor carro do momento, e Newey poderia não agregar tanto como se imagina, e o velho engenheiro gosta de estar no controle da situação, e sentir que faz a diferença. Na Williams, o time teria os recursos necessários para bancar sua contratação e promover as melhorias técnicas necessárias? Um pouco difícil. E então sobrou mesmo a Aston Martin, que restou vencedora desta disputa, e já anunciou a contratação de Adrian esta semana com toda a pompa. Oficialmente, Newey só poderá trabalhar efetivamente em seu novo time em meados do ano que vem, cumprindo a regra de “quarentena” da F-1, mas enganam-se quem imagina que ele ficará parado neste período. O time, contudo, aceitou as exigências feitas pelo inglês, que além de um salário estimado em US$ 30 milhões por ano, terá também ações da Aston Martin, além da facilidade de poder continuar morando na Inglaterra, um fator crucial para ele ter assinado com o time sediado em Silverstone.

            Ainda que o projeto do novo carro de 2025, o AMR25, não leve seu nome, o projetista certamente já dará idéias de como aprimorar o projeto do carro, enquanto se concentra de mala e cuia no projeto do carro de 2026, este sim o seu primeiro carro autoral na Aston Martin, até mesmo pela introdução das novas regras técnicas da F-1. Segundo Newey, o que mais o impressionou foram as novas instalações da equipe, construídas ao lado de Silverstone, que estão entre as mais modernas de toda a F-1, consequência dos investimentos de Lawrence Stroll para transformar sua escuderia na mais nova força vencedora da categoria máxima do automobilismo. Um desafio que, claro, não surge de um dia para o outro, mas vem sendo construído paulatinamente nos últimos anos, desde que comprou a antiga Force India, e a transformou na atual Aston Martin, resgatando um nome icônico do indústria inglesa para a F-1.

            Vários profissionais chegaram recentemente a Silverstone, e no campo de pilotos, veio Fernando Alonso, que mesmo tendo passado dos 40 anos, ainda é capaz de pilotar em alto nível. O acordo para ser o time oficial da Honda em 2026, e agora, a chegada de Adrian Newey, sem dúvida o nome mais indicado para o projeto de transformar a Aston Martin em um time vencedor. Recursos e nomes capacitados não faltam na equipe. Mas agora o desafio é transformar isso tudo em um time de real sucesso na F-1. E aí estão as maiores dificuldades, que a Aston Martin precisa superar.

A Red Bull foi o time onde Adrian Newey ficou por mais tempo na F-1. Foram quase duas décadas projetando os carros em Milton Keynes, com o projetista sempre com seu caderno de anotações presente em vários GPs anotando detalhes.

            No ano passado o time surpreendeu na primeira metade da temporada, com um carro inspirado no modelo RB18 da Red Bull de 2022, que havia sido campeão com Max Verstappen. Com Fernando Alonso mostrando sua classe, a escuderia só não venceu uma corrida diante da hegemonia da Red Bull, mas o bicampeão espanhol colecionou vários pódios e se colocava, em determinado momento, até na briga pelo vice-campeonato. Mas, conforme a temporada avançava, o time mostrou um ponto fraco primordial: não conseguia evoluir o carro conforme se esperava, e o modelo AMR23 começou a perder terreno para os concorrentes como Ferrari, Mercedes, e até McLaren, que foram aprimorando seus projetos, e superaram o time de Silverstone na segunda metade do ano. Todas as evoluções planejadas não surtiram os efeitos desejados, e em determinado momento, só recuperou parte da competitividade retornando aos ajustes anteriores e descartando as inovações produzidas.

            Esta incapacidade de conduzir as atualizações do carro é um ponto fraco mortal para um time que se pretende ser vencedor na F-1. O time técnico da Aston Martin praticamente não soube conduzir as atualizações, e por tabela, indica um desconhecimento do próprio projeto, ainda mais baseado no carro de um time rival. Não basta saber copiar, é preciso compreender o que faz um projeto funcionar, e este ano, mesmo tendo retornado a um carro mais autoral, o modelo AMR24 está longe de ser competitivo como foi o AMR23. A escuderia retornou aos tempos de 2022, quando em determinadas provas sofria até para chegar nos pontos. Todo o progresso conquistado em 2023 não foi mantido, e este será sem dúvida o principal desafio de Adrian Newey na escuderia, que será fazer a área técnica saber trabalhar em conjunto, e acima de tudo, entender o que dá certo e o que não dá. Para o próximo ano, certamente Newey irá atuar em desenvolver essa sinergia entre o setor de engenharia da escuderia, para que em 2026 entre com tudo com o projeto do futuro AMR26, sob o novo regulamento técnico.

            É consenso que a temporada de 2025 será meio que de “transição” para as escuderias, com os times que estão bem posicionados apenas tentando manter suas posições, com desenvolvimentos mais padronizados de seus projetos, enquanto canalizam o grosso de seus recursos para o novo regulamento técnico de 2026. E quanto antes Newey conseguir que os setores entendam a fundo como analisar de desenvolver um projeto, melhor, até mesmo para a temporada do próximo ano, onde, repito, ele oficialmente não estará envolvido, mas certamente já contribuirá com as diretrizes que gostaria de verem seguidas.

            Outro ponto interessante fica para o papel de líder da escuderia. Fernando Alonso, que terá 45 anos em 2026, ainda tem gás para efetuar esse papel, como vimos ano passado, quando deixou Lance Stroll nas sobras, e certamente ainda está motivado para tentar dar novos vôos, especialmente em um carro potencialmente vencedor, como se espera do carro de 2026. Quanto a Lance Stroll, por melhor que seja, ele infelizmente já se mostrou um piloto de capacidades limitadas, não um piloto ruim exatamente, mas não o nome ideal para tanto liderar um time, quando brigar pelo título. Talvez no máximo vencer uma corrida, dependendo das circunstâncias. Mas um eventual sucesso potencial da Aston Martin pode fazer o time ser cobiçado por outros pilotos. E vale lembrar que em 2026, a depender das circunstâncias, alguns nomes podem estar potencialmente disponíveis, a começar por Max Verstappen, dependendo de como a Red Bull se portar em 2025. Alonso certamente deve ficar até o fim de 2026, pois o espanhol apostou sua permanência no time, e vai querer ver do que Newey é capaz. E Lance Stroll parece garantido ad eternaum na escuderia, por ser filho do dono.

            E, claro, há outro detalhe a considerar? Newey vai conseguir repetir na Aston Martin o sucesso obtido em seus times anteriores? E quando isso irá acontecer? No seu primeiro ano na Williams, o time já disputou o título em 1991 com Nigel Mansell. Não ganhou, mas garantiu as bases de sua hegemonia para os anos seguintes. Na McLaren, o time virou a potência em 1998, e na Red Bull, se é verdade que o sucesso não veio tão rápido, deve-se lembrar que em 2009 a F-1 experimentou um novo regulamento técnico, e a Red Bull então despontou na competição como time de ponta, por pouco não chegando aos títulos de pilotos e construtores, diante da gordura acumulada pela Brawn GP no início do ano. E em 2026 teremos um novo regulamento técnico, então isso dá o que pensar...

            Ainda devemos levar em consideração o fato de que seu próximo carro será mesmo o projeto de 2026, e ele terá mais de um ano para se concentrar nisso, a exemplo do que ocorreu no fim de 1996, quando ele deixou a Williams e foi para a McLaren, concentrando-se totalmente no carro de 1998, que fez o time de Woking ser campeão naquela temporada. Mesmo que possa ser difícil, não é impossível. E o trabalho pesado ficará mesmo em 2025, coordenando e reestruturando a área técnica para atuarem conforme suas diretrizes em 2026, condição que será essencial para que o carro de 2026, se bem nascido, seja ainda melhor desenvolvido, trabalhado com competência por um setor técnico preparado para não apenas evoluir como desenvolver o projeto. Há pessoas competentes em Silverstone. Mas elas conseguirão trabalhar efetivamente em conjunto, e fazer a soma de suas forças?

 

Uma contratação de peso de Lawrence Stroll, cuja meta é transformar a Aston Martin em campeã na F-1.

           Não é uma dúvida casual. Vemos times de futebol cheios de “medalhões” que, entretanto, a despeito de seus talentos, não conseguem coordenar suas forças e mostrar do que são capazes. É preciso saber coordenar tudo para que seus esforços sejam direcionados no objetivo comum, e agregarem-se uns aos outros. Além do que já foi mencionado: saber trabalhar adequadamente um projeto e evoluí-lo. Adrian Newey pode ser a argamassa que irá unir todas estas peças do escopo técnico da Aston Martin. Para 2025, a ordem é apenas tentar melhorar o que for possível. É em 2026 que as cobranças efetivamente virão de fato. E Newey terá certamente que saber montar essa estrutura. Quando chegou na Williams e McLaren, ele soube se integrar às estruturas já montadas nestes dois times. Na Red Bull, sim, ele precisou montar todo o time técnico para atuar conforme suas premissas, e isso fez com que os resultados demorassem mais a aparecer. Na Aston Martin, a situação será parecido, com a vantagem de que a estrutura já está praticamente montada, faltando pequenos detalhes, além de fazer o pessoal saber se entrosar e combinar suas aptidões e talentos. Isso ajuda, mas não quer dizer que não será trabalhoso. Tem condições de conseguir? Sim, tem? Vai conseguir? Muito certamente. A dúvida apenas é se irá conseguir isso já em 2026, ou se irá demorar mais.

            Se conseguir transformar o time de Lawrence Stroll numa escuderia vencedora, e capaz de disputar o título, terá conseguido mais um grande feito ao seu currículo. Mas o trabalho está apenas começando, e teremos muito chão pela frente, até vermos os resultados. Até lá, será preciso paciência, e aguardar tudo entrar nos eixos. Certas coisas, por mais talentosos e brilhantes que sejam as pessoas envolvidas, não podem ser apressadas. Mas a paciência tem tudo para render bons frutos.

 

 

Numa jogada finalmente inteligente, a F-1 realocou a prova do Azerbaijão, na pista de Baku, entre as etapas da Itália e de Singapura, colocando um pouco mais de coerência em um calendário que por si só já é caótico e estressante do ponto de vista pessoal. E a corrida em Baku tem tudo para ser mais uma vez imprevisível. A McLaren tem tudo para novamente ser a favorita, mas entre se mostrar capaz de ganhar, e fazê-lo efetivamente, falta combinar com a concorrência, a exemplo do que vimos na Itália. E a Ferrari, terá de fato força para mostrar, ou o triunfo de Monza foi apenas ocasional e sorte? A Mercedes, por sua vez, é outra interrogação, pois esperava ter ido melhor na Itália, e acabou superada com relativa facilidade pela Ferrari e McLaren, e superou a Red Bull por pouca diferença. Aliás, o time dos energéticos tem tudo para sofrer um novo calvário em Baku, diante da melhoria dos rivais, de modo que Max Verstappen precisará dar duro para administrar os resultados novamente, a menos que o time austríaco tenha conseguido achar um ajuste melhor no seu carro. A corrida tem largada para as 08:00 Hrs. deste domingo, e por enquanto, ainda com transmissão ao vivo pela TV Bandeirantes.

A bela pista montada nas ruas de Baku está pronta para receber mais uma vez a F-1.

 

 

Penalizado por ter atingido o limite de 12 pontos na carteira, o dinamarquês Kevin Magnussen está fora da etapa em Baku, onde será substituído por Oliver Bearman, que assumirá seu carro no próximo ano. Pietro Fittipaldi, que ainda tem conexões com o time de Gene Haas, não poderia substituir Magnussem por estar participando da etapa de encerramento da temporada 2024 da Indycar, no circuito oval de Charlotte, neste mesmo fim de semana. Para a Haas, será uma boa oportunidade para dar quilometragem ao garoto, que saiu-se bem na etapa da Arábia Saudita, quando precisou substituir Carlos Sainz Jr., com uma apendicite. Mas lá ele teve uma Ferrari nas mãos, e agora, vamos ver como se sairá com o carro da Haas, muito diferente do bólido vermelho, e menos competitivo. Mas, com a vaga já garantida para 2025, Bearman precisa apenas cumprir o fim de semana sem cometer erros, e tentar mostrar o que sabe sem a pressão por resultados imediatos, já que só poderá ser efetivamente cobrado por isso no próximo ano. 

Nenhum comentário: