sexta-feira, 29 de março de 2024

SAINZ DÁ SEU RECADO

Carlos Sainz Jr. venceu o GP da Austrália, comandando a dobradinha da Ferrari, e reforça sua posição no mercado de pilotos para 2025.

          Um dos destaques da temporada atual da Fórmula 1 é um piloto que oficialmente já começou a temporada de aviso prévio para 2025, sabendo que não continuaria em sua atual escuderia, uma situação que não costuma ser muito agradável. O piloto em questão é Carlos Sainz Jr., que terá seu posto ocupado por Lewis Hamilton no próximo ano. Charles LeClerc segue no time italiano, com contrato renovado até cerca de 2028. E, sabidamente, Carlos já está na luta para arrumar um novo lugar para correr, e nada melhor do que se promover nesta briga mostrando serviço, e olhem que o espanhol vem cumprindo bem sua missão, e já caindo no meio das conversas de bastidores a respeito das possibilidades de novo time para 2025.

          Até aqui, com apenas 2 corridas de três realizadas, já que Sainz não participou da etapa da Arábia Saudita por ter tido que ser operado de uma apendicite, o piloto vem aproveitando as oportunidades para brilhar, e mostrar aos times no grid, e principalmente à Ferrari, sua escuderia atual, seu recado do que pode fazer. Na abertura da temporada, no Bahrein, Carlos superou seu companheiro de equipe para ficar com a última posição do pódio em Sakhir, classificando-se como “melhor do resto”, diante a performance superior do time dos energéticos, com Max Verstappen a vencer, e Sergio Perez a fechar a dobradinha rubrotaurina com um firme 2º lugar. Pode-se alegar que LeClerc teve problemas nos freios de seu carro, mas isso não era problema do espanhol, que simplesmente estava mais rápido, e superou o companheiro monegasco para ir em busca do melhor resultado possível para o time.

          E, na Austrália, Carlos veio com tudo. Brigou pela pole-position com Max Verstappen, perdendo-a por pouco, numa amostra de que a Ferrari estava forte em Melbourne, e com esperanças de desafiar realmente o poderio da Red Bull. Mesmo ainda estando sem uma recuperação plena, o piloto surpreendeu também na corrida, ao partir para cima do tricampeão da Red Bull, que com problemas no seu carro, não conseguiu dar o combate esperado. E com o abandono de Verstappen, a corrida ficava nas mãos da Ferrari, que conseguiu se manter à frente da McLaren, que andou por perto, mas não a ponto de ameaçar efetivamente a dobradinha do time italiano.

          Mas, Carlos conseguiria manter mesmo o nível de pilotagem? Afinal, não se passara nem duas semanas de sua cirurgia para extrair o apêndice, e o próprio piloto tinha dúvidas se aguentaria o esforço de pilotar no fim de semana, especialmente na corrida. Ele mesmo mostrou que ainda não estava 100%, e sentia ainda as dores da cirurgia, tendo de usar uma peça especial debaixo do macacão para proteger a área operada. Um sinal de que o esforço necessário na corrida poderia estar além da condição atual do piloto no fim de semana. Mas Sainz surpreendeu a todos, e até a si próprio, mantendo uma performance firme e determinada assim que assumiu a dianteira da corrida, para comandar a prova com autoridade. Chegou a se especular se a Ferrari ordenaria uma troca de posição entre os pilotos, uma vez que LeClerc estava melhor na pontuação, diante da ausência do espanhol em Jeddah, mas felizmente, tal ordem não veio, e para se certificar de que ela não veria, Carlos tratou de manter uma performance forte, controlando os possíveis avanços de Charles LeClerc, que em detertminado momento precisou se preocupar mais com a concorrência da McLaren do que em atacar o companheiro de equipe na briga pela vitória.

          No final, tivemos a primeira vitória da Ferrari no ano. Se foi somente por causa do abandono de Verstappen, e dos problemas de Sergio Perez, pode até ser, mas é inegável que o time de Maranello é quem mais próximo está da Red Bull no grid, e com um pouco de sorte, resultados como o da Austrália poderão vir mesmo sem problemas da dupla rubrotaurina na corrida. A Ferrari fez bem em não intervir na disputa, que na prática, nem houve, já que ambos não chegaram a dividir curvas durante a prova, com Sainz mantendo LeClerc a uma distância razoável, e nunca deixando que ela baixasse para dar ensejo de fazer alguma mudança. Com o resultado, LeClerc assumiu a vice-liderança do campeonato, com 47 pontos, contra os 51 de Verstappen, que mesmo com o abandono ainda se manteve como líder da competição. O fraco resultado de Perez rebaixou o mexicano para 3º lugar, com 46, mas Sainz, com a vitória, é o 4º, com 40 pontos, uma diferença relativamente pequena para seu companheiro de equipe, que tem uma corrida a mais na conta.

O espanhol controlou a corrida após o abandono de Max Verstappen, e manteve Charles LeClerc à distância, impedindo que o monegasco tentasse discutir a vitória na prova do Albert Park.

          Charles LeClerc, tido como a estrela principal do time, não conseguiu aproveitar a oportunidade na Austrália para se impor mais, especialmente na classificação, tido como ponto forte do monegasco, que falhou em discutir a pole-position com Verstappen. Coube a Sainz assumir essa função, mesmo ainda em recuperação da cirurgia que passou apenas duas semanas atrás. E, com o triunfo, Sainz se torna o único piloto não-Red Bull a vencer na F-1 em mais de um ano. Foi o espanhol que quebrou a sequência de triunfos da escuderia dos energéticos ao aproveitar o momento anormal do time em Singapura para vencer fazendo uma corrida calculada e fria em Marina Bay, controlando os adversários atrás de si, e arrebatando sua segunda vitória na F-1. Carlos pode não ser o tipo de piloto arrojado e que dá show na pista, mas vai mostrando que nem por isso é menos capaz de obter resultados, e isso é o principal atrativo de um piloto para qualquer escuderia.

          E é isso que Sainz busca: um novo lugar para 2025. Mas onde? O triunfo no Albert Park coloca o espanhol na mira dos times. Ele é um piloto veloz, constante, e acima de tudo, possui visão de corrida, sabendo quando ser agressivo, e quando se precisa conservar o equipamento, além de, claro, não se envolver em acidentes. Vamos lembrar que, quando dividiu a McLaren com Lando Norris, em 2019 e 2020, ele superou o inglês nas duas temporadas, embora neste caso a comparação seja mais correta na segunda temporada, quando Lando já não era estreante na categoria. Norris é tido como um campeão em potencial, mas não conseguiu superar Sainz no campeonato de 2020, o que ele fez com sobras quando teve Daniel Ricciardo como companheiro em 2021 e 2022. Contratado pela Ferrari, Carlos se mostrou um piloto à altura de LeClerc em termos de resultados. Com exceção de 2023, ele esteve praticamente empatado com o monegasco na classificação da temporada, mostrando sua eficiência.

Em Singapura, no ano passado, show de controle do espanhol na corrida, vencendo com maestria suportando a pressão dos adversários atrás de si.

          E essa eficiência, e suas qualidades de pilotagem, em especial a capacidade estratégica, de visão de prova, e saber aproveitar oportunidades, e sobretudo, não se envolver em confusões, são os atributos que ele apresenta aos potenciais interessados em contar com seus serviços. Não por acaso, seu nome é cotado para liderar o novo time da Audi que irá estrear em 2026 na competição, justamente por sua experiência, e pelas qualidades listadas acima. E ele poderia ir para lá já em 2025, quando a Sauber fará sua última temporada na competição, antes de assumir sua nova identidade. A Audi confirmou recentemente a aquisição de 100% da escuderia suíça, e trabalha para fazer sua estréia com força total em 2026, usando a temporada de 2025 como transição. Se lembrarmos que a dupla titular atual, Guanyou Zhou e Valtteri Bottas, não tem contrato para a próxima temporada, não seria impossível Carlos já aportar por lá para ajudar nos trabalhos do novo time. Restaria saber quem seria o dispensado em Hinwill, já que nenhum dos dois pilotos atuais está garantido na escuderia.

A Audi terminou de adquirir 100% da equipe Sauber, trabalha para sua estréia em 2026. Sainz é cotado para ser o líder do time na pista, mas por enquanto nada oficial neste sentido foi dito.

          Mas podem haver outras opções, caso Sainz não embarque nesse projeto. A Mercedes tem uma vaga, com saída de Lewis Hamilton para a Ferrari. O espanhol, que terá sua vaga em Maranello ocupada justamente pelo inglês, poderia ocupar o lugar que era dele em Brackley. Mas há outros candidatos à vaga, e a disputa pode ser ferrenha. Mas, uma vez que o time alemão tem planos de promover Andrea Kimi Antonelli, que atualmente disputa a F-2, a vaga na Mercedes poderia ser apenas um tampão, ao que Sainz poderia não estar interessado. Neste ponto, o projeto da Audi poderia ser mais atrativo, por ser algo de longa duração potencial. Mas surgiram outros rumores de possíveis direções para o espanhol.

          Uma delas seria na Aston Martin, caso Fernando Alonso se aposente, ou vá para a Mercedes, uma vez que o bicampeão é outro nome potencial à vaga de Hamilton. Ou até mesmo, especula-se, Lance Stroll poderia ser finalmente sacado do time, diante dos resultados inferiores se comparados aos de Alonso, e Sainz entrar em seu lugar. Como a Aston Martin será a nova parceira da Honda a partir de 2026, poderia ser um projeto atraente e de longa duração. E as qualidades de Sainz casam bem com as necessidades do time, de ter um piloto eficiente e que traga resultados, algo que Stroll não inspira confiança, para não falar de o canadense se acidentar em alguns momentos.

          E, claro, surgiu também a possibilidade da Red Bull, caso a escuderia decida que Sergio Perez não está satisfazendo as expectativas, especialmente de Helmut Marko, sempre implacável com os pilotos da organização, à exceção de Max Verstappen, seu queridinho. Mas o holandês, que já dividiu a Toro Rosso com o espanhol anos atrás, segundo algumas fofocas, não teria gostado da possibilidade de voltar a dividir boxes com Sainz, uma vez que acumulou atritos com o espanhol quando foram companheiros de time, além de que Carlos poderia ser um companheiro de time muito forte. Verstappen sempre disse que não se importava com quem fosse seu colega de time, mas será mesmo? E Sainz, confiante no seu taco, se submeteria às condições da Red Bull, caso comece a ameaçar a posição de Verstappen no time? Dúvidas pertinentes.

          O fato é que, enquanto não define seu futuro em 2025, Sainz vem mostrando sua capacidade na pista, e até aqui, vem se saindo muito bem. Se a Ferrari conseguir desafiar a Red Bull com mais propriedade, podem apostar que Carlos irá aproveitar para capitalizar. E, apesar de dizer que jogará para o time na pista, muitos duvidam que, se estiver em posição de vencer, ou obter melhores resultados, ele dificilmente aceitará cumprir ordens do time quanto a posições na pista com LeClerc, já que está fora do time no próximo ano. Mas a temporada apenas começou, e ainda temos muitas provas pela frente. Vamos ver se Sainz continua a mostrar seu alto desempenho ao longo do campeonato, o que será mais crucial do que nunca para convencer potenciais contratantes para 2025...

 

 

Depois de uma década de espera, a Formula-E finalmente faz sua primeira corrida no Japão, país que é considerado uma das mecas da alta tecnologia. O primeiro ePrix de Tóquio será disputado em um traçado urbano montado na zona sul da grande metrópole nipônica, na área de Odaiba, junto ao Centro de Exposições Internacionais de Tóquio, também conhecido como Tokyo Big Sith, onde são realizados grandes eventos do país, entre eles a Comic Market, a maior feira de quadrinhos independentes do mundo. O circuito passou por uma pequena mudança de última hora, visando oferecer maior segurança aos pilotos, tendo uma chicane entre as curvas 16 e 17, o que fez com que a extensão do circuito passasse para 2,585 Km, com 20 curvas no total. A prova, na madrugada desta sexta para sábado, com largada prevista para as 02:30 Hrs., pelo fuso horário de Brasília, terá 33 voltas no total, com transmissão ao vivo do Bandsports na TV por assinatura, e pelo canal do You Tube do site Grande Prêmio, que também transmitirão todos os treinos e classificação.

O traçado do ePrix de Tóquio, na área de Odaiba.

 

 

Único time japonês competindo atualmente na Fórmula-E, a Nissan anunciou que usará uma pintura especial para sua participação na prova de estreia no Japão no campeonato. A pintura anunciada pela escuderia traz um carro ornamentado quase que inteiramente pela flor de cerejeira, considerada um dos símbolos do país. O monoposto da equipe já carrega as flores em sua pintura original, mas para a etapa de seu país na competição, recebeu um grande incremento e tanto para esta prova. O carro também traz mensagens em japonês na asa dianteira homenageando seu país de origem. As cores escolhidas seguem como as principais da equipe, o vermelho e o branco. A Nissan, aliás, chega em alta para a corrida na Terra do Sol Nascente: a última prova, realizada aqui em São Paulo, teve triunfo de Sam Bird, piloto da McLaren na F-E, que é time cliente da marca japonesa, usando seu trem de força. Não foi apenas a primeira vitória da McLaren na categoria de carros monopostos elétricos, onde estreou na temporada do ano passado, mas também a primeira da Nissan na história da F-E. O time atual da Nissan era a antiga e.Dams, que era o time oficial da Renault no certame de carros monopostos elétricos. Com a decisão da marca francesa de se concentrar exclusivamente na F-1, a Nissan, sua parceira de mercado e tecnologia, assumiu sua posição, não apenas como fornecedora de trens de força, mas assumindo a propriedade da escuderia, tornando-o seu time de fábrica na competição. E, para completar a festa nipônica na etapa de São Paulo, Oliver Rowland, piloto do time oficial da Nissan, fechou o pódio, superando Pascal Wehrlein e Jake Dennis praticamente na reta de chegada, tirando de ambos a chance de acabarem no pódio. Foi também o segundo pódio consecutivo de Rowland, que também havia terminado no TOP-3 na segunda etapa de Diriyah, na Arábia Saudita. A Nissan ocupa a sexta colocação no Mundial de equipes da Fórmula E, com 41 pontos. Depois de ficar fora dos pontos nas duas primeiras corridas, a equipe japonesa foi ao pódio nas duas seguintes e ainda conseguiu uma pole com Oliver Rowland em Diriyah. No Troféu de Fabricantes, que reúne apenas as fornecedoras de trens de força, o time já é o terceiro colocado, atrás apenas das dominantes Jaguar e Porsche. Será que a Nissan sonha em poder conquistar a vitória em seu país natal, diante de seus torcedores? Seria uma grande alegria, não apenas para o time em si, mas para o público japonês que estará presente assistindo a prova...

O visual especial que a Nissan usará no ePrix de Tóquio.

 

 

A fábrica japonesa, aliás, já pensa longe na F-E, e aproveitou a etapa de Tóquio para anunciar que já assinou acordo para a nova era dos carros Gen4, que estrearão em 2027, o que garante a presença da Nissan no grid da competição de carros elétricos até 2030. Até o presente momento, nenhum outro fabricante anunciou sua participação na nova fase da geração de carros da F-E, e a Nissan mostra seu comprometimento com a competição.

 

 

A presença japonesa no grid da F-E, aliás, vai aumentar. A Lola, tradicional fabricante de carros de competição, anunciou esta semana que irá estrear na categoria de carros monopostos elétricos a partir de 2025, e terá como parceira a Yamaha, no projeto que irá fornecer um novo o trem de força para escuderias interessadas presentes no grid. A marca japonesa dos três diapasões se tornará então a segunda fornecedora japonesa de trens de força na competição. E é possível que entre no grid fornecendo os powertrains do time da ABT, que já anunciou no início do ano que não renovaria seu contrato de fornecimento com a Mahindra, diante dos maus resultados apresentados pelo trem de força da marca indiana. Especulou-se que a Porsche seria a possível nova fornecedora de powertrains do time alemão, mas a Porsche já descartou trabalhar com mais de um time cliente no próximo ano, preferindo manter sua atual estrutura de time de fábrica, e uma equipe cliente, a Andretti, com a qual a marca foi campeã de pilotos no ano passado, com Jake Dennis. Resta esperar que o equipamento a ser desenvolvido pela Yamaha seja competitivo, já que a marca dos três diapasões não teve uma participação de renome quando esteve na F-1, e atualmente está penando para voltar a ser protagonista na MotoGP. Será que a marca terá mais chances de sucesso na F-E?

 

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