A disputa pela pole no GP do Bahrein foi interessante. Será que a corrida também será?
A Fórmula 1 inicia
amanhã a disputa da temporada 2024 com o Grande Prêmio do Bahrein, primeira prova
do mais extenso calendário que a categoria máxima do automobilismo jamais viu,
com nada menos que 24 corridas, com previsão para término apenas em dezembro.
Pela primeira vez desde 1981, uma temporada da F-1 começa em um sábado, e não
em um domingo, devido ao mês sagrado dos muçulmanos, o Ramadã, que começa no final
de semana que vem, domingo, para ser mais exato, o que fez com que a segunda
etapa do campeonato, o GP da Arábia Saudita, tivesse que ser realizado em um
sábado. E como o regulamento da F-1 prevê um intervalo mínimo de 7 dias entre
uma corrida e outra, a prova deste final de semana também teve que ser alocada em
um sábado. E os treinos começaram ontem em Sakhir, com a classificação sendo
realizada hoje, e a prova, amanhã, no horário do meio-dia, pelo fuso horário de
Brasília.
E o que poderemos esperar da corrida barenita, que abre a temporada? Desnecessário dizer que os treinos livres até deram alguma esperança de vermos uma Red Bull menos forte do que as expectativas nos faziam ter, de outra temporada massacrante como a de 2023, e com Max Verstappen caminhando praticamente sozinho rumo ao título, que seria o seu 4º consecutivo, repetindo o feito de Sébastian Vettel, que também conquistou seus quatro títulos de forma consecutiva, entre 2010 e 2013. Bem, a julgar pelo treino de classificação, poderemos ver sim um massacre, mas ele pode tender a não ser tão pronunciado quando se imagina, mas ainda assim, um possível massacre.
Isso porque Max Verstappen larga mais uma vez na pole-position, depois de não parecer tão forte quanto se esperava inicialmente. Mas, na verdade, a Red Bull estava apenas deixando para acelerar forte no momento necessário, e não ficar perdendo tempo fazendo furor em treinos que não valiam muita coisa. E, se a diferença de Max para Charles LeClerc, que larga ao seu lado amanhã na primeira fila, parece algo razoável, é importante lembrar que ritmo de corrida e ritmo de classificação são coisas diferentes, e é no primeiro que reside a grande força do time dos energéticos e do holandês, que mostraram uma constância assustadora frente aos adversários nas mesmas condições e que deve ser o grande diferencial da corrida amanhã. E, dependendo das circunstâncias, podemos não ver um massacre de Verstappen, pelo menos não a olhos vistos, se o atual tricampeão mundial resolver apenas andar o suficiente para vencer, de modo a não desgastar o carro além do necessário, guardando novamente força se o momento exigir.
Max Verstappen deu o bote no momento decisivo e conquistou a pole, e é o favorito para vencer amanhã.
Se há alguém que vai
ter de dar duro na Red Bull é Sergio Perez. O mexicano não foi exatamente ruim,
mas no ano passado ele largou ao lado de Verstappen na primeira fila, e fez a
dobradinha com o holandês. Agora, largando em 5º, ele vai precisar ganhar
algumas posições para assumir o lugar que o time dos energéticos espera que ele
ocupe com certa naturalidade, dada a excelência do carro. E não se preocupar em
bater o holandês, mas sim os rivais da Red Bull na pista, que são seus verdadeiros
adversários. O mexicano tem condições de fazer isso. Basta que mantenha o foco
e a cabeça no lugar. Se fizer a dobradinha, terá começado a temporada com o pé
direito. Mas não vai ser uma briga fácil. Perez não intimida tanto quanto
Verstappen, e se a concorrência tem esperança de bater um dos carros da Red
Bull com maiores possibilidades, é o carro de Sergio que está na mira deles. E
não sem motivos, ainda mais pelo que vimos no ano passado em várias etapas.
Pode-se culpar em parte o modo como a Red Bull desenvolveu o RB19, tornando-o
menos compatível com o estilo de pilotagem do mexicano, mas este também perdeu
parte do rumo em alguns GPs, contribuindo para a situação. Em seu provável
último ano na escuderia, só depende de Perez garantir sua permanência no time
campeão.
A Ferrari terminou a pré-temporada com os melhores tempos, e a certeza de que tem um carro muito melhor do que o ano passado. Mas, ao mesmo tempo, sabe que bater a Red Bull e Max Verstappen é uma incógnita. LeClerc e Sainz fizeram um bom trabalho hoje garantindo suas posições nas duas primeiras filas do grid, e agora precisam confirmar na corrida o real rendimento do modelo SF-24, e tentar descobrir o quanto estão menos distantes de Verstappen. E a dupla ferrarista tem motivos de sobra para dar o seu melhor. LeClerc quer mostrar o quão veloz ele é, e que pode ser o líder do time, mesmo se tiver Lewis Hamilton ao seu lado no box. Já Carlos Sainz quer arrumar seu destino em 2025, e nada melhor do que dar uma canseira nos adversários e brigar na frente pela melhor posição possível. Ele sabe cuidar de seu equipamento, e tem uma visão de corrida acurada, cometendo poucos erros e maximizando as oportunidades na pista, o que o fez muitas vezes se sair melhor que o companheiro de time, mais rápido, mas também mais propenso a cometer erros e desgastar mais rápido o equipamento. Verstappen é o alvo de ambos, e a meta é o pódio, e nada menos do que isso. Vitória? Vai depender de como será a diferença para Verstappen, e se este também se preocupará mais em administrar a corrida do que partir para uma prova de domínio claro.
Ferrari (acima) e Mercedes (abaixo) vão disputar o posto de segunda força, mas a briga promete ser dura, e com mais gente vindo para a brincadeira.
Quem chega com força para a primeira corrida é Fernando Alonso, mostrando que se a Aston Martin possui um bom projeto, parece que apenas ele consegue mostrar isso. Mais uma vez o asturiano sobrou no cômputo geral do time sobre seu companheiro Lance Stroll, que até pareceu se animar um pouco mais em determinado momento, mas na hora da decisão, o canadense empacou mais uma vez no Q2, tendo de largar em 12º, enquanto Fernando parte em 6º lugar, pronto para um confronto direto com os rivais de Ferrari, Mercedes e McLaren. E, se perigar, ele ainda lasca um pódio, a exemplo do que fez ano passado. Se é verdade que a concorrência ficou mais forte, pelo menos a Aston Martin mostra que manteve sua força, e está ali no meio do bolo dos que brigarão pela posição logo abaixo da Red Bull. Mas o verdadeiro desafio do time de Silverstone está mais adiante na temporada, quando precisarão desenvolver o AMR24, se não quiserem ficar para trás, como aconteceu na segunda metade do ano passado, caindo da 2º para a 5ª posição nos construtores. Alonso garante sua parte, o time precisa se garantir no departamento técnico, e acima de tudo, Stroll precisa mostrar ser mais do que apenas o filho do dono do time. Afinal, a briga parece estar bem mais parelha do que em 2023, portanto qualquer detalhe pode fazer a diferença, para mais, ou para menos.
E quem está na mira para encarar essa briga é a McLaren. O time de Woking pareceu não mostrar muita força na pré-temporada, pelo menos em comparação com a forma como tinha terminado a temporada passada, mas está ali no bolo junto com Ferrari, Aston Martin, e Mercedes. E tem uma dupla forte. Lando Norris espera finalmente debutar no degrau mais alto do pódio, mas vai precisar superar os rivais na pista, que tem outras idéias. Oscar Piastri já venceu uma corrida, mas provas Sprint não contam nas estatísticas. Mesmo assim, já é um feito, ainda mais para alguém que era novato na competição na temporada passada, e agora quer dar vôos igualmente mais altos. Na classificação de hoje, o time ficou equilibrado, monopolizando a 4º fila, com Norris em 7º e Piastri em 8º, ambos separados por menos de 0s1. Dos principais times, a McLaren é de onde pode sair mais faísca potencial entre sua dupla de pilotos. Piastri chegou chegando ano passado, e Norris já mostrou incômodo por ficar atrás do colega de time. A maior força da McLaren pode ser também o seu maior problema, se ambos acabarem extrapolando na pista. E diante da concorrência mais próxima, não poderão se dar ao luxo de cometer erros assim, ainda mais se possuem a real meta de querer tentar bater a Red Bull, assim como os outros.
E a Mercedes? O novo modelo W15 despertou simpatia de George Russell e Lewis Hamilton, que disseram que o carro agora é mais agradável de pilotar, ao contrário dos modelos dos dois anos anteriores, que já demonstravam serem temperamentais logo após saírem para a pista. Falta conferir quão bem eles estarão no ritmo de corrida, porque na classificação os sinais pareceram positivos. Russell, o mais bem colocado dos carros alemães, ficou a pouco mais de 0s3 do pole Verstappen, quando no ano passado ele tinha ficado a pouco mais de 0s7. George larga em 3º, abrindo a segunda fila, tendo superado por pouco Carlos Sainz. Lewis Hamilton partiu para um setup um pouco diferente no Q3, e por isso, não foi tão bem, acabando por ficar apenas em 9º, mas por uma diferença de apenas 0s2 para seu companheiro de equipe. O time de Brackley admite que ainda há muito trabalho para ser feito, e que pelo menos o novo carro exibe muito potencial para ser desenvolvido, numa percepção muito mais otimista do que a vista desde 2022. Vão brigar pela vitória? Russell trata de colocar os pés no chão, afirmando que no máximo dá para brigar pelo 2º lugar, numa posição mais otimista.
Já o time B da Red Bull, que chamarei apenas de Visa RB para simplificar, mostrou ter alguns culhões na pré-temporada, mas hoje, pelo visto, ficou devendo. Yuki Tsunoda e Daniel Ricciardo foram barrados no Q2, não avançando para o Q3 como muitos imaginavam que poderiam fazer. E Tsunoda conseguiu ficar à frente de Ricciardo, depois do australiano chegar até a liderar o Q1, ainda que isso fosse algo apenas momentâneo. Resta ver se o time terá um ritmo de corrida condizente para tentar brigar mais à frente.
Na Williams, como era esperado, Alexander Albon mostrou que o time deve brigar ali perto do pelotão do meio, e não se iludir achando que Logan Sargeant vai conseguir milagres. Ao menos o time de Grove parece ter condições de brigar um pouco mais à frente, mantendo as expectativas do que se esperava diante do exibido na pré-temporada, sendo que o time inglês foi o que teve os maiores percalços técnicos durante os três dias, tendo sido o que menos rodou diante do tempo perdido.
Mas, se tivemos surpresas aparentemente positivas, tivemos também algumas bem negativas. A maior delas sendo a Alpine. O time francês já não tinha empolgado seus pilotos na pré-temporada semana passada, e a perspectiva era de brigar na segunda metade do grid. Só que o buraco foi bem mais embaixo, e Esteban Ocón e Pierre Gasly monopolizaram a última fila do grid, tendo sido eliminados logo no Q1 da classificação para a corrida, um resultado bem pior do que todos esperavam. E sem maiores esperanças de uma recuperação na corrida, infelizmente. Podem até não terminar em último, mas não devem conseguir avançar muito também.
Eliminada no Q1, a Alpine não começa bem a temporada 2024.
A Sauber, por sua vez,
mostrou que não deve ir muito longe este ano. O time espera a Audi assumir a escuderia
de vez, para a temporada de 2026, e até lá, deve se contentar em apenas estar
no grid, por isso não foi nenhuma surpresa os dois pilotos do time suíço
ficarem também no Q1, fazendo companhia à Alpine. Ambos devem brigar para não
ficarem em último na corrida. E o nível dos dois times acaba dando até um
alento para a Haas, que se imaginava ser novamente a lanterna, tendo conseguido
até o milagre de Nico Hulkenberg passar para o Q3, largando em 10º lugar.
Mas o time de Gene Haas não tem exatamente um carro tão ruim assim. No ano passado, o modelo VF-23 tinha até bom potencial de classificação, mas era ruim em ritmo de corrida, especialmente por consumir demais os pneus nas provas, um defeito em parte oriundo por usar a mesma suspensão traseira da Ferrari, que também padecia deste mesmo problema. Como o time continua usando o mesmo sistema do time rosso, e a equipe de Maranello parece ter conseguido grandes progressos em relação a este problema, resta saber se o modelo VF-24 também se beneficiará deste avanço. Hulkenberg também conseguiu surpreender no ano passado indo ao Q3, mas invariavelmente despencava nas corridas pelo consumo de pneus e ritmo inferior do carro. Precisamos conferir se o panorama se alterará em 2024. De início, parece apenas que Kevin Magnussen continua tomando tempo do colega de time alemão, já que irá largar em 15º, tendo sido eliminado no Q2.
Agora, vamos para a corrida, e ver quem tem de fato cartas a mostrar ainda na manga...
O Mundial de Endurance (WEC) dá sua largada neste final de semana, com a primeira prova de um total de oito etapas, que se estenderão até o início do mês de novembro. A prova de abertura é em Losail, no Qatar, com os 1.812 Km do Qatar, que terão largada neste sábado, dia 02. E os amantes da velocidade das provas de Endurance terão condições de ver as provas oficialmente no Brasil. O canal pago Bandsports fechou acordo para transmitir a temporada, começando já neste final de semana. E, paralelamente, o site Grande Prêmio também irá transmitir a competição, através de seu canal no You Tube. Para as transmissões da abertura do campeonato no Catar, Geferson Kern e Rodrigo Vicente serão os narradores e Vitor Genz, Daniel Balsa, Dedê Gomez e Lipe Paíga serão os comentaristas na transmissão do Grande Prêmio.
E a disputa do WEC este ano será interessante, com um grande número de montadoras inscritas, a ponto de a direção da competição praticamente reduzir as classes de competidores a apenas duas: os Hypercars, sendo que teremos 19 carros só na principal classe das provas de endurance; e os LMGT3 (turismo), dos quais teremos 18 carros, totalizando 37 carros fixos em todo o campeonato. A única exceção é Le Mans, onde 60 carros largam, e as vagas restantes serão compostas por protótipos privados, na única etapa da temporada que irá contar com a classe LMP2 no grid. No que tange ao calendário de 2024, um dos destaques é a volta do Brasil ao certame, depois de mais de uma década. A etapa brasileira está marcada para o mês de julho, em Interlagos, palco das edições anteriores. Nos Estados Unidos, Sebring saiu do calendário, sendo substituída pela prova de Losail. E Ímola manterá a Itália no calendário, uma vez que Monza está passando por obras no autódromo, e por isso, não poderia sediar a prova este ano.
Confiram o calendário 2024 do WEC:
DATA |
ETAPA – PAÍS |
CIRCUITO |
02.03 |
1.812 Km do Qatar – Qatar |
Losail |
21.04 |
6 Horas de Ímola – Itália |
Circuito Enzo e Dino Ferrari |
11.05 |
6 Horas de Spa-Francorchamps – Bélgica |
Spa-Francorchamps |
15 e 16.06 |
24 Horas de Le Mans – França |
Le Mans |
14.07 |
6 Horas de São Paulo – Brasil |
Interlagos |
01.09 |
6 Horas de Austin – Estados Unidos |
Circuito das Américas |
15.09 |
6 Horas de Fuji – Japão |
Fuji Speedway |
02.11 |
8 Horas do Bahrein |
Sakhir |
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