quarta-feira, 6 de março de 2024

ESPECIAL – MOTOGP 2024

            E mais um campeonato está para começar. Desta vez é a turma das duas rodas, a MotoGP, que inicia sua temporada neste próximo final de semana, mais uma vez no Oriente Médio, onde já vimos no fim de semana passado as estréias da F-1, F-2, F-3, e do Mundial de Endurance. Mas não podemos esquecer da classe rainha do motociclismo, e é hora de vermos mais uma temporada que promete vir com muitas disputas na pista, apesar de tudo. Confiram tudo no texto a seguir, e fiquem prontos para torcer por seus pilotos favoritos...

MOTOGP 2024

 

A Ducati deve manter sua dinastia na classe rainha do motociclismo na temporada 2024, diante da falta de força das potenciais rivais, mas o campeonato, ao contrário da F-1, tem tudo para ser bem mais disputado

 

Adriano de Avance Moreno

Vem aí mais um campeonato da MotoGP. Preparem-se para a competição da classe rainha das duas rodas pelo mundo afora.

 

          Vai começar o campeonato das duas rodas. A MotoGp entra na pista neste final de semana, no circuito de Losail, no Qatar, que volta a abrir a temporada da classe rainha do motociclismo. E a perspectiva é de que a Ducati, campeã das últimas temporadas, deve manter seu domínio na competição, o que não quer dizer que teremos um campeonato sem briga na pista. Muito pelo contrário, poderemos ter ainda mais disputa do que vimos em 2023, algo bem diferente do que estaremos vendo na F-1, onde o título parece já ter dono desde antes da primeira prova ter sido disputada.

          O time de Borgo Panigale mostrou bons resultados na pré-temporada, que confirmam, mais uma vez, o favoritismo da marca italiana na competição, indicando que o reinado iniciado ainda na segunda metade de 2021, quando a marca por pouco não foi campeã em cima da Yamaha, e que pelo que estamos vendo, não será encerrado tão cedo, pelo menos, não em 2024. Os concorrentes que se virem para mudar a situação.

          Francesco Bagnaia, o atual bicampeão, é o homem a ser batido, e não faz por menos, marcando os melhores tempos nos testes da pré-temporada tanto em Kuala Lumpur quanto em Losail, confirmando o seu excelente momento na MotoGP, e mostrando aos rivais que não pretende baixar a guarda na defesa do título, indo em busca de mais um, que seria um tricampeonato consecutivo. Ele levou a Ducati de volta ao título há dois anos, e na temporada passada, teve sua cota de percalços para levar um bicampeonato confirmando sua posição de novo rei da competição. Um reinado que já foi fortemente contestado em 2023, e tem tudo para ser ainda mais discutido este ano. E o principal candidato a querer roubar a coroa de Bagnaia está bem no seu lado do box: Enea Bastianini. O piloto italiano chegou à equipe oficial de Borgo Panigale credenciado pela excelente temporada de 2022 com a Gresini, quando se manteve na luta pelo título quase até o final, e isso gerou expectativa de muita disputa na escuderia já em 2023. Como Bagnaia, recém-coroado campeão, lidaria com essa disputa interna no time?

          Infelizmente, não vimos essa disputa. Bastianini sofreu um acidente logo na primeira etapa da competição, e ficou várias etapas de fora, precisando se recuperar. E quando voltou, as sequelas do acidente ainda o prejudicaram em outras etapas, de modo que Bagnaia disparou no campeonato, e quando Enea se recuperou de fato, o campeonato já estava em sua reta final, e com a Ducati a dar todo o apoio para ver seu piloto ser bicampeão, algo que só foi sacramentado, mais uma vez, na prova final, em Valência.

          De fato, a posição de Bastianini na escuderia chegou até a ficar em risco, mas a Ducati fez questão de frisar o cumprimento do contrato, que vai até o fim deste ano, dando a Enea a justa chance de se recuperar, e justificar a sua contratação pelo time de fábrica da marca italiana. E, a julgar pelos testes da pré-temporada, Bastianini está pronto para oferecer, ainda que com um ano de atraso, o esperado duelo contra Bagnaia na pista.

Gigi Dall'Igna, chefe da Ducati oficial, e sua dupla de pilotos. A marca de Bolonha está pronta para defender o seu reinado atual na MotoGP por mais um ano.

          Não há como negar que o ano perdido para Enea pode ter sido crucial em seus planos para tentar ser campeão. Afinal, apesar de ter conquistado o título de 2022, “Pecco” Bagnaia ainda estava sacramentando seu nome como campeão na Ducati. Agora, como bicampeão, ele tem ainda mais força moral dentro do time, que já iniciou as tratativas para renovação de contrato, com vistas a garantir a permanência de seu grande campeão por mais tempo na escuderia. E, diante dos percalços sofridos pelo piloto na parte final da temporada do ano passado, quando seu favoritismo ficou em xeque, e conseguiu mostrar firmeza e foco a ponto de conquistar o segundo título, “Pecco” certamente estará ainda mais forte, tanto dentro da pista como fora dela, o que significa que para Bastianini, será ainda mais difícil desafiá-lo num duelo pelo título da competição.

          Não que Enea não vá poder tentar brigar pelo título. A Ducati segue sendo a força dominante no grid, e portanto, deve manter a liberdade de seus pilotos duelarem livremente pelo campeonato, o que deve garantir boas disputas na pista, a confirmar a recuperação total de Bastianini, frente a um Bagnaia mais seguro e confiante de si mesmo como grande campeão mundial que se tornou. E isso deve garantir boa parte do interesse do campeonato, ainda que não seja a única razão pela qual a disputa deverá ser acirrada.

          Isso porque Jorge Martin, da equipe satélite Pramac, que foi vice-campeão ano passado, tendo feito uma arrancada fulminante nas provas finais, e colocado até em risco o bicampeonato de Bagnaia, surge novamente como um forte oponente disposto a engrossar a disputa. Em jogo, é claro, além do título, Martin quer uma vaga no time de fábrica, da qual se julga merecedor já há dois anos, tendo sido inclusive um dos candidatos de disputa que acabou levando o próprio Bastianini ao time oficial da marca.

          Para se ter uma idéia de como a Ducati está privilegiada neste momento, além de poder contar com Enea Bastianini como primeira opção de renovação de contrato para 2025, ela terá de considerar também a performance de Jorge Martin este ano, e ainda teremos Marc Márquez na parada, a verificar como a “Formiga Atômica” irá se sair conduzindo uma Ducati pela primeira vez, mesmo sendo a moto do ano passado, que vale lembrar, foi a moto campeã com Bagnaia, e ainda muito competitiva. Mas, se formos ampliar o leque, quem também pode estar disponível no próximo ano é Fabio Quartararo, que certamente não vai pensar duas vezes em pular fora da Yamaha se o time enfrentar outra temporada de vacas magras como foi 2023. Haja opções. Mas só um estará montado na Desmosédici GP-25 no próximo ano, ao lado de Bagnaia, que já entra na pista para os primeiros treinos oficiais com o contrato renovado com o time de Bolonha por mais duas temporadas, garantido com a Ducati de fábrica até o fim de 2026. O time já vinha tratando da renovação do bicampeão, e tudo ocorreu sem maiores problemas para garantir sua permanência na escuderia.

Os times satélites da Ducati prometem vir com tudo na competição, prometendo bons duelos e emoções, de modo a não deixar o time de fábrica deitando e rolando sozinho na parada. A Pramac (acima) pode surpreender de novo, com Jorge Martin, como fez ano passado. Mas também precisamos ver como se sairão a Gresini (abaixo) com os irmãos Márquez, e sem menosprezar a VR46, o time da lenda Valentino Rossi (mais abaixo).



          E, por isso mesmo, o pessoal terá de ir à luta. Bastianini tem a seu favor o fato de já conhecer o time de fábrica, e em tese, poder contar com o modelo atualizado da Desmosédici. Mas isso não quer dizer que Bagnaia será seu único rival na pista. Basta lembrarmos do que vimos na parte final da temporada, quando Jorge Martin, do time satélite Pramac, engrossou a disputa, e quase levou Bagnaia às cordas, perdendo a disputa apenas na corrida final em Valência. Joga a seu favor o fato da Pramac contar com a mesma GP-24 do time de fábrica, de modo que ele terá o mesmo equipamento dos pilotos oficiais.

          Como a Ducati compartilha os dados técnicos de suas motos com todos os times e pilotos, a Pramac tem acesso aos acertos da equipe de fábrica, e vice-versa, o que em tese garante praticamente igualdade de condições de disputa com Bagnaia e Bastianini. E Martin deve vir, mais do que nunca, mordido para tentar conquistar o título da competição. O piloto espanhol já tinha ficado desgostoso de ter sido preterido por Bastianini na escolha do time de fábrica ano passado, e em determinado momento na competição, seu nome foi ventilado como substituto do italiano para esta temporada, diante da impressionante campanha na reta final da competição, podendo roubar o título do atual campeão. Mas a Ducati manteve-se calma, e manteve Bastianini, até porque Martin perdeu as estribeiras em alguns momentos, chegando até a dizer que haveria uma conspiração para não deixá-lo ser campeão, quando na verdade ele errou sozinho, e sofreu com percalços comuns nos fins de semana de competição. Isso pegou mal na avaliação do piloto espanhol, que demonstrou pouco autocontrole de seu estado emocional, enquanto Bagnaia, apesar dos problemas, manteve-se focado e firme em reagir na pista, não cedendo às provocações e à pressão da disputa pelo título, como convinha ao seu status de campeão vigente.

          Tanto é que esse desequilíbrio emocional teria sido o fator chave para a Ducati preferir manter as coisas como estão, e não tentar jogar ainda mais lenha na fogueira na situação de seus pilotos. Martin, com certeza, precisa repensar este tipo de atitude, até porque a fábrica italiana se manteve neutra na disputa, mesmo com o risco de seu time oficial perder o campeonato para um time satélite. Tanto é que, como foi dito, a Ducati compartilha os dados de todas as suas motos, e a Pramac tem acesso a eles, assim como o inverso também é real. Este acesso continuou liberado mesmo durante os momentos mais tensos da disputa. Uma Ducati seria campeã, afinal. E Martin terá novamente a mesma moto dos pilotos da equipe de fábrica, e terá nova chance de tentar ser campeão. Mas o espanhol já teria dado um ultimato velado: se não conseguir ir para o time de fábrica no próximo ano, pode procurar outros ares na competição, indicando que deixaria a Pramac por se sentir preterido. É o tipo de atitude que certamente pode jogar contra as pretensões do piloto, que sim fez uma temporada excepcional no ano passado, mas cometeu pequenos erros que fizeram toda a diferença.

          Chegou a se especular se a Ducati não iria interferir na disputa, diante da possibilidade do time oficial de fábrica perder o título para um time satélite. Mas imperou a esportividade na competição, com a Ducati deixando a disputa rolar solta na pista, afinal, uma Ducati seria campeã, e não importava qual delas fosse. Depois de vermos tantas situações de ordem de equipe no meio das competições do esporte a motor em várias temporadas, nada como uma disputa limpa na pista. E é o que deveremos ver novamente este ano. Mas Martin também terá que se cuidar a respeito de seu novo companheiro de equipe, Franco Morbidelli, que chega ao time para substituir Johaan Zarco, que foi para a LCR Honda. Morbidelli foi vice-campeão em 2020, mas desde então não se encontrou mais na Yamaha, e acabou dispensado. Contratado pela Pramac, o ítalo-brasileiro ganho uma grande chance, podendo competir com a melhor moto do grid, mas já começa o ano em desvantagem, pois se acidentou antes da pré-temporada, e com isso, perdeu os testes, vindo a estrear com seu novo equipamento apenas neste fim de semana, o que certamente já é um revés na luta interna contra Martin, que deixou Zarco comendo poeira na temporada passada.

Depois de mais de uma década, vida nova para a "Formiga Atômica" na Gresini. Marc Márquez quer voltar a ser o velho campeão de antes. Irá conseguir?

          Mas a grande expectativa é como Marc Márquez irá se apresentar na temporada. Depois de mais de uma década defendendo a Honda, a “Formiga Atômica” resolveu mudar de ares, e deu um passo para trás, aceitando o convite da Gresini para correr em 2024, após não ver muitas esperanças de melhora na Honda, que virou figurante nos dois últimos anos. Devidamente recuperado das sequelas do acidente sofrido em 2020, o hexacampeão quer provar a si mesmo que ainda é competitivo, mas não dava para aferir resultados com a moto intempestiva da Honda, onde levou inúmeros tombos no ano passado, de tão arisco que era o protótipo nipônico. Marc aceitou correr ao lado do irmão, que já defende o time satélite da Gresini, e terá à disposição a moto campeã do ano passado, a GP-23, e certamente condições de verificar se ainda é o fenômeno que assombrou o mundo da motovelocidade na década passada. Muitos declararam que ele irá brigar pelo título, mas o próprio Marc prefere manter os pés no chão, e esperar para ver como se sairá, afinal, ele está se adaptando à moto, enquanto os grandes nomes da marca italiana já conhecem o equipamento muito bem e sabem extrair o seu melhor. O espanhol admite que ainda precisa adaptar seu estilo de pilotagem à Desmosédici, portanto, o que vier será lucro. E, dependendo deste lucro, ele pode até se cacifar a ganhar um lugar no time oficial de fábrica. Mas a briga, tanto na pista como pela vaga, será dura. Márquez terminou o último dia da pré-temporada em 4º lugar, a quase 0s4 de distância para o melhor tempo de “Pecco” Bagnaia, o que deve ser visto com a devida cautela, afinal, mesmo dizendo que ainda não pensa em disputar novamente o título, que ninguém duvide: se ele sentir potencial para isso, ele virá com tudo mesmo. Não se pode subestimar um hexacampeão na pista, e o ocaso de Márquez ainda não foi confirmado.

          E aqui na Gresini também teremos um embate, por dizer, singular. Afinal, Marc irá medir forças com seu irmão caçula Álex, que desde que chegou à classe rainha, sempre se viu na mira de comparação com o irmão mais velho e multicampeão. Teria ele a mesma capacidade de Marc? Em 2020, o acidente sofrido pelo hexacampeão nos privou de descobrirmos isso. Agora, dividindo novamente o mesmo time, mas com outro equipamento, a disputa tem um revés para Marc, no fato de ele ainda ser novato com a Desmosédici, enquanto seu irmão já tem um ano de experiência com a moto italiana. Assim, como se dará o duelo entre ambos? Por mais que ambos os irmãos neguem estar preocupados com isso, os fãs certamente irão prestar atenção nessa disputa particular dentro da Gresini. Os resultados, claro, precisarão ser analisados de forma objetiva e imparcial, e não passional. Para muitos fãs da “Formiga Atônica”, se ele se der melhor, isso apenas confirma seu talento como um dos maiores nomes da MotoGP na história; se perder, isso muito será visto apenas como Álex tendo maior experiência com a moto do que seu irmão mais famoso. Esperemos por um bom duelo, e que possa ser apreciado sem percalços pelos fãs da velocidade.

          E não podemos esquecer da VR46, que também irá tentar conquistar sua fatia do quinhão de sucesso da Ducati na classe rainha do motociclismo. Marco Bezecchi careceu de ter melhor sorte em alguns momentos, que lhe deixaram para trás no campeonato passado, impedindo-o de brigar mais efetivamente pelo título, a exemplo do que Jorge Martin fez, mas ele quer mostrar que estará no páreo novamente. E, se ele deixou Luca Marini para trás, ganhou um novo companheiro, Fabio Di Giannantonio, que quase ficou fora do grid, e se salvou no último instante com algumas performances bem fortes, inclusive conquistando a única vitória da Gresini em 2023. E ele certamente vai querer chegar chegando no novo time, até para não ser eclipsado por Bezecchi. Podemos ver outro duelo interessante em outro time da Ducati.

          Fora da “esquadra Ducati”, com seus oito pilotos no grid, quem poderá oferecer a maior disputa contra a marca italiana. A KTM? A marca austríaca foi vice-campeã de construtores em 2023, e celebrou bons avanços na pré-temporada, teoricamente diminuindo sua desvantagem para a rival italiana, mas claro que ficou a pergunta: os avanços serão suficientes para travar o embate necessário? Afinal, a Ducati também melhorou, e nesta queda de braço, terá a KTM recuperado terreno, ou ficado no mesmo lugar? Apesar da temporada relativamente boa no ano passado, o time austríaco ficou sem vitórias na competição, tendo batido na trave por duas vezes, o que foi considerado muito pouco. Brad Binder, com contrato já renovado, é a principal aposta da escuderia para vencer, enquanto Jack Miller, apesar de já ter mostrado grande velocidade, tem tido o hábito de perder ritmo nas corridas, por não poupar tanto o equipamento, e isso foi crucial para ter alcançado apenas um pódio no ano, enquanto Binder chegou lá em cinco ocasiões, terminando a temporada em um honroso 4º lugar, enquanto Miller foi apenas 11º colocado.

A KTM ficou sem vencer no ano passado, mas quer voltar ao degrau mais alto do pódio em 2024, e investiu pesado na evolução da sua RC16.

          Por isso mesmo, o entusiasmo na KTM é contido. Os testes da pré-temporada mostraram que a moto austríaca se aproximou da performance das Desmosédici, mas como já foi dito tantas vezes, teste é teste, e corrida é corrida, portanto, é preciso esperar para ver como será a primeira corrida para analisar qual foi o real ganho de performance. Para isso, a KTM contará também com os resultados da Tech3, seu time satélite, que divulga a marca GasGas. No ano passado, a escuderia ficou capenga depois que Pol Spargaró se machucou logo na primeira etapa da competição, e raramente se apresentou de forma decente depois daquilo quando retornou. A marca austríaca, aliás, resolveu bancar a aposta em Pedro Acosta, considerado novo grande talento do motociclismo, e promoveu o rapaz para o time da Tech3, deixando Pol Spargaró a pé, rebaixado a piloto de testes, e wild card em algumas etapas da competição. Acosta, aliás, já é até cogitado para subir para o time de fábrica, a depender da sua performance na Tech3, de modo que Jack Miller precisa ficar de sobreaviso se não quiser perder sua posição no time austríaco, uma vez que Brad Binder já está de contrato renovado com o time. Uma repetição do que vimos em 2023 pode jogar o australiano para fora para a vinda de Pedro, se ele confirmar as qualidades que demonstrou nas categorias de acesso.

          A KTM, antes de desafiar a Ducati, pode ter de digladiar com outra marca italiana: a Aprilia também celebrou bons avanços na sua RS-GP24, e quer vir para a briga. A escuderia de Noale cresceu bastante em 2022, obtendo sua primeira vitória na classe rainha do motociclismo com Aleix Spargaró, e pretendia continuar subindo de performance, mas a temporada de 2023 deu uma boa esfriada nos ânimos, com sua dupla de pilotos ficando longe da briga pelo título, e pior, sem exibir a mesma força do ano anterior, decepcionando quem esperava para ver um duelo entre as marcas italianas na competição. Spargaró e seu companheiro de time Maverick Viñalez mostraram satisfação com o desempenho na pré-temporada, portanto, será que a Aprilia vem mesmo para a briga, ou negará fogo? O mais provável é que sua rival seja a KTM pelo posto de “melhor do resto” depois das Ducatis no grid. Pelo último dia de testes da pré-temporada, realizada na Malásia, a Aprilia promete vir com tudo: Se Bagnaia marcou o novo recorde do circuito, trazendo Enea Bastianini a tiracolo na 2ª posição, Aleix Spargaró completou o TOP-3 ficando a cerca de 0s30 de distância, enquanto Viñalez esteve a cerca de 0s43, dando mostras de que pode ter algumas cartas na manga para tentar surpreender a esquadra da Ducati na competição.

          A Aprilia também deve manter um contato técnico mais abrangente com a Trackhouse, seu novo time satélite, que ocupou o lugar da RNF, descredenciada da competição por violação de cláusulas contratuais. O novo time, oriundo dos Estados Unidos, garantiu a permanência de Miguel Oliveira e Raúl Fernandez no grid. Oliveira, aliás, terá à sua disposição a moto de 2024, enquanto Fernandez irá iniciar a temporada com a moto de 2023, mas com a promessa de ganhar também, mais à frente, o modelo deste ano. Ao menos isso garantiu que o grid da MotoGP permanecesse ileso, contando ainda com 22 motos regulares no grid, com 11 times. A direção da MotoGP busca reforçar o grid, mas até 2027 não deveremos ter a estréia de novos times na competição, de acordo com comunicado recente neste sentido.

Surpresa em 2022, a temporada de 2023 não foi tão positiva para a Aprilia, mas a marca de Noale quer voltar a mostrar força em 2024.

          E as marcas japonesas? Yamaha e Honda ganharam concessões da MotoGP para poderem desenvolver melhor seus equipamentos, a exemplo do que a própria Ducati já teve tempos atrás, para melhorar sua competitividade, e voltarem a oferecer melhores disputas. Outrora dominantes na competição, os times nipônicos despencaram no grid nos últimos tempos, terminando a temporada passada na lanterna do campeonato de construtores. Ainda assim, mesmo com as concessões, será um ano difícil para ambas as marcas. A Yamaha vai lutar para não perder seu grande astro, Fabio Quartararo, que já andou ficando impaciente com a falta de perspectivas da moto do time dos três diapasões. A escuderia dispensou Franco Morbidelli e contratou Álex Rins para dar início ao seu processo de reconstrução, mas Rins já avisou que, apesar das melhoras no equipamento, a Yamaha ainda não tem como vencer corridas este ano. A equipe japonesa já notou uma boa evolução no equipamento, porém os rivais também avançaram muito, de modo que ainda há muito trabalho a ser feito.

          Na Honda, o baque da perda de Marc Márquez ainda é muito sentido, mas sem a presença do hexacampeão os japoneses talvez consigam se concentrar em fazer uma evolução melhor do equipamento, produzindo uma moto que possa ser conduzida por todos os seus pilotos, e não por apenas um deles. A concentração das atenções em Márquez durante seus anos de reinado cobrou um preço alto da marca da asa dourada, que ficou exposta quando ficou sem poder contar com o hexacampeão. Os testes da equipe nipônica já mostraram que ainda não será este ano que a Honda voltará a ser protagonista, mas estão empenhados em reencontrar seu rumo, e pelo menos uma coisa é positiva: o time de fábrica começou a ouvir todos os seus pilotos, a fim de tentar encontrar as soluções de que precisa mais rapidamente. No passado, eles praticamente ignoraram seus pilotos, concentrando suas atenções unicamente em Marc Márquez, que estava ganhando tudo, e isso acabou cobrando seu preço. Sem o hexacampeão, o time nipônico finalmente caiu na real, e iniciou agora o caminho para tentar voltar ao topo, que promete ser ainda bem longo, apesar de beneficiada pelo programa de concessões, podendo testar mais, e não estando submetida ao congelamento dos motores como ficarão Ducati, KTM e Aprilia.

          Joan Mir, campeão de 2020, é agora o veterano no time, e tem a missão de guiar a escuderia na pista, tendo ao lado o jovem Luca Marini, que aceitou deixar a VR46 para tentar a sorte no time onde seu irmão Valentino Rossi foi campeão muitos anos atrás. Mir teve um repertório incomum de quedas em 2023, diante do comportamento irascível da RC213V, que agora parece um pouco mais dócil, em que pese a própria Honda não ter conseguido finalizar sua preparação adequadamente para o início da temporada. Na equipe satélite LCR, Johaan Zarco assume o time com o objetivo de ajudar no desenvolvimento do equipamento em colaboração estrita com o time de fábrica, ao lado do já veterano Takaaki Nakagami, que pode estar em sua última temporada na competição por conta da Honda. O piloto japonês até agora não conseguiu desencantar na classe rainha, e a fila pode andar, com novos pilotos nipônicos na alça de mira da marca da asa dourada. Juntos, os quatro pilotos terão a missão de ajudar a reerguer a Honda na competição, esperando poder fazer bom uso das concessões fornecidas pela direção da MotoGP.

Dominantes na década passada, Yamaha (acima) e Honda (abaixo) caíram para a lanterna da competição, e precisam iniciar um processo de recuperação que ainda deve levar tempo até produzir resultados.


          Uma das novidades da MotoGp este ano é o início do uso de combustíveis mais sustentáveis, em um processo no qual a classe rainha espera usar combustíveis 100% ecológicos a partir de 2027, sendo que nesta temporada, os combustíveis a serem utilizados por todos no grid já deverão contar com 40% de sustentabilidade. É o mundo da competição nas duas rodas dando seus primeiros passos para neutralizar as emissões de carbono das corridas ao redor do mundo, servindo novamente como laboratório de testes para o desenvolvimento de novas tecnologias mais sustentáveis e econômicas.

          No que tange ao calendário, a MotoGP havia planejado a maior temporada de sua história, com 22 provas. E temos de levar em consideração a realização das provas Sprint, novidade importada da F-1, lançada no ano passado na competição, com corridas curtas realizadas aos sábados, em praticamente todas as etapas do calendário, ao contrário da F-1, onde o recurso é realizado apenas em seis corridas no ano. As corridas curtas aumentaram o índice de acidentes no ano passado, já que o tempo de competição aumentou em 50% e os tombos sofridos pelos pilotos causaram várias sequelas, a ponto de praticamente não termos tido um GP sequer com o grid titular presente, sempre com algum desfalque ocasionado por acidentes e lesões que, se não foram culpa das provas Sprint, certamente acabaram influenciadas por elas. É de esperar que os ânimos fiquem mais calmos este ano, com os pilotos sabendo equilibrar mais o arrojo e a prudência nas duas provas de cada fim de semana. Até porque os competidores ficam muito mais expostos nas competições de duas rodas enquanto nas demais categorias, os cockpits conseguem manter uma proteção bem mais efetiva dos pilotos.

          Mas os planos da Dorna para 2024 já foram torpedeados antes mesmo da temporada se iniciar. O GP da Argentina acabou cancelado, diante do cancelamento do apoio governamental à prova, diante do corte de gastos que vem sendo levado a cabo pelo novo governo eleito de Javier Milei. Como desgraça pouca é bobagem, a etapa do Kazaquistão, que deveria ter estreado no ano passado, mais uma vez corre o risco de não ser realizada, diante da falta de finalização de certos pontos no recém-construído autódromo de Sokol. A direção da categoria programou uma etapa de reserva para as eventualidades, mas mesmo assim essa opção não deverá ser viável, já que o circuito de Balaton Park, na Hungria, escolhido como palco para uma prova substituta, ainda não tem homologação para realizar corridas de moto por lá. Caso a MotoGp mais uma vez não corra em Sokol, o calendário fica com 20 etapas.

          Mesmo assim, serão etapas mais do que suficientes para termos uma grande competição, e vale lembrar que muitos pilotos do grid precisam renovar seus contratos, de modo que todo mundo estará disposto a mostrar o que vale, a fim de garantir sua permanência na competição em 2025. Então fiquem ligados, e preparem-se para a largada da classe rainha do motociclismo, além de suas categorias de acesso, a Moto2 e a Moto3. E que vença o melhor!

 

EQUIPES E PILOTOS

 

EQUIPE

MODELO

PILOTOS (Nº)

Aprilia Racing

RS-GP24

Maverick Viñalez (12)

Aleix Spargaró (41)

Lenovo Ducati Team

GP24

Francesco Bagnaia (1)

Enea Bastianini (23)

Red Bull GASGAS Tech3

RC16

Augusto Fernandez (37)

Pedro Acosta (31)

Gresini Racing MotoGP

GP23

Marc Márquez (93)

Álex Márquez (73)

LCR Honda

RC213V

Johann Zarco (5)

Takaaki Bakagami (30)

Monster Energy Yamaha MotoGP

YZR-M1

Fabio Quartararo (20)

Álex Rins (42)

Mooney VR46 Racing Team

GP23

Fabio Di Giannantonio (49)

Marco Bezzecchi (72)

Prima Pramac Racing

GP24

Franco Morbidelli (21)

Jorge Martin (89)

Red Bull KTM Factory Racing

RC16

Brad Binder (33)

Jack Miller (43)

Repsol Honda Team

RC213V

Luca Marini (10)

Joan Mir (36)

Trackhouse Racing MotoGP

RS-GP23/RS-GP24

Raul Fernandez (25)

Miguel Oliveira (88)

 

CALENDÁRIO

 

DATA

ETAPA

CIRCUITO

10.03

Grande Prêmio do Qatar

Losail

24.03

Grande Prêmio de Portugal

Portimão

14.04

Grande Prêmio das Américas

Circuito das Américas (Austin)

28.04

Grande Prêmio da Espanha

Jerez de La Fronteira

12.05

Grande Prêmio da França

Le Mans

26.05

Grande Prêmio da Catalunha

Barcelona

02.06

Grande Prêmio da Itália

Mugello

16.06

Grande Prêmio do Kazaquistão

Sokol

30.06

Grande Prêmio da Holanda

Assen

07.07

Grande Prêmio da Alemanha

Sachsenring

04.08

Grande Prêmio da Inglaterra

Silverstone

18.08

Grande Prêmio da Áustria

Zeltweg

01.09

Grande Prêmio de Aragão

Aragão

08.09

Grande Prêmio de San Marino

Misano

22.09

Grande Prêmio da Índia

Buddh

29.09

Grande Prêmio da Indonésia

Mandalika

06.10

Grande Prêmio do Japão

Motegi

20.10

Grande Prêmio da Austrália

Phillip Island

27.10

Grande Prêmio da Tailândia

Chang

03.11

Grande Prêmio da Malásia

Sepang

17.11

Grande Prêmio da Comunidade Valenciana

Valência

A pista de Losail volta a abrir a competição, com o GP do Qatar.

 

TRANSMISSÃO NO BRASIL

 

No Brasil, o mundial da MotoGP mais uma vez segue com transmissão pelos canais ESPN, que mostrarão todas as corridas e seus respectivos treinos ao vivo, e também as categorias de acesso Moto2 e Moto3. Para quem prefere ver as corridas pela internet, o sistema Star+ de streaming também continuará disponibilizando as corridas ao vivo.

Garantido na KTM até 2026, Brad Binder quer mostrar que a renovação não foi por acaso, e quer voltar a vencer.

Para Jorge Martin, vice-campeão de 2023, a meta para 2024 é clara: e o título ou nada! Mas se o espanhol não se controlar direito, vai dar em nada...

Com a RNF fora da competição, a Trackhouse assumiu o seu lugar, e será o time satélite da Aprilia na temporada 2024.

Pedro Acosta é a aposta da KTM para o futuro do time, e fará sua temporada de estréia com a Tech3.

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