sexta-feira, 8 de março de 2024

UM MAU COMEÇO

Mais previsível, impossível: Max Verstappen venceu de cabo a rabo o GP do Bahrein, e já inicia sua corrida como único candidato real ao título da temporada 2024.

            Definitivamente, o início da temporada 2024 da Fórmula 1 não foi das mais inspiradoras. Confirmando os temores velados da pré-temporada, a Red Bull mostrou novamente uma grande superioridade, e repetindo o visto na mesma temporada de estréia do ano passado, fez nova dobradinha, com Max Verstappen vencendo a corrida de cabo a rabo, e Sergio Perez chegando em 3º lugar. E a concorrência, se não sofreu um massacre, comeu poeira do mesmo jeito. Um dado meio desalentador para o restante do campeonato, ainda que seja prematuro dizer que tudo já acabou com apenas uma etapa realizada, restando ainda outras 23 corridas para fecharmos o campeonato.

            De fato, pode até ser que o panorama visto em Sakhir não seja o padrão do resto do campeonato, mas ninguém duvida que Verstappen já possa comemorar o tetracampeonato, assim como a Red Bull levar mais um título de construtores. Eles podem até ter alguns percalços no meio do caminho, mas ninguém acredita que isso será relevante a ponto de eles perderem o controle da situação. Mas, se os concorrentes podem, e devem melhorar, é preciso lembrar que a Red Bull não exigiu tudo de si no Bahrein. Depois que abriu uma vantagem mais do que razoável, mesmo assim Verstappen foi ampliando cada vez mais sua liderança, sem precisar forçar exatamente o modelo RB20. E Perez, depois de sua última parada, apenas administrou o consumo de seus pneus médios por 20 voltas, sem forçar o ritmo, e mesmo assim mantendo o rival mais próximo, Carlos Sainz, sob controle, sem permitir que o ferrarista se aproximasse como muitos imaginavam acontecer por estar com pneus duros, que em teoria durariam bem mais que os do mexicano. Há um potencial de a Red Bull poder ser ainda mais veloz do que já é, que apenas ainda não precisou, e nem haveria necessidade, de ser usado, preferindo conservarem seu equipamento, diante da mais longa de todas as temporadas da história da categoria máxima do automobilismo.

            Isso em tese já deixa um verdadeiro balde de água fria nos rivais, quanto às expectativas de pelo menos incomodar a Red Bull. E a expectativa fica novamente em xeque neste final de semana, com o GP da Arábia Saudita, onde veremos se o panorama de Sakhir será repetido, ou se ainda haverá algum alento de competição mais próxima. Por enquanto, o time dos energéticos parece ainda estar um pouco na moita em Jeddah, tal como fez no Bahrein. Como a pista de rua da cidade saudita é completamente diferente de Sakhir, vai ser interessante ver como o RB20 se sai neste circuito de alta velocidade. E especular se a vantagem do time taurino diminuirá, ou até aumentará.

            A Ferrari começa o ano em alta, pelo menos, diante do mesmo panorama visto em 2023. Comemorar ter diminuído a desvantagem na corrida pela metade de fato é um alento, e visto como um passo na direção certa, mas ao mesmo tempo, a confirmação de que ainda há muito por ser feito. Charles LeClerc até tentou discutir a pole com Verstappen, mas o monegasco acabou caindo para trás conforme a corrida avançava, sendo superado por Perez, e também pelo companheiro de time Carlos Sainz, que mostrou um belo desempenho. Ainda que LeClerc tenha tido problemas com os freios, dificilmente ele chegaria muito à frente de Carlos. Tido como piloto mais rápido do time, LeClerc precisa se provar, a fim de não se ver em posição de questionamento com a chegada de Lewis Hamilton no próximo ano. E terminar a corrida atrás de Sainz já não ajudou muito, mesmo com os problemas de freios que teve durante a corrida. Sainz, pelo seu lado, mostra sua capacidade de corrida, já visando buscar um novo time para 2025. Ainda que tenha sido derrotada, a Ferrari pelo menos vê o ano com muito mais potencial de competição do que no ano passado, quando ficou limitada pelo consumo excessivo dos pneus pelo modelo SF-23, um problema que foi bem minimizado no novo SF-24.

A Ferrari foi a segunda força no Bahrein, e ficou mais próxima da Red Bull, mas não o suficiente para ameaçar o time taurino na luta pela vitória.

            O treino de classificação até foi encorajador, mas desde o início dos treinos livres já dizia que era preciso ver o ritmo de corrida dos competidores, e isso só foi possível confirmar mesmo na corrida, onde vimos que a Red Bull possui um comportamento muito mais estável e firme do que o restante do grid. Se Verstappen simplesmente comandou a corrida de mala e cuia, sem nem sequer ser incomodado, Sergio Perez não teve maiores dificuldades para fazer a dobradinha. O mexicano chegou cerca de 20s atrás do holandês, quando no ano passado, a diferença tinha sido de 11s. Mas Perez perdeu um pouco de tempo no início da corrida, tendo de superar carros à sua frente, o que ajudou Max a abrir vantagem significativa, que foi aumentando durante a corrida. Mas, mesmo que não tivesse tido essa perda com as disputas de posição com as Ferraris e a Mercedes de George Russell, dificilmente Perez alcançaria seu companheiro de time. Nem mesmo a nova regra de uso do DRS, permitido após uma única volta, serviu para complicar a vida de Verstappen, que já na primeira volta abriu mais de 1s de diferença, sendo o único piloto que nunca chegou a deixar os rivais fazerem uso do recurso durante toda a prova.

            A Mercedes deu uma impressão positiva nos treinos, mostrando uma evolução em relação a 2023, ainda que declarassem que estariam longe da Red Bull, mas acalentando a chance de disputar com a Ferrari. Mas o time sofreu com os problemas de arrefecimento dos motores, além de terem tido problemas com as baterias. George Russell até começou bem a corrida, largando em 3º, e chegando a ocupar a 2ª colocação, mas foi perdendo rendimento e caindo para trás, conforme os adversários chegavam neles. Lewis Hamilton, que teria optado por um setup diferente de Russell, esperando ter vantagem na corrida, largou apenas em 9º, e com o rendimento também afetado, demorou a conseguir avançar, aproveitando-se dos problemas de Fernando Alonso e Oscar Piastri para terminar em 7º, apenas 3s7 atrás de Russell, o 5º. A se confirmar que os problemas efetivamente roubaram algo em torno de 0s5 no ritmo de corrida por volta, abre-se a expectativa de que os carros alemães poderiam ter de fato brigado com a dupla da Ferrari na prova, embora não possa se afirmar se teriam de fato chegado à frente. Deveremos ter um tira-teima disso neste fim de semana, em Jeddah, na Arábia Saudita, onde os motores serão bem exigidos, dada a natureza extremamente veloz da pista saudita, o que irá tornar crucial aos times da Mercedes acertarem as condições de seus propulsores se quiserem ter melhores condições de competição.

            Ontem, nos treinos livres, Russell mostrou ritmo em volta lançada, mas Hamilton voltou a ter percalços com o carro. A Mercedes ainda afirma que não terminou de avaliar o novo W15, embora diga que o modelo tem muito potencial a ser trabalhado. De fato, vai ser preciso muito trabalho para achar o acerto ideal e o ritmo de desenvolvimento do novo projeto, mas se quiser de fato avançar na competição, precisará ser mais ágil para deixar o carro no ponto certo. É natural que enfrentem problemas, tendo de começar um projeto inteiramente novo, depois de perder os dois últimos anos com um conceito que não deu os resultados esperados.

Mercedes e Aston Martin brilharam nos treinos mas tiveram problemas na corrida. Muito trabalho à vista pela frente nas duas escuderias em 2024.

            E a McLaren? Parece estar ali, um pouco atrás, pelo menos no que vimos no Bahrein, mas levando-se em conta que o circuito, em tese, não era favorável ao carro laranja, vamos ver como ele se comporta nas longas retas de Jeddah, e tentar conferir de forma mais precisa qual o real potencial do time de Woking. A julgar pelos treinos livres desta quinta, o panorama não é lá muito animador, com Lando Norris e Oscar Piastri a ficarem fora do TOP-10. Problemas no treino livre ou busca de acertos? Saberemos na classificação de hoje à tarde. No que vimos em Sakhir, O time laranja parece em posição razoável, mas tal como os demais, longe de oferecer algum desafio à hegemônica Red Bull. Resta esperar mesmo que as próximas etapas nos ofereçam um panorama mais realista da verdadeira força da McLaren na competição deste ano.

            A Aston Martin até que teve uma classificação encorajadora com Fernando Alonso, porém o ritmo de corrida decepcionou, com o time esmeralda ficando com as últimas posições pontuáveis, em 9º e 10º, com Lance Stroll a conseguir um pontinho, mesmo depois do toque que recebeu de Nico Hulkenberg na largada, que fez o canadense cair lá para o fundo do grid, e ter de se recuperar. Como não tivemos nenhum safety car durante a prova barenita, pudemos ver que o ritmo da Aston Martin foi bom para superar metade do grid, mas insuficiente para brigar com a outra metade, que chegou à sua frente, leia-se Red Bull, Ferrari, Mercedes e McLaren. Desta vez, Alonso não conseguiu fazer tanto a diferença como foi no ano passado. Nos treinos livres desta quinta em Jeddah, Alonso foi o mais rápido, o que parece mostrar que, em ritmo de classificação, a Aston Martin parece ter um carro realmente veloz. Será preciso confirmar se na corrida, neste sábado, o time vai brigar onde está, ou se vai cair para trás como ocorreu em Sakhir.

            A Visa RB, antiga Alpha Tauri, acabou negando fogo na prova. Tendo agora um relacionamento muito mais próximo com o time matriz, e utilizando um carro que é praticamente o modelo RB19 campeão do ano passado, devidamente “revisado” para a escuderia, a equipe não conseguiu mostrar serviço na classificação, e depois, na corrida, em nenhum momento também se mostrou capaz de avançar firme para os pontos, mostrando que as expectativas de desempenho da escuderia acabaram por ser, pelo menos nesta prova de abertura da temporada, muito superestimadas. Mas, o time também acabou por se embananar na parte final da corrida, quando ordenou uma inversão de posições entre Yuki Tsunoda e Daniel Ricciardo, a fim de que o australiano tentasse um ataque mais efetivo contra Kevin Magnussen, da Haas, que ia à frente. A manobra nem era necessária, já que todos eles estavam fora da zona de pontuação, mas quem sabe, se Ricciardo superasse Magnussen, quem sabe ele alcançaria Guanyou Zhou, que ia à frente, em 11º lugar? Mas Tsunoda refutou a ordem, e quando a acatou, Ricciardo também não conseguiu superar o piloto da Haas. Talvez se Yuki tivesse cedido a posição mais rápido, Daniel tivesse tido melhores chances, estando com pneus macios contra os duros do dinamarquês, mas o japonês ficou invocado com a ordem recebida, e após a bandeirada de chegada, jogou o carro na direção do companheiro de equipe, por pouco não causando um acidente, e criando uma bela celeuma dentro da escuderia, completamente desnecessária. Tentando provar que merece ir para o time principal, a exemplo de Ricciardo, este tipo de atitude, porém, pode ser um tiro no pé para as pretensões de Tsunoda, que ainda se vê como potencial candidato à Aston Martin quando o time inglês iniciar sua nova parceria com a Honda em 2026.

A "turma do fundão" neste início de temporada: Haas, Sauber e Williams.

            A Sauber, quem diria, bateu na trave com Guanyou Zhou, chegando em 11º, enquanto Valtteri Bottas foi uma negação na corrida. E a Haas parece repetir a zica de 2023: carro veloz na classificação, lento na corrida. E ainda teve o enrosco de Hulkenberg com Stroll que ferrou com as chances do alemão. Magnussen não foi lá grande coisa, mas terminou em 12º, chegando à frente da Visa RB no lance mais ridículo do GP. Parece que os dois times não serão umas dragas, e se tiverem um pouco de sorte, até chegam lá, da mesma maneira que a Williams também não fedeu nem cheirou em Sakhir, ficando também fora da zona de pontuação. Com um pouco de sorte, e desenvolvimento a contento dos carros, eles podem sonhar com algo a mais, mas nada muito relevante.

A Alpine foi uma negação em Sakhir. Temporada condenada ao desastre?

            Agora, ruim mesmo foi ver a Alpine se arrastar no fim de semana. O time francês já tinha noção de que a temporada seria complicada já na pré-temporada, quando seus pilotos notaram que o novo A524 não tinha ritmo, o que acabou confirmado na classificação para a prova barenita, e depois na corrida. Esteban Ocón e Pierre Gasly não conseguiram extrair nenhum resultado positivo no fim de semana, indicando que a temporada deverá mesmo ser bem ruim. Tanto que, no domingo, a Alpine confirmou a saída de mais dois integrantes centrais de seu staff técnico, Matt Harman, diretor técnico da escuderia, e Dirk de Beer, chefe de aerodinâmica, fazendo o time ter de fazer novos remanejamentos para suprir os novos desfalques. E nesta quarta-feira, foi anunciada nova baixa: Bob Bell, consultor do time, também pulou fora do time francês, contratado para ser diretor executivo da Aston Martin. Nos treinos livres da Arábia Saudita o time pareceu um pouco menos ruim, mas vamos ver se o ritmo de corrida oferece algum alento. Do contrário, os pilotos provavelmente serão os próximos que vão querer pular fora ao fim da temporada, e com muita razão, diante da barca furada que o time francês vem se mostrando para este ano.

            Vejamos agora como será o desenrolar das coisas na Arábia Saudita. Depois, a F-1 faz seu giro pelo extremo oriente, visitando Austrália, Japão e China, invertendo a fase asiática da competição. E quem sabe possamos sonhar com uma temporada menos ruim, apesar de tudo...

 

 

Hora da MotoGP acelerar para a temporada de 2024. A classe rainha do motociclismo abre hoje os treinos oficiais para o GP do Qatar, que volta a abrir o campeonato, no belo circuito de Losail. Na pista, a Ducati vem para tentar manter o seu domínio na competição, que tem tudo para virar uma disputa à parte, dependendo de como os times satélites da marca italiana se comportarem. No ano passado, a disputa do título ficou em “casa”, com Francesco Bagnaia, do time oficial da marca de Bolonha, brigando pelo bicampeonato contra Jorge Martin, da Pramac, time satélite da Ducati. Venceu Bagnaia, que vem para tentar o tricampeonato em 2024, mas que precisa ficar preparado para um novo duelo, não apenas com Martin, que quer uma revanche, mas também com seu próprio companheiro Enea Bastianini, que com sua posição de titular na equipe de fábrica em jogo para 2025, vai querer entrar na briga também, que não ocorreu na temporada passada por causa de um acidente sofrido pelo piloto logo na primeira corrida, que acabou complicando todo o restante do ano para Enea. E todo mundo também vai querer saber o quanto Marc Márquez, agora defendendo a Gresini, outra satélite da Ducati, vai render com a moto que foi campeã de 2023. E ainda temos Marco Bezzecchi na VR46, querendo mostrar suas garras novamente na pista. E todos à caça de “Pecco” Bagnaia, o grande campeão, que já teve seu contrato renovado com a Ducati Course até o fim de 2026, podendo se concentrar unicamente em sua pilotagem na pista. Mas o duelo promete ser renhido. O canal por assinatura ESPN4 transmite os treinos e a corrida de domingo ao vivo, esta com largada programada para as 14:00 Hrs., horário de Brasília, podendo ser acompanhada também pela internet no sistema de streaming Star+.

 

 

Mas não é só de Ducati que vive a MotoGP. Aprilia e KTM reforçaram seus projetos, e vêm com intenção de dificultar as coisas para a casa de Borgo Panigale. A KTM, mesmo sendo vice-campeã de construtores no ano passado, ficou sem vencer nenhuma corrida. Já a Aprilia, apesar de ter contabilizado duas vitórias, ficou longe de conseguir disputar o título, e pretende retificar isso nesta temporada. Vai ser difícil, mas não impossível. Resta saber quanto as duas marcas conseguiram diminuir sua desvantagem para as Desmosédicis, lembrando que “Pecco” Bagnaia marcou os melhores tempos na pré-temporada, e Enea Bastianini também veio com força. E os times satélites da marca italiana prometem jogo duro na pista. Enquanto isso, Honda e Yamaha terão um ano de reconstrução pela frente, iniciando novos projetos visando recuperar sua competitividade perdida, e tentarem voltar ao protagonismo da competição o quanto antes, algo que não deve ser alcançado este ano, onde eles precisam descobrir como estão na relação de forças da MotoGP, e encontrarem os caminhos para subir novamente para o topo. Fica a dúvida de quem será melhor sucedido nesta missão.

 

 

E quem também dá a largada para sua temporada 2024 é a Indycar, com o GP de São Petesburgo, no Estado da Flórida. A corrida terá transmissão ao vivo pela TV Cultura, assim como pelo canal por assinatura ESPN2, e também pelo serviço de streaming Star+, a partir das 13:00 Hrs. desde domingo. O Brasil terá Pietro Fittipaldi no pista, com o neto de Émerson Fittipaldi disputando toda a temporada pelo time Rahal/Leterman/Lanigan. Fora a presença de Pietro, o Brasil contará apenas com a participação de Hélio Castro Neves nas 500 Milhas de Indianápolis, em maio, onde ele irá mais uma vez em busca de sua 5ª vitória na mais famosa prova dos Estados Unidos. Na pista, Álex Palou, da Ganassi, bicampeão da categoria, inicia sua luta por mais um título, e é o homem a ser batido. No ano passado, Palou deu um passeio na segunda metade da temporada, conquistando seu segundo título sem maiores problemas. Os concorrentes, claro, prometem dar mais briga este ano. Vamos ver quem dará as cartas na competição.

A temporada 2024 da Indycar dá sua largada em São Petesburgo neste domingo.

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