quarta-feira, 3 de abril de 2024

FLYING LAPS – MARÇO DE 2024

            Já chegamos ao mês de abril, e os campeonatos automobilísticos mundo afora pisam fundo no acelerador em seus respectivos certames, e como é de costume, todo início de mês é hora da sessão Flying Laps, para relacionar alguns acontecimentos do mês anterior que porventura não tenham sido devidamente relatados nas postagens semanais regulares, sendo que nesta edição temos uma ênfase na abertura das provas da Stock Car, além de comentários não muito elogios a respeito da tentativa da Indycar de realizar sua primeira etapa extra-campeonato em mais de 15 anos. Uma boa leitura a todos...

A Stock Car Brasil deu sua largada para a temporada 2024 na pista de Goiânia, em Goiás, e com uma novidade: corrida Sprint, novidade importada da F-1 e da MotoGP, dividindo o evento inaugural do campeonato em duas provas, embora na prática, a categoria já tivesse adotado tal tipo de curso quando inventou as provas curtas e longas na competição, anos atrás, e transformado certas etapas em rodadas duplas. De qualquer forma, Rafael Suzuki, da TMG Racing, acabou vencendo a Sprint, que contou com 21 voltas. Julio Campos, da Pole Motorsport foi o 2º colocado, e Thiago Camilo (Ipiranga Racing) fechou o pódio. Gabriel Casagrande, o atual campeão da Stock, foi o 4º colocado. Daniel Serra teve um toque e acabou abandonando a prova, o único a não completar a corrida. Já Rubens Barrichello deu azar de ver seu motor morrer na parada obrigatória no box, e finalizou apenas em 18º lugar. Aliás, confusão nos boxes nas paradas obrigatórias, quando Allan Khodair (Blau Motorsport) e Felipe Baptista (Crown Racing) acabaram se enroscando ao entrar no pit lane, o que arruinou as chances de um bom resultado na corrida para ambos. Quem também não deu sorte foi Cacá Bueno (KFT Sports), que acabou atingido por Átila Abreu (Pole Motorsport) ainda na segunda volta, o que rendeu uma punição de drive-through para Abreu, que terminou a prova em 25º, imediatamente à frente de Bueno, o 26º.

 

 

Já na corrida principal da Stock, no domingo, Felipe Baptista deu as cartas de ponta a ponta na prova, depois do percalço sofrido na corrida Sprint. O piloto da Crown Racing controlou a corrida sem percalços, recebendo a bandeirada de chegada com mais de 5s de vantagem para Felipe Massa, da TMG Racing, que subiu ao pódio na 2ª posição, com Gabriel Casagrande (A. Mattheis Vogel) fechando o pódio em 3º lugar. Rubens Barrichello (Mobil Ale) também espantou no domingo o azar que teve no sábado, e finalizou a prova em 4º lugar, depois de ter largado em 20º. Quem mais uma vez não deu sorte foi Daniel Serra (Eurofarma-RC), e seu companheiro de equipe Ricardo Maurício, com ambos a terem problemas na parada obrigatória, quando a porca usada para travar um de seus pneus soltaram nos carros dos dois pilotos, fazendo-os perderem as rodas em plena pista, e ocasionando o abandono de ambos. Situação inusitada também foi a de Thiago Camilo, que passou por cima de um inflado de publicidade quando saía dos boxes, e a peça ficou presa na traseira de seu carro, arrastando-a durante a corrida, o que valeu ao piloto uma chamada obrigatória ao box para retirar a peça, além de precisar reparar a asa traseira, que tinha ficado danificada com o incidente, o que o deixou bem contrariado, com o piloto disparando críticas à organização da prova pelo amadorismo em ter deixado a peça inflável em uma posição onde poderia ser atingida pelos veículos de competição, o que acabou acontecendo com ele, arruinando sua corrida, com o piloto da Ipiranga Racing terminando a corrida apenas em 22º lugar, além claro, de oferecer riscos de segurança aos demais pilotos da competição.

 

 

A segunda etapa da Stock Car Brasil teve palco no circuito do Velocitá, na cidade de Mogi Guaçu, em São Paulo, e quem saiu comemorando a vitória nesta etapa, pelo menos na corrida Sprint, foi Felipe Massa, que ali comemorou seu terceiro triunfo na categoria de turismo nacional, e o 5º pódio consecutivo, mostrando estar mesmo em ótima fase na competição. Massa, porém, não teve vida fácil, com Rcardo Zonta (RCM-Motorsport) fungando na sua traseira durante boa parte da disputa, decidido a não deixar o piloto da TMG Racing ditar o rumo da disputa. Mas apesar da pressão, Zonta não conseguiu tomar a liderança de Felipe, tendo de contentar-se com a 2ª colocação. Felipe Fraga, da Blau Motorsport, fechou o pódio na 3ª colocação, um prêmio de consolação magro para quem tinha largado em 2º lugar, e disputava firme a vitória, até que a parada nos boxes complicou a situação de Fraga. Pior foi para seu companheiro de equipe Allan Khodair, que largara na pole-position e comandava a corrida, que despencou nas voltas finais e teve de abandonar a prova. Felipe Baptista (Crown Racing), por sua vez, acabou atingindo Rubens Barrichello, tirando o bicampeão da Stock da prova, o que lhe rendeu uma punição de 20s. Desastre para a Mobil Ale, que perdeu não apenas Rubinho, mas também Dudu Barrichello, que enfrentou problemas hidráulicos e precisou abandonar a prova. Foi uma corrida agitada, devido à chuva que caiu na pista do Velocitá, e complicou as estratégias de times e pilotos, mas a situação do sábado não seria nada, perto do que vimos no domingo. No dia da corrida principal, a chuva aumentou, a ponto de a direção da Stock simplesmente anunciar o adiamento da corrida, que será realizada junto à 5ª etapa da temporada, ali mesmo no circuito de Velocitá, entre os dias 29 e 30 de junho, quando a pista receberá novamente a Stock. A etapa, então, terá uma corrida extra no fim de semana, sendo realizada uma segunda corrida principal, que não pôde ser disputada neste mês de março, diante das chuvas que caíam na região no dia da corrida.

 

 

Com o adiamento da prova principal da Stock Car na pista de Velocitá, quem saiu no lucro foi justamente Felipe Massa, que com o triunfo na prova Sprint, assumiu a liderança do campeonato da Stock Car Brasil, com 137 pontos. Julio Campos, da Pole Motorsport, ocupa a vice-liderança, com 131 pontos. Bruno Baptista, da RCM Motorsport, ocupa a 3ª colocação, com 129 pontos. Gabriel Casagrande (A. Mattheis Vogel) é o 4º colocado, com 125 pontos. Rafael Suzuki, companheiro de Felipe Massa na TMG Racing, é o 5º colocado, com 118 pontos. Logo a seguir vem Felipe Baptista (Crown Racing) com 105; Lucas Foresti (A. Mattheis Vogel) com 104; Ricardo Zonta (RCM Motorsport) com 103; Thiago Camilo (Ipiranga Racing) com 87; e Rubens Barrichello (Mobil Ale) com 82 pontos, fechando os 10 primeiros colocados na classificação. A próxima etapa da temporada da Stock Car será no dia 21 de abril, na pista de Interlagos, em São Paulo.

 

 

A Indycar realizou seu Desafio do Milhão, prova extra-campeonato que foi realizada no dia 24 de março no circuito privado do The Thermal Club, na Califórnia, e a prova foi vencida pelo atual bicampeão da categoria, Álex Palou, da Ganassi, que largou na pole-position e praticamente comandou a prova de ponta a ponta, vencendo sem enfrentar nenhum contratempo. A segunda posição ficou com Scott McLaughlin, da Penske, com Felix Rosenqvist, da Meyer Shank, fechando o pódio da inusitada prova que teve apenas 12 competidores, e 20 voltas realizadas. Pietro Fittipaldi, o único brasileiro na Indycar, até conseguiu participar da corrida, depois de uma classificação em estilo minicorrida, mas acabou desclassificado por seu carro não ter sido completamente abastecido, o que gerou uma cena das mais constrangedoras para o piloto, tendo que andar extremamente lento na pista até o momento de parada da prova, num erro grotesco de sua escuderia. A bem da verdade, o evento acabou sendo um enorme fiasco, com uma corrida confusa, e para piorar, sem termos nenhuma disputa de renome na pista. A prova foi monótona e sem emoção, e uma nova realização da mesma deverá ser enormemente repensada, se a Indycar quiser de fato tornar o evento algo mais atrativo. Lamentavelmente, da forma como foi feita esta edição, foi um enorme fiasco. De positivo mesmo, somente o farto tempo de treinos livres, que foram utilizados por equipes e pilotos para tentar complementar os ajustes de seus carros, que não foram testados o suficiente na incipente pré-temporada realizada pela categoria em fevereiro, o que gerou críticas dos pilotos, entre eles o próprio Palou, que reclamava de ser necessário mais tempo para que todos pudessem desenvolver seus equipamentos a contento para a competição da temporada. Assim, já que tinham um tempo considerável de treinos livres, as escuderias tentaram aproveitar a oportunidade. De ressaltar que a Indycar já havia usado a pista do Thermal Club em uma sessão de testes de pré-temporada em tempos recentes, de modo que a atividade não foi de todo inédita dos times no circuito privado da localidade na Califórnia.

 

 

Não dá para culpar a Indycar por tentar algo novo no intervalo de cerca de um mês e meio que ficou no calendário da temporada 2024, entre a prova inaugural em São Petesburgo, na Flórida, e a segunda etapa da competição, em Long Beach, na Califórnia, no dia 21 de abril. Provas extra-campeonato, por um lado, já foram algo razoavelmente comum nas categorias Indy há tempos atrás, e teoricamente, nada de errada havia na idéia de fazer um evento deste tipo. Porém, o modo como foram definidos os procedimentos para a realização do evento não foram dos mais adequados. Pra começar, a corrida ter só 20 voltas parece algo ridículo para uma categoria cujas corridas costumam ter até quase 100 voltas em se tratando de pistas mistas como era o tipo de circuito do Thermal Club. E que sentido havia de, atingidas 10 voltas, fazer uma “pausa” na corrida, de 10 minutos, com todo mundo nos boxes, com os pilotos relaxando, e equipes mexendo nos carros? Fosse algo de maior duração, vá lá, mas depois de apenas 10 voltas? Para complicar, a maioria dos pilotos praticamente andou em modo passivo nestas primeiras voltas da competição, sem ter nenhum desempenho que chamasse a atenção. Totalmente broxante. Fazer a classificação em corridas preliminares também não agradou, deixando o sistema confuso para quem acompanhava pela televisão. Aliás, falando em TV, a transmissão do evento, feita pela emissora NBC e pelo sistema de streaming Peacock, resultou na mais baixa audiência de uma prova da Indycar nos últimos dois anos, e sem enfrentar nenhum evento esportivo concorrente no mesmo horário, um verdadeiro anticlímax para a categoria, que poderia ter feito algo muito melhor quando resolveu criar esta etapa extra-campeonato. Aliás, nem houve público propriamente dito, já que o Thermal Club é uma espécie de condomínio privado, onde só para se poder ter uma casa ali é preciso desembolsar algo em torno de US$ 5 milhões, e mesmo entre os moradores locais, não pareceu haver ninguém muito interessado em acompanhar a competição. Tivessem seguido os procedimentos de rotina das demais corridas, talvez tivéssemos algum agito a mais nas atividades de disputa efetivas, mas deu a impressão de que, na ânsia de tentar fazer do evento algo “diferente”, fizeram uma forte aposta, que não se pagou. Conforme mencionei, tirando a boa duração dos treinos livres, todo o restante não esteve à altura do que se pretendia realizar. O circuito do Thermal Club tem um traçado e extensão das mais interessantes, e poderia ter rendido uma corrida muito melhor e mais disputada, não fossem as regras que estabeleceram para o evento. Até porque, em um evento extra-campeonato, sem contar pontos, em teoria os pilotos estariam muito mais motivados para arriscar e serem ousados, buscando os melhores resultados, sem comprometerem suas posições na temporada em disputa, mas o que tivemos foi justamente o contrário, dando a entender que, sem valer nada, times e pilotos se dignaram a fazer o mínimo na pista, com uma ou outra exceção. Se forem tentar algo similar futuramente, que aprendam com todos os erros cometidos nesta edição, a fim de evitar resultado semelhante...

 

 

A título de recordação, a última corrida extra-campeonato foi o GP de Surfer’s Paradise de 2008, realizado após o fim da temporada da então Indy Racing League (atual Indycar), para cumprir o contrato pendente com os australianos após o fim da Fórmula Indy original, que encerrou sua história de quase 100 anos de existência com o GP de Long Beach daquele ano. Mas a prova em Queensland não teve nenhuma mudança mirabolante no regulamento, tendo sido realizada de acordo com as mesmas regras das demais corridas da competição, e por isso mesmo, não tendo passado nenhuma vergonha como foi o evento do Thermal Club...

 

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