sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

MATÉRIA ESPECIAL – OVERTAKE!

            Encerrando este ano de 2023, trago um texto especial sobre uma série de animação japonesa exibida recentemente, trazendo o universo de competição da Fórmula 4 nipônica como pano de fundo da história. De quebra, seguem abaixo dois links sobre a produção, postados no You Tube, mostrando a abertura e trailer oficial da série:

 

Abertura: https://www.youtube.com/watch?v=UMav8qtZWbc

 

Trailer oficial: https://www.youtube.com/watch?v=ra8E2whNNac

 

Cenas da F-4 japonesa com a música de abertura da série: https://www.youtube.com/watch?v=JiFEl879PFc

 

            Boa leitura a todos, e conheçam um pouco desta produção animada japonesa, e um pouco do universo da F-4 japonesa, a categoria-escola para jovens pilotos que sonham em fazer carreira no mundo do automobilismo...


 

OVERTAKE! – ULTRAPASSE SEUS DESAFIOS!

 

Série é uma das mais novas produções da animação japonesa a enfocar o universo das corridas de carros de competição, mas vai muito além das disputas na pista.

 

Adriano de Avance Moreno

 

          Uma das características marcantes da indústria de animação do Japão é sua versatilidade para contar histórias de todo tipo de assunto. Diferente dos Estados Unidos, onde animação pegou a marca de “coisa de criança”, na Terra do Sol Nascente o meio possui séries contando histórias que podem ser tanto infantis quanto adultas, atendendo a vários públicos e gêneros específicos, sem frescuras que limitam a criatividade das séries animadas ocidentais.

          Um dos gêneros que a animação nipônica atende é o esporte, tendo sido produzidas até hoje diversas séries onde alguma modalidade esportiva é o mote principal dos personagens, como por exemplo, Ashita No Joe, onde o protagonista busca a glória na carreira de boxeador, ou Slam Dunk, onde rapazes de um time escolar juvenil buscam mostrar seu talento nas competições de basquete. E temos também séries voltadas para o automobilismo, como Capeta, onde um jovem garoto passa a competir no kart, e posteriormente nos monopostos, em busca do seu sonho de se tornar um campeão das corridas. Há várias outras séries sobre os mais diversos esportes e jogos, que foram sendo lançados ao longo do tempo, sempre tendo um público-alvo por vezes mais geral, ou mais específico.

          E agora, uma nova série produzida neste ano, voltou a abraçar o universo das competições do esporte a motor, “Overtake!” (Ultrapassar, em português), composta de apenas 12 episódios, exibida de outubro a dezembro deste ano de 2023, numa produção conjunta do estúdio Troyca e do Grupo Kadokawa de Entretenimento, empresa que atua nos setores editoriais e de mídia do Japão, com larga participação na criação de séries dos mais diversos gêneros e assuntos. Nesta nova série, o palco esportivo que serve de base para a história é o campeonato japonês de Fórmula 4, categoria-base de competições de monopostos para os jovens pilotos que aspiram fazer carreira no mundo do automobilismo.

          Embora possa ter como palco o ambiente das corridas, o foco central da série não está exatamente no universo do automobilismo. Tudo bem, o objetivo de alguns dos personagens é vencer, ser campeão, e para isso, eles terão que superar os desafios normais que toda competição apresenta, mas a história está mais centrada nos problemas pessoais dos personagens e em seus corações, e de como eles precisarão e como conseguirão superar essas dificuldades para poderem seguir adiante, sendo que muitas vezes eles nem sabem mesmo qual é o principal problema que os afetam, embora conheçam suas consequências.

Os carros da categoria Super GT dão as caras na série, mas são apenas figurantes.


          Kouya, o personagem principal, é um fotógrafo freelancer, que ao ser apresentado ao universo das competições automobilísticas por um amigo, quando foi fazer uma matéria de cobertura fotográfica para a revista onde sua ex-esposa trabalha como editora-chefe, acaba se empolgando com a competição da F-4, onde todos precisam dar o melhor de si para obter o melhor resultado nas corridas. Mas Kouya tem um problema: devido a um trauma ocorrido durante os eventos do tsunami que devastou a região de Fukushima, uma década antes, ele ficou impossibilitado de tirar fotos de pessoas individualmente, e ainda não se recuperou disso, o que fez com que sua carreira de fotógrafo, até então bem-sucedida, estagnasse, vivendo de trabalhos ocasionais de fotografia onde não precise captar a imagem de pessoas.

          Como consegue tirar fotos de paisagens, lugares e de multidões, ele ainda consegue seguir na profissão. Inicialmente encarregado de fotografar a etapa da categoria Super GT na pista do autódromo de Fuji, ele acaba conhecendo o universo da categoria de apoio, a Fórmula 4, através de um velho amigo, proprietário de um time de ponta na competição, a Belsorriso Motor Sports, e acaba tendo contato também com um dos menores times na disputa, a Komaki Motors, conhecendo o piloto do time, um jovem chamado Haruka Asahina, que a princípio parece ríspido e arrogante, não indo com a cara do fotógrafo. Mas Haruka, a exemplo de Kouya, também tem um trauma pessoal, que serve de motivação para sua carreira de piloto, mas que a exemplo de Madoka, também não foi resolvida até hoje. Após ver Haruka se esforçar na corrida, mas ver seus esforços irem pro brejo devido a um pneu estourado, Kouya consegue flagrar o jovem piloto nos fundos do paddock, extravasando sua tristeza e frustração, e consegue captar esse momento, apesar de seu trauma. Um pequeno passo para muitos, mas algo gigante para ele naquele momento, motivado pelo que viu na pista. E ocorre um passo importante que irá afetar tanto a ele quanto o jovem piloto da pequena equipe.

Uma foto que significou o fim para Madoka (acima), e uma outra foto que representa um recomeço para ele (abaixo).



          Madoka se empolga tanto com o ambiente de competição da F-4 que resolve apoiar a equipe da Komaki Motors, apenas para descobrir que não sabe praticamente nada do universo da categoria, e como é caro competir no automobilismo. Aos poucos ele vai aprendendo como é difícil disputar as corridas, e os desafios inerentes a este tipo de atividade. Mesmo assim, apesar de seu entusiasmo até ingênuo inicialmente, ele usa seus contatos, e uma foto que conseguiu tirar de Haruka em um momento de frustração pessoal por um abandono numa prova, acaba servindo para conseguir um patrocínio, ainda que temporário, para a Komaki Motors, melhorando as condições de competição do pequeno time privado.

          Por mais genuíno que sejam as intenções de apoio de Madoka à Komaki Motors e seu piloto, Haruka demora a ter simpatia por ele, e a acreditar que ele possa de fato ajudar em algo. Mas os esforços do fotógrafo acabam sendo reconhecidos pelo piloto, que toma conhecimento também dos problemas pessoais vividos por Madoka, reconhecendo que ele próprio também tem seus problemas, e que talvez Kouya tenha conseguido dar um pequeno passo ao tirar sua foto, por reconhecer seu esforço genuíno de dar tudo de si, algo que ele já não era capaz há muito tempo.

Saeko tanta fazer com que Kouya volte a dar o seu melhor, mas é difícil ajudar o ex-marido, que precisa encarar seu trauma de anos atrás.



          No caso de Madoka, seu problema se resumiu a ter tirado a foto de uma menina, instantes antes de ela morrer vítima das ondas do tsunami que varreu as áreas costeiras de Fukushima anos antes. A foto, quando publicada, desencadeou uma avalanche de críticas na imprensa e nas redes sociais, como que culpando o fotógrafo por não tentar salvar a jovem, enquanto apenas a fotografava, numa atitude que foi seguida pela própria família da vítima. A expressão de terror nos olhos da menina, sabendo que iria morrer, deixou uma ferida profunda em Kouya, fazendo com que não conseguisse mais tirar fotos de pessoas de forma individual. Já Haruka viu seu pai morrer após sofrer um acidente numa corrida, e enveredou pela mesma profissão como que tentando espiar seus pecados, pois ele acreditou que seu pai sofreu o acidente tentando atender a seus desejos de sempre tentar vencer, indo muito além dos limites, e dessa forma sentindo-se responsável pelo triste fim dele. Assim, ele quer muito conseguir vencer, para redimir os esforços de seu pai, e faz um pedido para Madoka: que ele tire sua foto no pódio quando conseguir esse feito. Kouya, claro, aceita o desafio, mas será que ele conseguirá manter essa promessa de registrar com sua câmera o feito de Haruka, superando o trauma que o acompanha há anos? E Haruka, diante do desnível do equipamento que possui frente aos demais pilotos, conseguirá realizar o milagre de vencer uma corrida? Cada um tem seu desafio à frente, e só cada um deles poderá dar o seu melhor, à sua maneira, para superar isso.

Harunaga e Tokamaru, a dupla de pilotos da equipe Belsorriso.

          Do outro lado das garagens, a dupla de pilotos da Belsorriso, apesar do sucesso vivenciado graças à boa estrutura e capacidade financeira do time, também vivencia seus problemas pessoais. Tokumaru, relegado à posição de segundo piloto do time, vive inconformado com sua posição, sente que pode fazer melhor, mas quando tem a chance de provar seu valor, descobre que tem que lidar com desafios que até então ignorava, e precisa descobrir a melhor maneira de superar esse momento, se quiser de fato dar seguimento firme à sua carreira de piloto. Já Harunaga, o principal piloto da escuderia, parece muito mais festeiro do que um piloto, mas mostra que tem um grande talento e capacidade para lidar com os desafios na pista. Mas, quando fica de fora, devido a um acidente, ele tem que se colocar à prova para não apenas mostrar seu foco na competição, encarando um desafio completamente novo, e saber superar estas adversidades inesperadas e provar que merece de fato a posição de destaque que tem na escuderia. Mas, a exemplo de Kouya e Haruka, cada um deles precisa superar um desafio, mas antes disso, precisam se autoavaliar, e descobrir qual é o verdadeiro problema que eles precisam superar, tendo de descobrir mais sobre si mesmos, antes de seguirem adiante.

          “Overtake!” acabou sendo como um lançamento de aniversário da Troyca, que em 2023 comemorou 10 anos de fundação, embora o objetivo da série não fosse ter esse sentido. Uma empresa relativamente jovem no concorrido mercado de animação nipônico, a Troyca foi fundada ex-produtor da AIC Toshiyuki Nagano, pelo diretor de fotografia Tomonori Katou, e pelo diretor de anime Ei Aoki em maio de 2013. O estúdio tem sede em Shakujii-cho, no bairro de Nerima, em Tóquio, capital do Japão. Nestes dez anos o estúdio já produziu diversas séries, algumas originais, outras derivadas de mangás e/ou novels. Entre os títulos produzidos temos Aldnoah.Zero; Beautiful Bones: Sakurako's Investigation; Re:CREATORS; Idolish7; Bloom Into You; The Case Files of Lord El-Melloi II: Rail Zeppelin Grace Note; Idolish7: Second Beat!; Idolish7: Third Beat!; Shinobi no Ittoki; e Atri: My Dear Moments.

          “Overtake!” também é uma produção original, isto é, criada diretamente para animação, não existindo uma versão em mangá ou novel, de onde são inspiradas a imensa maioria das séries de animação produzidas atualmente no Japão.

          A série retrata com fidelidade os carros da competição da Fórmula 4, bem como os lugares onde eles correm. Fãs mais calejados das corridas irão reconhecer as pistas mais famosas do Japão, como o Circuito de Fuji, à beira da montanha símbolo da Terra do Sol Nascente, ou as pistas de Suzuka, palco tradicional das corridas da Fórmula 1, ou o completo de Motegi, onde a MotoGP realiza sua etapa nipônica da temporada.

          Nas cenas dos autódromos e no visual dos carros de competição que são mostrados, patrocinadores fictícios se misturam com nomes de empresas reais ligadas ao mundo das competições, como Dunlop, Porsche, Bosch, entre outros. Todos os nomes reais tiveram autorização para serem usados na série, que também pôde utilizar a denominação oficial de FIA – F-4 do campeonato, com autorização da própria FIA, entidade que comanda o automobilismo internacional.


Patrocinadores reais se misturam a patrocinadores fictícios na série, tanto nos autódromos quanto nos carros participantes (acima e abaixo).




          A série não se aprofunda tanto nos detalhes técnicos dos carros, embora alguns termos sejam usados, como o skidblock, a prancha de madeira que todos os monopostos chancelados pela FIA apresentam no assoalho, como regra de segurança para garantir que os carros mantenham uma altura mínima do chão. É mencionado que os carros são padrão para todos, e as equipes possuem muitas restrições para efetuar o desenvolvimento dos monopostos, evitando que times com maior poder financeiro tenham um desempenho muito superior às equipes menos abastadas. Ou o uso do vácuo entre carros na competição, seja para ultrapassar um adversário, ou fazendo jogo de equipe para melhorar uma qualificação, ou economizar equipamento, como fazem por vezes a dupla de pilotos da equipe Belsorriso na pista. Detalhes da história do mundo do automobilismo são citados pelos personagens, como dos ex-pilotos James Hunt e Niki Lauda, ou o caso curioso de como a pequena equipe Coloni viabilizou sua participação no GP do Japão de 1991, mostrando que procuraram fazer um trabalho sério de pesquisa de forma a deixar a série tão realista quanto possível.

Todo o time da Komaki Motors na foto: o mecânico, o proprietário, e o piloto.


          A Komaki Motors ser praticamente uma equipe de fundo de quintal, com apenas 3 integrantes, pode parecer uma romantização um pouco forçada das condições de competição, uma vez que, mesmo com parcos recursos, seria extremamente difícil ter um time de competição com tão poucos integrantes. Mas o fato da equipe de Haruka competir com um carro comprado “de segunda mão” não é tão irreal, uma vez que desde que foi criada, a F-4 japonesa corre com o mesmo tipo e modelo de carro, e uma vez que os times podem efetuar mudanças mínimas nos bólidos, mesmo um carro usado, desde que devidamente preparado, pode competir com dignidade nas corridas. O fato de Haruka também trabalhar vendendo jornais para ajudar no orçamento do time nas competições também não é algo tão irreal, sendo que vários pilotos no mundo do automobilismo já tiveram de trabalhar das mais diversas maneiras a fim de conseguirem obter o dinheiro necessário para continuarem competindo, com vários casos conhecidos na mídia especializada. E muitos deles conseguiram seguir em frente, por mais incrível que possa parecer, diante dos custos que o automobilismo, mesmo em categorias de base, necessita para se poder competir efetivamente.

Muito esforço e trabalho duro movem o pessoal da pequena Komaki Motors. Não há milagres inesperados para salvar o dia numa prova de competição...

          Mas, sendo uma categoria com equipamento padrão, de fato há alguns times que correm apenas por hobby, e por isso, muitas vezes não disputam todas as etapas. O time de Haruka é mostrado como uma pequena equipe privada que não é levada a sério pelos times “profissionais”, mas eles mostram toda a sua paixão e determinação pela competição, levando muito a sério a empreitada, e comemorando cada bom resultado que conseguem. Eles dão o seu melhor, e se tornam uma inspiração para Kouya Madoka, que tentará dar novamente o seu melhor para seguir em frente.

          Mesmo assim, as dificuldades de competição para um time de poucos recursos são enormes, e Haruka sente na pele os limites de seu carro, quando tenta enfrentar rivais mais estruturados na pista, sem ter pneus suficientes para acelerar o necessário, ou ter de moderar sua pilotagem para evitar sofrer acidentes e danificar o carro, o que poderia comprometer a escuderia, e ficar sem ter onde competir. O orçamento mínimo de cerca de 11 milhões de ienes (cerca de pouco menos de 8 mil dólares), mencionado na série, foi aferido em informação fornecida pelo meio, sendo que um time de ponta pode ter um orçamento de cerca de 18 a 20 milhões de ienes (cerca de aproximadamente 13 a 14,5 mil dólares), o que faz muita diferença nas chances reais de competição na pista, podendo ter mais peças de reposição, pneus, e mecânicos para trabalhar nos carros. Como Tokumaru explica a Madoka enquanto andavam pelo paddock de Fuji, tudo o que se precisa é “técnica” (leia-se talento e capacidade) e “grana” (patrocínios que garantam dinheiro para a operação). Talento é essencial para se ter sucesso, mas sem dinheiro, não há como se conseguir mostrar adequadamente do que se é capaz na pista. Mas o inverso não é real: dinheiro, por si só, não é garantia de talento na pista, por melhores que sejam as condições do carro que pilota.

Logo da série do estúdio Troyca (acima). Os pilotos da Belsorriso participam na tradicional entrevista oficial do evento (abaixo).



          “Overtake!” começou a ser planejada ainda em 2017, quando o comitê de produções da Kadokawa, um conglomerado de mídia japonesa, em reunião de rotina com Toshiyuki Nagano e Ei Aoki, respectivamente produtor e diretor do estúdio Troyca, descobriram que o campeonato da F-4 japonesa poderia ser um assunto interessante para se criar uma história, tendo como base as disputas entre os times devido às disparidades de estrutura entre eles, um tema potencial para desenvolver uma história de drama e superação. Idéia aprovada, no mesmo ano começaram a pesquisar como era o universo da Fórmula 4, já que a idéia era usar um campeonato real para a série. Mesmo assim, a produção da série demorou a engrenar, aliado ao fato de que foram feitas muitas pesquisas para que as corridas fossem mostradas da forma mais realista possível. Como existem poucos exemplos de séries de animes baseadas em competições de carros, não havia uma base ampla para servir de exemplo, de modo que a Troyca precisou criar sua própria base de dados para embasar a criação da nova série. Isso fez com que as pesquisas durassem praticamente três anos, e a pandemia da Covid-19 que alastrou-se pelo mundo ajudou a atrasar o cronograma de “Overtake”, que inicialmente tinha o singelo nome de “F-4” apenas, antes de se decidirem pelo novo nome, que mesmo assim, deixou muitos em dúvida se seria a nomenclatura ideal para a série.






Todos os locais das corridas retratam fielmente os autódromos reais e o ambiente da competição da F-4 japonesa, com suas estruturas recriadas com CG (acima).


          A equipe de produção obteve colaboração também dos autódromos na obtenção de informações sobre suas instalações e pistas, ajudando a tornar sua representação na série a mais fiel possível. Da mesma maneira, empresas patrocinadoras do esporte a motor também deram seu aval para poderem ser veiculadas na série. Os carros, bem como os traçados de competição foram recriados em computação gráfica, e devido ao número de detalhes para deixar tudo ainda mais realista, a equipe de produção demandou mais tempo que o esperado, sempre obtendo feedback das empresas para as questões de como reproduzir o ambiente das corridas em animação. O som dos motores foi gravado de carros reais.

          A equipe de produção visitou a região de Gotenba, onde de passa parte da história da série, próxima ao autódromo de Fuji, para fazer uma representação mais fiel das cidades. Inclusive, o prédio onde na história é a sede da Komaki Motors é de uma oficina de verdade que existe no local. E a equipe, quando não está competindo, vive de consertar carros para se manter.

A sede da Komaki Motors é baseada em um prédio real que funciona de fato como oficina na região de Gotenba.


          Embora na história da série seja descrito que há 20 escuderias, com 36 pilotos competindo, todo o foco é centrado apenas na Komaki Motors e na sua onipotente rival Belsorriso. Mesmo assim, nas cenas gerais de competição, foi preciso fazer um grande trabalho para dar um visual diferente aos vários carros do grid, algo que demandou tempo e esforço para o pessoal de criação da Troyca, que admitiu que esta foi a série mais complicada de ser produzida de todo o estúdio.

          A idéia de usar animação CG para ilustrar os carros na corrida inicialmente previa usar isso apenas em cortes fechados nos monopostos, mas como o resultado visual poderia ficar desbalanceado em relação ao traçado da pista, decidiu-se que todo o traçado também seria feito em CG, bem como a paisagem e instalações circundantes, leia-se boxes, arquibancadas, e estruturas publicitárias e de infraestrutura dos circuitos. Isso ajudou a dificultar um pouco os prazos de finalização da série, devido aos esforços necessários para deixar tudo da melhor maneira possível, mas felizmente a produção foi finalizada, e a série estreou no primeiro final de semana de outubro no Japão, sendo disponibilizada para vários países do mundo, inclusive o Brasil, através do serviço de streaming Crunchryoll.

          Desde o início, “Overtake!” foi planejado para ser uma série de apenas uma temporada, de modo que cada personagem foi criado de forma a ter importância relevante para a trama, evitando encher a história com personagens desnecessários que poderiam ocupar o tempo necessário para desenvolver a participação de todos os que realmente importam para a história.

          Foi preciso também construir um enredo capaz de cativar os telespectadores que não são fãs de automobilismo, e fazê-los compreender como esse universo funciona de fato. Isso é feito através de Madoka, que revela não saber praticamente quase nada de corridas, o que não o impediu de se empolgar com a competição, e com o drama vivido por Haruka em seu desafio de competir por um esquema quase amador contra rivais muito mais bem equipados. Aos poucos, detalhes aqui e ali do mundo das corridas são revelados a Kouya, e também ao expectador, mostrando quão complexo e desafiador é este mundo, ainda que não haja muita profundidade nos detalhes de vários aspectos, mas o suficiente para gerar a empatia necessária para entender o panorama da competição.

          Madoka, Asahina, Harunaga, Tokumaru... Todos eles têm desafios pessoais para vencer, numa luta onde o apoio dos amigos e colegas pode ter sua importância, mas é no íntimo de cada um deles que poderão encontrar as respostas para reconhecerem seus problemas reais, e como lidar com isso, num processo de autoconhecimento e amadurecimento que fará com que possam recuperar o que perderam, ou avançarem tanto pessoalmente quanto profissionalmente. É esse o espírito principal do tema da série, “Overtake”, onde os personagens precisarão ultrapassar e superar seus desafios, deixando-os para trás para seguirem adiante, no que será de fato a grande vitória que buscam, mais até mesmo do que receber a bandeira de chegada de uma corrida em primeiro lugar. Irão conseguir, ou ainda precisarão de maiores esforços para vencer seus medos e inseguranças? Só assistindo à série para descobrir...






As cenas de corridas dos carros e suas respectivas pistas foram todas criadas com animação CG, de forma a fazer a animação ser mais primorosa, retratando os mais variados momentos das provas, e até mesmo mostrando as dificuldades de se correr na chuva.


 

PERSONAGENS:

 


Haruka Asahina: Principal (e único) piloto da equipe Komaki Motors, Haruka idolatrava seu pai, que era um piloto de corridas, sempre o incentivando a ganhar. Mas, quando seu pai morre em um acidente de competição, ele resolve que será um piloto, para honrar a memória de seu pai, e vencer corridas, para voltar ao pódio, onde seu pai o levou uma vez. De caráter fechado e por vezes insensível, ele vai aprender com Madoka que também precisa enfrentar seus demônios pessoais para crescer e realizar seus sonhos.

 


Kouya Madoka: Fotógrafo freelancer, ele tem lutado nos últimos anos com um “bloqueio” que o impede de tirar fotos de pessoa, devido a um trauma ocorrido durante o terremoto do tsunami da área de Fukushima, embora ainda consiga tirar fotos de outras coisas. Ao fazer a cobertura fotográfica de uma etapa da F-4 japonesa, ele fica entusiasmado pela competição, e decide ajudar a equipe da Komaki Motors e seu piloto, buscando no íntimo superar seus problemas pessoais, e voltar a ser um fotógrafo profissional de verdade.

 


Saeko Yukihira: Editora-chefe de uma revista, é ex-esposa de Kouya, mas apesar disso, ambos mantém contato profissionalmente. Ela teve dificuldade para entender os problemas do fotógrafo, o que levou à separação de ambos, mas costuma lhe arrumar trabalhos profissionais. O entusiasmo repentino de Madoka a leva a enveredar também pelo campo do automobilismo, com o propósito de publicar matérias jornalísticas a respeito da competição.

 


Satsuki Harunaga: Principal piloto da Belsorriso, tem como ídolo o piloto James Hunt, e à sua maneira, imita seu jeito playboy, fazendo sucesso com as garotas, e parecendo festeiro, mas é um competidor centrado e talentoso, fazendo por merecer seu status de primeiro piloto na equipe.

 


Futoshi Komaki: ex-mecânico e proprietário da equipe Komaki Motors, dirige a escuderia com base na paixão, já que os parcos recursos financeiros e falta de patrocinadores impedem que o time consiga competir por bons resultados na F-4, apesar do equipamento padrão da categoria. Trata Haruka como um filho, e lhe deu a posição de piloto do time como se estivesse pagando a dívida que teve com o falecido pai do garoto, que era seu piloto de competição muitos anos atrás, quando ainda tinha uma escuderia em parceria com seu amigo Kyousuke Ena.

 


Kyousuke Ena: proprietário da Belsorriso Motorsports Team, é um velho colega e amigo de Futoshi Komaki, quando trabalhavam no mesmo time de competições, e contato profissional de Kouya Madoka, a quem apresenta o universo das corridas da F-4 após o fotógrafo ir cobrir um fim de semana de corridas das categorias em competição, tendo como foco inicial a Super GT, mas também a F-4 japonesa. Ena e Futoshi seguiram caminhos similares depois que se separaram após trabalharem juntos numa equipe de competição, e mantém suas amizades, apesar da rivalidade na pista.

 


Alice Mitsugawa: amiga de infância de Kotaro, trabalha na equipe Belsorriso, rival da Komaki Motors, e tem uma queda pelo principal piloto da equipe, Satsuki, sendo mais uma garota que cai no charme do rapaz, mas tenciona ser também uma amiga para ele, ajudando e incentivando sua recuperação após sofrer um acidente e ficar de fora momentaneamente da competição.

 


Toshiki Tokumaru: companheiro de Satsuki na Belsorriso, é tratado como segundo piloto da escuderia, com o papel óbvio de ajudar o primeiro piloto, e se sente incomodado com tal posição, por achar que pode competir no mesmo nível e até melhor. Mas, quando Harunaga fica fora por causa de um acidente, ele é posto à prova, tendo que aguentar as pressões que seu companheiro sofria por ser o principal piloto do time.

 


Kotaro Komaki: mecânico faz-tudo da Komaki Motors. Tem uma certa queda por Arisu, mas infelizmente a amiga de infância só tem olhos para o principal piloto da Belsorriso, Harunaga, e fica mordido de ciúmes. Por isso mesmo, nada como dar tudo de si para colocar o carro da Komaki na sua melhor forma e dar a Haruka a chance de vencer o rival na pista como forma de dar o troco.

 

 

OVERTAKE – FICHA TÉCNICA


 

Número de episódios: 12

Exibição: 01.10 a 17.12.2023

Diretor: Ei Aoki

Composição da série: Ayumi Sekine

Música: Kana Utatane (F.M.F)

Character Design original: Takako Shimura

Character Design: Masako Matsumoto

Diretor de arte: Akira Itō (Studio ARA)

Diretor de som: Jin Aketagawa

Diretor de CGI: Masaya Machida (Stimulus Image); Mitsutaka Iguchi

Diretor de Fotografia: Tomoyoshi Katō

Desenho de cores: Mariko Shinohara

Edição: Shota Migiyama

Supervisão: Katsuhiko Takayama

Temas musicais: Kanae (Abertura); Tasuku Hatanaka (Encerramento)

Direção visual de arte: Takuya Sejima; Tomoyuki Arima

Efeitos visuais: Ryosuke Tsuda

Produção de Animação: Troyca

Criação original: Troyca; Kadokawa Entertainment Group

Distribuição em streaming: Crunchyroll

 

Vozes originais

 

Haruka Asahina: Anan Furuya

Kouya Madoka: Katsuyuki Konishi

Saeko Yukihira: Ayumi Tsunematsu

Satsuki Harunaga: Kengo Kawanishi

Futoshi Komaki: Kenta Sasa

Kyousuke Ena: Masayuki Katou

Arisu Mitsugawa: Reina Ueda

Toshiki Tokumaru: Taku Yashiro

Kotaro Komaki: Tasuku Hatanaka

 

A F-4 NO JAPÃO

Largada de prova do campeonato da F-4 na pista de Fuji.


 

          Os campeonatos de Fórmula 4 foram uma nova categoria difundida pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA) para servir de categoria de entrada para jovens pilotos oriundos do kart. Implantada na década passada, a Itália foi o primeiro país a sediar um campeonato da nova competição, que se caracteriza por equipamento padronizado para todos os times, de forma a dar aos pilotos a capacidade de aprenderem e se destacarem pelo seu talento, criando uma nova geração de pilotos para as competições do esporte a motor.

          No Japão, o primeiro campeonato foi realizado em 2015, e desde então, esta tem sido a categoria-escola para muitos jovens pilotos nipônicos que buscam fazer carreira no automobilismo, nacional e internacional. A nova categoria começou como evento de apoio ao campeonato da Super GT, posição que mantém até hoje, e vem ganhando popularidade entre os fãs do desporto, apresentando competições acirradas todos os anos desde sua criação, graças ao fato de todos os pilotos usarem o mesmo tipo de equipamento, restando poucas opções permitidas aos times para mexerem no carro e melhorar seu desempenho. O certame é chamado oficialmente de FIA-F4, e chancelado como campeonato regional pela Federação Japonesa de Automobilismo. Os carros são produzidos pela Dome (chassi) em parceria com a Tom’s (motores), sendo que desde sua criação tem sido usado o mesmo modelo F110 desde o primeiro campeonato, até os dias atuais, o que ajuda a manter os gastos de competição em valores bem acessíveis. Os motores também são iguais para todos, unidades aspiradas de 4 cilindros em linha, com volume total de 2.000cc, com aproximadamente 160 cv de potência total, fornecidos em sistema de leasing aos times. Todo o equipamento é oficialmente homologado pela FIA. A competição é administrada oficialmente pela direção da Super GT Series.

Com carros iguais para todos os pilotos, as disputas são sempre no braço dos pilotos, sendo muitas vezes bem aguerridas.

A cada temporada, o Campeonato FIA-F4 japonês é dominado por jovens talentos que anseiam em se tornar os melhores pilotos do futuro. Diversos nomes que iniciaram nesta competição de monopostos, com Sho Tsuboi, Nisuke Makino, Hiroki Otsu, Ritomo Miyata, Harunan Sakaguchi, Ukyo Sasahara, Fumiki Oyuto e Teppei Natori. Kazuto Odaka e Hibiki Taira, subiram para as divisões superiores, abrindo espaço para toda uma nova geração de pilotos nipônicos que buscam fazer carreira no automobilismo, cumprindo com sua missão de categoria-escola de monopostos.

          De 2015 para cá, já foram disputados 9 campeonatos, e dos campeões na categoria, o nome mais conhecido do público em geral é o de Yuki Tsunoda, que venceu a temporada de 2018, em seu terceiro ano de participação na competição, com o time Honda Formula Dream Project. Em 2019, ele participou dos campeonatos da Fórmula 3 e Eurofórmula, passando em 2020 para a Fórmula 2 e Toyota Racing Series, até estrear em 2021 na Fórmula 1, pela equipe Alpha Tauri, onde está até hoje.

Produzido pela Dome, o chassi F110 é o mesmo desde o primeiro campeonato da F-4, em 2015. As equipes podem mexer muito pouco no carro, pelo regulamento.


Produzido pela Tom’s, o motor da categoria é um propulsor de 2 litros com quatro cilindros em linha, com potência próxima de 160 HPs, fornecido via leasing para todos os participantes.


 

Temporada 2023

 

          A temporada 2023 da F-4 japonesa foi composta de 7 etapas disputadas em rodadas duplas, perfazendo um total de 14 provas em cinco pistas diferentes, sendo que os circuitos de Fuji e Suzuka receberam duas etapas na competição. Todas as etapas foram realizadas como evento de apoio nas etapas do Super GT Series, o principal campeonato de Grã-Turismo do Japão.

          Um total de 58 pilotos participaram da temporada, embora apenas 33 tenham feito a temporada de forma completa, e os demais, participações maiores ou menores nas corridas. O título da temporada foi conquistado por Rikuto Kobayashi, com 5 vitórias no ano, defendendo a equipe TGR-DC Racing School.

CORRIDAS

CIRCUITOS

Rodadas 1 e 2

Fuji International Speedway

Rodadas 3 e 4

Suzuka Circuit

Rodadas 5 e 6

Fuji International Speedway

Rodadas 7 e 8

Suzuka Circuit

Rodadas 9 e 10

Sportsland Sugo

Rodadas 11 e 12

Autopolis International Racing

Rodadas 13 e 14

Twin Ring Motegi


 





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