Mais um ano está indo embora, e os resultados da temporada da F-1 foram bastante discrepantes. Um ano de domínio da Red Bull como nenhum outro time conseguiu fazer em um campeonato, à exceção da temporada demolidora da McLaren em 1988, o que temos até aqui é um completo desastre em termos de competitividade quando a categoria máxima do automobilismo reintroduziu o efeito-solo nos carros da competição, no ano passado. E, curiosamente, foi um engenheiro da “velha guarda”, Adrian Newey, que soube trabalhar o conceito melhor do que ninguém, até porque este assunto foi sua tese de mestrado, antes de estrear na competição na categoria máxima do automobilismo, na equipe de Émerson Fittipaldi, em início dos anos 1980. Um projetista que viveu aquela época do efeito-solo, e que agora, décadas mais tarde, soube fazer um trabalho melhor que todo mundo no uso deste recurso, e reforçando seu status de grande gênio das pranchetas atuais da F-1.
Foi um ano cheio de acontecimentos, e a esperança é de que a competição melhore em 2024, se bem que falta combinar com Newey, e principalmente, Max Verstappen, a respeito do próximo ano, mas enquanto 2024 não chega, esta coluna se dedica a relacionar alguns dos últimos acontecimentos da F-1 em 2023, antes de entrarmos no tradicional recesso de natal, onde as fábricas devem ficar fechadas de hoje até pelo menos o dia 4 de janeiro, para um período de descanso mais do que merecido depois de uma temporada tão longa e desgastante para todos, mais para uns do que para outros, mas igualmente cansativa e dura. Curtam as notas a seguir, e boa leitura...
É espantoso o número de “idéias” que circulam entre “fãs”. Uma das mais ridículas defendidas por alguns é de que a Mercedes “sabotou” George Russell nesta temporada, depois que o inglês teria “humilhado” seu compatriota heptacampeão mundial Lewis Hamilton no ano passado. Só assim, no entendimento deles, justificaria Hamilton ter terminado o ano à frente de Russell, pois o time teria tido “ordens” para atendimento dos desejos do “farsante”, como muitos se referem ao heptacampeão, que teria ficado xiliquento por ter sido superado por seu novo parceiro de time. A “conspiração” desta leva de “entendidos” chega a afirmar que por causa de Hamilton a escuderia alemã sacrificou o “promissor” conceito do carro zeropod porque Lewis não teria se entendido com o modelo W13, ao contrário de Russell, e que este deveria ter sido o caminho a ser desenvolvido pela área técnica da Mercedes, de apostar num conceito revolucionário, que acabou abortado para “atender” aos caprichos do “vegano”. Dá vontade de dar risada de tais idéias, motivadas em boa parte pelo haterismo que tomou conta de muitos em relação a Hamilton, classificado por estes como “maior farsa” da história da F-1, e que ele nunca teria ganho nada, foi apenas o grande carro que pilotou, chegando até a dizer que o título de 2008 não lhe pertence, como que tentando até envolver o inglês na mutreta do GP de Singapura daquele ano, e que é um título “roubado”. Nossa... Essa turma tem imaginação...
Sobre a Mercedes, nada mais ilógico essa conversa de “sabotagem” de Russell, bem como do conceito zeropod. Talvez ele até tivesse futuro se fosse desenvolvido, mas o panorama atual da F-1, com teto de gastos, não permite ao time trabalhar no carro como fazia até alguns anos atrás, consumindo uma fortuna em testes no túnel de vendo e simuladores até fazer o conceito daquele tipo de carro enfim dar certo. Mas a Mercedes precisa de resultados para já, e não teria como esperar o conceito zeropod dar certo. Até porque, diante dos resultados das primeiras corridas, mesmo com todo o conhecimento levantado sobre o carro do ano passado, a Mercedes conseguiu produzir um carro até pior. Sim, o modelo W14 revelou-se mais fraco que o W13, e ninguém pode “acusar” Hamilton disso, quando o próprio piloto disse que o time ignorou várias de suas observações sobre o comportamento do carro, alegando que sua performance não seria boa, o que se confirmou depois na prática, na pré-temporada, e depois com o início da mesma.
Com um desempenho ainda mais fraco que seu antecessor, frente aos concorrentes, e olha que naquele momento, Ferrari e McLaren ainda estavam capengando diante do time alemão, e vendo como um carro mais “convencional” como a Aston Martin surpreendia, ficando logo atrás da quase onipotente Red Bull, não havia mesmo mais o que tirar do modelo W14, pelo menos se quisesse voltar a vencer corridas e disputar o título. O conceito-base ruim do carro, mesmo voltando a ter um visual mais tradicional, contudo, continuou a causar problemas para o time, que não conseguiu se entender com seu comportamento em várias provas, mostrando uma janela de funcionamento muito estreita, onde um pequeno detalhe fora do lugar podia comprometer todo o fim de semana. A Mercedes precisava de respostas, e apesar de tudo, a reformulação do modelo W14 serviu para aprender várias coisas. Se o time técnico de Brackley saberá fazer bom uso deste aprendizado, só saberemos em 2024, pois eles não souberam tirar as lições corretas do modelo W13. Alegar que um time de fábrica comprometeria todo o seu campeonato para atender aos “caprichos” de um de seus pilotos é uma falácia sem tamanho, e essa turma toda que se deleita com os “azares” de Hamilton devem ter um problema sério de cabeça, pois com tanta falação, duvido muito que o heptacampeão esteja perdendo seu tempo com isso. Ele renovou por mais dois anos com a Mercedes, ganha milhões, muito mais do que seus detratores chegarão a ganhar um dia, e não está nem aí para estas conversas. Muito pelo contrário, o britânico parece ter “entrado” de mala e cuia na cabeça destas pessoas, para elas perderem tempo com tanta conversa idiota...
James Alisson, que retornou à posição de diretor técnico da Mercedes, já deu uma boa idéia do que fracassou no time nos últimos dois anos, e desde sua volta ao cargo, trabalhou durante a temporada para corrigir o problema, que segundo ele, foi a falta de sinergia e coordenação entre os setores da fábrica, que procurando encontrar soluções, começaram a tomar decisões desencontradas uns com os outros, de modo que os caminhos de desenvolvimento passaram a não convergir, o que teria dificultado ao time conseguir entender os problemas dos carros, e não achar as soluções necessárias. Agora, segundo ele, todos os setores estão trabalhando unidos novamente, e o conceito do novo modelo W15 deverá recolar o time nos eixos, e de volta às vitórias, e quem sabe, à luta pelo título. Mas a escuderia tem muito caminho a recuperar, de modo que só mesmo na pré-temporada poderemos ver se a Mercedes foi bem-sucedida no seu intento ou não. Até porque os rivais não ficaram parados, e além de procurar alcançar a Red Bull, será preciso ver como Ferrari e McLaren estarão, além da Aston Martin. Por enquanto, os prognósticos parecem bem positivos neste sentido, de acordo com o que o time já conseguiu apurar no túnel de vento, mas não dá para se fazer nenhuma expectativa a respeito dos resultados, até o novo carro ir para a pista. Será que a F-1 verá a redenção do time alemão, ou a Red Bull continuará nadando de braçada sobre eles? A conferir em fevereiro...
Por falar em fevereiro, a Ferrari já sai na frente ao anunciar a data de lançamento do primeiro carro da temporada de 2024. O time de Maranello, através de seu chefe Frederic Vasseur, anunciou que seu novo carro será conhecido no dia 13 de fevereiro. O nome do novo bólido, contudo, ainda não foi definido, e infelizmente, não se pode fazer projeções, já que a escuderia italiana não tem um padrão regular para nomear seus carros. De qualquer maneira, vai ser o carro a levar a Ferrari de volta às vitórias, e quem sabe, à luta pelo título, ou mais um carro para deixar os ferraristas esperando por uma nova conquista? A última foi em 2007, com Kimmi Raikkonen, e o tempo vai passando... Pelo sim, pelo não, a escuderia italiana afirmou que o carro terá um novo conceito, pois o que baseou os projetos de 2022 e 2023 já teriam esgotado seu potencial, e o time precisa de algo novo se quiser realmente bater de frente com a Red Bull na próxima temporada.
Mas se o time rosso foi o primeiro a anunciar a data de lançamento do novo carro, ele na verdade será o terceiro na ordem de apresentação, até o presente momento. Williams e Sauber anunciaram também as datas de lançamento de seus novos carros, e ambos os times farão suas apresentações no mesmo dia, 5 de fevereiro, praticamente uma semana antes da Ferrari. Mas resta saber se eles apresentarão carros melhores para o próximo ano. Corrida para lançar o carro primeiro, infelizmente, não rende pontos nem garante que serão projetos mais competitivos.
Aliás, mais uma vez, a F-1 vai ter uma pré-temporada ridícula em temos de dias de treinos. Mais uma vez, serão míseros 3 dias de testes no Bahrein, entre os dias 21 e 23 de fevereiro, sendo que o país abrirá a temporada de 2024 com o GP em Sakhir no dia 02 de março. Não preciso dizer que vem sendo uma piada essas últimas pré-temporadas, e mais ainda ridícula é a postura dos times de andarem com apenas um piloto de cada vez, o que reduz ainda mais o tempo de pista potencial dos times. E pensar que quando a categoria máxima do automobilismo começou com essa regra de limitação de testes, lá em 2009, ainda tivemos uma pré-temporada de 12 dias, o que seria o máximo se voltasse a ser naquela quantidade de dias. Desde então, as pré-temporadas tem ficado cada vez mais esdrúxulas, como foi a dos últimos anos, com miseráveis 3 dias de pista. Depois, se ainda se pergunta porque tem sido complicado para alguns times acertarem direito seus carros, me parece cada vez mais proposital essa regra imbecil de pré-temporada. Só falta é jogar os carros direto na pista no primeiro treino livre, e salve-se quem puder. Ao menos a FIA relaxou em outro termo, que era a quilometragem que os times podiam fazer para shakedown e filmagens privadas, que passou de 100 para 200 Km, algo mais razoável que permitirá que as escuderias pelo menos verifiquem adequadamente seus carros com mais tempo de trabalho. Mas mesmo assim, sinto uma grande falta de uma pré-temporada que seja real e não uma picaretagem de tão pouco tempo de trabalho como vem sendo feito em anos recentes...
Apesar dos problemas enfrentados nas corridas de 2023 com o carro pouco competitivo da Haas, o alemão Nico Hulkenberg conseguiu atrair a atenção do pessoal da Audi, que já veria nele um bom nome para conduzir o time na temporada de 2025, quando a Sauber fará sua última participação com seu nome original, antes de assumir o título da marca das quatro argolas no ano seguinte. A performance de Hulkenberg, especialmente nas classificações, onde o modelo VF-23 mostrou qualidades, impressionou o pessoal, e segundo um site de notícias holandês, Nico só não foi para a Sauber em 2024 porque já tinha renovado com a Haas para o próximo ano, o que motivou a renovação da dupla atual da escuderia para o próximo campeonato. Para quem tinha ficado sem vaga nos últimos anos, pode-se dizer que Hulkenberg fez muito bem o seu retorno à F-1 este ano, especialmente deixando Kevin Magnussen na sombra no time norte-americano, apesar do ano de experiência do dinamarquês com os novos carros de efeito-solo no ano passado. E quem sabe, Hulkenberg ainda consiga enfim chegar ao pódio, caso se confirme sua contratação pela Audi, que obviamente não vem para ser figurante na F-1. Quem espera sempre alcança, diz o ditado...
Este mês se completa praticamente uma década do acidente que transformou a vida do heptacampeão Michael Schumacher, que se acidentou em uma estação de esqui, em férias com sua família, e sofrido sérias lesões cerebrais. Com sua família levantando um muro praticamente intransponível sobre seu estado de saúde, e ameaçando com processos legais qualquer um que se atreva a especular sobre o estado de saúde do ex-piloto, suas atuais condições são desconhecidas, embora se possa fazer uma análise lógica de que, depois de praticamente 10 anos, podemos concluir que Michael certamente não tem condições mínimas de vida autônoma. Impossível mensurar como ele estaria fisicamente, mas certamente em uma cadeira de rodas, e pelas poucas informações indiretas, assumir que não tem condições de fala, diante das sérias lesões que sofreu. O corpo deve estar bem atrofiado, sem condições de se mexer sozinho, um destino certamente inglório e triste para um dos maiores nomes que a F-1 já viu em toda a sua história. Sua família continua a manter uma barreira cerrada contra qualquer um que tente desvendar seu estado atual, alegando manter sua privacidade, e recentemente, Wili Webber, que foi empresário do piloto durante sua vida profissional, falou abertamente que não vê esperanças de poder rever seu antigo cliente e amigo como ele já foi um dia. Webber foi escorraçado pela família Schumacher, e nunca teve permissão para visita-lo, mas sua fala, apesar de especulativa, não deixa de ter um fundo de verdade. Passados praticamente 10 anos desde o acidente, as esperanças de uma recuperação maior devem ser praticamente nulas, diante das dificuldades médicas e do próprio corpo de se recuperar deste triste acidente. Apesar disso, sua família fala sempre em seguir de forma inabalável em seu apoio a Michael, e o amor que tem por ele.
Hora de encerrar o ano, e dar uma descansada, que ninguém é de ferro, e este foi um ano bem extenuante em muitos aspectos. As colunas regulares voltam no dia 12 de janeiro, já fazendo o aquecimento para a estréia da Formula-E 2024, que tem sua largada marcada para o dia seguinte na Cidade do México. Nos vemos por lá, então. Tenham todos um bom natal e um próspero ano novo. Se cuidem, pessoal, e voltaremos a acelerar fundo no próximo ano!
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