Encerrada a temporada 2023, hora de fazer um pequeno balanço de como foi o campeonato das equipes da Fórmula 1 este ano. Semana passada, fez-se um apanhado das primeiras cinco colocadas no campeonato, e hoje, é hora de fechar o texto, trazendo o panorama vivido pelas demais escuderias na competição: Alpine, Williams, Alpha Tauri, Alfa Romeo, e Haas, que mais decepcionaram do que propriamente satisfizeram seus torcedores neste ano que tivemos. Então, boa leitura desta segunda parte do resumo do que foi a temporada 2023 para as escuderias da categoria máxima do automobilismo, e que possamos ver um ano bem melhor em 2024, com mais competitividade e disputas...
ALPINE – Não foi, nem veio
A Alpine foi um time sem rumo em 2023, em mais um ano de altas expectativas que não se concretizaram.
A equipe oficial do grupo Renault terminou a temporada de 2022 na 4ª colocação, perdendo apenas para o “trio” de ferro da F-1, Red Bull, Ferrari e Mercedes, colocando-se como a melhor “do resto”, tendo feito uma temporada até bem satisfatória na pista, se bem que fora dela, contudo, a escuderia francesa ficou devendo, e antecipando problemas que poderiam vir a complicar a situação na temporada deste ano.
A mais contundente, claro, foi com relação a seus pilotos. O time enrolou Fernando Alonso, que até queria renovar com a escuderia, mas no final, o asturiano cansou-se do lenga-lenda dos dirigentes, e de surpresa, aceitou a parada da Aston Martin, uma jogada que ele apostou firme, e certamente não se arrependeu. Aí, a Alpine tentou efetivar Oscar Piastri, mas levou um baile do australiano que, também cansado de ficar na espera, preferiu se garantir, e se mandou para a McLaren, situação que demandou certos acertos jurídicos, mas que no final, significou uma derrota para o time francês, que até conseguiu repor a perda com certa competência, ao conseguir contratar Pierre Gasly, que há muito já dava mostras de querer pular fora das asas da Red Bull e mostrar o seu valor. Mesmo assim, o time perdera uma promessa na qual havia apostado, e ficou sem o talento do bicampeão espanhol.
Outra aposta, esta técnica, foi promover uma forte evolução no propulsor, a fim de melhorar seu desempenho, mesmo que à custa da fiabilidade no ano passado, o que promoveu várias quebras, em especial no carro de Alonso, ajudando o piloto a se cansar da situação do time. Tudo, claro, visando dar um salto para 2023. Bem, chegamos a 2023, e a Alpine não veio, e muito menos foi. Nada do prometido se realizou, e a briga para tentar ser um time vencedor naufragou a olhos vistos, e a escuderia, ao invés de evoluir, regrediu, e só não terminou em posição pior que a 6ª colocação no campeonato porque, atrás dela, só ficou a turma da “F-1 C”, que brigaram pelo posto de pior time do grid. O motor, por exemplo, continuou perdendo para os concorrentes do grid, de modo que todo o sacrifício feito em 2022 acabou se revelando inútil, o que não agradou à direção da Renault, que nos últimos anos foi fornecedora de motores somente de seu time próprio.
Pierre Gasly e Esteban Ocón até que formaram uma dupla equilibrada e competente, mas o time fez algumas besteiras no gerenciamento dos pilotos durante o ano, dando uma certa preferência por Ocon, mesmo quando Gasly se mostrava o piloto mais efetivo da competição. E mesmo com essa mãozinha extra, Esteban ainda ficou atrás do novo companheiro de equipe. Cada um conseguiu um pódio, mas foi pouco perto do que planejavam. E se Alonso tinha ficado bravo com as enrolações de 2022, a situação ficou ainda pior em 2023, a ponto de praticamente toda a cúpula da equipe Alpine ter sido demitida ao longo do ano, numa reestruturação promovida pela Renault para mostrar quão desgostosa estava com o modo como o time vinha se apresentando, sem a coordenação necessária para galgar melhores resultados. E é obvio que com tamanho terremoto interno, não havia como o time melhorar, pelo menos nesta temporada, já que seus principais nomes foram caindo pelo meio da temporada, sem que seus substitutos pudessem fazer muito para corrigir os rumos da escuderia na atual temporada.
Como desgraça pouca é bobagem, McLaren e Aston Martin foram os times que se beneficiariam da falta de foco e tato da Alpine, tomando-lhes seus pilotos. A McLaren mostrou que sua contratação de Piastri foi mais do que acertada, com o australiano conseguindo brilhar no time em sua temporada de estréia na competição, mostrando que a Alpine fez besteira em não segurar o garoto, que por sua vez, mostrou ter valido a pena brigar para sair, ganhando uma chance que a equipe francesa ficou enrolando em oferecer logo. E a Aston Martin ganhou Fernando Alonso, que fez o time surpreender em 2023 ao aproveitar a competitividade de seu novo carro de uma maneira que Lance Stroll jamais conseguiria, levando o time sediado em Silverstone a ter sido, durante parte do ano, a segunda força do grid, e que mesmo perdendo parte da força no fim do ano, ainda ficou muito fácil à frente da Alpine, com mais que o dobro de pontos da equipe francesa. Mesmo sendo o piloto mais velho do grid, Alonso empilhou vários pódios na temporada, e foi uma das sensações do ano, mostrando que ainda tem muita lenha para queimar, algo que a Alpine menosprezou no ano passado. Com a perda de dois grandes talentos, agora é hora de reunir os cacos e juntar o que sobrou de positivo na equipe, para tentar pelo menos reencontrar o rumo no próximo ano, e pelo menos tentar voltar ao TOP-5 na competição, se não quiser perder ainda mais o que lhe resta de cartaz na categoria. Ao menos a Alpine já declarou que o novo carro deverá ser completamente novo, indicando que não vai continuar apostando no conceito atual do A523. Resta saber se vai conseguir colocar as coisas nos eixos como precisa.
WILLIAMS – Time pela metade
Alexander Albon fez alguns milagres com o carro da Williams, que continuou sendo um time de dois carros e apenas um piloto em termos de resultados.
O time fundado por Frank Williams até que conseguiu sair da lanterna da classificação este ano, ainda que tenha incorrido em alguns erros recorrentes das últimas temporadas. O projeto do novo FW45, se comparado a alguns carros do grid, foi bastante simplista, e com uma característica marcante de baixo arrasto aerodinâmico que, se por um lado fez da Williams um dos carros mais velozes em reta, por outro lado, deixou o bólido muito deficiente em curvas. Mesmo assim, a escuderia conseguiu alguns resultados positivos durante o ano, principalmente graças aos esforços de Alexander Albon, que voltou a mostrar o grande talento que o fez ganhar por algum tempo um assento como titular da Red Bull. O anglo-tailandês surpreendeu em algumas corridas, aproveitando-se das circunstâncias e conseguindo fazer uso das oportunidades surgidas para marcar vários pontos importantes. E, logicamente, aproveitou para dar uma alfinetada sutil na equipe dos energéticos, ao mencionar que conseguia pilotar no extremo um carro que pudesse entender e confiar em suas reações, insinuando que o carro da Red Bull era nervoso demais, o que prejudicava sua pilotagem.
O fato é que, com um carro que conseguiu sentir em sua mão, Albon mostrou grande desempenho em alguns momentos, não apenas em termos de velocidade como em visão de corrida, o que o tornou um nome visível no mercado de pilotos, e candidato potencial a negociações para a temporada de 2025, quando vários contratos de pilotos estarão vencendo em fins de 2024. E a Williams ganhou por confiar em sua capacidade, sendo amplamente recompensada pelo desempenho do anglo-tailandês. Nas oportunidades que teve, ele arrancou tudo e mais um pouco do carro que tinha em mãos, chegando por vezes a boas brigas de posição na pista, quando tinha condições de duelar com outros carros teoricamente mais competitivos. Albon usou tanto quanto pôde a principal característica do carro, que era a alta velocidade em reta, para até fazer o pessoal esquecer os tempos recentes da tradicional escuderia, quando seu panorama era andar quase sempre lá atrás, brigando para pontuar quase que por milagre. Verdade que em algumas corridas o carro ficou devendo, mostrando que ainda há muito a se melhorar no aspecto geral, e que não pode apelar para um único ponto forte, mas pelo menos, o time contou com um carro que, nas mãos do piloto certo, pôde sonhar com alguns dias bem favoráveis. Há uma base que pode ser aperfeiçoada, se for bem trabalhada pelo setor técnico, e gerar bons frutos, o que não houve em alguns anos recentes, onde apesar dos esforços, a equipe não saiu do lugar.
Mas o time também pecou, para muitos, novamente em acabar tendo apenas um piloto de calibre para trazer resultados. Se nos últimos anos, o problema era o canadense Nicholas Latiffi, que só estava na F-1 devido ao polpudo patrocínio trazido por seu milionário pai, em 2023 o buraco foi um pouco mais embaixo, quando o time resolveu promover seu piloto de academia Logan Sargent, que só não terminou o ano em último lugar porque Nyck De Vries ficou zerado e acabou demitido antes de terminar a competição.
Uma situação que ficou mais complicada pelo fato de Sargent, além de não trazer patrocínios para o time, ter sido o piloto que mais bateu no ano, e por tabela, que causou mais prejuízos ao time, sendo que com Lattifi, pelo menos o patrocínio das empresas de seu pai ajudavam a equilibrar a situação. Por mais que alguns achem a atitude da escuderia de Grove positiva, por entender que Logan precisava de mais tempo hábil para se entender com a F-1, um defeito que o regulamento atual, sem testes, potencializa a falta de performance dos pilotos, outros acusam a escuderia de estar sendo por demais leniente com seu piloto, renovando seu contrato para 2024 mesmo tendo opções mais válidas disponíveis no mercado, como o brasileiro Felipe Drugovich. A justificativa é que a Alpha Tauri, sem Daniel Ricciardo, precisou colocar seu reserva Liam Lawson para correr de última hora já na prova da Holanda, e o neozelandês não fez feio, mesmo sendo jogado às feras de supetão. Lawson, inclusive, conseguiu até pontuar em uma das poucas oportunidades que teve de correr, e diferença de equipe à parte, pode-se questionar se Sargent tem as qualidades para ter merecido esta renovação de contrato, diante do que o piloto mostrou nesta temporada com um carro mesmo que desempenho limitado.
A equipe procurou se justificar afirmando que o carro de Alexander Albon sempre teve prioridade, de modo que o norte-americano correu muitas vezes sem as atualizações implantadas no carro do colega, explicando que isso seria a causa da grande diferença de performance entre ambos. Mesmo assim, para alguns, seria mais prudente colocar Sargent como piloto reserva/testes, e colocar um outro como titular que possa trazer mais resultados imediatos. Do contrário, as perspectivas de a Williams continuar competindo de fato com apenas um de seus pilotos diminui a chance de obtenção de pontos, especialmente quando o time ainda luta contra equipes que podem melhorar muito, se acertarem seus projetos, arriscando superar a equipe inglesa, que já foi referência na categoria máxima do automobilismo, mas que recentemente apenas se arrasta na parte de trás do grid, com alguns lampejos de competitividade aqui e ali.
Mas, quem sabe tudo dê certo em 2024, e além de um carro melhor, até Sargent consiga mostrar que de fato merece estar na F-1. Sonhar ainda é válido, mas muitas vezes não basta para se dar bem na categoria máxima do automobilismo mundial...
ALPHA TAURI – Chance de redenção tardia
De cadeira elétrica a time com boas esperanças para 2024: a vida da Alpha Tauri em 2023.
O time B da Red Bull passou por uma temporada muito baixa, lutando para conseguir marcar alguns míseros pontos na maior parte do ano, até que atualizações no carro feitas para a parte final do campeonato conseguiram dar um impulso muito necessário para que o time conseguisse escapar da lanterna onde estava, perdendo de todos. A equipe acabou encontrando um líder inesperado em Yuki Tsunoda, que em seu terceiro ano na competição, até que se mostrou um piloto combativo e determinado, para quem nunca inspirou maiores elogios. E o japonês acabou o ano como o melhor piloto do time no cômputo geral, em que pese não no resultado individual, mas ajudou a manter seu nome na equipe, onde está garantido para 2024.
A temporada da Alpha Tauri foi complicada dentro e fora da pista. Com a morte de Dietrich Mateschitz, que era o grande incentivador do projeto de automobilismo, a nova direção do Grupo Red Bull começou a questionar a viabilidade de se manter dois times na competição da F-1, já que um deles fazia sucesso, e o outro, pouca coisa. E o panorama de 2023 só ajudou a complicar isso, fazendo surgir boatos de que o time seria vendido, ou até mesmo fechado, na pior das hipóteses, já que os resultados escassearam no que parecia a pior de todas as temporadas da escuderia sediada em Faenza.
Em termos de pilotos, Pierre Gasly pulou finalmente fora, querendo melhores opções de carreira, quando sabia da birra que Helmut Marko nutria por ele há tempos, impedindo-o de ter melhores expectativas. Mas, ao conseguir contratar Nyck De Vries, depois que o holandês conseguiu surpreender com a Williams em Monza no ano passado, o time achou que teria um piloto até melhor que o francês, liberando-o finalmente para procurar seu próprio caminho. Mas De Vries entrou numa furada, pois não apenas pegou um carro pouco competitivo, como acabou perdendo o duelo contra Tsunoda, algo que ninguém esperava. E não demorou para a fritura do ex-campeão da Formula-E começar, prática corriqueira de Marko nos pilotos da Red Bull, até que De Vries acabou sacado a meio da temporada, para o retorno de Daniel Ricciardo, que havia voltado a ser piloto da Red Bull no simulador, depois de sua passagem fracassada pela McLaren.
Ricciardo, contudo, teve suas complicações, ao se acidentar na Holanda, e ficar fora até o retorno nos Estados Unidos. Neste meio tempo, a Red Bull escalou Liam Lawson para correr, e o neozelandês até que foi bem, conseguindo inclusive pontuar, e colocando em dúvida o retorno de Daniel ao time. O australiano, contudo, se manteve no páreo, e fez uma corrida primorosa no México, onde conseguiu a melhor posição de largada do time, já com um carro atualizado, e terminou em 7º, com pontos importantíssimos que fizeram o time subir na classificação. O resultado da temporada, com o 8º lugar da Alpha Tauri foi importante para convencer a manutenção do time na cúpula do Grupo Red Bull, que terá novo nome para a escuderia em 2024, já que o nome Alpha Tauri não pegou, assim como a linha de roupas lançada com o mesmo nome. Ricciardo e Tsunoda formarão a dupla titular no próximo ano, e com os departamentos técnicos de Milton Keynes e Faenza atuando agora de forma bem mais próxima e unificada, é de se esperar que o time de Faenza possa melhorar sua competitividade, aproveitando-se dos desenvolvimentos realizados pela equipe principal para serem utilizados no carro do time B.
Tsunoda quer manter a posição de líder do time, mas Ricciardo, visando um possível retorno à Red Bull em 2025, depois do vencimento do contrato de Sergio Pérez, demonstrou, ainda que parcialmente, a volta do forte piloto que desafiou Sebastian Vettel e fazia frente a Max Verstappen no time até 2018, e que vai querer assumir a liderança do time na pista, o que pode ajudar na evolução do desempenho e dos resultados. Mas o japonês quer tentar também se mostrar como um nome viável, já que em 2026 a Red Bull deixa de usar as unidades projetadas pela Honda, e passa a contar com o nome da Ford nos seus carros, o que pode deixar Yuki sem chances de permanecer na F-1, a não ser que ele mostre resultados, e convença a Aston Martin, futura parceira da Honda na competição, a apostar nele, e não em outro talento no grid, ou do Japão, caso ache algum piloto com mais potencial.
ALFA ROMEO – Não mostrou a que veio
Mais uma vez, a Alfa Romeo deixou a F-1 pela porta dos fundos, sem deixar ninguém na saudade.
A última empreitada da Alfa Romeo na F-1 dificilmente deixará memórias para os torcedores do automobilismo, mesmo os mais apaixonados. Marca italiana icônica, a Alfa foi a primeira vencedora do campeonato mundial, em 1950, com Giuseppe “Nino” Farina, que também venceu o primeiro GP da história, em Silverstone, naquele distante ano, quando se dava o início do que viria a ser o principal campeonato de automobilismo do mundo. A marca retirou-se da F-1 em 1952 para retornar somente em 1979, onde ficou até 1985, mas competindo como time próprio, ao contrário deste último retorno, feito a partir de 2019, simplesmente dando seu “nome” à equipe Sauber, e sendo sua principal patrocinadora também.
Claro que, para todos os efeitos, era positivo ver de novo no grid a primeira marca campeã da categoria, mesmo que de forma postiça, mas os planos eram de fazer a escuderia vir a ser um nome de novo forte no grid, talvez não para vencer corridas e títulos, mas pelo menos para batalhar regularmente nos pontos, e quem sabe, beliscar pódios aqui e ali. Mas os resultados prometidos nunca apareceram, e no ano passado, curiosamente, foi o melhor ano da parceria, com 55 pontos marcados e a 6ª posição no campeonato de construtores, ainda que em 2019 tenham marcado 57 pontos, mas ficado em 8º lugar na classificação.
Mas a temporada de 2023 foi um desalento total. Não apenas o time produziu um carro pouco competitivo, como seus pilotos, o finlandês Valtteri Bottas, e o chinês Guanyou Zhou se mostraram bem apagados e apáticos na maior parte da temporada. E quando mostravam alguma competitividade, infelizmente a fraca performance do modelo C43 não colaborou para que obtivessem melhores resultados. Dois oitavos lugares foram o melhor resultado obtido em toda a temporada, conseguidos por Bottas, que marcou um total de 10 dos 16 pontos conquistados pelo time durante o ano, uma diferença bem pequena para o colega chinês. O problema nem foi tanto a confiabilidade do carro, uma vez que o time tenha abandonado seis vezes no ano de um total de 44 largadas, mas o desempenho mesmo. O time não conseguiu nem aproveitar a força da unidade de potência da Ferrari para tentar obter algo melhor, não conseguindo tirar maior velocidade dos carros.
A situação da Alfa Romeo começou a ser posta em dúvida quando tivemos o anúncio oficial da entrada da Audi na F-1, que irá ocorrer em 2026, e já colocava, ainda que distante, um ponto final na empreitada da marca italiana com o time até o fim de 2025, quando a marca das quatro argolas assumiria o time em sua totalidade. Mas o período de transição, a ser iniciado em 2024, já ficava nebuloso quanto à manutenção do nome italiano na escuderia, até porque a Alfa já começava a falar em mudar de ares, com os boatos dando conta de que ela poderia repetir a sua experiência de “locar” um time agora com a Haas, cujo desempenho não era dos melhores, e em tese, seria quem mais receberia de braços abertos a chegada da marca e seu contrato de patrocínio e nomeação da escuderia, o que poderia significar um bom reforço de caixa, e quem sabe uma melhora substancial na performance do time.
As negociações, contudo, parecem não ter ido bem, de modo que a Alfa, já perto do fim do ano, confirmou que deixa o grid mais uma vez, sem perspectiva de retorno, pelo menos para breve. Aparentemente, a relação custo-benefício da empreitada tenha se revelado improdutiva com relação às expectativas para o próximo ano, e diante do desgaste da marca frente aos poucos resultados obtidos nas cinco temporadas de associação com a Sauber, tenha preferido pular fora mesmo da F-1, anunciando que pretende centrar forças no Mundial de Endurance, na classe Hypercar. Ao menos, a categoria mantém seu número de times, já que a Sauber volta a ser “apenas” a Sauber, até que a Audi assuma em definitivo o time daqui a alguns anos. Mantendo a atual dupla de pilotos, a escuderia vê 2024 com grande incerteza com relação à sua performance, até mais do que se viu em 2023, quando para muitos, a escuderia virou um time “zumbi” na competição, que não deixará saudades...
HAAS – Lanterna merecida
Kevin Magnussem foi um piloto apagado em um time apagado em 2023. Melhor sorte em 2024.
O time de Gene Haas fez algo positivo
para 2023: dispensou Mick Schumacher, cuja relação custo-benefício para o time
decididamente não estava sendo boa, e chamou de volta para o grid Nico
Hulkenberg, que apesar de ter contra si o incômodo “recorde” de corridas na F-1
sem nunca ter alcançado o pódio, mostrou competência nas poucas vezes em que
substituiu algum piloto titular nas últimas temporadas. E foi uma contratação
certeira, pois Nico andou surpreendendo, especialmente em algumas
classificações, e nas poucas oportunidades em que teve de pontuar, conseguiu a
maior parte dos pontos do time este ano, 9, contra apenas 3 de Kevin Magnussen,
que tinha feito muitos bons serviços com a escuderia em 2022.
O dinamarquês, da mesma forma que havia eclipsado o filho do heptacampeão Michael Schumacher, acabou sendo ofuscado pelo novo colega germânico, e em determinado momento da competição, teve até posta em dúvida sua permanência no time, diante de não conseguir mostrar os mesmos resultados do ano anterior, enquanto Nico parecia render muito mais, comparação que ficava ainda pior se levarmos em conta que Hulkenberg não fazia uma temporada como titular desde 2019 na F-1. No final, a equipe optou pela estabilidade, renovando a permanência da dupla para 2024, o que foi uma decisão mais do que sensata.
Isso porque o modelo VF-23 se mostrou um carro bem satisfatório para voltas rápidas, as que importam para classificações no grid, mas incapaz de manter o mesmo ritmo, sem acabar com os pneus, alguns mais, outros menos, mas sem conseguir permitir aos pilotos gerenciar melhor os compostos. Isso ocasionou boas arrancadas iniciais em alguns GPs, mas conforme os pneus iam se degradando, os pilotos da Haas despencavam pelas tabelas, quase sempre para a metade de trás da classificação, impedindo-os de obter bons resultados. E a escuderia não conseguiu minimizar este problema durante todo o ano, o que tornou a temporada do time em 2023 muito mais sofrida e problemática do que a do ano anterior. O único ponto positivo é que Nico, além de mostrar ainda ter lenha para queimar na F-1, arrumou muito menos confusão que Mick Schumacher na temporada, o que ajudou o time a pelo menos não desperdiçar os poucos recursos disponíveis tendo que salvar carros acidentados pelo piloto.
Mesmo tendo mais dinheiro que no ano passado, graças a alguns novos patrocinadores, e sofrendo bem menos com problemas de batidas e acidentes, o time não conseguiu fazer um uso satisfatório dos recursos nesta temporada. Muito pelo contrário: uma “redução” na estrutura do time montada junto à mureta dos boxes, feita para destinar mais recursos à área técnica do time para melhorar a competitividade do carro parece ter sido uma medida completamente inócua, dado que o chassi VF-23 continuou devendo a seus pilotos maiores satisfações, já que por mais que eles se esforçassem, o consumo problemático de pneus quase sempre acabou com suas esperanças de resultados minimamente decentes. Como a Haas utilizava o mesmo sistema de suspensão da Ferrari, que também teve este problema, os efeitos acabaram extrapolados no carro do time norte-americano, cuja área técnica não conseguiu lidar com o problema da mesma forma que a escuderia italiana, que ainda padeceu por boa parte da temporada, e só conseguiu atenuar o defeito de forma pontual.
Ao optar por manter seus atuais pilotos, a Haas parece ter consciência de que o problema maior foi unicamente o carro ruim que tiveram nas mãos, o que fez com que o time terminasse em último lugar entre os construtores, e cada vez mais enfático na “defesa” da proibição de um novo time no grid, advogando em causa própria na maior cara dura, já que diante da performance obtida, a escuderia provavelmente terminaria em 11º lugar, e não em 10º, na possibilidade de haver mais um time no grid. A equipe ainda teve a possibilidade de contar com o patrocínio da Alfa Romeo, que estava encerrando sua parceria com a Sauber, mas ao que parece, as negociações não fluíram, de modo que a Haas pode ter perdido uma boa oportunidade de se reforçar para 2024 com mais recursos financeiros, enquanto a Alfa muito provavelmente poderá se sentir aliviada de não entrar em uma possível nova roubada.
Resta agora esperar para ver se a Haas se emenda no próximo ano, e pelo menos produza um carro que permita a seus pilotos mostrarem mais do que são capazes e consigam disputar a sério as corridas, proporcionando melhores resultados, ainda mais diante da expectativa dos rivais diretos terem melhores perspectivas de evolução, se comparados com o time dos Estados Unidos. A escuderia havia ido razoavelmente bem em 2022, se considerarmos que um de seus pilotos trouxe mais problemas que soluções. Mas neste ano, com uma dupla teoricamente mais forte, acabou perdendo a chance de evoluir ao produzir um carro bem pior, o que fez o time regredir. O time disse que não ficou parado, e que fez tudo o que era possível, mas que o desempenho simplesmente não surgiu, mostrando que o conceito abordado no ano passado já tinha atingido seu limite de desenvolvimento, e que era preciso tentar outra abordagem, que não dava para ser feita rapidamente. A última grande atualização do VF-23, feita justamente em Austin, para o GP dos EUA, com uma nova perspectiva para determinadas áreas do bólido, parece ter oferecido uma perspectiva de evolução real, que claro, não dava para ser implantada ainda este ano, diante da falta de tempo hábil, mas é o norte que o time usará para o novo carro, em busca de evoluir sua performance. Veremos se a equipe aprenderá a fazer as coisas, e não cometerá os mesmos erros em 2024...
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