De volta com minhas antigas colunas, trago hoje um texto que foi publicado no dia 31 de março de 2000, e o assunto principal eram alguns “micos” ocorridos durante o Grande Prêmio do Brasil de F-1 daquela temporada, quando ainda era realizado no início da temporada, ao contrário de hoje. Foram algumas situações inusitadas, algumas engraçadas, outras, meio constrangedoras, mas que hoje em dia fazem parte do folclore da história da F-1 ao longo do tempo, ainda que para muitos envolvidos nos casos, não tenha sido tão divertido quanto pareceu. Felizmente, em uma época ainda sem redes sociais, e com uma internet ainda sendo novidade para muitos e acessível também a poucos, não se fez uma festa a respeito destes causos, que hoje em dia daria pano para muitas fofocas adicionais, no bom e no mau sentido. Curtam o texto, e boa leitura a todos...
PAGAÇÃO DE MICO
Se houve uma coisa que aconteceu em abundância no Grande Prêmio do Brasil, realizado no último fim de semana, foi pagação de mico. Fazia tempo que eu não via tanta confusão e situações curiosas em um único GP. Sobrou para todo mundo: pilotos, artistas convidados, público, organizadores, segurança, TV Globo. Ninguém escapou incólume de passar por alguma situação inusitada no autódromo paulistano nos dias de realização do GP.
Um dos maiores micos foi protagonizado pelas placas publicitárias do autódromo, que conseguiram a proeza de cair em 3 ocasiões durante o treino de classificação para o grid de largada. A última placa, diga-se de passagem, matou a tentativa de Rubens Barrichello de conseguir um lugar na primeira fila, quando o piloto brasileiro tinha tudo para baixar bem o seu tempo. O curioso é que a placa publicitária que caiu era justamente da Marlboro, principal patrocinadora da Ferrari. A tal placa ainda deu um tremendo susto em Jean Alesi, que atropelou a pela com sua Prost quando ela caia na pista. A situação da placa começou a gerar algumas desculpas meio esfarrapadas pelo ocorrido por parte da organização da prova, embora alguns fiscais de pista tenham dado respostas muito mais coerentes que não correspondiam ao que se tinha como resposta dos organizadores. No fim, as placas acabaram sendo retiradas por medida de segurança pela organização, mas e como ficou o patrocinador, que pagou tão caro pela sua exposição.
Outro mico foi a equipe de segurança do autódromo na sexta-feira, pouco antes do treino livre. O pessoal teve o maior trabalho para capturar um cachorro que resolveu passear pela pista do autódromo. Houve quem dissesse que o tal cachorro queria seguir os passos da cadela que foi adotada por Michael Schumacher há dois anos. Seja lá como for, depois de dar uma tremenda canseira no pessoal da segurança, o cachorro foi levado pela carrocinha. E pelo que mostraram, o pessoal da segurança precisa praticar mais exercícios, pois o cão estava dando um baile em todo mundo. E, no sábado, apareceu outro cachorro para desafiar o pessoal, o que resultou em outra correria do pessoal para pegar o bicho.
Outro mico no fim de semana foi a transmissão da Globo pouco antes da corrida. Resolveram mostrar o seu camarote VIP do circuito, decorado muito bem com temas italianos e que serviu de curiosidade para ver como era um camarote destinado aos convidados. A Globo realmente soube caprichar no seu camarote. O que fez o gesto perder o embalo foi o locutor Galvão Bueno resolver entrevistas os atores globais e ver o que eles achavam da F-1 e das possibilidades de Rubinho. Foi um desperdício, na minha opinião. Os únicos no local que podiam dar palpites de peso eram Reginaldo Leme, comentarista da Globo há anos, e que tem praticamente 27 anos de estrada no automobilismo, e Pedro Paulo Diniz, piloto da Sauber, que não participou da corrida por questões de segurança. Teria sido melhor mostrar reportagens sobre os bastidores da categoria. Assunto não faltava.
Enquanto isso, nos boxes, outro mico acontecia: a modelo Joana Prado, mais conhecida como Feiticeira, da Bandeirantes, tentava entrar nos boxes. Além de ter perdido o horário de boxes livres, ela não tinha credencial, e quando o segurança consultou o chefe no comunicador para saber se ela poderia entrar, a resposta foi que sem credencial ela não entrava nem no quarto dele. A gafe é que o volume do aparelho era tal que todo mundo ouviu a resposta. Difícil dizer quem ficou mais constrangido: a artista, o segurança, ou o seu chefe, quando descobriu que todo mundo tinha ouvido o que ele disse.
A torcida entrou na pagação de mico durante a corrida. A empolgação era tanta que qualquer ultrapassagem de Michael Schumacher fazia a torcida vibrar. Ao que parece, eles esqueceram que Michael Schumacher também era piloto da Ferrari. A torcida só caiu um pouco na real mais tarde, especialmente depois que Rubinho saiu da corrida com problemas mecânicos.
Outro mico dos grandes foi o novo asfalto de Interlagos. O tão propalado asfalto com polímeros, que prometia deixar o piso de Interlagos ao nível dos melhores não resistiu ao primeiro contato dos pilotos com seus carros. As ondulações, tão criticadas todos os anos pelos pilotos e equipes, ainda estavam lá. É verdade que o asfalto melhorou muito, mas as ondulações continuaram causando muita dor de cabeça aos pilotos. Mas é verdade que estas ondulações diminuíram, embora não tenham desaparecido. O duro é saber que foram gastos praticamente 10 milhões de dólares nesta “brincadeira” a esta altura do campeonato, deixando o circuito com cara de inacabado. Boa parte do novo paddock ainda estava sendo concluída na véspera do GP, e tratores eram os veículos mais vistos no autódromo. Muita coisa ficou inacabada. Os contribuintes certamente vão agradecer mais esta pagação de mico a que foram submetidos pela Prefeitura de São Paulo, como se já não tivesse tanta coisa acontecendo ultimamente. Pitta que o diga.
Outro mico foi ter lugar justamente na equipe mais impecável da F-1: a McLaren. A desclassificação de David Coulthard por irregularidades em seu aileron dianteiro foi injustificável para uma equipe com a tradição de Woking. Imaginem se Coulthard tivesse ganho a corrida e em seguida fosse desclassificado? Cabeças rolariam na McLaren por erro tão crasso. Ron Dennis é perfeccionista e gosta de impor esse estilo à toda à equipe, mas às vezes... De qualquer maneira, a McLaren recorreu da decisão, e vai ter o seu recurso julgado na semana que vem.
Um dos micos mais inusitados foi obra do próprio vencedor da corrida, o alemão Michael Schumacher, que por distração, ou sabe-se lá o quê, praticamente esqueceu o seu troféu de vencedor no autódromo. O troféu foi encontrado alguns dias depois por um dos seguranças do autódromo, sendo em seguida encaminhado para a Itália. Certamente, a vitória do alemão em Interlagos parece não ter sido das mais importantes depois de tal ato.
Houve outros casos menores durante o fim de semana em Interlagos, mas estes foram os mais notórios. Se a corrida se mostrou tumultuada com todos estes acontecimentos, pelo menos ninguém pode afirmar que o evento foi monótono. Houve acontecimentos para todos os gostos, pelo lado bom e pelo lado ruim. Vamos ver o que acontece no ano que vem, se bem que acho meio difícil superar os micos deste ano. Mas, tudo é possível...
Boa estréia dos brasileiros no campeonato da F-CART, em Miami. Apesar de alguns percalços, nossos pilotos mostram que podem disputar as vitórias na categoria e, quem sabe, lutar e conquistar o título da modalidade. Gil de Ferran fez uma boa estréia na Penske e, não fosse a bandeira amarela que arruinou sua última parada de reabastecimento e troca de pneus, poderia ter vencido a corrida facilmente. Para melhorar ainda mais, Gil marcou a primeira pole do ano, a primeira pole da Penske desde o GP de Nazareth há 3 anos atrás, conquistada por Paul Tracy. Tony Kanaan viu suas esperanças de um bom resultado se desvanecerem por causa de uma punição por excesso de velocidade nos boxes, mas mostrou que pode brigar firme pelas vitórias. E coube a Roberto Moreno a tarefa de marcar presença brasileira no pódio. O “Baixo” terminou a prova em segundo lugar, acossando o vencedor Maxxximiliano Papis, que conseguiu sua primeira vitória na F-CART. Christian Fittipaldi também mostrou que tem equipamento para lutar pelo título, precisando apenas ter um pouco mais de sorte. Quanto aos demais brasileiros, é preciso mais sorte e equipamento, à exceção de Hélio Castro Neves, que acabou quebrando logo no início da corrida. Mas é apenas o início do campeonato, e muita água ainda vai rolar.
Piada no paddock de Interlagos: alguém contratou um pai de santo para fazer uma macumba que tirasse os adversários da Ferrari e o alemão Michael Schumacher da parada para termos finalmente uma vitória em casa. Depois do GP, a piada dizia que o bruxo que fez a macumba estaria com a cabeça a prêmio, afinal, o feitiço pegou todo mundo, mas atingiu o piloto errado da Ferrari, já que Rubinho abandonou com pane hidráulica, Hakinen ficou pelo caminho com problemas no motor e David Coulthard acabou desclassificado, enquanto Michael Schumacher venceu sem maiores problemas...
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