Sergio Perez está sentindoa pressão de sua posição de vice-líder no campeonato estar perigando, e foi para o vai ou racha na largada do GP do México, e rachou, infelizmente.
Restando três provas para o campeonato de F-1 de 2023 chegar ao fim, a emoção que resta
na temporada é a disputa pelo vice-campeonato de pilotos, restrita entre o mexicano Sergio Perez, e o inglês Lewis Hamilton. Para muitos, um duelo que nem deveria acontecer, dada a diferença de performance
entre o modelo RB19, dominador da temporada com a equipe Red Bull e o holandês Max Verstappen, e o modelo W14 da equipe Mercedes, um carro “remendado” na atual temporada, tendo sido reconfigurado após
o time alemão abandonar o conceito “zeropod” adotado no início de 2022 e mantido no início desta temporada.
Perez em teoria deveria ser o favorito nesta disputa, mas não é isso que temos visto, e o resultado do GP do México foi um balde de água fria para o mexicano, que justo na prova de seu país, foi com muita sede ao pote na largada, e na primeira curva, errou a tangência e acabou colidindo com a Ferrari de Charles LeClerc, sendo catapultado ao ar, e sofrendo danos comprometedores em seu Red Bull, fazendo Sergio abandonar a corrida ali mesmo, para desalento dos torcedores locais. E como desgraça pouca é bobagem, eis que Lewis Hamilton fez outra grande corrida, chegando novamente em 2º lugar, repetindo o desempenho visto na etapa anterior, nos Estados Unidos, e colocando o mexicano na alça de mira na pontuação do campeonato. Mas, se em Austin Perez teve o alento de ver Hamilton desclassificado por desgaste da prancha de resina do assoalho de seu carro, e com isso viu seu esforço na prova ir pelo ralo, no México, o ganho obtido nos Estados Unidos foi pelo ralo com a estripulia da primeira curva.
Faltando três provas para fechar o campeonato, a diferença de 20 pontos que separa Perez de Hamilton não seria tão comprometedora, não fosse o histórico recente do mexicano na competição, ainda mais por ele dispor do melhor carro do grid. Mas a temporada de Sergio entrou em parafuso após a corrida de Miami, onde até então Perez vinha se mostrando um piloto muito forte, e que se não seria capaz de ameaçar o favoritismo de seu companheiro de equipe Max Verstappen, pelo menos poderia animar a competição com alguma esperança de disputa ocasional, ajudando a tornar a temporada menos previsível, e quem sabe, num lance de sorte, até discutir o título de fato com o piloto holandês. Seria difícil, claro, mas não impossível, e sonhar não custava nada.
Mas aí, no GP de Mônaco, Perez bateu logo no início da classificação da corrida, e ferrou com suas chances na prova do Principado onde em 2022, havia vencido a corrida. Largando lá atrás, numa pista difícil como é Monte Carlo, suas expectativas na corrida já eram, até porque Verstappen, mais uma vez, largava na pole, e como não quer nada, venceu a corrida tranquilamente, e nunca mais o mexicano conseguiria se aproximar de seu companheiro de equipe no restante em diante da temporada. Enquanto o holandês vencia de forma ininterrupta quase todas as provas dali em diante, Sergio começava a oscilar nas provas, e sua presença no pódio passou a ser um pouco menos frequente. O baque psicológico do massacre imposto por Verstappen certamente foi decisivo para o mexicano não se encontrar mais na temporada.
Não foi apenas isso, contudo. A Red Bull, no desenvolvimento do modelo RB19, começou a deixar o carro um pouco mais veloz, porém mais complicado de guiar, e Perez sentiu isso muito mais do que Verstappen, que foi tirando de letra as dificuldades com seu talento superior. E aqui cabe um esclarecimento: não é que o carro foi sendo desenvolvido para o estilo de pilotagem de Verstappen; o que acontece é que o carro ficou um pouco mais nervoso de ser conduzido, embora mais veloz, e um talento diferenciado como Max não encontrou dificuldades para extrair do bólido toda a sua performance, enquanto o mexicano, sem ter a mesma capacidade, começou a se sentir menos confiante para levar o carro ao limite. E acreditem, quando você não consegue ter confiança no bólido que conduz, isso faz diferença. E, tentando tirar essa diferença, pela pressão de ver Verstappen deslanchando no campeonato, vencendo praticamente todas as corridas, as coisas começaram a ficar mais complicadas para “Checo”, que foi ficando cada vez mais pra trás na pontuação.
Isso levou a outro problema, que já virou praxe no time rubrotaurino: a fritura do segundo piloto da escuderia. E não demorou para Helmut Marko, dirigente que coordena o programa de pilotos da marca dos energéticos, começar a arrancar o couro publicamente de Perez, só apimentando ainda mais o ambiente sobre o mexicano, que de certo ponto, nem ia assim tão ruim, não fosse a comparação com a campanha arrasadora de Verstappen, que de Miami até a Itália, venceu praticamente 10 corridas consecutivas, detonando o recorde anterior que era de Sebastian Vettel, com a mesma Red Bull, em 2013, ano de seu último título mundial. Para muitos, o mexicano começou a ser “sabotado” pelo time, o que é um exagero sem nenhuma base real. Verstappen é melhor que Perez, e pronto. Porém, o nível de atenção que um piloto recebe do time também costuma fazer muita diferença, e Perez começou a ser deixado um pouco de lado, exceto pelo lance das cobranças e críticas públicas de Marko, que certamente não foram o melhor dos ambientes para aumentar a confiança e o apoio a Perez, que inclusive pediu para usar a configuração antiga do carro, para poder render mais, pedido que foi negado pela escuderia, a meu ver, totalmente desnecessário, dado o nível de domínio que a Red Bull estava impondo este ano. Desse modo, uma superioridade natural que seria esperada por parte do holandês sobre o mexicano acabou sendo até muito maior do que poderia ser de fato. E que foi só aumentando a olhos vistos.
Lewis Hamilton vem pilotando forte nas últimas corridas e se aproximando de Perez na classificação. O mexicano que abra o olho.
Apesar dos pódios do 2º lugar na Bélgica e na Itália, Perez teve erros no Japão
e desempenhos pífios em Cingapura e no Qatar, não demorando para surgirem as fofocas de um ultimato da equipe: se perdesse o vice-campeonato, também perderia o lugar na escuderia, tendo de arrumar um novo
rumo na carreira para 2024, mesmo com contrato válido até o fim do próximo ano. Com a conquista do tricampeonato por parte de Verstappen, nada mais lógico do que centrar apoio no mexicano para ele
render tudo o que pode na conquista do vice, certo? Deveria, mas o que se viu foi mais pressão por resultados, e não apoio por parte do time. Helmut Marko chegou a insinuar que por ser mexicano, Perez era um
piloto inferior, e a declaração pegou muito mal, sendo necessário o dirigente se desculpar, após a ira de críticas dos fãs mexicanos. Resumindo, o time também teve parcela decisiva
de culpa pela queda de rendimento do piloto mexicano, mas nem tudo fica na conta da direção da escuderia. Os erros de Sergio, em especial o ocorrido na primeira curva da etapa do México, mostraram que
o piloto precisa lidar melhor com a pressão, e controlar o nervosismo. Chistian Horner pareceu colocar panos quentes na situação, enfatizando o apoio ao piloto, e reafirmando que seu contrato com o time
em 2024 segue firme. Será mesmo? Pelo sim, pelo não, a Red Bull se previne, e a excelente prova de Daniel Ricciardo com a Alpha Tauri, com o 7º lugar conquistado na Cidade do México, mostra que Perez
na melhor das hipóteses fica só até o fim do ano que vem como titular, com o australiano, caso repita a performance do último domingo, se credenciando a voltar para o time principal com muitos méritos.
Mas, contratos podem ser relativos, e não seria a primeira vez que a Red Bull dá o dito pelo não dito, quando o assunto é defenestrar seus pilotos, portanto, até começar a temporada
2024, nada é seguro com relação à permanência de Perez no time dos energéticos.
Enquanto isso, Lewis Hamilton veio crescendo na temporada. Apesar do comportamento irregular do modelo W14, que apesar de ter sido reconfigurado para um projeto mais convencional, ainda carrega muitos defeitos do conceito do “zeropod”, e se não evoluiu o suficiente para desafiar Verstappen, ao menos deu ao piloto oportunidade de se colocar na luta pelo vice-campeonato, muito mais graças à instável campanha de Perez nesta segunda metade do campeonato. E olhe que a disputa atrás da dupla da Red Bull na temporada foi cheia de altos e baixos para vários times e pilotos, entrando nessa cumbuca nada menos que Mercedes, Aston Martin, Ferrari, e mais recentemente, a McLaren. Cada um destes times em determinado momento foi a segunda força do grid, em que pese o fato de não terem conseguido questionar a hegemonia do time dos energéticos e do piloto holandês. Mas a Aston Martin empacou, e está caindo de produção nas últimas etapas, perdendo o rumo do desenvolvimento de seu carro. A Ferrari ora anda muito, ora anda pouco, e ainda se perde nas estratégias para complicar a situação, quando poderia lutar com mais afinco pelo vice-campeonato de construtores com a rival Mercedes. E a McLaren, devido a uma primeira metade de campeonato completamente desastrosa, tem muito chão para recuperar para entrar nessa briga, o que não vai ocorrer por estarmos na reta final da temporada.
E a Mercedes, apesar de tudo, alcançou a vice-liderança graças aos esforços de sua dupla de pilotos, talvez a mais parelha do grid, seguida pela McLaren. Ainda que George Russell esteja devendo nesta temporada o mesmo brilhantismo que apresentou em 2022, ele costuma andar forte, e já chegou a ter algumas divididas com Hamilton na pista que deixou o pessoal no box meio ressabiado. E Hamilton mostra que sua decadência ainda é exagerada, como apregoam milhares de detratores do heptacampeão internet afora, chegando a trata-lo como “farsante” no que tange a grande piloto, argumentando que seus títulos foram mérito apenas do carro superior que pilotou na era hegemônica da Mercedes, e que agora, sem aquele supercarro, é alguém incapaz de vencer corridas. Menos idiotice, pessoal, menos...
Não que Lewis esteja fazendo uma supertemporada com o que carro que tem, ele mesmo reconhece que este não está sendo um bom ano, e que ele próprio ainda está devendo, mas que ele está na briga pelo vice-campeonato, ainda que mais pela campanha instável de Perez, isso ele está, e no ritmo das últimas etapas, pode até terminar à frente do mexicano, se este não se aprumar como deve. Temos 3 provas para fechar o ano, e este fim de semana, aqui em Interlagos, ainda temos a última prova Sprint do ano. Hamilton terminou as duas últimas corridas em 2º lugar, ainda que tenha sido desclassificado em Austin, e vem andando forte neste fim de temporada. Não convém subestimar sua capacidade, até porque ele vem tendo um ano mais positivo que seu companheiro de equipe, que tem enfrentado mais problemas com o modelo W14 do que o heptacampeão. Mesmo assim, seria um grande feito para Hamilton conquistar o vice-campeonato, mesmo com todos os problemas de competitividade de seu carro, que parece ter melhorado um pouco após a introdução de um novo assoalho nos Estados Unidos, já visando o carro de 2024, mas que ainda desafia os pilotos e engenheiros da Mercedes na busca pelo seu melhor ajuste.
A Ferrari briga pelo vice com a Mercedes (acima), enquanto a Aston Martin (abaixo) perde terreno e já foi superada pela McLaren no campeonato de construtores.
Christian Horner, diretor da Red Bull, ameniza o tom da disputa afirmando o óbvio, de que a aproximação de Hamilton é mais pelos problemas que Perez tem enfrentado do que um mérito mais próprio do heptacampeão, apesar de admitir que Lewis vem pilotando muito forte nas últimas corridas. Mas a teoria, pelo menos no que diz respeito ao mexicano, tem sido inversa, quando a realidade mostra uma potencial disputa onde Sergio é o azarão e o inglês o favorito na briga, pelo retrospecto recente, e que uma virada pode ocorrer já neste final de semana, a depender dos acontecimentos. Será? Vinte pontos ainda é muita coisa, e uma troca de posições, mesmo com outro infortúnio de Sergio, poderia vir mais na prova seguinte, em Las Vegas. Ou não, se Perez voltar a mostrar seu bom retrospecto em provas de rua, e despachar a ameaça do piloto da Mercedes de vez. Mas nada está garantido, e tudo pode acontecer.
E não podemos esquecer também que a disputa pelo vice também ocorre no Mundial de Construtores, e envolve duas equipes: Mercedes e Ferrari, com o time de Maranello tentando descontar 22 pontos de desvantagem para o time alemão, numa briga que também promete ser acirrada, já que os dois carros tem tido oscilações de performance, ainda que a Ferrari, que teve o mérito de vencer uma prova em um ano de domínio implacável da Red Bull e de Verstappen, pareça tropeçar mais em si mesma do que na pista, complicando os esforços de sua dupla de pilotos na briga com os rivais de Brackley. Aqui em Interlagos, no ano passado, a Mercedes conseguiu seu melhor fim de semana no ano, com vitórias tanto na prova Sprint quanto na corrida principal, com George Russell. Será que eles repetem a performance este ano? Até meio da temporada, a Aston Martin seria forte candidata na parada, mas o time esmeralda despencou de rendimento, fora o fato de Fernando Alonso não ter tido em Lance Stroll um companheiro forte para trazer pontos ao time, muito pelo contrário. E a McLaren só chegaria nessa disputa se Mercedes e Ferrari ficarem zeradas completamente para poder descontar a diferença ainda existente, apesar de ainda termos muitos pontos em jogo na teoria.
Pode parecer pouco ter de realçar uma briga pelo segundo lugar na temporada, mas com os títulos de pilotos e construtores já fechados, é o que nos resta de mais relevante. A menos que alguém ache que a disputa para ver quem ficará na lanterna da tabela seja mais empolgante de acompanhar, entre Haas, Williams, Alfa Romeo, e Alpha Tauri. Será esta disputa é melhor? Façam suas escolhas, e que vença o melhor, seja de qual duelo for...
Nico Hulkenberg atingiu a marca de 200 GPs disputados no Grande Prêmio do México. O piloto alemão, porém, é conhecido mais por um recorde incômodo de nunca ter conseguido um pódio sequer na categoria máxima do automobilismo até hoje, e na atual temporada, seu grande mérito foi ter retornado ao grid como piloto titular pela equipe Haas, escuderia que está longe de oferecer a Nico a chance de debutar finalmente no TOP-3 de algum GP. Hulkenberg estreou na temporada de 2010, como companheiro de Rubens Barrichello na equipe Williams. Na sua temporada de estréia, ele conseguiu sua primeira e única pole-position, aqui mesmo em Interlagos, em um treino caótico com chuva, mas na corrida, não conseguiu superar os rivais mais competitivos, terminando em 8º lugar. Ele perdeu seu lugar no time inglês para 2011, que preferiu os petrodólares de Pastor Maldonado, mas voltou à F-1 em 2012, como piloto titular da Force Índia. Em 2013 defendeu a Sauber, e entre 2014 e 2016 voltou à Force Índia, de onde saiu em 2017 para a equipe Renault, onde ficou até 2019, quando novamente ficou a pé na F-1. Entre 2020 e 2022, Nico acabou disputando alguns GPs substituindo pilotos com diagnóstico de Covid-19 nas equipes Racing Point e Aston Martin, novos nomes da antiga Force Índia após a escuderia ter sido adquirida por Lawrence Stroll. Na temporada atual, Nico tem se notabilizado por bons treinos de classificação, mas seu melhor resultado no ano foi um 7º lugar na Austrália. O piloto também acumula duas voltas mais rápidas na carreira e sua melhor classificação em uma temporada foi em 2018, quando terminou o ano em 7º lugar, com 69 pontos.
Confiram os horários para o Grande Prêmio do Brasil neste fim de semana: hoje, sexta-feira, temos o primeiro e único treino livre do fim de semana a partir das 11:30 Hrs. à tarde, às 15:00 Hrs., temos o treino de classificação para a corrida de domingo. Amanhã, sábado, teremos a classificação da prova Sprint às 11:00 Hrs., com a prova curta tendo sua largada às 15:30 Hrs. E a corrida no domingo, a partir das 14:00 Hrs.
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