Francesco Bagnaia e Jorge Martin decidem o título da MotoGP 2023 neste final de semana no GP da Comunidade Valenciana.
A MotoGP chega ao
encerramento da temporada de 2023 com mais uma decisão de título, a exemplo do
que ocorreu no ano passado. A diferença desta vez, contudo, é que a Ducati será
a moto campeã, já que os postulantes ao título competem com as motos italianas
de Borgo Panigale, enquanto em 2022 a decisão foi entre um piloto da Ducati e
outro da Yamaha, com vitória para a marca italiana, que depois de um longo
jejum, voltava a conquistar o título de pilotos na classe rainha do
motociclismo.
Francesco “Pecco” Bagnaia, da equipe oficial da Ducati, vem para lutar pelo bicampeonato, contra seu desafiante, Jorge Martin, do time satélite Pramac, que assombrou a temporada nas últimas corridas, chegando até a colocar o favoritismo do atual campeão em risco, e podendo ser o primeiro piloto de um time independente a conquistar o título desde o título de Valentino Rossi em 2001. Mas Martin sofreu um belo revés na corrida passada, em Losail, no Qatar, ao terminar apenas em 10º lugar, enquanto Bagnaia lutou pela vitória, perdendo o triunfo para um endiabrado Fabio Di Giannantonio, da Gresini, que sem contrato para o próximo ano, veio com tudo para cima do campeão e averbou sua primeira vitória na competição.
Com isso, Bagnaia chega ao palco da decisão, o Circuito Ricardo Tormo, em Valência, com uma vantagem cômoda de 21 pontos para Jorge Martin, praticamente colocando uma das mãos na taça, podendo controlar a performance no fim de semana para garantir a conquista, evitando correr maiores riscos. Foi com esse tipo de pensamento que “Pecco” garantiu o título em 2022, quando também chegou a Valência com uma boa vantagem, de 23 pontos sobre o desafiante Fabio Quartararo, da Yamaha. O francês até que tentou reverter a situação, mas não conseguiu, e Bagnaia se tornou o segundo piloto campeão pela Ducati, após Casey Stoner.
Mas, não foi sem sustos. Bagnaia começou marcando Quartararo na corrida, e em determinado momento ambos acabaram se tocando, com a moto do italiano perdendo uma aleta, e perdendo parte de sua performance, o que fez com que “Pecco” terminasse a prova apenas em 9º lugar. Como Quartararo precisava vencer, e ainda torcer por um abandono do piloto da Ducati, e acabou terminando apenas em 4º lugar, o resultado do piloto da Yamaha por si só já dava a conquista do título a Bagnaia, que mesmo assim passou um certo momento de aperto quando houve o toque com o rival. E isso serve de lição para a decisão deste ano, onde mesmo com uma vantagem similar, ainda é muito cedo para comemorar o bicampeonato.
Primeiro porque este ano tem uma diferença decisiva: a corrida Sprint, que distribui mais 12 pontos ao vencedor, fazendo com que o fim de semana ainda apresente 37 pontos em disputa. Martin tem levado vantagem nas provas curtas durante a temporada, e no Qatar, venceu esta prova, reduzindo a vantagem de “Pecco” para apenas 7 pontos, com o italiano terminando apenas em 5º a corrida de sábado. Com uma postura bem mais agressiva, ninguém duvida que Martin deve vir com tudo para a prova de sábado, tentando impedir que a definição do título aconteça já na prova curta, onde basta Bagnaia conseguir marcar 4 pontos a mais que o rival para garantir a taça, algo que o piloto da Pramac vai tentar impedir a qualquer custo.
Tendo em vista o que aconteceu em 2022, a melhor estratégia de “Pecco” é também ir para o ataque, mas com cuidado para não exagerar além da conta, pois uma queda pode colocar tudo a perder, e jogar o título nas mãos de Martin. E, como vimos nas últimas etapas, tudo pode acontecer, portanto, cautela é algo necessário. Jorge deve ir para o tudo ou nada, de modo que duelar com o rival pode ser arriscado para Bagnaia, que por sua vez tem de fazer sua corrida, e se garantir contra outros pilotos que possam se intrometer na briga na pista. Mas tudo dependerá dos treinos e da classificação para o fim de semana, onde as posições de largada podem ser cruciais para o desempenho nas corridas do fim de semana. Afinal, temos vários outros pilotos no grid, e todos eles, disputas de campeonato à parte, vão querer dar o melhor de si para terminarem o ano com o astral em alta, e podem acabar se intrometendo nessa briga, da qual nada tem a ver, mas que nem por isso vão deixar de fazer suas performances visando as melhores colocações possíveis. Isso pode complicar os planos tanto de Bagnaia quanto de Martin, dependendo das circunstâncias do momento da corrida. Pelo sim, pelo não, a melhor defesa certamente deve ser o ataque, com algum grau de cautela diante da posição dos adversários na pista.
Se largar na frente, e demonstrar boa performance, Bagnaia certamente tentará a vitória, até para deixar claro que ele é o campeão mundial, não por acaso, e está em busca do bi, lembrando a escalada realizada em 2022 quando demoliu uma desvantagem de quase 100 pontos acumulada por Fabio Quartararo para superar o rival da Yamaha na reta final. Nas últimas etapas, o italiano ficou meio que ofuscado pela ascenção meteórica de Martin, que veio comendo a vantagem conquistada pelo campeão vigente com aparente facilidade, especialmente depois do acidente sofrido pelo italiano em Barcelona, quando acabou atropelado por um adversário ao cair da moto, o que prejudicou sua performance nas etapas seguintes. De um instante para o outro, Martin veio numa performance quase imparável, a exemplo do que Bagnaia tinha feito no ano passado, que só não foi mais fulminante por uma queda na corrida principal na Indonésia, quando liderava, e por uma aposta errada de pneus na Austrália, quando perdeu outra vitória na volta final da corrida principal. Bagnaia, aliás, já declarou estar bem ciente disso. O campeão afirmou que ele até poderá administrar a situação, mas que provavelmente a melhor opção será também partir para o ataque, a fim de cortar as expectativas de Martin. De qualquer modo, o momento da corrida e a condição da moto irá definir qual atitude se tomará. A conquistar o título, Bagnaia se tornará o primeiro piloto Ducati a ser bem-sucedido na defesa do título, já que Casey Stoner fracassou quando precisou defender sua conquista de 2007. Mas nem por isso pode menosprezar a ameaça do piloto da Pramac, que também busca sua consagração máxima na competição, o que seria considerado até um triunfo ainda maior, diante de derrotar o campeão da própria equipe oficial de fábrica da Ducati.
Mas a imagem de Martin sofreu um abalo após a corrida de domingo passado em Loasil, ao terminar em 10º, e vendo sua campanha pelo título sofrer um revés potencialmente fatal. Acusando problemas nos pneus de sua moto, o espanhol chegou a fazer acusações de que foi “sabotado”, e que a decisão do título estava sendo decidida e manipulada pela fornecedora de pneus. Isso pegou mal. A Michelin, fornecedora oficial dos compostos para a categoria, até prometeu uma investigação sobre o estado dos compostos usados pelo espanhol, mas os pneus são escolhidos aleatoriamente, sem distinção, e todos sabem que pode haver algum composto que não renda o esperado, ou que a moto, por alguma razão, não se dê bem com o pneu, por mais que o ajuste esteja correto. Já vimos isso na F-1, onde o andamento dos pilotos pode sofrer alterações dependendo do composto utilizado, mesmo quando o time fez o acerto correto para o carro na utilização daquele composto. É um pouco diferente nas corridas de motos, onde não há pit stop para troca de pneus, mas o raciocínio também vale. Curiosamente, na corrida Sprint de Losail, “Pecco” Bagnaia também teve alguns problemas com o rendimento de um de seus pneus, o que teria ajudado a terminar a corrida curta apenas em 5º lugar, algo que não se repetiu no domingo, quando Martin é que teve problema com seu pneu, onde o espanhol não conseguiu fazer uma boa largada, e foi perdendo desempenho conforme a corrida avançava.
Gigi Dall’Igna, chefe de equipe da Ducati oficial, criticou a forma como Martin reclamou da situação, alegando que tal acontecimento não é algo anormal, podendo ser comparado a uma falha mecânica, que sempre pode ocorrer na competição, e que por mais que se tenha um controle de qualidade, nada é perfeito. Ele ainda lembrou que “Pecco” também relatou que teve problema com seu pneu na prova Sprint, mas não saiu alegando teorias conspiratórias como fez o piloto da Pramac, que estaria com isso tentando achar uma justificativa para sua perda do título da temporada. Gigi parabenizou a Pramac pela conquista do título de equipes da temporada, e avisou que um campeonato é feito tanto de acertos quando de erros, e claro, de sorte e azar, além da competência, e que é nos pontos negativos que sempre temos que nos focar e melhorar, não procurar culpados externos pelos acontecimentos ruins dependendo do tipo de revés sofrido. Essa reclamação de Martin pode ter complicado as chances de uma potencial transferência para o time de fábrica da Ducati, que chegou a ser especulada recentemente, diante da performance impressionante do espanhol com a moto da Pramac.
O duelo se acirrou entre Bagnaia e Martin nas últimas etapas do campeonato, incendiando a disputa pelo título da temporada, que mais uma vez será decidida na bela pista de Valência (abaixo).
Com Bagnaia garantido, falou-se até da possibilidade da Ducati trocar Enea Bastianini, que teve uma temporada abaixo do esperado devido a quedas e lesões, pelo espanhol, que viria para o time de fábrica, enquanto Enea seria “rebaixado” para a Pramac. A direção da Ducati afirmou que o contrato dos pilotos é primordialmente com ela, de modo que a marca poderia “remanejar” os pilotos conforme sua conveniência, o que facilitaria a troca dos dois pilotos. Nem é preciso dizer que Bagnaia saiu em defesa de Bastianini, justificando os acidentes sofridos como principais responsáveis pela sua temporada abaixo do esperado, e que ele merecia nova chance em 2024, quando ainda tem contrato com o time oficial da marca italiana. Fora isso, claramente há o componente do ambiente interno da escuderia de fábrica, que ficaria bem tumultuado com a chegada do espanhol, que já andou se achando demais em vários momentos do ano, e com sua ascenção na luta pelo título, teria ficado ainda mais prepotente e intratável. Não é demais lembrar que Martin anda magoado por não ter sido promovido ao time oficial para esta temporada, preterido por Bastianini, uma escolha justificável considerando-se a temporada excelente do italiano com a Gresini em 2022. Ainda que por ausência de uma competição interna no time devido aos problemas na temporada, é verdade que Bagnaia e Bastianini tiveram um comportamento pacífico e sem problemas nos boxes da Ducati este ano, precisando ver como andaria a relação de ambos se estivessem brigando pelo título. Uma tranquilidade que não pode ser esquecida, lembrando que Martin já chegaria disposto a questionar o status quo para se colocar na preferência do time, claramente entrando em colisão direta com Bagnaia, e provavelmente, incendiando o ambiente da escuderia. Um risco que a Ducati precisa analisar se vale a pena passar.
Não que não deva haver competição entre os pilotos, mas é preciso ver como se dará esse duelo dentro da escuderia, que pode tanto ser pacífico e construtivo, como raivoso e turbulento. E pela atitude do espanhol, tudo indica que ele iria querer chegar chegando no sentido ruim do termo, colocando a paz interna em risco. Por mais que sua performance seja um belo recomendatório, isso por si só não é tudo. Se sentirem que ele pode mais causar do que reforçar o time, melhor deixar que ele faça suas estripulias na Pramac do que no time de fábrica, que já teve percalços recentes com Jorge Lorenzo, quando o tricampeão defendeu o time de Bolonha e não conseguiu se encaixar como esperava, saindo de forma tempestuosa e brigado com a escuderia, que na sua opinião não lhe teria tratado como deveria, pela sua condição de piloto campeão. Deitando e rolando na competição, a Ducati até teria cacife para apostar em se reforçar com Martin, mas vai querer arriscar e complicar algo que não precisa?
Tirando a decisão do título, Marco Bezzecchi e Brad Binder estão consolidados nas suas respectivas colocações no campeonato, na 3ª e 4ª colocações. Já Johaan Zarco, Aleix Spargaró, Luca Marino e Maverick Viñalez, por sua vez, disputam quem terminará na 5ª colocação da temporada. Vai ter muita disputa na pista, com todo mundo querendo mostrar o que vale, já pensando em 2024. A corrida Sprint e a corrida principal terão largada às 11:00 Hrs., pelo horário de Brasília, com transmissão ao vivo do serviço Star+ de streaming, e pela ESPN4 na TV por assinatura. Hora de preparar sua torcida para a despedida da temporada 2023 da classe rainha do motociclismo. E que vença o melhor!
E a Fórmula 1 inicia hoje os treinos oficiais para a última prova da temporada de 2023, em Yas Marina, Abu Dhabi. Com as primeiras 3 colocações do campeonato de pilotos decididas, a briga no circuito árabe terá como maior disputa a colocação do vice-campeonato de construrores entre a Ferrari e a Mercedes. O time italiano saiu-se melhor na etapa de Las Vegas, de modo que agora está apenas 4 pontos atrás da escuderia alemã, e tenta garantir a 2ª colocação no campeonato em um ano onde as coisas deram mais errado do que certas. E logo atrás, temos outra disputa de equipes, entre McLaren e Aston Martin, com o time de Woking ostentando uma vantagem de 11 pontos para o time sediado em Silverstone. Apesar do bom momento vivido pelo time papaia, a escuderia esmeralda parece ter recuperado um pouco de performance na última corrida, em que pese o desfecho ser mais favorável à escuderia fundada por Bruce McLaren do que à rival Aston Martin, que já fez uma temporada bem acima das expectativas. Enquanto isso, entre os pilotos, temos a disputa entre Carlos Sainz, Fernando Alonso, Lando Norris, e até Charles LeClerc, separados por 12 pontos na tabela, em disputa direta pela 4ª colocação no campeonato de pilotos. Pode não ser muito, mas é o que sobrou na temporada atual. A corrida terá largada neste domingo às 10:00 Hrs., pelo horário de Brasília, com transmissão ao vivo pela TV Bandeirantes.
Presença brasileira na pista em Abu Dhabi na F-1. Felipe Drugovich participará do primeiro treino livre com a Aston Martin. E Pietro Fittipaldi participará do teste de pós-temporada que a categoria realizará dia 28, terça-feira, no encerramento das atividades da F-1 em 2023, ao volante da Haas, provavelmente sua última atividade de pista com a escuderia, já que no próximo ano estará defendendo a equipe Rahal/Letterman/Lanigan na Indycar.
Mesmo tendo perdido a chance de vencer, e de fazer uma dobradinha com Max Verstappen na prova de Las Vegas, Sergio Perez garantiu o vice-campeonato da temporada 2023, no melhor resultado da carreira do mexicano até hoje na F-1, e certamente garantindo sua manutenção no time principal da Red Bull para 2024, o que se especulou não ser garantido caso o piloto não conseguisse garantir a 2ª colocação no campeonato. Mesmo assim, não se pode deixar de criticar a temporada do piloto, que começou o ano muito bem, mas a exemplo de 2022, desandou a meio do campeonato, permitindo a Verstappen disparar na liderança, sem ao menos tentar oferecer alguma esperança de disputar o título com o holandês, mesmo que tímida. Se a concorrência se aprumar no próximo ano, Perez terá de fazer muito mais do que demonstrou esse ano se quiser manter seu lugar na escuderia, já que apenas a ruindade das temporadas proporcionadas pelos rivais mais próximos como Mercedes e Ferrari ofereceu a Sergio ficar com o vice-campeonato com tamanha diferença de resultados em comparação com seu colega de time.
O terceiro lugar pode não ter sido o melhor que Perez poderia ter conquistado em Las Vegas, mas serviu para ele consolidar o vice-campeonato na temporada deste ano da F-1. |
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