sexta-feira, 28 de outubro de 2022

O CRIME COMPENSA?

Red Bull e FIA formalizaram acordo, e time terá punições leves por descumprimento do teto de gastos na temporada de 2021.

            Acusada de ter extrapolado o teto orçamentário da F-1 na temporada do ano passado, a Red Bull aceitou um acordo com a FIA, para receber uma punição “menor”, e com isso, evitar um confronto mais desgastante com a entidade que comanda o automobilismo mundial. Basicamente, a equipe rubrotaurina excedeu o limite de gastos para a temporada passada em cerca de US$ 2,09 milhões do teto de US$ 145 milhões acordado para o campeonato de 2021. A punição foi uma multa de US$ 7 milhões, além da perda de 10% do tempo de testes aerodinâmicos que a escuderia poderá usar em 2023. E ficou nisso. Foi muito? Ou foi pouco? Depende de com quem você fala.

            Para Toto Wolf, da Mercedes, ficou barato, e terá pouco impacto na escuderia dos energéticos. Já para Christian Horner, da Red Bull, a punição foi maior do que deveria. Mas, gostem ou não, ficou nisso, e não se deve falar mais a respeito. Para uns, a sensação, tão comum a nós brasileiros, de que o crime compensa. Para outros, mais uma confusão da FIA em conseguir aplicar de forma correta e transparente seus próprios regulamentos, colaborando para uma crescente falta de credibilidade da entidade que comanda o automobilismo mundial, que vem tropeçando em vários aspectos das regras durante todo o ano, mostrando que as trapalhadas vistas em 2021 sob a batuta de Michael Masi só complicou este ano, ao invés de ficar mais simples.

            Desde que surgiram as denúncias de que o time rubrotaurino teria extrapolado o teto de gastos implantado pela FIA justamente em 2021, como forma de controlar os gastos e tornar a F-1 mais sustentável financeiramente, os demais times se manifestaram publicamente a favor de uma punição exemplar para a Red Bull, que ficou bastante irritada de ver dados supostamente sigilosos escaparem e dar base a “acusações” que na opinião deles seriam exageradas e totalmente infundadas, além de não ter sido o único time a cometer tal falha, o que também teria sido o caso da Aston Martin.

            O time inglês, sediado em Silverstone, levou uma multa de US$ 450 mil, e sua infração foi muito menor do que a da Red Bull. Erros de procedimento na contabilidade teriam feito a escuderia não passar o teto do limite de gastos inadvertidamente, mas se atrapalhado com a prestação de contas, cometendo erros de alocação dos recursos utilizados, erro que teria sido relativizado, uma vez que, sendo o primeiro ano do teto de gastos, a equipe apenas se atrapalhou com a documentação. Por isso, uma punição menor, o que não foi o caso da Red Bull, que realmente ultrapassou o limite permitido dos gastos.

            Para sua sorte, contudo, o limite ultrapassado foi menor do que 5%, onde o regulamento prevê penas menores para a infração das regras. Daí, também, a punição ter ficado apenas na multa, e na perda de tempo disponível para uso dos testes aerodinâmicos no próximo ano. O regulamento pode ter sido cumprido, ainda que a torto e a direito, e por isso mesmo, este assunto ainda vai render muita discussão, talvez por muito, muito tempo.

            Entre os fãs, muitos acreditam que o teto de gastos caiu em descrédito, pois foi infringido, e o castigo imposto ao time não será relevante, já que a multa foi pequena, e mesmo o corte do uso dos recursos dos testes aerodinâmicos poderá não ter efeito prático. Para outros, o teto é uma imbecilidade que foi implantada de forma totalmente destinada a “podar” e “nivelar” a F-1 por baixo, alegando que a categoria máxima do automobilismo é para quem pode competir nela, e não para quem quer apenas.

            Bom, o teto de gastos era extremamente necessário, pois os custos de competição estavam altos demais, de forma que poucos times tinham condições de fechar seus balanços. Com os recursos escassos decorrente dos efeitos da pandemia da Covid-19, a FIA e a Liberty Media enfim caíram na real a respeito de se impor um limite de gastos para a competição, uma idéia que já não era nova, mas que nunca havia sido implantada, devido à discordância dos times, especialmente os de fábricas, que queriam ter sua liberdade para gastar o quanto quisessem. Mas, até mesmo essas escuderias mais ricas acabaram impactadas pelos recursos menores como consequência dos problemas econômicos desencadeados pela pandemia, o que exigiu que eles mudassem suas posturas. O teto de gastos, por mais paradoxal que seja, também não vai igualar os times da F-1, mas ajuda os times menos ricos a terem melhores condições econômicas de competição. Os times mais bem estruturados possuem equipes de trabalho mais competentes e criativas, e podem gerenciar melhor seus recursos, continuando a se sobressair sobre os outros times, que dependerão apenas de si mesmos para obterem o mesmo sucesso, se tiverem recursos em quantia similar. Com custos de competição menores, as chances também de se obterem patrocinadores aumentam, já que com os gastos sem controle, poucas empresas teriam condições, ou motivação, para gastar tanto em patrocínio, o que poderia levar a uma fuga de investidores para outros esportes, menos custosos, e mais viáveis.

            Mas, na aplicação da regra, vêm a cobrança de quem seguiu o valor do teto, contra quem não o fez. Daí, a gritaria contra a Red Bull, que por acaso, foi a campeã de pilotos de 2021, com Max Verstappen, e impossível não começar a pensar se o valor gasto a mais, por menor que seja, não tenha representado uma vantagem indevida frente aos concorrentes que se mantiveram dentro do limite acordado. E aí, começam as especulações de todo o tipo, e também referente às punições que seriam consideradas adequadas a quem burlou o teto de gastos. Castigos como perda de pontos, e até mesmo do título de pilotos conquistado em 2021 foram sugeridas, alegando que a Red Bull correu com um carro desenvolvido “além da conta”, entre outras sugestões. Bom, por mais polêmica que tenha sido a decisão do ano passado, não se conserta um erro com outro erro. Tirar o título de Verstappen seria um golpe duríssimo, mas não ajudaria a evitar a imagem ruim que a FIA e a F-1 teriam de assumir, pela incompetência em fiscalizar uma regra.

Zak Brown, da McLaren, foi um a pedir punição severa à Red Bull pelo descumprimento do teto de gastos.

            Por mais radical que fosse a perda do título, tem a justificativa de que, bem utilizados, mesmo a quantia de US$ 1 milhão poderia gerar um ganho razoável no carro, talvez de até 0,5s por volta, se bem aplicado, o que seria uma vantagem injusta. Por outro lado, mudanças de resultados de um campeonato nunca pegam bem, e até mesmo Lewis Hamilton declarou que não teria valor receber um título dessa forma, preferindo deixar as coisas como estão, a ganhar no tapetão. Por outro lado, tem de haver a necessidade de uma punição, pois do contrário, a regra se torna inócua, e punições “cosméticas” reforçam a impressão de que a infração da norma compensa, pois você teve um ganho que não vai ser retirado de você. Não por acaso, os outros times já fariam ameaças veladas de descumprimento do teto em 2023, se o castigo for apenas uma multa, e a perda de parte do tempo de direito de testes aerodinâmicos. Se é necessário haver um exemplo, para que ninguém resolva bancar o espertinho, é preciso ser razoável com a aplicação de um castigo.

            Se a punição em dinheiro pouco representa para um time do quilate da Red Bull, o tempo de perda de testes aerodinâmicos que a escuderia poderia realizar em 2023 pode ter consequências. Por tabela, como atual campeã, a Red Bull já tem um tempo menor que as outras escuderias, numa forma de se tentar equilibrar as performances. Agora, esse tempo terá decréscimo em 10%, a ser cumprido na próxima temporada, e se isso vai fazer falta ou não, dependerá unicamente dos concorrentes. Neste ano, a Red Bull deslanchou no campeonato, de modo que sua base para o carro do próximo ano deve ser muito superior ao dos rivais mais próximo, como Ferrari e Mercedes, de modo que o time dos energéticos ainda deve ter boa vantagem no próximo ano. Se eles começarem o ano com sobras, o tempo a menos que poderão dispender no desenvolvimento aerodinâmico pode não fazer tanta falta assim. Porém, se Ferrari e Mercedes também começarem o ano muito competitivos, e em pé de igualdade, capazes de rivalizar com o time dos energéticos, aí a perda de tempo poderá se fazer sentir, já que a equipe de Milton Keynes terá menos horas disponíveis para seus estudos e testes de aerodinâmica.

Dependendo da força da concorrência em 2023, a Red Bull pode sentir a falta das horas perdidas na quota de estudos aerodinâmicos...

            A Red Bull esperneou quanto à possibilidade de ser punida por extrapolar o teto de gastos, e diante das especulações, e também de pressões dos rivais, para sofrer uma punição exemplar, até mesmo com perda de título, claro que tratou de alegar que os valores que possivelmente teriam ultrapassado o teto de gastos não foram utilizados em desenvolvimento técnico do carro, mas em áreas operacionais de pessoal da equipe, entre outras justificativas de menor gravidade. No final, podemos dizer que saiu barato para a Red Bull, e para a Aston Martin, as punições, e não se falará mais oficialmente sofre isso. Mas claro que as fofocas de bastidores, e ressentimentos ficarão implícitos entre os rivais, que poderão ser tentados a cometer “deslizes” similares, com a perspectiva de castigos brandos. Por isso mesmo, a FIA deveria reformular o regulamento, e torna-lo mais claro e objetivo para este tipo de caso, que embora tenha tido uma solução condizente com as normais atuais, só o fato de gerar tantas especulações e discussões, já indica que foram mal concebidas e pouco claras, permitindo interpretações que não deveriam ocorrer, ficando o mal estar no ambiente, e a sensação de impunidade por parte da FIA para com os atuais campeões do mundo, ainda mais para um time que acabou de superar a Mercedes, que foi hegemônica na maior parte da última década, e acabou finalmente derrotada, ainda que por vias tortas, na decisão do título de pilotos de 2021.

            E olhe que na última década não faltaram alegações de que a Mercedes tivesse cometido irregularidades técnicas nos campeonatos em que dominou a competição, muitas vezes motivadas pela inveja, e falta de capacidade de desafiar na pista o time alemão, algo que nunca foi constatado e provado oficialmente. Em 2019, a Ferrari teria sido pega no flagra com um motor irregular e, por um acordo velado com a FIA, nunca se soube qual o tamanho da irregularidade, e o que os italianos tinham feito de errado. O acordo foi secreto, mas devia ser algo significativo, pois na temporada de 2020 o time de Maranello teve sua pior temporada em muitos anos, provavelmente por terem tido de cumprir uma pena velada, a fim de que o que fizeram de errado não viesse a público. Isso pegou mal para a FIA, que foi acusada de falta de transparência, e de uma certa passada de mão na Ferrari para nada vir a público, talvez que pudesse comprometer até mesmo a imagem da FIA. A situação atual não é tão opaca, e as razões e penas são mais transparentes. Mas mesmo assim, para muitos, a FIA novamente dá um tapa com luva de pelica, tentando minimizar o prejuízo. Mas, de qualquer forma, já houve um prejuízo, e não se pode colocar a culpa apenas na Red Bull, mas especialmente na própria FIA, que não consegue apresentar regras mais objetivas para determinadas situações, além de um atraso homérico na fiscalização dos orçamentos da temporada passada, resultando na situação atual.

            Numa comparação exagerada, seria como um campeonato de futebol de várzea ser muito melhor conduzido e administrado que a própria Copa do Mundo, numa mostra cabal de incompetência da FIFA. A FIA tem muito trabalho pela frente para corrigir seus erros, e deve fazê-los. Mas parece que cada emenda feita torna a situação mais complicada do que já estava, e desse jeito, as coisas não vão melhorar. E, quando há confusão de regras e falta de transparência e objetividade das mesmas, o crime costuma compensar. Não é assim que deve ser. Esperemos que esse exemplo mostre à FIA que ela precisa melhorar seus procedimentos e prever punições mais adequadas e consistentes com as infrações cometidas. Será que ela consegue? Tenho dúvidas, e o histórico recente não me dá muitas esperanças...

 

 

Fernando Alonso recuperou a 7ª colocação que conquistou no GP dos Estados Unidos, após ter sido punido, horas após o encerramento da prova, por ter competido com um carro “sem condições ideais de segurança”. A FIA havia atendido um recurso da Haas, que alegou que o espanhol estava com um carro perigoso, uma vez que, quando estava para ultrapassar Kevin Magnussem, o carro de Fernando perdeu o espelho retrovisor direito, que havia ficando com o suporte meio bambo, depois que Alonso atingiu o carro de Lance Stroll, quando este o fechou ligeiramente durante uma tentativa de ultrapassagem. O Alpine do espanhol quase decolou, bateu na mureta, danificando pneus e bico, mas com o carro ainda funcionando, Alonso foi para o box, onde trocou os componentes, e retomou a corrida, onde depois de uma performance impressionante vindo lá de trás, para um piloto que quase decolou com o carro, bateu, e ainda continuou na prova, recebeu a bandeirada em 7º lugar. A Alpine, inconformada, alegou que a Haas apresentou seu recurso fora do prazo regulamentar, e a má repercussão do caso também deixou a FIA numa saia justa, uma vez que, se o carro de Alonso poderia representar risco para os outros competidores, deveria ter recebido um aviso durante a corrida, o que não aconteceu. A Haas, por outro lado, já teve casos no ano em que seus pilotos foram obrigados a ir para o box efetuar reparos nos seus carros que poderiam colocar os competidores em situações perigosas, daí exigir a punição para Alonso, como foi feito. E lá se vai mais um caso de trapalhada de atitudes da FIA, que em nada ajuda na credibilidade da entidade que comanda o automobilismo mundial, além da própria F-1, que parece ter virado uma categoria cheia de frescuras. E ainda tem a cara de pau de perguntar o porquê das críticas que recebem...

Após decolar em um toque com Lance Stroll, Fernando Alonso bateu na mureta, mas conseguiu continuar na corrida, tendo apenas os pneus e o bico danificados, trocados logo a seguir no box, iniciando uma recuperação impressionante na corrida de Austin.

 

 

A etapa da Cidade do México continuará firme no calendário da F-1, com o acordo de renovação do contrato garantindo a corrida até 2025. O México vive o seu melhor momento na categoria máxima do automobilismo. A corrida da Cidade do México, realizada desde sempre no Autódromo Hermanos Rodriguez, tem tido uma organização exemplar, recebendo elogios de todos os envolvidos, tendo sido eleita a prova melhor organizada nos últimos anos, e o público tem garantido lotação máxima no autódromo, e para completar, Sergio Pérez vive seu momento de glória na competição, defendendo a equipe Red Bull, onde tem a chance de vencer corridas, e no momento, luta pelo vice-campeonato da temporada de 2022 com o monegasco Charles LeClerc.

 

 

Por causa do segundo turno das eleições brasileiras neste domingo, a Bandeirantes alterou sua programação de costume de exibição do GP de F-1. A transmissão começará às 16 horas no domingo, com o pré-GP, indo no canal até às 16:45 Hrs. A partir daí, o canal aberto passará a transmitir a cobertura jornalística das apurações eleitorais em todo o país. A corrida será transmitida no canal pago Bandsports, e estará disponível também no site da TV Bandeirantes, e no aplicativo Bandplay, gratuitamente, garantindo que todos possam acompanhar a corrida.

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