Voltando a trazer novamente uma de minhas antigas colunas, esta foi publicada no dia 26 de novembro de 1999, e fazia um balanço da temporada da antiga F-Indy, chamada à época de F-CART, uma vez que Tony George havia arrebatado para si e para sua liga rival Indy Racing League os direitos totais do nome “Indy”. Mas o certame promovido pelo então dono do Indianapolis Motor Speedway nem de longe mostrou o show de competição da Indy original, que mais uma vez viu a Ganassi faturar o título, com o estreante Juan Pablo Montoya, numa disputa das mais apertadas, tendo terminado o campeonato empatado em pontos com o escocês Dario Franchitti, da equipe Green, e levando o campeonato por ter mais vitórias. Foram 20 provas com 10 pilotos diferentes vencendo corridas, numa mostra do maior equilíbrio e opções de competição da categoria, com disputas para ninguém botar defeito, e infelizmente, também dois momentos muito tristes durante a temporada, um deles no encerramento da competição. Aproveitem o texto, e uma boa leitura para todos...
O ANO DA F-CART
Em mais um ano de grande disputa, e até bom equilíbrio, o campeonato 1999 da F-CART mostrou que continua firme em oferecer boas condições de competição a seus times e pilotos, e com isso conquistar cada vez mais audiência e fãs pelo mundo inteiro. Em que pese a hegemonia da equipe Chip Ganassi, que conseguiu ser campeã pelo 4º ano consecutivo, ninguém pode afirmar que a disputa do certame foi chata. Tivemos 20 corridas, com nada menos do que 10 pilotos diferentes vencendo as provas, enquanto tivemos 12 pilotos a conseguirem largar na frente no ano.
O ponto positivo, sem dúvida, foi a Ganassi conseguir novamente ser campeã, com um piloto que fez sua estréia este ano na categoria, o colombiano Juan Pablo Montoya, que chegou da F-3000 Internacional para substituir o bicampeão Alessandro Zanardi, que retornou à Europa para tentar a sorte na F-1 pela segunda vez. E Montoya se mostrou um sucessor mais do que à altura de Zanardi: quando a concorrência já achava que sem o italiano o time de Chip Ganassi não mostraria a força dos últimos anos, o intrépido colombiano já averbou uma vitória logo na 3ª corrida da competição, em Long Beach. Lógico que os mais críticos tentaram justificar que, sendo um circuito de rua, tão familiar quanto algumas pistas da Europa, o triunfo de Juan Pablo seria ocasional, mas estes tiveram que cair na real quando, logo na prova seguinte, Montoya venceu de novo, e desta vez no circuito oval curto de Nazareth, uma pista que era praticamente novidade para o colombiano.
A concorrência nem teve tempo de assentar a poeira quando Montoya conquistou mais uma vitória, agora aqui no Rio de Janeiro, perfazendo 3 vitórias consecutivas. O recado estava mais do que dado: a Chip Ganassi continuaria novamente como a grande favorita, e se eles tinham perdido Zanardi, Montoya foi um substituto mais do que suficiente para o time. Pior para Jimmy Vasser, de quem se esperava voltar a ser líder da escuderia, depois de passar os dois últimos anos na sombra de Zanardi. Mas Vasser, campeão de 1996, teve um ano apático, sendo literalmente engolido pelo seu novo parceiro sul-americano, ficando apenas em uma modesta 9ª posição na classificação, sem conseguir nenhuma vitória, e tendo como prêmio de consolação apenas uma pole-position.
O campeonato começou, na pista de Homestead, com boas perspectivas: Greg Moore, promessa de um novo campeão canadense em potencial, largava na pole e vencia a corrida, depois um pega emocionante em que teve também Michael Andretti e Dario Franchiti no pódio da prova de Miami. Em Motegi, no Japão, seria a vez da Patrick vencer, com o mexicano Adrian Fernandez, seguido por dois brasileiros, Gil de Ferran, e Christian Fittipaldi, fazendo prever um ano melhor para os pilotos brasileiros, e com mais opções de postulantes ao título da temporada. Nem uma coisa nem outra: os brasileiros ficaram pelo caminho, e após o arranque demoníaco de Juan Pablo Montoya a partir de Long Beach, apenas o escocês Dario Franchiti conseguiu ameaçar a escalada do colombiano rumo ao título da categoria.
Com uma campanha constante e regular durante todo o campeonato, Franchiti foi acumulando pontos, enquanto Montoya começava a ter também alguns contratempos. Mas a concorrência pulverizava seus resultados, e nomes do quilate de Michael Andretti, Paul Tracy, e Al Unser Jr., não se mostraram capazes de acompanhar o ritmo impressionante do colombiano, que conquistou nada menos do que 7 vitórias durante o certame, além de acumular 7 poles nas 20 provas do campeonato. Dario só foi conseguir finalmente vencer em Toronto, na 11ª etapa da competição, e apesar de sua regularidade, era preciso melhorar. O escocês foi à luta, conquistando mais duas vitórias, nas etapas de Detroit e Surfer’s Paradise, conseguindo levar a disputa para a corrida final, nas 500 Milhas da Califórnia, um circuito superoval em uma corrida de 500 milhas, onde tudo podia acontecer. E a disputa do título, em Fontana, terminou praticamente no extremo: Montoya e Franchiti ficaram praticamente empatados, com 212 pontos cada um, mas o maior número de vitórias de Juan Pablo definiu o título a seu favor.
A Ganassi foi o time que mais venceu no ano, com 7 vitórias, todas de Montoya. A Green veio logo a seguir, com 5 triunfos, sendo 3 de Franchiti, e 2 de Paul Tracy, que só não conseguiu dar mais combate porque, como de costume, ficou pelo caminho em algumas corridas. Tracy, aliás, já disputou uma prova a menos: em Homestead, ele cumpriu punição pelo excesso de acidentes em que se envolveu em 1998, e ficou de fora da prova, sendo substituído pelo brasileiro Raul Boesel. A seguir, foi a Newmann-Hass a vencer duas provas, mas tendo enfrentando uma instabilidade de performance no chassi Swift, que ora andava muito, ora não andava praticamente nada, deixando os engenheiros com boas dores de cabeça para resolverem durante o campeonato.
Mas quem teve mesmo um ano abaixo da crítica foi Roger Penske, que viu sua escuderia, a mais poderosa da categoria, praticamente arrastar-se durante o ano inteiro, perdida no desenvolvimento de dois carros diferentes. Roger resolveu parar de construir seu próprio chassi, depois da falta de resultados vistos nesta temporada, onde o time correu com praticamente dois times distintos. Enquanto Al Unser Jr. teve à disposição durante todo o ano um chassi Lola, o segundo piloto do time, função que foi ocupada na maior parte do ano pelo brasileiro Tarso Marques, lutou para tornar o chassi Penske PC28 competitivo. Com o corpo técnico da escuderia dividido em duas frentes, com desafios de grande monta tentando tornar dois chassis diferentes competitivos, a Penske passou quase todo o campeonato perdida na área técnica. A Lola, tentando restaurar sua imagem de fornecedora de chassis, ainda está devendo muito em relação aos monopostos de Adrian Reynard, que foram o melhor equipamento do certame, novamente. Al Unser Jr. praticamente deu adeus à F-CART, terminando o ano numa medíocre 21ª posição, com apenas 26 pontos. Tarso marcou apenas 4 pontos, e o uruguaio Gonzalo Rodriguez, fez apenas 1 ponto. Para o próximo ano, Roger Penske passará a adotar chassis da Reynard e motores da Honda, a combinação campeã dos últimos 4 anos.
Entre as baixas da temporada, tivemos duas mortes lamentáveis: Gonzalo Rodriguez sofreu um acidente bisonho em Laguna Seca, na curva do Saca-Rolha, despencando na ribanceira e seu carro caindo de cabeça para baixo, vitimando o uruguaio, que fazia ali sua 2ª participação na categoria. E o maior trauma veio em Fontana, onde Greg Moore, considerado por muitos a mais nova promessa canadense desde Jacques Villeneuve, e com um futuro potencialmente brilhante, morreu em um acidente aterrador à vista de todos não apenas no autódromo, mas diante das câmeras de TV. Curiosamente, Greg já tinha levado várias advertências por pilotar de maneira demasiado agressiva e sem tomar cuidado com relação aos demais competidores na pista, tendo sido responsável por jogar Émerson Fittipaldi no muro de Michigan em 1996, encerrando a carreira de piloto de nosso primeiro campeão de F-1. Mas, nos últimos tempos, Moore já demonstrara que havia aprendido a lição, e pilotava de maneira mais consciente, e não menos veloz. Foi uma grande perda não só para a categoria como para o mundo do automobilismo.
Outra perda a ser lamentada foi da Goodyear, que um ano depois de abandonar a F-1, jogou a toalha também na F-CART. Alegando alta dos custos, a verdade é que a fabricante norte-americana de pneus saiu pela porta dos fundos, tendo tido apenas 5 carros usando seus compostos durante o ano e conseguindo vencer apenas uma prova, em Portland, com a magistral atuação de Gil de Ferran. No restante do certame, a Firestone praticamente deitou e rolou na competição, impondo um domínio esmagador e deixando a rival totalmente desnorteada. Não fosse seu abandono, muito provavelmente não conseguiria arrumar clientes para o próximo ano, devido ao péssimo desempenho de seus pneus.
Nos chassis, nem é preciso dizer que a Reynard reinou quase absoluta, vencendo 18 das 20 corridas, ficando as 2 vitórias restantes para o chassi Swift, utilizado pela Newmann-Hass. A Lola, depois de uma reestruturação, parece voltar a ser uma opção, desde que seja bem trabalhado, o que a Penske não conseguiu fazer neste ano. Os chassis Penske e Eagle simplesmente apenas marcaram presença. No campo dos motores, a Honda mais uma vez foi a marca que mais venceu. A Ford averbou apenas 5 vitórias, contra 14 dos Honda, e a Mercedes ficou reduzida ao triunfo na etapa inaugural de Homestead.
Para o próximo ano, a tendência é que a categoria fique mais equilibrada, e com muito mais disputas: a Ganassi passará a usar motor Toyota, que promete dar um salto de qualidade, que muitos certamente estão pagando para ver se concretizar; a Penske passará a usar chassis Reynard e motores da Honda, provavelmente. Lola, Ford e Mercedes prometem investir pesado para destronar seus rivais. De fato, tudo conspira para um ano de 2000 muito mais disputado do que 1999 se apresentou. Vamos aguardar e ver o que acontece...
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