sexta-feira, 14 de outubro de 2022

VERSTAPPEN BICAMPEÃO

Max Verstappen: mais uma vitória, e a conquista do bicampeonato, em mais uma decisão de título da F-1 na pista de Suzuka.

            Suzuka viu novamente uma decisão de título, depois de mais de uma década. O circuito nipônico, de volta ao calendário da categoria máxima do automobilismo depois de uma ausência de dois anos provocada pela pandemia da Covid-19, viu Max Emilian Verstappen, aos 25 anos de idade, alcançar o bicampeonato na F-1, depois de uma corrida onde, infelizmente, não faltaram pontos controversos, a exemplo do que ocorreu na sua primeira conquista, no ano passado. Claro que, sem ter nada a ver com isso, o piloto da Red Bull apenas cumpriu sua parte, largou na pole-position, e não deu chances aos rivais, conquistando mais uma vitória, e garantindo matematicamente o título da temporada de 2022. Foi a 12ª decisão de título da F-1 na pista de Suzuka, e curiosamente, a última delas, ocorrida em 2011, também consagrou a conquista de outro piloto da Red Bull, no caso, Sebastian Vettel, que domingo passado despediu-se do circuito japonês com sua melhor exibição na temporada, quando terminou em 6º lugar.

            Para o triunfo da Red Bull ser completo, falta apenas conquistar o título de construtores, e Sergio Pérez ser vice-campeão. E, pelo andar da carruagem, não está muito difícil de conseguir isso. O mexicano reassumiu o 2º lugar, mas por apenas um ponto sobre Charles LeClerc, que quer ao menos terminar o ano com a moral em alta, e se deixar ser superado apenas por Verstappen. Esta disputa deve apimentar o clima nas quatro corridas que restam na temporada, e com a taça assegurada por Verstappen, a Red Bull deve se concentrar agora em garantir que Sergio termine o ano como vice.

            Foi um ano irrepreensível do holandês, que só foi ter um carro de fato dominante após as férias de agosto, onde até então a Ferrari tinha o melhor carro, mas não conseguindo capitalizar a sua vantagem técnica, além de cometer vários erros, dentro e fora da pista. Após amargar dois abandonos nas primeiras três provas do ano, com um carro mais fiável, coube a Max aproveitar todas as oportunidades, e exibir uma performance de alto nível, que o levou a conquistar 12 triunfos no ano, em 18 corridas disputadas até aqui. Enquanto o time de Maranello batia cabeça, e sofria com a fiabilidade de seu carro em determinados momentos, Max e a Red Bull simplesmente enfileiravam vitórias nas mais diversas etapas, e a perfeição da sincronia entre ambos, piloto e time, atingiu tal nível, que mesmo em algumas das provas em que Verstappen teve punição a pagar, isso não o impediu de ir para a frente, e ainda assim, ganhar a corrida, com os adversários se mostrando incapazes, ou incompetentes, de lograr êxito nos momentos de percalços para o piloto holandês e seu time, que venceu este ano em todo tipo de situação.

            Quem esperava um campeonato tão ou até mais disputado do que o de 2021, infelizmente, saiu decepcionado, ainda mais em um ano onde todos tiveram que projetar seus carros a partir do zero, diante das novas regras técnicas que mudaram radicalmente o conceito dos bólidos, com a volta do efeito-solo produzido pelos assoalhos, e outros detalhes, como os novos pneus utilizados. O que deveria ser uma excelente oportunidade para os times aproveitarem para alterar o status quo, e relançar a competitividade da categoria, contudo, virou um tiro pela culatra, com vários times simplesmente desperdiçando a chance de recuperarem competitividade, ou demonstrando total incompetência para aproveitar a chance.

            Se a Red Bull manteve seu nível de excelência, com um carro que a princípio parecia se mostrar mais frágil que o concorrente mais forte, por outro lado, sua enorme capacidade de desenvolvimento técnico, capitaneada por Adrian Newey, foi capaz de entender melhor do que ninguém o que precisava ser feito, e como ser melhorado. Assim, eles souberam corrigir as fragilidades de seu projeto, ao mesmo tempo em que suas unidades de potência conseguiram também solucionar seus problemas de fiabilidade, sem comprometer sua eficiência. Já a Ferrari, dona do melhor carro no início do ano, apesar de ter começado bem, viu a situação desandar a partir de Barcelona, quando o time acabou acometido justamente pelos problemas que até então pareciam o calcanhar de Aquiles da Red Bull: a fiabilidade. Como desgraça pouca era bobagem, o time italiano também viu seus pilotos cometerem erros, e desperdiçarem muitos resultados que fizeram falta depois, primeiro com Carlos Sainz, e depois com o próprio LeClerc, que no momento em que precisava mostrar fibra e determinação para desafiar Verstappen, acabou sucumbindo a si mesmo, quando isso não acontecia por problemas alheios a seu controle, como as quebras no carro, e decisões equivocadas da escuderia na estratégia de corrida. Percalços que, frente ao embate com um piloto já normalmente agressivo, e plenamente autoconfiante em sua capacidade de pilotagem, e no trabalho técnico de sua equipe, revelaram-se como falhas capitais.

Charles LeClerc começou o ano como grande favorito em uma Ferrari em sua melhor forma, mas com o decorrer da temporada, as coisas foram desandando, fosse por erros do próprio piloto, como a batida em Paul Ricard (acima), ou abandonos por quebras do carro, como na Espanha, e no Azerbaijão (abaixo).


            O ano ficará marcado no time italiano como mais uma oportunidade onde, tendo começado com o melhor carro, se perderam no meio da temporada, e não conseguiram recuperar o ritmo. Pelo menos, não o suficiente para voltarem a se impor frente a Verstappen, e à Red Bull, sofrendo derrotas consecutivas para o time dos energéticos desde a etapa da Hungria. E mesmo nos momentos mais conturbados, como na presença da chuva, nem assim a dupla ferrarista conseguiu tirar proveito da situação. Não apenas por falta de desempenho dos pilotos, mas do próprio carro. No Japão, por exemplo, Verstappen deu um passeio no piso molhado, terminando a corrida com uma vantagem assustadora sobre LeClerc, mas com seus pneus intermediários ainda em bom estado, enquanto o carro do monegasco já tinha seus compostos bem desgastados, o que impediu que Charles opusesse maior dificuldade à vitória do piloto holandês.

            Quando lembramos que o time italiano apenas marcou passo em 2021, concentrando seus esforços para a temporada de 2022, o resultado fica devendo muito. A excelente forma demonstrada nos testes da pré-temporada, e nas primeiras corridas, davam razão à estratégia de Maranello, dispensando recursos para apenas fazer uma temporada satisfatória no ano passado, e vir com tudo este ano. Mesmo assim, nas primeiras etapas, apesar do desempenho superior, não se podia subestimar a Red Bull, cujo carro, nas mãos do atual campeão do mundo, podia sim ser uma ameaça real. Bastava manter um bom desenvolvimento do projeto, e garantir que seus pilotos dessem conta do recado. Infelizmente, nem a Ferrari, e nem os pilotos conseguiram estar à altura do desafio. Carlos Sainz cometeu vários erros, que jogaram por terra resultados mais do que possíveis, além de acabar vitimizado por problemas de fiabilidade do carro em algumas ocasiões. LeClerc, por sua vez, também teve sua cota de erros e de problemas mecânicos. Mas, tirando as etapas onde nem uma ou outra coisa aconteceu, o desenvolvimento da Ferrari ficou aquém do necessário para brecar uma Red Bull cada vez mais afiada na pista, ao menos na condução de Verstappen, já que as atualizações do carro fizeram com que seu comportamento cada vez mais deixasse Pérez para trás em relação ao companheiro de equipe.

            Mas, a forma claudicante da Ferrari e de seus pilotos é tamanha, que mesmo sem conseguir pilotar no nível do holandês, Pérez vem lutando com boas chances de ser vice-campeão. A se confirmar tal resultado, seria mais uma derrota retumbante para a escuderia de Maranello, cujo último título foi conquistado em 2007 por Kimi Raikkonen, e de lá para cá vem num período que tem boas chances de ser tão ou até mais longevo que 1980-2000, quando a Ferrari teve sua maior seca de títulos. Terminar como vice-campeã de construtores é um tênue troféu de consolação, uma vez que para os tiffosi, só a vitória importa. E ver LeClerc, de favorito ao título no início do ano, terminar em 3º no campeonato, seria encarado como um desastre. A desgraça só não é pior porque a Mercedes, errando no projeto de seu carro de 2022, vem de sua pior temporada desde 2013, e mesmo assim, em determinado momento, até colocou em risco a posição da Ferrari no campeonato, apesar dos percalços exibidos na temporada.

            Em um balanço geral, a Ferrari sofreu reveses em dois terços do campeonato até aqui, tendo tido apenas seis corridas onde nada deu errado para os italianos. Verstappen, a rigor, teve problemas apenas em duas corridas, onde abandonou por problemas mecânicos, e depois, teve momentos um pouco complicados na Inglaterra e em Singapura, onde não venceu, mas não saiu sem marcar pontos. Um carro que no início parecia claudicante em termos de fiabilidade, hoje se tornou um dos mais confiáveis do grid, perdendo apenas para a Mercedes, que mesmo com todos os seus problemas no ano, se mostrou um carro praticamente inquebrável em condições normais. Em outros tempos, a cabeça de Mattia Binotto e dos pilotos já estaria a prêmio na escuderia, que costuma ser cobrada de forma implacável pela mídia e torcida italianas. Para muitos, Mattia já está fazendo hora extra na direção da escuderia, mas surpreendentemente, tem resistido até aqui, assim como os pilotos tem sido poupados de maiores cobranças, apesar de tudo. Talvez, pela questão mais simples: quem viria para o lugar de LeClerc e Sainz? Ambos tem contratos de longo prazo, e no grid atual, não há nomes que poderiam ser mais qualificados para tentar coisa melhor. Verstappen está firmemente atrelado à Red Bull, e Lewis Hamilton e George Russel, à Mercedes. Quem sobraria? Fernando Alonso, que já foi dispensado sem cerimônias de Maranello, anos atrás?

            A excelente forma da Red Bull e de Max Verstappen até provocou mudança de planos a curto prazo da escuderia rubro-taurina, para desespero da cúpula da F-1. A direção da categoria máxima do automobilismo, depois de anos cortejando o Grupo Volkswagen para que esse resolvesse entrar na F-1, finalmente havia conseguido seu intento, com o grupo alemão confirmando que vem para a competição a partir da temporada de 2026, com a Audi já tendo feito seu anúncio oficial, e nas entrelinhas, assumindo o time da Sauber, que atualmente usa o nome da Alfa Romeo, iniciando uma parceria que depois deve se transformar em dona do time sediado na Suíça. E a Porsche, tudo indicava, estava a caminho de fazer um casamento similar com a Red Bull, com ideal de uma parceria, adquirindo 50% do time dos energéticos, e posteriormente, também assumindo sua direção total. Mas foi a partir daí que as coisas desandaram: a direção da Red Bull não quer perder seu status quo, mantendo o controle sobre o time, algo que a Porsche queria assumir.

Com punições ou sem punições, Max Verstappen colecionou vitórias desconcertantes para os rivais, como em Monza (acima). E Sergio Pérez também teve suas chances de brilhar, como no triunfo em Singapura (abaixo), em mais uma corrida onde a Ferrari não conseguiu vencer.


            Para complicar, as unidades de potência da Honda, mesmo sendo fornecidas em caráter semi-oficial, com parte do desenvolvimento sendo efetuado agora pela nova divisão Red Bull Powertrains, com assistência da marca nipônica, tem apresentado excelente performance e desempenho, tendo solucionado seus problemas de fiabilidade e performance. Com o congelamento do desenvolvimento das unidades de potência para as temporadas de 2023 a 2025, a Red Bull deve continuar a dispor de propulsores de excelência comprovada, enquanto a Porsche ainda está trabalhando no seu projeto que deverá estrear, na melhor das hipóteses, apenas em 2026. Mas, qual a garantia de que os novos propulsores alemães já cheguem entregando logo de cara a performance e desempenho dos atuais utilizados tanto por Red Bull quanto pela Alphatauri? Então, na dúvida de trocar o certo pelo duvidoso, o que era tido como um casamento inevitável tornou-se algo fora dos planos, de modo que agora se fala até mesmo em desistência da Porsche de voltar à F-1, uma vez que a Red Bull já está até reatando oficialmente seus laços com a Honda, com os japoneses revendo sua decisão de saída da F-1, e já pavimentando o caminho para o anúncio oficial de um retorno de quem nem saiu propriamente.

            Assim, a base atual da Red Bull deve ser a manutenção de atual status ténico e organizacional de time campeão, e equipe a ser batida, com boas chances de reprisar o domínio exercido nos últimos anos pela rival Mercedes, se esta não reencontrar sua forma ideal no próximo ano, o que se prevê uma dinastia de Max Verstappen na F-1, já que o holandês está garantido no time até 2028, como todos sabem. E a Red Bull acaba de se reforçar, com a contratação de Nyck De Vries para defender a Alphatauri em 2023, com vistas a possível promoção do campeão da F-E de 2021 para o time principal, possivelmente em 2025, já que Pérez teve o contrato renovado até 2024, mas nada impede, caso o mexicano desaponte, de tal promoção ocorrer já em 2024, dependendo de como De Vries se portar em seu ano de estréia integral na F-1.

            Depois de ficar submissa à hegemonia da Mercedes entre 2014 e 2020, como todos os demais times do grid, a Red Bull encontrou sua volta no ano passado com Max Verstappen, em uma decisão de título que deixou muita desconfiança pela maneira como ocorreu em Abu Dhabi. O título de 2022, por outro lado, ocorre de forma inequívoca e cristalina, sem nenhum fato que possa desabonar a conquista por parte da escuderia, e do piloto holandês, que pode muito bem ter inaugurado uma nova dinastia para os próximos anos na categoria máxima do automobilismo, para felicidade ou desagrado de muitos, dependendo de para quem eles torcem.

            E viva o mais novo bicampeão da história da F-1...

 

 

Pierre Gasly enfim conseguirá sair das rédeas da Red Bull, onde já não tinha maiores expectativas de ascensão profissional, dada a implicância de Helmut Marko para com ele, e vai defender o time de Alpine, onde terá o desafio de mostrar o que vale, em um trabalho que oferece muitas oportunidades, mas que será potencialmente complicado, já que Esteban Ocón, seu novo companheiro de time, já está plenamente ambientado no time, e deve ser osso duro de roer, ainda mais porque não vai querer perder o posto de líder do time, que deve assumir com a saída de Fernando Alonso para a Aston Martin. Os dois já se conhecem há muito tempo, e como costuma ocorrer quando ambos começam a galgar degraus no mundo do automobilismo, a antiga amizade se transformou em uma rivalidade, que agora será posta à prova com ambos dividindo o mesmo time. Vai ser interessante ver ambos medirem forças, e ver quem se sairá melhor nesta contenda. Para Gasly, é lucro total, pois se livra do time dos energéticos, como há muito tempo já desejava, depois de ter sido rebaixado da escuderia rubrotaurina de volta para o time de Faenza, e mesmo lá, conseguindo mostrar excelentes resultados, continuando a ser desprezado e espinafrado por Marko, que como de costume, parece só ter olhos mesmos para Verstappen. E para quem vivia tendo de aguentar as birras do consultor da Red Bull, uma provável desavença com Ocón no time francês deve parecer uma leve brisa. O francês, aliás, chega com moral no time de propriedade da Renault, já que os valores de seu contrato colocam Pierre na condição de um dos pilotos mais bem pagos do grid, segundo a imprensa especializada.

 

 

O assunto da quebra do teto de gastos da temporada de 2021 vai dar muito pano para manga em discussões sobre o regulamento, a se confirmar um “passada de mão” na Red Bull, que teria cometido infração “menor” ao extrapolar o limite em poucos milhões na temporada passada. Algo que pretendo debater aqui em breve, após acompanhar melhor os possíveis desdobramentos...

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