quarta-feira, 24 de março de 2021

ESPECIAL FÓRMULA 1 2021

            Hora de pisar fundo no acelerador. A Fórmula 1 está pronta para dar o início de sua temporada 2021, apesar dos trancos e barrancos da pandemia da Covid-19, e tudo está preparado na pista de Sakhir, no Oriente Médio, para o início das disputas, em uma temporada que tem tudo para ser das mais interessantes dos últimos anos, prometendo muito mais emoção do que pudemos aproveitar no ano passado. Portanto, hora de um texto especial sobre o que teremos este ano. Confiram o que esperar desta nova temporada, e vamos à contagem regressiva para os primeiros treinos livres nesta sexta-feira no Bahrein...

FÓRMULA 1 2021: HAMILTON RUMO AO OCTACAMPEONATO?

 

Maior vencedor da história da F-1, Lewis Hamilton pode chegar ao oitavo título e se tornar o maior nome da categoria em todos os tempos nas estatísticas, mas a disputa pode ser a mais acirrada desde 2016.

 

Adriano de Avance Moreno

Palco dos testes da pré-temporada em 2021, a pista de Sakhir abre a temporada com o Grande Prêmio do Bahrein.

 

         Vai começar a temporada 2021 da Fórmula 1, e tem tudo para ser mais emocionante e mais disputada que a temporada do ano passado. Lewis Hamilton e a Mercedes, favoritos para conquistarem os títulos de pilotos e de construtores, podem ter de suar o macacão mais do que se esperava este ano, diante dos problemas enfrentados pelo time alemão nos testes da pré-temporada, que se não comprometem as possibilidades de luta pelo título, certamente farão o desafio ser mais difícil do que o esperado.

         Ainda mais porque a principal desafiante, a Red Bull, parece ter conseguido desenvolver melhor o seu carro diante das restrições técnicas que tenham como objetivo diminuir o downforce dos bólidos em cerca de 10%, apesar de estarem sendo usados os mesmos carros da temporada do ano passado, por motivos de contenção de custos, devido à pandemia da Covid-19, um problema que continua a afetar o mundo inteiro, e pode interferir novamente no campeonato deste ano.

         Mesmo tendo que relativizar os resultados da pré-temporada de testes, que normalmente podem apresentar expectativas equivocados, diante da postura dos times em esconder parte de sua real performance, o fato de terem tido apenas 3 dias para testarem os novos carros sugerem que esse recurso foi muito menos adotado agora, uma vez que as escuderias precisavam aproveitar todo o tempo disponível para trabalhar o que queriam. Os problemas enfrentados pela Mercedes foram os mais complicados para uma pré-temporada, de modo que o nervosismo nos membros do time alemão com o comportamento arisco de seu novo modelo W12 diziam claramente que aquele não era um roteiro programado, muito pelo contrário. Certamente o time alemão teve dias cheios na fábrica em Brackley, na Inglaterra, tentando descobrir como sanar o problema. Enquanto isso, a Red Bull teve testes sem nenhum problema relatado, e prefere repudiar o rótulo de “favorita”, até para não criar maiores expectativas em relação ao início da temporada. E, de fato, a Mercedes não está fora do páreo, como muitos afirmam, só por causa dos problemas vistos nos testes.

Problemas de confiabilidade e uma traseira mais arisca do que se imaginava deram muita dor de cabeça aos mecânicos e engenheiros da Mercedes. Favoritismo na temporada em dúvida? Algo a se conferir...

        
Eles podem até não vencer a corrida de domingo, no Bahrein, mas não deverão estar muito longe dos vencedores. Se de fato estiverem mais lentos, deve ser questão de tempo até reverterem a situação, e enquanto isso não ocorrer, o importante será não deixar os rivais dispararem na classificação. Por isso mesmo, a Red Bull prefere não se entusiasmar demais com a possibilidade de saírem na frente no campeonato. Mesmo que neste momento sejam o time a ser batido, não se ganha corrida na véspera. E já acusam a Mercedes de tentar jogar o favoritismo para o lado deles, e com isso criar pressão psicológica para tentarem desestabilizar a equipe dos energéticos. Portanto, cabeça fria neste momento é mais do que essencial. Será também um grande teste para a concentração e foco da Mercedes para vermos como eles lidarão com esse problema, para recuperarem o domínio da situação, ou minimizá-lo.

         A melhor forma da Red Bull não é apenas no equipamento: o time rubrotaurino contratou Sergio Perez, e o mexicano tem tudo para ser mais uma pedra no sapato da Mercedes, o que significa que Lewis Hamilton e Valtteri Bottas precisarão ter atenção redobrada na competição, porque Perez certamente vai vir para cima. Para Bottas, que sempre ficou para trás em relação a Hamilton, é um aviso sério de que ele precisará pilotar como nunca fez até agora no time alemão, se quiser manter seu lugar para 2022, ameaçado pela sombra de George Russel, que este ano ainda defenderá a Williams.

         Todo mundo fica ouriçado no possível duelo entre Lewis Hamilton, o heptacampeão, e Max Verstappen, considerado por muitos até melhor piloto que Lewis, menosprezando a capacidade do inglês devido ao carro superior que tem desde 2014, enquanto o holandês sempre atuou como franco atirador até aqui, já que a Red Bull era menos competitiva. Podemos estar prestes a ver finalmente um tira-teima entre os dois pilotos, se o desempenho de seus carros deixarem a briga mais parelha. O inglês, perto de atingir a marca de 100 vitórias na história da F-1, e certamente lutando pelo octacampeonato, sempre disse que queria ter a chance de duelar a fundo com os demais pilotos, e pode ter o seu desejo atendido este ano, atracando-se com Verstappen na pista, para delírio da torcida, que anseia por ver este duelo também. Será também a oportunidade para Hamilton demonstrar que não é um multicampeão por acaso, por mais que seu carro ajude nisso. Lewis terá certamente o maior desafio desde a temporada de 2016, quando perdeu o título para Nico Rosberg, seu então companheiro de equipe, que soube usar as armas que tinha à disposição para derrotar o inglês. Desde então, tendo Bottas como companheiro de equipe, Lewis não teve mais que se preocupar com disputas internas, e apenas teve oposição pontual de Sebastian Vettel na luta pelo título em 2017 e 2018, mas não a ponto de levar a decisão às últimas etapas. Costuma-se dizer que o piloto inglês se tornou mais focado e concentrado, passando a ser muito mais difícil de ser derrotado na pista. Isso poderá ser conferido agora, se tiver real disputa pelo título, como se imagina poder ocorrer. Ainda é cedo para garantir isso, mas as chances parecem as maiores desde o início da era turbo híbrida, algo há muito esperado e desejado pelos fãs do esporte, que querem ver a disputa e os duelos acima de tudo, e não apenas boas corridas.

         E se o duelo entre os dois principais times do momento deixa os fãs ansiosos, a turma que vem logo atrás também promete botar para quebrar. McLaren, Alpine, Ferrari, Alpha Tauri, e com sorte, também a Aston Martin, devem se digladiar pelas posições logo atrás de Mercedes e Red Bull. No ano passado, houve boa briga para ver quem seria o melhor do “resto”, com os times se alternando no favoritismo conforme o momento da competição, que no final acabou sendo da McLaren. O time laranja, aliás, quer repetir o TOP3 de 2020, e quem sabe, se aproximar um pouco mais do duo da frente, mas antes de pensar nisso, terá de se precaver contra a competição dos times rivais, que querem o mesmo objetivo. O destaque neste pelotão é o retorno de Fernando Alonso à F-1, e todos querem ver como o bicampeão estará neste retorno, ao velho time pelo qual foi campeão muitos anos atrás, e que agora se chama Alpine, onde promete liderar a escuderia em busca de melhores dias. Daniel Ricciardo busca voltar ao topo, agora na McLaren, enquanto Carlos Sainz ainda precisa descobrir se ter deixado o time laranja para ir para o time vermelho não terá sido um passo em falso, dado o atual momento vivido por Maranello.

         De sobra, quem ficará na última fila este ano. Em 2020, a Williams amargou a última posição no campeonato, zerada nos pontos. Para este ano, as apostas são de que a Haas deve ficar em último, não apenas por ter uma dupla novata, mas também por não ter feito nenhuma melhoria no carro além das necessárias pelo regulamento.

         E, em meio a tudo isso, as preocupações com a pandemia da Covid-19, que pode causar ainda muita confusão na realização do campeonato. Talvez não tão drásticas como no ano passado, mas certamente causará algum impacto, que esperemos possa ser superado com o esforço conjunto de todos para evitar piores consequências.

         Será um ano diferente também para os fãs brasileiros, apesar de certa familiaridade. Vamos conferir um pouco sobre as novidades do regulamento para este ano, bem como o panorama das equipes e seus pilotos, além do calendário da temporada.

 

MUDANÇAS TÉCNICAS PARA 2021 E OUTRAS NOVIDADES

 

         Por contenção de gastos devido à pandemia, a FIA determinou que os times utilizassem este ano os mesmos modelos de carros do ano passado, postergando as alterações técnicas para 2022. Foram permitidas pequenas modificações nos carros, além da obrigatoriedade de redução da geração de pressão aerodinâmica em 10%, mas as mudanças não ficaram restritas a isso, conforme veremos.

         Os pneus deste ano passaram a ter uma construção diferente, com o objetivo de aumentar sua resistência, e garantir melhor segurança dos monopostos, já que os compostos permaneciam os mesmos desse 2019, mas o downforce gerado pelos carros aumentou de forma decisiva no ano passado, podendo comprometer a integridade dos compostos devido às cargas mais pesadas de pressão aerodinâmica. Essa nova estrutura dos pneus provocou algumas mudanças na performance dos mesmos, de modo que todos os times tiveram que ajustar seus carros a esse novo comportamento dos pneus. Os compostos continuam sendo cinco, para pista seca, e dois, para pista molhada.

         E, justamente, para aliviar a pressão nos pneus, a FIA determinou restrições técnicas visando diminuir a capacidade de geração de pressão aerodinâmica dos carros em pelo menos 10% em relação ao ano passado. Isso foi conseguido mexendo em certas áreas do carro, começando pelo assoalho, que nesta temporada deverá ser completamente plano. As equipes tinham adotado a prática de adicionar pequenos apêndices ou aberturas nesta peça, com vistas a gerar maior pressão. Estas peças também passaram a ter cortes triangulares na parte traseira, bem em frente aos pneus traseiros, para reduzir ainda mais a geração de downforce, além de terem seu requisito de rigidez mais severo, para evitar que as equipes ganhassem performance com o uso de um assoalho mais flexível.

         Os dutos traseiros dos freios, que também continham componentes aerodinâmicos, sofreram uma “poda” de 40mm na parte inferior, enquanto os superiores continuaram com o mesmo tamanho de 2020. Completando o quadro de mudanças na traseira, o difusor também teve um “corte” de 50mm em suas cercas, tudo para diminuir a geração de pressão aerodinâmica.

         Os carros também serão 3Kg mais pesados este ano, passando a ter o peso mínimo de 749 Kg, junto com o piloto. Como resultado, os carros de 2021 devem ser mais lentos do que os de 2020, mas não muito. Para efeito de comparação, Max Verstappen encerrou os testes da pré-temporada com o melhor tempo, fazendo 1min28s960, na pista de Sakhir, enquanto a última pole-position no circuito, obtida no GP disputado no fim do ano passado, Lewis Hamilton marcou o tempo de 1min27s264, ou praticamente 1s7 de diferença.

         Os treinos livres de sexta-feira serão reduzidos a partir deste ano. Antes duas sessões de 90 minutos abrindo as atividades do fim de semana dos GPs, estes treinos agora serão de apenas 60 minutos cada um, a mesma duração do treino livre do sábado. Isso representará uma hora a menos de tempo de pista na sexta-feira, o que deve fazer com que os times e pilotos tenham de permanecer mais tempo na pista, aproveitando o tempo disponível de forma mais eficiente. No formato utilizado até o ano passado, não era difícil ter pouca atividade na primeira meia hora de treino, quando muitos times preferiam esperar para ver os outros times saírem primeiro, e emborracharem melhor a pista. Esta era uma atitude adotada mais pelos times mais fortes, de modo que agora, com menos tempo, terão de ir para a pista mais brevemente. E, com times que precisem acertar melhor seus carros, cada minuto a menos pode ser comprometedor nos treinos de sexta.

         Outra novidade, essa de qualidade discutível, é a adoção de “corridas de classificação”, que serão experimentadas em três provas este ano, para definição do grid de largada. O treino de sexta-feira será utilizado como “grid” de largada desta prova de classificação, que será realizada no sábado, com duração de 100 Km, e cujas posições finais definirão o grid da corrida do domingo. Para aumentar a emoção, os três primeiros colocados ganharão pontos na corrida de classificação, com o vencedor (e pole-position da prova de domingo) ganhando 3 pontos, o segundo colocado 2 pontos, e o terceiro 1 ponto. As provas onde este novo sistema deve ser testado serão na Grã-Bretanha, Itália, e Brasil. Se aprovado, deverá ser adotado a partir de 2022, mas muita gente acha que esse sistema será confuso, e só aumentará os gastos, para não mencionar os riscos inerentes a mais uma corrida, como acidentes e outros problemas mecânicos que podem surgir, e comprometer a participação na prova de domingo.

         E, talvez a mais importante novidade do ano: a adoção do teto orçamentário. Neste ano, cada time só poderá gastar cerca de US$ 145 milhões para disputar a temporada toda. É um valor bem abaixo do que os principais times gastavam até o ano passado. A adoção foi possível e até adiantada para este ano, diante dos desafios de conter os gastos de competição, procurando tornar a F-1 mais viável economicamente, e diante da queda de receitas provocada pela pandemia da Covid-19, que derrubou o faturamento de todo mundo e da própria F-1. Há exceções neste limite de gastos, entre eles os salários dos pilotos e dos três principais nomes do staff da escuderia, além dos custos de publicidade, além dos gastos relacionados à saúde dos integrantes do time. Com esse limite de gastos, é esperada uma evolução menor dos monopostos durante este ano, já que os times precisarão trabalhar bastante nos novos carros de 2022, que terão novas regras, o que significa um desafio duplo para todos os times.

 

AS ESCUDERIAS DO CAMPEONATO

 

MERCEDES: Fim do domínio?

 

Pilotos (Nº): Lewis Hamilton (44); Valtteri Bottas (77)

Modelo: W12

Motor: Mercedes-Benz V-6 Turbo M12 EQ Power+

Uma pré-temporada mais complicada do que se imaginava para a Mercedes, que pode ter seu status de favorita bem questionado, mas sem poder ser subestimada. Lewis Hamilton vai em busca do oitavo título, e Valtteri Bottas inicia de novo o ano tendo mais uma vez que se garantir para 2022 no time...


 

         Desde o início da era turbo híbrida, nos acostumamos a tratar o time alemão sediado em Brackley como franco favorito ao título, pela performance demonstrada nos testes da pré-temporada, ainda que por vezes eles dessem uma “disfarçada”, procurando não mostrar todas as cartas na manga que possuíam, a fim de não atrair mais atenção do que seria desejável. Assim, mesmo que andassem apenas no meio do pelotão nos testes, todos sabiam que havia ali algo a ser temido, sendo que o máximo que dava para questionar é quão fortes eles estavam perante os rivais. Só na primeira corrida, ou nas primeiras, é que ficávamos sabendo de fato qual era a competitividade dos carros prateados. E, apesar de terem tido algumas dificuldades em 2017 e 2018, quando a Ferrari conseguiu incomodar de fato, mesmo assim a Mercedes conseguiu se manter no domínio da situação.

         Por isso mesmo, a situação vivida na pré-temporada deste ano, a mais curta de todos os tempos, apresentou uma novidade inusitada: o time campeão dos últimos sete anos debateu-se com problemas reais no comportamento de seu carro, que demonstrou uma instabilidade patente, a ponto de sugerir que eles podem ter as maiores dificuldades para impor novamente o seu grande domínio na competição, demonstrando ter dado um passo potencial em falso ao trabalhar com as novas regras restritivas de downforce. Lewis Hamilton e Valtteri Bottas tiveram trabalho para conduzir o novo modelo W12, que além de demonstrar possuir uma parte traseira arisca, teve problemas também com o câmbio logo de cara. A carenagem traseira, do jeito como foi montada, além da nova arquitetura do sistema de câmbio, não deixou a peça ser devidamente refrigerada, o que acabou afetando também o carro da Aston Martin, que usa o mesmo câmbio e uma carenagem bem similar. Com muito pouco tempo de pista, esconder o jogo tornou-se uma tática ruim para esta pré-temporada, de modo que os tempos alcançados, mesmo que relativizados em se tratando de testes iniciais, indicam que o carro não deixou de ser exatamente veloz, mas que os rivais podem ter se aproximado muito, e talvez até passado à frente, dificultando as condições para se batalhar pelas primeiras posições na pista.

         A imensa capacidade técnica e de engenharia de Brackley tem capacidade para solucionar esse problema. A dúvida é quanto este comportamento mais arisco do carro pode afetar o seu desempenho, e quanto tempo levará para ser sanado. Enquanto eles trabalham nisso, se a Red Bull realmente se mostrar mais competitiva neste início de campeonato, Hamilton e Bottas terão de suar o macacão para impedir que os rivais obtenham uma vantagem de pontos muito alta de se reverter. Quando acuada pela Ferrari em 2017 e 2018, a Mercedes conseguiu manter o foco e a concentração, vitais para retomar as rédeas da competição, perdidas momentaneamente pela melhor forma do time de Maranello. Pode fazer o mesmo agora, se de fato começar o ano atrás dos rubrotaurinos, que prometem dar a maior oposição desde 2013. Por isso mesmo, não é bom subestimar a capacidade de reação da Mercedes, que pode vir já neste primeiro fim de semana de GP, a depender de como seu departamento de engenharia trabalhou com os dados obtidos na pré-temporada.

         Lewis Hamilton fatalmente chegará às 100 vitórias na categoria, e pode vir a conquistar o seu oitavo título, tornando-se o maior vencedor da história da F-1. E se tiver de batalhar mais duro para novamente ser coroado campeão, será muito bom não apenas para ele, como para a própria F-1, ao ver um triunfo obtido em condições bem mais difíceis e potencialmente complicadas. Hamilton, nos últimos tempos, até tem clamado para ter um pouco mais de desafio na pista, a fim de valorizar suas conquistas. Pode ter enfim o que pediu. A dúvida é o quanto irá gostar realmente de ter de duelar com muito mais esforço e determinação para conseguir triunfar. Quanto a Bottas, é agora ou nunca: o finlandês perdeu parte de seu prestígio como piloto com potencial de campeão ao ser constantemente superado pelo inglês, e pode estar em seu último ano no time alemão. Se quiser seguir firme na F-1 em outro time, terá de se superar, para convencer que pode andar muito melhor do que vem andando ultimamente. Vai conseguir desta vez?

 

RED BULL: Mais um adeus da Honda

 

Pilotos (Nº): Max Verstappen (33); Sergio Pérez (11)

Modelo: RB16B

Motor: Honda RA621H Hybrid

O novo RB16B parece ter se ajustado muito bem às novas regras técnicas e aos novos pneus da Pirelli. O time está mais forte com a chegada de Sergio Perez, e Max Verstappen vai ser um desafiante implacável para a favorita(?) Mercedes na pista desde o início.


 

         No ano de despedida da Honda da F-1, a Red Bull, ao fazer uma evolução “simples” do seu carro do ano passado, parece ter dado o passo certo para se adaptar melhor às novas regras que diminuíram o downforce dos carros para este ano, assim como os novos pneus da Pirelli. Max Verstappen andou sempre muito forte, e acima de tudo, foi constante, e o time dos energéticos não enfrentou nenhum contratempo ou problema que o fizesse perder tempo na pista. O modelo RB16 já havia conseguido ter um excelente progresso de desenvolvimento no final da temporada passada, e tudo indica que esta evolução foi mantida com o novo RB16B.

         A Honda antecipou o novo projeto de sua unidade de potência, visando despedirem-se com a cabeça erguida desta sua empreitada atual na F-1, e parece ter alcançado bons resultados, a ponto de afirmarem que o propulsor atual é melhor do que o da Mercedes do ano passado. A se confirmar tal desenvolvimento, seria de fato uma pena a desistência dos nipônicos a essa altura da competição, mas é preciso ver onde a unidade atual da Mercedes se encontra para vermos quão verídica é essa afirmação do crescimento da unidade japonesa.

         Mas é no comportamento do novo carro que está o maior trunfo da equipe: ele é estável e previsível. Verstappen disse ter se sentido confortável no bólido, sabendo o que esperar dele na pista, permitindo-lhe andar a fundo com maior confiança, sem temer que o carro desgarre, como ocorria na primeira metade da temporada, quando o bólido do time era nervoso, tendo de se tomar cuidado para leva-lo aos limites, algo que só o holandês conseguia fazer com desenvoltura, ao contrário de Alex Albon, que sentiu essa dificuldade, e pouco pode fazer para ajudar o time e Max nas corridas. E esse comportamento mais neutro do carro também é um fator que ajuda bastante seu novo piloto, o mexicano Sergio Perez, que ganhou a chance de pilotar novamente para um time de ponta, após sua malfadada passagem pela McLaren em 2013, quando ainda era um piloto muito tempestuoso. O tempo ajudou Perez a lapidar seu talento, e ele poderá ajudar muito nos resultados, se conseguir andar no ritmo, ou ao menos próximo de Max Verstappen. No ano passado, com o bom carro da Racing Point, Perez foi 4º colocado no campeonato, coroando uma temporada de excelentes performances, sendo o “melhor do resto” do grid, ficando atrás somente do trio Hamilton/Bottas/Verstappen. Um resultado que ele poderá muito bem repetir esse ano, como a Red Bull espera.

         Para alguns, mais otimistas, o mexicano poderia se tornar uma pedra no sapato do holandês, se conseguir andar na sua frente, algo que não acontece desde que a Red Bull perdeu Daniel Ricciardo, descontente com o modo como a equipe tratava Max e era conivente com suas estripulias na pista. Embora possa não ser tão rápido como Verstappen em ritmo de classificação, Sergio tem excelente ritmo de corrida, e sabe planejar sua estratégia de prova, cometendo poucos erros. Se conseguir ser páreo para Verstappen, pode ajudar muito o time, tornando-se uma ameaça real para os adversários, em especial a Mercedes, que terá de abrir o olho para o desempenho do mexicano. Uma dupla forte certamente ajudará a Red Bull a duelar melhor também no Mundial de Construtores, algo que ficou extremamente dependente do piloto holandês nas duas últimas temporadas. Mas também acende um sinal potencial de alerta: como Verstappen se comportará, caso acabe superado pelo companheiro de time. Em diversos momentos o holandês perdia parte das estribeiras quando se via atrás de Daniel Ricciardo, tendo desperdiçado vários resultados potenciais por se envolver em confusão tentando superar o companheiro de time. Poderá ocorrer novamente?

         Se fala que Max, tendo que liderar o time na pista, amadureceu e está mais contido, e rápido como sempre. Mas volta e meia, ele ainda comete alguns desaires, e será que sofrer novamente uma forte competição interna no time poderá fazer ele reviver seus dias de atritos dentro da pista? Uma dúvida que muitos gostariam de ver, até porque, de tanto falar que Verstappen pode ser melhor do que Hamilton, faltando-lhe apenas carro para isso, será interessante ver o que ele poderá fazer agora, com um carro que se revela o melhor em muitos anos no time, e tendo de se precaver contra um companheiro de escuderia que chega pronto para dar tudo por tudo na grande oportunidade que recebeu neste momento da carreira.

         Para a Red Bull, o momento não é de menosprezar o favoritismo ainda teórico da Mercedes. Longe de minimizar seu bom trabalho, é uma forma de jogar a pressão para o time alemão, e aproveitar para tentar capitalizar o início de temporada, se tiverem realmente o melhor carro neste início da competição. Se nos últimos anos o que sempre atrapalhava era começarem atrás de Mercedes, e de Ferrari, agora a situação pode ser bem diferente, e se consumar a vantagem vista nos testes da pré-temporada, não haverá desculpas para não lutarem a fundo pelo título, e quem sabe, voltarem a ser campeões pela primeira vez desde 2013. Seria a despedida em tom triunfal dos japoneses, que foram campeões pela última vez em 1991, com a McLaren e Ayrton Senna. E, acima de tudo, seria benéfico para a F-1 ver rompido o longo domínio da Mercedes na categoria, algo que só se esperaria de fato com o novo regulamento técnico no ano que vem.

         A Red Bull foi apenas o 4º time em número de voltas completadas nos testes, e se não teve problemas a relatar, pode mesmo estar na situação em que nos acostumamos a ver a Mercedes até o ano passado: procurar ficar quieta, para vir com tudo e surpreender a concorrência ainda mais do que todos esperam. Mesmo com Verstappen tentando desmentir, ao afirmar que não se sente como favorito nas primeiras corridas do ano...

 

MCLAREN: Tentando se manter no TOP3

 

Pilotos (Nº): Daniel Ricciardo (3); Lando Norris (4)

Modelo: MCL35M

Motor: Mercedes-Benz V-6 Turbo M12 EQ Power+

O novo MCL35M nasceu bem, e deve proporcionar à McLaren as chances de se manter no TOP3 da F-1, mas a concorrência será forte. Lando Norris e Daniel Ricciardo prometem ser a dupla mais descontraída do grid na temporada 2021.


 

         Quando se determinou que nesta temporada de 2021 os times da F-1 usariam os mesmos carros da temporada de 2020, por questão de contenção de gastos, devido à pandemia da Covid-19, com modificações limitadas, um time poderia sofrer um impacto singular com a adoção destas medidas, além dos demais. Este time era a McLaren, que já havia firmado para voltar a usar a unidade de potência da Mercedes para este ano, em acordo firmado ainda em 2019, portanto, antes da pandemia. Com a necessidade de adaptar o modelo do ano passado ao novo propulsor, o time inglês, que fez em 2020 sua melhor temporada desde 2014, poderia ter de gastar todas as suas fichas de modificações no carro para adaptá-lo à unidade da Mercedes, já que o bólido fora concebido para utilizar a unidade de potência da Renault. Um pensamento simples e lógico, que poderia sinalizar que a McLaren teria dificuldades para repetir o bom desempenho de 2020 em 2021.

         Só que o time conseguiu fazer muito bem sua lição de casa, e mesmo sem marcar os tempos mais expressivos da pré-temporada, nem dar tantas voltas na pista de Sakhir quanto alguns, a escuderia de Woking tem tudo para repetir o sucesso do ano passado, e sem ter sofrido o que se imaginava para correr novamente com o propulsor de sua antiga parceira. O novo modelo MCL35M mostrou-se bem ajustado, confiável, e fez tempos constantes em ritmo de corrida, colaborando para um ambiente de calma e tranquilidade nos boxes da escuderia que denotam que o projeto revela um potencial melhor do que todos esperavam. O time ainda soube interpretar as regras do regulamento para as novas medidas do difusor traseiro, de modo a não perder tanto apoio aerodinâmico como se poderia esperar, e tudo isso sem dar brechas para questionamentos legais da peça, algo muito positivo, já que não terá de se preocupar com problemas de interpretação do regulamento, muito pelo contrário, já se perguntam quando os rivais poderão copiar o estilo do difusor do carro amarelo, uma vez que até aqui ele tem se mostrado eficiente, ajudando o time a manter seu nível de performance para a temporada deste ano, sinalizando que eles podem brigar novamente para serem os “melhores do resto” do grid, a se confirmarem o favoritismo de Mercedes e Red Bull no duelo pelo título.

         Se o time perdeu Carlos Sainz Jr. para a Ferrari, conseguiu um substituto mais do que à altura: Daniel Ricciardo, que ajudou a Renault a evoluir nos últimos dois anos, e é um piloto extremamente eficaz na pista, sendo considerado um dos melhores do grid atualmente, por sua capacidade de andar rápido e ver a situação de corrida. E, acima de tudo, não ter problemas de ego, sendo uma pessoa sorridente, e que sempre ajuda a deixar um clima alegre no box. E o australiano já se deu bem com Lando Norris, que mesmo tendo perdido o duelo para Sainz Jr. em 2020, continua sendo um talento em potencial a ser desenvolvido, e também é outro piloto relativamente “cuca fresca” e alegre, de modo que podemos dizer que os boxes do time de Woking dificilmente passarão por problemas de stress com relação a sua dupla de pilotos.

         Mas a disputa pelo “segundo” pelotão do grid tem tudo para ser mais acirrada este ano do que em 2020, de modo que as pretensões da McLaren de lutar pelo TOP 3 não será fácil, mesmo tendo conseguido efetuar um bom trabalho com seu novo carro. Dispor novamente da melhor unidade de potência do grid é uma das vantagens, em especial pelo fato de não ter adotado o câmbio da Mercedes, preferindo usar o seu próprio, e desse modo, evitando os problemas de confiabilidade que a peça desenvolvida no time alemão demonstrou no time de fábrica e na Aston Martin. Vencer corridas pode estar ainda um pouco além das expectativas do time, mas diminuir a distância para Mercedes e Red Bull é uma das metas para a temporada, assim como estar preparada para conseguir alguns pódios, aproveitando as oportunidades que surgirem. Para uma equipe que há alguns anos se debatia com uma associação com a Honda que resultou em fracasso, com falta de performance e de competitividade, é um alento ver a McLaren voltando a batalhar pelas posições de destaque, tendo conseguido colocar as coisas em ordem, e trabalhando de forma determinada a voltar a ser um time vencedor, muito provavelmente em 2022, com o novo regulamento técnico, grande esperança do time, assim como de outros para melhorar suas chances de disputa.

 

ASTON MARTIN: O retorno de um nome icônico

 

Pilotos (Nº): Sebastian Vettel (5); Lance Stroll (18)

Modelo: AMR21

Motor: Mercedes-Benz V-6 Turbo M12 EQ Power+

A Aston Martin quer chegar chegando à F-1, mas de início vai ter mais problemas do que esperava. E Sebastian Vettel espera recuperar sua imagem na categoria, depois dos últimos anos complicados que teve na Ferrari, sendo o novo companheiro de Lance Stroll.


 

         Tendo participado de cinco GPs nas temporadas de 1959 e 1960, não é de se surpreender que poucos saibam que a Aston Martin já competiu na F-1, tendo se retirado da competição pela falta de resultados. Com a compra da antiga Force India por Lawrence Stroll, e sua participação acionária na tradicional marca inglesa, eis que a Aston Martin retorna oficialmente ao grid da categoria máxima do automobilismo nesta temporada. E contando com Sebastian Vettel, um tetracampeão mundial, para liderar o time na pista. Mas o entusiasmo deu lugar à preocupação na pré-temporada.

         Assim como a Mercedes teve problemas com o câmbio, o time inglês sediado ao lado de Silverstone também enfrentou problemas com a peça, além de percalços com a unidade de potência, o que roubou precioso tempo de pista para cuidar dos reparos, de modo que a Aston Martin só rodou mais que a própria Mercedes, e por apenas 10 voltas a mais. E pior, não conseguiu mostrar a velocidade que se esperava. Curiosamente, o time sempre teve uma eficiência exemplar na concepção de seus projetos quando era a Force India, conseguindo fazer muito com pouco orçamento. Agora que dinheiro não é problema, os resultados não estão saindo tão bem como se esperava inicialmente.

         No ano passado, ao utilizarem como base o carro da Mercedes de 2019, a escuderia deu mostras de que poderia fazer seu melhor ano na F-1. E isso até aconteceu, com direito a pole-position e vitória, mas no final da temporada. A equipe teve problemas para acertar o carro e obter os resultados esperados. Agora, o novo carro é baseado na Mercedes do ano passado, mas com limitações mais restritas no que poderia ser usado do time alemão, obrigando a equipe inglesa a ter de adotar soluções mais próprias para desenvolver o seu projeto. E, como a Mercedes teve problemas com sua nova solução do assoalho e da parte traseira, bem como no novo sistema de câmbio, pode-se dizer que parte destes percalços acabou sendo repassada também à escuderia, que terá mais trabalho do que se esperava para acertar o seu novo carro.

         Pior para Vettel, que chegou à equipe com esperança de se redimir dos últimos anos abaixo das expectativas na Ferrari. O piloto alemão já adiantou que precisará se adaptar ao estilo diferente do novo carro, e por conta dos problemas técnicos, acabou ainda sendo o piloto titular com menos voltas completadas na pista e Sakhir. O único consolo é que seu companheiro de equipe, o canadense Lance Stroll, apesar de ter completado mais voltas, não teve resultados muito melhores em termos de performance, o que é preocupante, porque todos esperavam ao menos conseguir manter o nível de competitividade com que terminaram a temporada de 2020, e poderem lutar forte pela liderança do segundo pelotão do grid. Tal como a Mercedes, a Aston Martin irá precisar analisar seu bólido e entender onde estão os problemas e como corrigi-los. Se o câmbio é um sistema onde alternativas para melhorar sua confiabilidade podem surgir mais facilmente, outros problemas relacionados ao comportamento do carro podem demandar mais tempo até serem entendidos e corrigidos. Para quem esperava ver os carros verdes se destacando nas corridas, pelo menos na briga das posições logo após o TOP 3, como no ano passado, é uma ducha de água fria. Vamos ver como eles realmente estarão na relação de forças nos treinos da sexta-feira, onde terão de se bater com seus rivais diretos na pista.

 

ALPINE: Continuando a evolução da Renault?

 

Pilotos (Nº): Fernando Alonso (14); Esteban Ocón (31)

Modelo: A521

Motor: Renault E-Tech 21 V-6 Turbo

Fernando Alonso está de volta à F-1, e ao lado de Esteban Ocón, vai lutar para levar a Alpine-Renault mais adiante no grid.


 

         Numa jogada de marketing, a Renault substituiu o seu nome pela marca Alpine na F-1, com potencial de apelo esportivo mais amplo, na expectativa dos franceses, que agora mantém o nome Renault apenas para sua unidade de potência, equipamento aliás, que será exclusivo do time de fábrica, agora que a sua antiga cliente, a McLaren, voltou a usar os propulsores da Mercedes. A expectativa é de que o time continue sua evolução, ou pelo menos mantenha a força demonstrada no ano passado, quando em determinado momento se bateu com Racing Point e McLaren pelo posto de 3ª força do campeonato, mas acabando por terminar em 5º no Mundial de Construtores. De positivo está a evolução da unidade de potência, que mostrou bom desenvolvimento em 2020, ainda que a confiabilidade tenha sido um pouco negligenciada em um curto momento.

         Mas o progresso foi nítido, conforme a temporada avançava, com Daniel Ricciardo a mostrar porque havia sido escolhido para ajudar o time a chegar mais à frente no grid, com o australiano a fazer excelentes provas, terminando por levar a escuderia de volta ao pódio. Faltou vencer, é verdade, mas esse resultado já era considerado muito difícil. E a meta para este ano é brigar pelo TOP 3, e para isso, eles tem um reforço importante, que é Fernando Alonso, que foi bicampeão com os franceses nas temporadas de 2005 e 2006. E o espanhol já conseguiu mostrar nos testes que mesmo tendo ficado dois anos fora da F-1, parece estar em ponto de bala para ajudar o time a crescer ainda mais. Tendo sofrido um acidente de bicicleta cerca de um mês antes dos testes, tendo sofrido inclusive fratura no maxilar, Alonso tranquilizou a todos mostrando-se completamente recuperado da lesão.

         O novo carro se mostrou confiável, com o time sendo o 4º com mais voltas completadas em Sakhir. Fernando Alonso pode ser o segundo piloto mais velho do grid, mas sua experiência e capacidade de liderar o time podem se mostrar imprescindíveis para a Alpine cumprir seus objetivos na temporada. O piloto espanhol parece mais ciente das limitações que poderá ter neste seu retorno à F-1, e parece bem mais relaxado e aberto, e menos sisudo e exigente. Mesmo assim, ele chegou a dizer que o carro ainda está “lento”, se comparado aos times mais capazes. Se não ajudar a conturbar o ambiente nos boxes, e se mostrar muito mais solícito e flexível em seus modos, o asturiano tem boas chances de fazer bonito em seu retorno à categoria. Vitórias e uma nova luta pelo título estão fora dos planos. Alonso saiu por baixo de sua associação com a McLaren, e poder ao menos mostrar novamente sua capacidade e talento em um time que precisa crescer e se firmar, já seria muito bom para reabilitar sua imagem. Mas o piloto não perdeu a “modéstia”: quando perguntado se ainda seria tão bom piloto quanto Hamilton ou Verstappen, foi direto na resposta. “Sou melhor”, declarou. E se diz em plena forma para tentar provar isso, se o carro permitir.

         Esteban Ocón, que sofreu na sua readaptação à F-1 no ano passado, demorando a apresentar melhores resultados, já sabe que pode aprender muito com seu novo colega de time, e por isso mesmo, ao menos por enquanto prefere a política da boa vizinhança, para que juntos somem forças para levar o time mais longe na pista. E se Alonso voltou em plena forma, mesmo aos 39 anos, é bom que Ocón se prepare, porque se foi difícil encarar Daniel Ricciardo, vai ver como medir forças com o bicampeão espanhol pode ser ainda mais desafiador.

         O time sediado em Enstone também não terá a chefia de Cyril Abiteboul, que foi dispensado, o que muitos consideram que pode ser benéfico, já que sua liderança no time não ajudava muito a desenvolver o projeto da marca na F-1. De positivo, o carro não demonstrou problemas na pré-temporada, e alguns problemas de instabilidade parecem ter sido corrigidos, o que sugere que o comportamento do novo modelo A521 deve ser bem comportado, e permitir a seus pilotos brigar pela liderança do segundo pelotão.

 

FERRARI: Tentando recuperar a imagem

 

Pilotos (Nº): Charles LeClerc (16); Carlos Sainz Jr. (55)

Modelo: SF21

Motor: Ferrari V-6 066 Turbo Hybrid

A Ferrari tem a difícil missão de se reabilitar em 2021, e lutar para ser a melhor do segundo pelotão. Charles LeClerc e seu novo companheiro Carlos Sainz por enquanto estão se dando bem, mas muitos apostam que a relação pode pegar fogo quando começarem a disputar as mesmas posições na pista...


 

         Depois de ter sido “pega” com uma irregularidade no motor em 2019, a Ferrari precisou se colocar no seu lugar, e competir com uma unidade de potência sem o artifício, e bem menos potente, a ponto de ser a mais fraca do grid em 2020. Lição aprendida, ao menos o novo propulsor italiano parece ter recuperado boa parte da performance que ficou devendo no ano passado, e dar chance de o time de Maranello aspirar a dias melhores este ano, depois de terminar apenas em 6º lugar na última temporada, sua pior classificação em décadas.

         Só que o buraco em Maranello não se resumia apenas ao propulsor: o próprio chassi tinha seus problemas, que complicavam ainda mais sua performance, e que não foram resolvidos adequadamente na temporada passada, de modo que, sem poder desenvolver o carro a contento desde o fim da temporada, por causa das restrições técnicas deste ano, pode-se dizer que o novo SF21 é apenas um passo no caminho para voltar ao topo, algo que só se espera para 2022. O time foi o 3º que mais voltas deu na pré-temporada, e aparentemente, não enfrentou grandes problemas. Só que a performance não foi lá essas coisas, apesar de terem feito algumas boas marcas. A realidade é que o carro de 2021 é mais competitivo do que o de 2020, mas isso ainda está longe de afirmar que o time italiano voltará a lutar por vitórias, e menos ainda à disputa pelo título. Na verdade, a Ferrari vai ter um ano duro pela frente, pois os times que a deixaram comendo poeira em 2020 tem muitas chances de continuarem fazendo os carros italianos penarem nas disputas das corridas.

         Charles LeClerc é o primeiro a admitir que a meta da escuderia para este ano é tão somente tentar liderar o segundo pelotão. O novo carro é apenas uma evolução, e não uma revolução, como seria necessário, para levar o time de novo às primeiras posições. O novo propulsor ajuda a resolver o problema da falta de velocidade nas retas, mas o equilíbrio e comportamento do carro ainda necessitam de várias correções e desenvolvimento. Será preciso paciência até os resultados voltarem a surgir. Para isso, o time conta com seu principal nome, LeClerc, que até conseguiu brilhar em alguns momentos na temporada passada, diante da falta de competitividade do SF1000, e agora terá um novo companheiro, Carlos Sainz Jr., que fez duas excelentes temporadas na McLaren nos últimos dois anos, e tem tudo para ser um companheiro muito mais forte e efetivo do que foi Sebastian Vettel. E que chega para brigar pelo seu espaço em Maranello, o que poderá levar a conflitos com LeClerc, que já deu seus chiliques quando o time não atendia alguns de seus pedidos em situação de corrida, e que pode vir a se sentir incomodado novamente caso acabe superado pelo novo parceiro, que muitas vezes era subestimado quando corria junto com Max Verstappen na Toro Rosso. Em um ano onde já se sabe que vitórias estão fora de cogitação, LeClerc deveria deixar o ego de lado, e junto com Sainz, lutar para obter os melhores resultados na pista, ajudando ambos a fazer o time crescer, e desse modo, se beneficiar com isso também.

         Resta saber se a cúpula ferrarista terá paciência para esperar estes resultados melhores chegarem. Comenta-se que, se finda o primeiro terço da temporada, o time não der sinais inequívocos de melhoria, ficando atrás dos demais rivais diretos, Mattia Binotto poderá tomar o cartão azul, bem como certos profissionais que estiveram envolvidos no desenvolvimento dos projetos dos últimos tempos, e da turma que coordena as estratégias. Seria outro tiro no próprio pé, mas muito condizente com a história da escuderia, que quando tem uma crise, se ela não é resolvida logo, passa-se o rodo em muita gente no time, e se começa tudo de novo, o que só ajuda a tumultuar ainda mais o clima dentro da escuderia, já famosa por sua intensa politicagem e excesso de cobranças, que mais ajuda a “enterrar” carreiras do que a elevá-las, do qual Vettel é o exemplo mais recente, sendo muito fácil ser defenestrado pelo time, não importa quão talentoso e competente possa ser, se os resultados não ajudarem.

         Como desgraça pouca é bobagem, os times que deixaram a Ferrari para trás no campeonato em 2020 estão mais decididos a manterem os italianos atrás novamente este ano, de modo que a disputa promete continuar para lá de acirrada... Talvez até mais ainda, como sugerem os prognósticos. A Ferrari e seus pilotos que se preparem para outro ano que promete ser complicado, talvez até mais do que eles próprios esperam. O que conseguirem melhorar será um grande lucro...

 

ALPHA TAURI: Repetir a performance de 2020

 

Pilotos (Nº): Pierre Gasly (10); Yuki Tsunoda (22)

Modelo: AT02

Motor: Honda RA621H Hybrid

 

A Alpha Tauri andou bastante na pré-temporada, conseguindo bom desempenho com o novo AT02. Pierre Gasly e o novato Yuki Tsunoda são os pilotos do time em 2021.


         Junto da Alfa Romeo, o time italiano sediado em Faenza, nascido em meados dos anos 1980 como Minardi, foi quem mais voltas andou na pré-temporada deste ano, e tem tudo para fazer a melhor temporada de sua história. O projeto do novo AT02 parece ter sido feito de forma tão competente quanto o do time principal, aliando velocidade e confiabilidade na pista, aproveitando também de forma eficiente a nova unidade de potência da Honda. Pierre Gasly, depois de fazer sua melhor temporada na F-1, e ganhar sua primeira corrida, vai liderar o time mais uma vez, tendo como companheiro o japonês Yuki Tsunoda, que mostrou velocidade nos testes da pré-temporada, podendo ser o melhor piloto japonês a chegar à F-1 até hoje. Mas o excelente tempo marcado pelo nipônico no último dia da pré-temporada precisa ser relativizado, já que ele usou o DRS acima do que seria permitido, de modo que seu desempenho foi algo fora dos parâmetros normais. Mesmo assim, é um alento ver que parece estar se dando bem com o carro, o que já é um bom começo, uma vez que a Red Bull pode ser meio impaciente com seus pilotos no time “B” da categoria.

         Para Gasly, será um ano decisivo, pois se fizer bem o seu trabalho, poderá se credenciar a ir para outro time, já que a Red Bull não lhe deu outra chance no time principal, preferindo contratar o mexicano Sergio Perez para novo companheiro de Max Verstappen. Mesmo tendo a “confiança” para ser indicado como “líder” da Alpha Tauri, não deixa de ser um viés de reprovação depois do ocorrido em 2019, quando acabou rebaixado para a então Toro Rosso, e sendo substituído por Alex Albon, que por sua vez também acabou perdendo sua posição no time principal. Na hipótese de Perez fazer uma temporada forte na Red Bull, como muitos esperam, as chances de Gasly ter uma nova promoção diminuem, e uma das hipóteses ventiladas é de que o francês pode ir parar na Alpine, se Esteban Ocón não render o que eles esperam este ano. Carlos Sainz fez este caminho, indo para o time francês, quando viu não ter alternativas no time rubrotaurino, e de lá chegou à McLaren, onde se destacou brilhantemente, indo parar agora na Ferrari.

         Tsunoda, por sua vez, também precisará mostrar a que veio, se o humor de Helmut Marko não estiver bom ao final do ano, e ele não ter conseguido resultados que o consultor julgar ter obrigação de conseguir. E com um carro que parece bem nascido e competitivo, a ponto de a Alpha Tauri já ter ambição de se meter no meio da potencial briga McLaren/Alpine/Ferrari/Aston Martin, Yuki não terá desculpas no comportamento de seu bólido que justifique más performances, como acabou ocorrendo com Albon na Red Bull, ou falta de empenho, como fez Danill Kvyat ser novamente dispensado.

         Além da alta quilometragem adquirida, o carro também fez boas simulações de corrida, mostrando que realmente pode se meter na briga com os times citados acima, mostrando que a velocidade demonstrada não está apenas nas voltas lançadas.

 

ALFA ROMEO: Último ano do retorno?

 

Pilotos (Nº): Kimi Raikkonen (7); Antonio Giovinazzi (99)

Modelo: C41

Motor: Ferrari V-6 066 Turbo Hybrid

Antonio Giovinazzi e Kimi Raikkonen vão para sua terceira temporada como pilotos da Alfa Romeo, que promete melhorar sua performance em relação ao ano passado.


 

         A Alfa Romeo foi uma das boas surpresas da pré-temporada. O time sediado na Suíça, antiga Sauber, conseguiu fazer um trabalho decente no seu modelo C41, e junto com a nova unidade de potência da Ferrari, tem tudo para deixar Haas e Williams brigando no fundo do grid, e tentar chegar um pouco mais à frente. E o novo carro mostrou-se confiável, a ponto de a escuderia ter sido a que mais voltas deu em Sakhir, ao lado da Alpha Tauri. Foram 422 voltas, com Kimi Raikkonen fazendo o 4º melhor tempo no último dia, mostrando que o carro parece bem nascido, e pode proporcionar à sua dupla de pilotos, a mesma dos últimos dois anos, melhores oportunidades do que as vistas no ano passado.

         A evolução do time, porém, precisa ser medida de forma mais efetiva, já que os testes não permitiram uma avaliação melhor da relação de forças. Mesmo assim, a impressão é de otimismo nos boxes do time fundado por Peter Sauber, e que desde 2019 usa o nome da Alfa Romeo, que aliás, pode estar em seu último ano na F-1, com alguns boatos sugerindo que a marca pode redirecionar seus investimentos para outra categoria, como a F-E. Embora não haja nada oficial neste sentido, chama atenção o fato de Mick Schumacher, piloto da Academia Ferrari, ter sido posto na Haas, e não na Alfa Romeo, como todos esperavam, já que em tese, o time de Hinwill era tido como “equipe B” da Ferrari na F-1, tendo deslocado para lá vários profissionais, e até colocado Raikkonen para correr por lá, o que sugere que a associação entre as escuderias, através da marca Alfa Romeo, pode não seguir adiante em 2022. E, considerando que a performance da escuderia tem sido muito mais positiva do que a da Haas, mesmo que a decisão tenha sido tomada bem antes dos testes, isso dá o que pensar.

         No time, Kimi Raikkonen, mesmo aos 41 anos, o mais velho piloto do grid, se estiver inspirado, sempre pode conseguir surpreender, e mostrar porque já foi campeão mundial, o último, pela Ferrari, até agora. Já Antonio Giovinazzi, até mesmo pela questão de arrumar um lugar para Mick Schumacher, teve a surpresa de ganhar mais um ano na equipe, e tentar mostrar que mereceu a confiança recebida, quando a grande maioria apostava que ele seria rifado para a estréia do filho do heptacampeão Schumacher. Se o carro confirmar ter sido bem desenvolvido, pode tentar discutir posições com a turma do meio do pelotão, que pode ser muito embolada este ano. Ou pode até voltar a fazer parte da turma do fundão do grid, como ocorreu ano passado, tendo de duelar com a Haas e a Williams, tendo se saído muito melhor do que ambas, e com pinta de poder fazer isso de forma ainda mais fácil este ano.

 

HAAS: Esforços voltados para 2022

 

Pilotos (Nº): Mick Schumacher (47); Nikita Mazepin (9)

Modelo: VF-21

Motor: Ferrari V-6 066 Turbo Hybrid

 

A Hass praticamente foi tomada de assalto pelos russos, ou melhor, pelos dólares do pai de Nikita Mazepin, um dos pilotos do time, que terá como companheiro Mick, o filho de Michael Schumacher, em sua estréia na F-1.


         A Hass é o time teoricamente mais fraco na preparação para a temporada. A escuderia admitiu que seus esforços estão totalmente voltados para 2022, quando estréia o novo regulamento técnico, de modo que o “novo” modelo VF-21 nada mais é que o carro do ano passado adaptado às novas regras de restrição de downforce implantadas para este ano. A isso soma-se o fato de ter uma dupla completamente novata na categoria máxima do automobilismo, Mick Schumacher e Nikita Mazepin, que já sabem que pouca coisa poderão fazer neste seu ano de estréia na competição.

         Mick traz de volta o sobrenome Schumacher à F-1, e apesar de ter mostrado qualidades com o título da F-2 no ano passado, e o apoio da Ferrari, que tem ambição de contar com o filho do heptacampeão no futuro próximo no time de Maranello, as cobranças estarão mais centradas no que ele poderá fazer na pista, mesmo com um carro bem limitado. A comparação com o russo Nikita Mazepin, que é tido como um piloto rápido, mas que garantiu sua vaga mais pelo dinheiro do pai do que pela capacidade propriamente, ainda mais depois do escândalo de assédio em que se viu envolvido, pode ser complicada, se começar a perder a disputa interna no time. De positivo, a Hass mostrou confiabilidade, sendo o time que conseguiu rodar 394 voltas nos testes, o 5º time que mais andou. Por outro lado, em nenhum momento os dois pilotos conseguiram mostrar performance expressiva com o carro, cuja melhor “evolução” é a nova unidade de potência da Ferrari, bem mais possante do que a do ano passado, mas cuja evolução não é considerada uma melhora substancial por Gunther Steiner, chefe do time, que revelou o estreitamento dos laços da Haas com a Ferrari, responsável pela escolha de Mick Schumacher para ser um dos titulares do time nesta temporada.

         De positivo, Steiner citou o fato de ambos os pilotos não terem cometido nenhuma falha nos dias da pré-temporada, mostrando ao menos estarem cientes de suas responsabilidades, sabendo dos problemas que o time terá, e procurando não se tornarem novos problemas, ao menos durante os testes. Já é um bom começo, especialmente para uma equipe cuja dupla de pilotos se acostumou a arrumar confusões e encrencas nas últimas temporadas, não ajudando o time a ir para a frente tanto quanto poderiam fazer. Se ambos conseguirem evitar se meterem em problemas durante a temporada, isso ajudará a escuderia a pelo menos ter uma temporada menos complicada, já que em tese pode acabar ficando na rabeira do grid, na qual provavelmente duelará com a Williams, outro time que poucas modificações fez em seu carro, mas que parece ter conseguido ao menos uma melhora de performance. E eles mesmos admitem que pontuar será fantástico, já antevendo como isso deverá ser complicado este ano, diante da melhora dos times rivais.

         E como mudam os tempos: tendo iniciado de forma até decente sua participação na F-1, Gene Haas se orgulhava de estar fazendo um bom trabalho, mas agora, ao ver os carros do time norte-americano pintado nas cores da bandeira da Rússia, graças ao patrocínio da Uralkali, empresa do pai de Nikita Mazepin, da Rússia, pode-se dizer que a escuderia capitulou à dura realidade da competição na categoria máxima do automobilismo, tanto que já se cogitou até mesmo sua venda para alguém, ou fechamento da escuderia, depois de tanto investimento para poucos resultados. Talvez com o teto de gastos, as coisas melhorem um pouco. Perder outro time seria tudo o que a F-1 menos precisa agora...

 

WILLIAMS: Colocando a casa em ordem

 

Pilotos (Nº): George Russel (63); Nicholas Latifi (6)

Modelo: FW43B

Motor: Mercedes-Benz V-6 Turbo M12 EQ Power+

 

Sob nova direção e propriedade, a Williams inicia um longo caminho para tentar sair do fundo do grid em 2021.

         A Williams entra em 2021 em, nova administração a tempo integral. O time fundado por Frank Williams nos anos 1970 acabou vendido no ano passado para o Dorilton, um grupo de investimentos dos Estados Unidos, que já passou a chefiar a equipe antes mesmo do fim da temporada. A família Williams saiu de cena, e os novos donos, que se comprometeram a respeitar o legado e a história da escuderia, começam o ano tentando colocar a casa em ordem, com vistas a estarem preparados para a temporada de 2022, quando entrará o novo regulamento técnico. Por isso mesmo, o novo modelo FW43B é apenas o carro do ano passado adaptado às regras técnicas de limitação de downforce aplicadas para esta temporada, junto a alguma melhoria no modelo, que até conseguiu alguns tempos razoáveis com George Russel na pré-temporada, dando a entender que o time pode sonhar com dias um pouco melhores do que os vistos no ano passado, quando o time não conseguiu marcar um ponto sequer, pela primeira vez em sua história.

         Mas que ninguém se engane, pois embora o carro tenha demonstrado confiabilidade, a velocidade não empolga, e Russel já mostrou que até consegue levar o carro em uma volta rápida, mas fazer o mesmo durante todo um GP é uma tarefa mais complicada. E haverá outro problema que pode ser um revés para o time: o novo modelo mostrou-se bem sensível à ação do vento, que dependendo da situação, pode tanto piorar como favorecer o desempenho do bólido. A aposta é que haverá algumas corridas onde o vento não soprará muito forte, como chegou a ocorrer em Sakhir na pré-temporada, e neste caso, o carro deve mostrar-se mais competitivo.

         Mas outro detalhe também chama a atenção: o carro quase não tem patrocínios, sinal de que o orçamento para a temporada, apesar do teto orçamentário, não será dos mais generosos. Mas, com o foco voltado para 2022, a temporada de 2021 será de transição, assim como está sendo feito na Haas, com os recursos sendo destinados em sua maioria ao projeto do novo carro. E nessa transição, o grupo Dorilton também quer terminar de “arrumar” a casa, com a contratação de profissionais e reorganização interna para tentar otimizar os trabalhos. Um exemplo é a chegada de François-Xavier Demaison, que ocupará a função de diretor técnico, tendo vindo do Grupo Volkswagen, e que ajudará a coordenar a área de engenharia do time, função que estava vaga desde 2019, com a demissão de Pady Lowe.

         O time também confirmou que manterá sua parceria com a Mercedes, rejeitando os rumores de que poderia voltar a utilizar as unidades de potência da Renault, que no momento só tem o seu time de fábrica, a Alpine, na competição. Se George Russel é o grande trunfo do time, infelizmente Nicholas Latifi não mostrou a que veio na temporada passada, tendo o canadense sido superado com folgas pelo inglês, que certamente deve fazer sua última temporada pelo time de Grove, com vistas a ocupar um lugar na Mercedes em 2022. Pela expectativa, a Williams vai se digladiar com a Haas pelo posto de último time do grid mais uma vez nesta temporada, com melhores chances de sucesso contra o time de Gene Haas. Por mais que o grupo Dorilton tenha prometido que a escuderia voltará a seus bons tempos, isso exigirá tempo e paciência, algo que não dará frutos nesta temporada, é bom avisar. Que possam iniciar sua recuperação no próximo ano, com o novo regulamento técnico...

 

A TEMPORADA 2021

 

O belo autódromo do Algarve, em Portugal, está mantido na temporada 2021, para satisfação de pilotos e equipes.

        
Que ninguém se engane: o que pode ser a maior temporada da história da F-1, com 23 corridas, pode se transformar em uma temporada de sobrevivência, onde vários GPs certamente não conseguirão ser realizados, pelo menos, como previsto inicialmente. O motivo, claro, não poderia ser outro: a pandemia do coronavírus ainda está mais presente do que nunca, e mesmo com a vacinação tendo sido iniciada em vários países pelo mundo, dando esperança de que a doença poderá ser vencida em breve, o ritmo de vacinação irregular em muitos países ainda deve comprometer a realização de algumas provas, apesar de todos os cuidados e protocolos de segurança adotados pela categoria máxima do automobilismo para se precaver, e não comprometer também os locais por onde passará.

         O campeonato deveria começar na Austrália, mas a corrida em Melbourne acabou realocada para o fim do ano, quando o país da Oceania já deverá colher os frutos dos seus esforços de vacinação, permitindo a realização do GP sem maiores problemas. No caso do continente americano, porém, só os Estados Unidos vem acelerando fortemente a imunização de seus cidadãos, podendo chegar até a época de sua corrida com a situação provavelmente controlada, numa expectativa otimista. Isso provavelmente pode ocorrer também no Canadá, mas como seu GP está marcado para junho, fica a dúvida se até lá a vacinação terá cumprido seu papel a ponto do país permitir que a prova seja realizada. Já no caso de Brasil e México, a situação é muito mais complicada. Nosso país vem realizando a vacinação a conta-gotas, devido à falta de vacinas, por inépcia do governo federal, que não se antecipou em algo tão óbvio como fazer parcerias de compra com os laboratórios. Nosso país virou o epicentro da pandemia atualmente, de modo que os esforços de vacinação demorarão muito para produzir efeitos no ritmo atual de imunização, podendo comprometer a realização de nosso GP, que já não foi disputado em 2020 justamente por causa da pandemia, assim como todas as demais provas no continente americano.

         A situação do México não é mais animadora que a do Brasil, estando também com falta de vacinas, e um esquema de imunização que até o presente momento não conseguiu decolar propriamente. O fato de ter uma população menor que a brasileira pode ser um trunfo caso as vacinas cheguem em maior quantidade, mas até que isso ocorra, o país latino também está tendo vários percalços, que caso se estendam por muito tempo, podem inviabilizar a realização do GP também.

Depois de ter o GP da Holanda cancelado no ano passado por causa da pandemia da Covid-19, a pista de Zandvoort finalmente fará seu retorno à F-1 este ano.

        
Mas a Europa também tem seus empecilhos. O fornecimento das vacinas aos países do bloco está irregular, e à exceção do Reino Unido, os demais países ainda não conseguiram vacinar um grupo significativo de sua população. As primeiras etapas em solo europeu deverão acontecer a portões fechados, sem público, o qual pode até ser liberado para as corridas mais adiante no calendário, conforme os efeitos da vacinação comecem a se fazer sentir, e permitam alguma flexibilização. Mas no presente momento, a situação está crítica em vários lugares, como a França, que está efetuando novos lockdowns para tentar diminuir o número de novos casos, que ameaçam levar o sistema de saúde ao colapso. Apesar disso, deveremos ter duas novidades no calendário. A Holanda retorna à competição, o que já deveria ter acontecido no ano passado, não fosse a pandemia, e teremos o GP da Arábia Saudita, perto do fim do ano. O GP da China não voltou este ano, devido à pandemia, e no seu lugar, tivemos a manutenção, bem-vinda, das etapas da Emília-Romanha, em Ímola; e Portugal, no excelente autódromo de Portimão, no Algarve. E as duas provas devem ser realizadas, apesar das dificuldades oriundas da pandemia.

         Basicamente, todo o calendário ainda trafega na incerteza, com as corridas podendo ser realizadas ou não, dependendo da situação do momento. Então, só podemos esperar, e ver se o campeonato conseguirá ir sendo realizado conforme o previsto, cujas datas atuais podemos ver no quadro abaixo:


 

Abu Dhabi (acima) continua a encerrar a temporada, mas terá nova concorrente no Oriente Médio, a pista de Jedah, na Arábia Saudita (abaixo), que sediará a penúltima corrida do ano.


 

TRANSMISSÃO NO BRASIL: CASA NOVA, VELHOS ROSTOS

 

Max Wilson, Reginaldo Leme, Sérgio Mauricio, e Felipe Giaffone: depois de anos transmitindo a F-1 na Globo, um novo recomeço agora na Bandeirantes, nova emissora da categoria no país.

         A principal novidade da transmissão da categoria máxima do automobilismo no Brasil é a nova emissora que irá mostrar as corridas. Depois de mais de 40 anos transmitindo a F-1, o Grupo Globo resolveu dispensar a renovação do contrato de transmissão, deixando a competição sem uma nova casa para a temporada de 2021. Isso ocorreu em agosto, e nos meses seguintes o grupo Rio Motorsports, que vinha tentando viabilizar a construção de um novo autódromo na região de Deodoro, na cidade do Rio de Janeiro, acenou com a aquisição dos direitos de transmissão, apostando no trunfo de ter em seu futuro novo autódromo a casa do Grande Prêmio do Brasil de F-1. Mas as tentativas de negociar com outros canais empacou ou não rendeu os entendimentos esperados, já que a mesma Rio Motorsports tinha pego os direitos de transmissão da MotoGP após esta ser dispensada pelo Grupo Globo, que transmitia as corridas nos canais pagos do SporTV, repassando-os ao Fox Sports. O problema foi que eles não pagaram à Dorna os direitos, de modo que o Grupo Disney, novo proprietário do Fox Sports, precisou regularizar a situação para que o canal pudesse continuar exibindo a competição.

         Não deu outra: sentindo que desta vez não iriam conseguir seguir adiante com sua empreitada, a Rio Motorsports “devolveu” os direitos para a Liberty Media, que precisou sair a campo novamente para negociar com as emissoras. Até mesmo a Globo entrou de novo na jogada, uma vez que agora a Liberty precisaria ser um pouco mais moderada em suas exigências para fechar o negócio, já que um dos motivos pelos quais a Globo decidira não renovar o contrato de transmissão era o alto valor pedido pelos direitos de transmissão, o que encareceu demais o contrato por conta da forte desvalorização sofrida pelo real frente ao dólar no ano passado. Abriu-se a esperança de que a Globo continuaria transmitindo a F-1, uma vez que outros nomes sondados pareciam não ter condições de assumir a empreitada.

         Até que em janeiro, depois de algumas semanas de silêncio, a Globo bateu o martelo, e confirmou que não exibiria mesmo a F-1 este ano. Mas, tão logo essa notícia surgiu, causando certa apreensão nos fãs da velocidade, eis que o Grupo Bandeirantes anunciou que seria a ”nova” casa da categoria máxima do automobilismo no Brasil, para alívio dos fãs do esporte. A emissora paulista já havia transmitido a F-1 em 1980, tendo sido a primeira vez que o campeonato foi transmitido na íntegra para o nosso país. O bom momento de Nélson Piquet, vencendo corridas com a Brabham naquele ano, motivaram a Globo a pegar de volta os direitos, transmitindo a temporada de 1981, e não parando mais, até o fim do campeonato de 2020.

         Com um verdadeiro “desmonte” de seu time de profissionais envolvidos com as transmissões de automobilismo, não foi difícil para a Bandeirantes montar o seu novo quadro de profissionais para as transmissões de F-1. Reginaldo Leme, que já havia saído da Globo ao fim de 2019, havia sido contratado pela emissora para comentar as corridas da Stock Car, outro campeonato adquirido pela Bandeirantes para exibição na TV aberta, de modo que Leme já estava presente, e pronto para retornar ao convívio com a F-1, onde esteve pela primeira vez acompanhando a categoria no já distante ano de 1972, e agora é o principal nome da equipe de transmissão da nova emissora, pronto para brindar o público com o seu conhecimento e experiência sobre a categoria máxima do automobilismo.

         Mas não foi apenas Reginaldo que aportou na Bandeirantes. Com o contrato de trabalho não renovado pela Globo, tendo atuado na última década como repórter in loco nos GPs de F-1, Mariana Becker não demorou a ser contatada e contratada pela nova emissora, assim como seu marido, Jayme Brito, que há anos atuava como produtor da equipe de F-1 na Globo, e também exercerá a mesma função no projeto de transmissão da Bandeirantes, que também conseguiu contratar um dos principais nomes da equipe de narração dos canais SporTV, Sérgio Maurício, que já narrava os treinos livres e classificatórios no canal por assinatura da Globo. Completaram a equipe de transmissão as contratações de Max Wilson, e de Felipe Giaffone, que também atuavam como comentaristas nas transmissões feitas no SporTV e na TV Globo.

         Também foi definido o esquema de transmissão da Bandeirantes, que irá apresentar todas as corridas do campeonato ao vivo na TV aberta, enquanto os treinos livres e os treinos de classificação ficarão no canal pago Bandsports, um esquema bem similar ao que a Globo utilizava em sua transmissão, mas com o agravante de que nos últimos tempos cortava a cerimônia do pódio tão logo a corrida recebia sua bandeirada de chegada, para não mencionar que as corridas no período da tarde, quando conflitava com o futebol, eram empurradas sumariamente para o SporTV, exibindo apenas um compacto ao fim do dia na TV aberta. Estes detalhes não agradavam ao Liberty Media, que exigia da Globo um melhor engajamento na transmissão de seu produto, descontente com algumas práticas que a emissora carioca vinha fazendo, como não transmitir a cerimônia do pódio, e chegando a cortar até mesmo a vinheta oficial de abertura das transmissões, colocando no lugar bate-papo de sua equipe de transmissão.

         Outro ponto que ajudou a “empacar” a renovação das transmissões na Globo era a chegada do sistema oficial de streaming da F-1 ao Brasil, até então bloqueado pelo antigo contrato da Globo, que lhe dava exclusividade no país das transmissões da F-1, quaisquer que fossem os modais. Como o Liberty Media queria trazer esse serviço ao país, a Globo queria manter sua exclusividade, o que não foi aceito. A Bandeirantes, por outro lado, não só aceitou, como o material de transmissão que produzirá muito provavelmente será utilizado pelo streaming oficial da F-1, em suas opções em português.

         Para a primeira corrida, a Bandeirantes decidiu transmitir o treino de classificação também na TV aberta, e a corrida, no domingo, terá um VT completo no canal aberto a partir das 21 horas, além da transmissão ao vivo a partir das 12 horas.

         Sem pilotos brasileiros no grid, a Bandeirantes tem tudo para fazer uma transmissão mais sóbria, procurando cativar os fãs pela categoria em si, e não por termos algum representante no grid. E de brinde, ainda teremos de volta a transmissão das provas da F-2 e da F-3, que haviam sido descartadas pela Globo no SporTV em tempos recentes. É hora de prestigiar o esforço da nova emissora na transmissão destes campeonatos, bem como da F-1, depois de tantos anos de Globo/SporTV. Os profissionais envolvidos podem até ser os mesmos rostos aos quais todo mundo já está acostumado, mas eles tem a chance de fazer muita coisa diferente na nova casa, procurando conciliar o que era bom, com o que precisava ser melhorado. E a partir desta sexta-feira, poderemos começar a conferir o resultado disso, como já vimos um pouco na cobertura da pré-temporada, com várias inserções dos trabalhos mostrados em vários programas do grupo, tanto no canal aberto quanto no canal fechado.

 

FÓRMULA 1 NO STREAMING NO BRASIL

 

O serviço oficial de streaming da F-1 está disponível agora para os brasileiros.

         E o serviço de streaming oficial da F-1 finalmente está estreando no Brasil. Com o fim do contrato da categoria máxima do automobilismo com a TV Globo, o serviço F1TV finalmente está liberado para nosso país, e este acabou sendo um dos motivos para a emissora carioca não renovar o contrato de transmissão, já que queria exclusividade sobre as transmissões da categoria, e a Liberty Media fazia questão de poder lançar o serviço por aqui. São dois planos disponíveis para os assinantes: o F1TV Acess, que oferece a opção de ver a F-1 sob demanda, onde se poderá ver repetições das provas da F1, F2 , F3 e a Porsche Supercup, acesso sob demanda a todas as câmaras on board da F-1, documentários exclusivos, e acesso a um acervo de mais de 650 corridas históricas dos arquivos da F1. Tem direito também aos recursos da cronometragem oficial da categoria ao vivo, com a classificação dos pilotos, exclusivo; dados de telemetria dos carros; melhores clipes de rádio das equipes; mapas dos pilotos ao vivo; e o histórico do uso de pneus. Tudo isso pelo preço de 26,99 euros por ano.

         E tem também o F1TVPro, que além de todos os recursos do pacote Acess, também permite acompanhar todos os treinos e as corridas ao vivo, bem como acesso às câmeras on board de todos os pilotos ao vivo. Este pacote tem o preço de 39,99 euros por ano. O acesso pode ser feito através de aplicativos para celular, Chromecast, e pelo site do serviço, no endereço https://f1tv.formula1.com/. Para quem quiser conhecer o serviço antes de assinar, o F1TVPro oferece um acesso grátis por 7 dias para avaliação gratuita. Para quem sempre quis ter outra alternativa legal de acompanhar a categoria máxima do automobilismo, eis sua grande chance.

 

 

 

 

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