sexta-feira, 19 de março de 2021

RED BULL FAVORITA?

Max Verstappen e a Red Bull foram os mais rápidos na pré-temporada, sem terem problemas, enquanto a Mercedes teve seu início de ano mais complicado desde o início da era turbo híbrida. Mudança no favoritismo para a temporada 2021?

            Estamos a uma semana do início da temporada 2021 da Fórmula 1, e a pergunta que todos estão fazendo, depois do resultado dos testes da pré-temporada é: a Red Bull é a favorita agora? Afinal, o time austríaco teve dias produtivos durante todo o final de semana da pré-temporada, enquanto a até então favorita Mercedes se deparou com vários problemas. Pode ser bem possível, mas ainda seria prematuro tirar o time alemão do páreo...

            Em primeiro lugar, números irrefutáveis. A Red Bull conseguiu aproveitar todos os três dias da mais ínfima pré-temporada de que há memória, de modo que eles puderam seguir todo o seu cronograma de trabalho, testando tudo a que tinham direito no escasso tempo de pista que tiveram. Aliás, quase todo o tempo, já que no primeiro dia, baixou uma tempestade de poeira em Sakhir que prejudicou parte dos trabalhos dos times. Mesmo assim, os números de quilometragem foram respeitáveis, em que pese o time dos energéticos ter sido apenas o 7º colocado em número de voltas completadas, 369, mas nada tão distante da Alfa Romeo e da Alpha Tauri, que rodaram 422 giros no circuito barenita, e foram as recordistas de voltas na pista. Max Verstappen deu 203 voltas, enquanto seu novo companheiro de equipe, Sergio Perez, 166. E ambos os pilotos, em seus momentos, foram os mais velozes na pista. E com um dado importante: nenhum problema foi relatado durante os trabalhos.

            Max Verstappen, claro, rejeita uma possível euforia, e não se pode dizer que está errado. A velha máxima de teste é teste, corrida é corrida, sempre precisa ser lembrada, mas o holandês relata que é a melhor pré-temporada dele no time, e isso significa que a escuderia deve começar o ano com uma forma muito melhor do que nas últimas temporadas, onde os resultados iniciais às vezes não eram tão otimistas quando se esperava, mas o time recuperava o terreno depois. A consequência disso é que a concorrência, leia-se Mercedes, saía na frente, construindo uma vantagem significativa, de modo que quando a Red Bull conseguia chegar perto para disputar mais próxima, os alemães já estavam se preparando para o ano seguinte, com o campeonato perto de ser fechado matematicamente. Vimos isso especialmente no ano passado, quando Lewis Hamilton praticamente disparou na frente nas corridas iniciais, com o time dos energéticos só incomodando de fato quando a temporada já estava em sua reta final. Helmut Marko, do alto de sua experiência como consultor do time, endossou a afirmação de Max, também declarando que esta foi a melhor pré-temporada da escuderia em muito tempo.

            Com a possibilidade de largar muito melhor este ano, a Red Bull tem talvez sua melhor chance de dar as cartas desde 2013, o último ano em que venceu o campeonato, antes do início da atual era turbo híbrida. E se isso se fato ocorrer, Verstappen, que se cansou de sempre sair atrás e tentar se recuperar ao longo do ano, tem uma chance inédita de talvez sair na frente, e comandar a luta pelo título. O trabalho de Adrian Newey em relação às novas regras técnicas que impuseram modificações sutis na traseira dos bólidos e nas bordas do assoalho dos carros parece ter sido bem eficiente, assim como a adaptação do carro à nova estrutura dos pneus da Pirelli, que foi modificada por questões de segurança para este ano, depois de permanecer praticamente a mesma nas últimas duas temporadas. Como os carros evoluíram sua geração de downforce ao longo do ano passado, foram estabelecidas regras para fazer com que os carros neste ano perdessem pelo menos 10% de sua capacidade de gerar pressão aerodinâmica, a fim de pressionar menos os pneus. E, claro, isso tinha o potencial de promover mudanças no comportamento dos carros para este ano, de modo que eles não apresentariam exatamente o mesmo desempenho e performance de 2020. Mas, muitos imaginavam que a relação de forças não seria tão afetada. Pelo visto, isso acabou fazendo diferença mais do que se esperava. A Red Bull tinha um carro bem estável ao encerrar o ano passado, e pelo visto, conseguiram manter esse comportamento, mesmo com as limitações técnicas impostas, mantendo o carro estável e equilibrado, mesmo com menos downforce produzido.

Quebra do câmbio logo na primeira volta no primeiro dia fez a Mercedes perder toda a manhã consertando o problema. No segundo dia, Lewis Hamilton rodou e ficou atolado na brita (abaixo), fazendo o time perder ainda mais tempo. O novo W12 se mostrou muito arisco na traseira.


            Enquanto isso, a Mercedes, que nos últimos anos se dava até o luxo de andar abaixo de sua capacidade, para não entregar sua real capacidade aos rivais, salvo em determinados momentos, agora foi o time que menos andou, com apenas 304 voltas, 65 a menos que os rivais rubrotaurinos. Se isso não é um dado muito preocupante, por outro lado, o trabalho desenvolvido nos três dias de testes, inspira alguns cuidados. Começando por um problema na caixa de câmbio que acabou por arruinar praticamente metade do primeiro dia de testes quando Valtteri Bottas iniciou os trabalhos. O time alemão nem fez seu shakedown na Inglaterra, tendo mandado seu novo carro praticamente virgem para as areias do Bahrein. O time conseguiu dar uma reagida no segundo dia de testes, o que pelo menos confirma que o modelo W12 tem sua velocidade, mas por outro lado, também se mostrou mais arisco e indócil, a ponto de Lewis Hamilton ter rodado, e provocado uma bandeira vermelha após ficar atolado na caixa de brita, e fazer a escuderia germânica perder mais tempo útil de pista. E tanto Hamilton quanto Bottas reclamaram do comportamento da traseira do carro, e um dado pode ser levantado: o ritmo de corrida estava claramente mais lento que o demonstrado pela Red Bull, onde Verstappen afirmou que seu carro tinha um comportamento bem previsível, e que se sentia confortável no carro, algo que não foi o forte do modelo no ano passado, quando seu comportamento na traseira era instável, obrigando o holandês a arriscar além do normal para impor um ritmo mais forte.

            A confiabilidade do equipamento, que era também uma característica forte da Mercedes, também foi um problema inesperado, tanto que até mesmo a Aston Martin, que usa os propulsores alemães, e para este ano conta também com o câmbio produzido em Brackley, também enfrentou problemas de confiabilidade. Coincidência? Não mesmo. Williams e McLaren, que também utilizam a unidade de potência alemã, não tiveram nenhum problema com seus câmbios, pelo simples fato de ambos os times fabricarem suas respectivas peças, não tendo utilizado o sistema desenvolvido pelo time alemão, como a Aston Martin fez. O time inglês, ex-Racing Point, teve o problema no câmbio no segundo dia de testes, e além disso, também sofreu com uma falha no turbo do motor, que ajudaram o time a ter mais quilometragem de testes apenas mais que a Mercedes, e mesmo assim, por uma margem mínima de 10 voltas a mais. E com uma temporada que, se for levada a cabo sem maiores problemas, mesmo com a pandemia da Covid-19, terá 23 corridas, é preciso encontrar respostas o quanto antes. É para isso que serve uma pré-temporada, a qual o time vencedor dos sete campeonatos nunca teve um resultado tão complicado.

            Tanto que na segunda-feira, a Mercedes voltou à pista barenita, agora fazendo uso de seu dia de filmagens, onde podia rodar até 100 Km, e com os dois carros juntos, certamente tentando encontrar respostas para o comportamento arisco da traseira do bólido. E na fábrica, a equipe técnica certamente deve ter trabalhado a toda velocidade para decifrar os dados de pista e procurar entender onde exatamente está a origem do nervosismo da traseira. O time comandado por James Allison sempre se mostrou afinado e competente, e agora certamente está fazendo por merecer os salários que ganham, tendo de encontrar soluções que, se não puderem ser implantadas já no próximo final de semana, certamente o farão para a segunda corrida. Mas é bem provável que já tenham novidades quando os carros entrarem na pista na sexta-feira para o primeiro treino livre oficial. Um treino que, aliás, já será menos aproveitável do que até 2020, uma vez que este ano os treinos livres na sexta terão uma hora cada, e não mais uma hora e meia. Em outras palavras, os times terão apenas duas horas, e não mais três, para andarem na sexta-feira. Se a Mercedes precisar rodar bastante para ver se encontrou suas respostas, vai ter de usar muito bem o tempo disponível. Até o presente momento, o time alemão só afirma que ainda está buscando entender as razões do mal comportamento do bólido na traseira, um desafio que nenhum outro time teve na pré-temporada, algo que aumenta ainda mais a sensação de terem errado na concepção da nova traseira do bólido, precisando achar a razão exata para descobrir porque a reação do carro não tem correspondido ao esperado. Capacidade e recursos para isso a Mercedes tem.

Mais problemas para a Mercedes? Sergio Perez também andou forte com a Red Bull e poderá complicar a situação do time alemão na pista.

            Por isso mesmo, é exagero alegar que a Mercedes deixa de ser favorita. O carro ainda é bem rápido, e mesmo que não seja o mais veloz, o importante é que possa permitir vencer corridas. Bottas afirmou que apesar de arisca, a agilidade da parte traseira do carro é bem alta, denotando o potencial do bólido. Um dado que muitos não estão cientes é de que o time alemão sempre rodou com sua unidade de potência abaixo de sua real capacidade no Bahrein. Em tese, isso significa que eles podem ser até um pouco mais velozes do que foram, quando puderem usar toda a força do propulsor, mas como diz a mensagem de um conhecido comercial, “potência não é nada sem controle”, de modo que não basta liberar a cavalaria oculta da máquina esperando uma solução dos problemas. Até porque a Red Bull também não forçou sua unidade de potência da Honda ao limite extremo, de modo que o time dos energéticos ainda tem lá suas cartas na manga, mesmo que Max Verstappen se recuse a aceitar um favoritismo inicial para adotar uma postura mais cautelosa.

            Outro detalhe interessante, e preocupante, é que o comportamento do carro da Mercedes pareceu mais neutro com tanque cheio, o que significa que eles até poderiam render melhor em início de corrida, mas conforme o carro ficava mais leve, o nervosismo do conjunto traseiro ia ficando mais pronunciado, e com isso, perdendo ritmo, algo que se mostrou muito mais constante e uniforme com a Red Bull em sua simulação. Por mais que Lewis Hamilton diga não estar tão preocupado com os problemas, é óbvio que isso certamente precisa ser considerado. O melhor tempo do inglês foi cerca de 1s mais lento que o melhor tempo de Verstappen, algo que não é decorrente de esconder o jogo como costumavam fazer nos últimos anos. Aliás, por termos uma pré-temporada tão pequena, as possibilidades dos times fazerem jogo de cena diminuiu consideravelmente, já que não havia tempo a se perder, e com a regra estúpida de termos somente um carro de cada time na pista por vez, cada minuto de teste perdido podia fazer muita diferença. Alguns podem até dizer que, em 2017, o carro da Mercedes era um pouco temperamental, a ponto de a performance da escuderia na primeira metade da temporada daquele ano ter sido um pouco inconstante, a ponto de Hamilton chamar seu carro de “diva”, devido ao seu comportamento meio discrepante. Isso favoreceu à Ferrari, que teve um início melhor na temporada, e prometia dificultar a disputa pelo título. A Mercedes, contudo, conseguiu virar o jogo, trabalhando no seu bólido, e conseguindo se manter coesa e concentrada no que precisava ser feito. Agora, contudo, o buraco parece ser um pouco mais embaixo.

            Certamente a Mercedes vai conseguir arrumar a casa. O problema é quando isso ocorrerá. Curiosamente, Valtteri Bottas parece ter sido um pouco menos afetado pelo comportamento instável da traseira do modelo W12 do que Hamilton, mas se isso dará alguma vantagem ao finlandês, só saberemos após o início do campeonato. Lewis continua sendo a principal peça da escuderia alemã, da mesma maneira como Verstappen é o centro da Red Bull. E este ano, o time dos energéticos tem Sergio Perez, que pode não ser um gênio como o holandês, mas tem tudo para ser uma dor de cabeça adicional para o time prateado. O mexicano andou bem nos testes, e mesmo declarando que precisa de alguns GPs para “pegar” todo o potencial do carro, ele se sentiu confortável no bólido, e não teve os mesmos problemas que ajudaram a vitimar Alex Albon no ano passado. Trocando em miúdos, a Mercedes pode muito bem ter que se preocupar com os dois pilotos da Red Bull, e não apenas com um deles. E pelo que podemos esperar, as primeiras corridas devem ser complicadas para o time alemão, a se confirmar a forma mais competitiva da Red Bull.

            Fica a expectativa do que poderá acontecer na pista. Afinal, mesmo com um carro mais competitivo, as coisas podem não dar certo, e os rubrotaurinos não disparem na frente como se imagina poder acontecer neste início de temporada. E, com a disputa na pista, poderemos ver a real diferença de performance entre os dois times, que até agora ainda está meio nebulosa. Ela pode ser maior do que o que foi visto, ou menor. Vai depender de como a Mercedes conseguirá, já para a primeira prova, ajeitar o seu carro, tentando consertar a situação.

            O ponto positivo disso tudo é que, no último ano do atual regulamento técnico, a F-1 pode enfim ver um duelo realmente disputado entre dois times, talvez por toda a temporada, com o domínio da Mercedes visto desde 2014 finalmente sendo posto em xeque, e quem sabe, até encerrado. E os demais times parecem estar bem embolados logo atrás, de modo que a briga na frente pode ter mais integrantes do que podemos imaginar. É um pouco cedo para afirmar isso, mas podemos ver mesmo bons duelos nas corridas. E estamos apenas a uma semana de poder confirmar parte destas expectativas, quando os carros voltarem à pista de Sakhir para o primeiro GP do ano. Sempre lembrando que os resultados das performances podem acabar ficando bem mais particulares para o circuito barenita, de modo que já na segunda prova, em Ímola, podemos ver mudanças na relação de forças, e quem sabe, até algumas surpresas.

            Boas expectativas para uma temporada sempre tivemos, em maior ou menor grau. Este ano, contudo, parece que teremos mais surpresas do que o normal, e isso deixa todo mundo mais empolgado. Vamos ver o que de fato irá acontecer...

 

 

Os ingleses perderam na última semana um de seus personagens mais queridos na história da Fórmula 1. Murray Walker, que foi narrador das corridas da categoria máxima do automobilismo, faleceu aos 97 anos de idade. Dotado de um sorriso contagiante, e dono de um grande carisma, Walker esteve presente nas transmissões da F-1 entre 1976 e 2001 na Grã-Bretanha. Ele iniciou sua carreira nas transmissões do esporte a motor em 1948, narrando competições de motos. Na F-1, ele se tornou praticamente a “voz oficial” da F-1 na BBC, a tal ponto de que, quando a ITV assumiu os direitos de transmissão, em 1997, contratou Murray para continuar a desempenhar a função que já desenvolvia há anos. Ele se despediu da função após narrar o Grande Prêmio dos Estados Unidos de 2001, e desde então, fazia alguns programas sobre o automobilismo, aparecendo vez por outra nos autódromos, e ainda realizando algumas entrevistas. Sua perda foi sentida por muitos no meio, mesmo depois de tantos anos após ter deixado a narração das provas da F-1. Descanse em paz, Murray Walker...

 

Murray Walker, que comandou as transmissões da F-1 por 25 anos na Grã-Bretanha, faleceu aos 97 anos.

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