sexta-feira, 12 de março de 2021

HORA DE ACELERAR

Mercedes W12: O carro do Octa de Lewis Hamilton?

            E chegou a hora! Hoje os carros da F-1 entram oficialmente na pista, para o primeiro dia de testes coletivos da pré-temporada 2021, a mais breve de que se tem notícia: apenas três dias, começando hoje, e terminando no domingo, na pista de Sakhir, no Bahrein, onde a competição dá sua largada no próximo dia 28, daqui a duas semanas. Um ponto positivo é que todos já estão por lá, de modo que é um deslocamento a menos para todo o pessoal e equipes. É preciso lembrar que a temporada, no plano inicial, deveria se iniciar hoje na Austrália, mas a pandemia da Covid-19, ainda extremamente forte no mundo inteiro, obrigou a mudança nos planos, que ainda podem causar muitas alterações no planejamento da competição este ano.

            A vacinação, em que pese o empenho feito até agora, ainda é incipiente na maior parte do planeta, mas começa a apresentar expectativas mais animadoras gradualmente. Nos Estados Unidos, onde já se aproxima de 100 milhões o número de pessoas que receberam a primeira dose de algum dos imunizantes já disponibilizados e aprovados, os números de mortes estão caindo, o que já é um bom sinal. Ainda é cedo para comemorar, e outros fatores, como isolamento rígido, e uso intensivo de máscaras, e outras práticas de higiene, também precisam ser considerados nos efeitos do combate à pandemia, de modo que não se pode baixar a guarda. Mas, apesar dos poréns, começávamos a ter esperança de um retorno à normalidade, e quem sabe, em mais alguns meses, as atividades possam ao menos seguir sem sobressaltos.

            A Europa, contudo, ainda bate um pouco a cabeça no que tange à vacinação, diante do fornecimento irregular dos laboratórios, de modo que será preciso esperar mais um pouco para vermos os efeitos, que por hora são mais visíveis no Reino Unido. Por isso, a F-1 apresentar-se fora do Velho Continente neste momento dá um ganho de tempo para a situação tentar ficar um pouco menos ruim. Mesmo assim, a expectativa da primeira metade do campeonato é termos GPs novamente sem público.

            Mas, deixando esse importante fato de lado, mesmo impactada fortemente pela pandemia, a F-1 está para iniciar sua nova temporada, um ano onde foram baixadas normas visando economia de gastos, e por isso, a manutenção do regulamento técnico do ano passado, inclusive dos carros, ao menos sua base maior, e a implantação de um teto orçamentário que ajudará os times a atravessar esse momento mais do que difícil. E isso, claro, incluiu a pré-temporada mais reduzida de todas até hoje. Por isso mesmo, os times não podem perder tempo, e tem de aproveitar tudo o que podem de hoje até domingo, para verificarem se seus carros, com as adaptações exigidas pelo regulamento na parte aerodinâmica, visando reduzir o downforce, reagirão como o planejado.

A Red Bull quer encarar a Mercedes com tudo com o seu novo RB16B (acima). Já a Renault traz a marca Alpine para a F-1 (abaixo), e quer continuar evoluindo este ano.


            Alguns times, como Mercedes, Ferrari e Alpha Tauri, renomearam por completo seus novos carros 2021, enquanto outros mantiveram as denominações do ano passado, como a Red Bull e Williams. Fica agora a questão se os desempenhos mostrados em 2020 se repetirão nesta temporada.

            Primeiro, porque o assoalho dos carros sofreu restrições em relação ao ano passado, assim como os sidebars e sidepots, obrigando os times a repensar estas áreas, de forma a recuperar a performance anterior. Porém, os times não tiveram muita liberdade para mexer nos carros do ano passado para cá, de modo que todos precisaram analisar como as restrições aerodinâmicas afetou cada modelo, e o que precisariam fazer para não gastar suas fichas de desenvolvimento à toa, o que poderia comprometer a evolução do monoposto durante a temporada. Ao mesmo tempo, os carros de 2022 obedecerão ao novo regulamento técnico, de modo que todos precisarão também equalizar seus trabalhos para o próximo ano e os deste. E tudo isso obedecendo ao limite orçamentário imposto, de cerca de US$ 145 milhões para todo o ano, com algumas poucas exceções de gastos acima desse valor.

            A única área totalmente livre para se trabalhar foi na unidade de potência. A Honda, que já anunciou que deixa mais uma vez a F-1 ao fim deste ano, prometeu um novo e extraordinário empenho em seu equipamento, e a Red Bull fala em lutar pelo título, de modo a que os nipônicos possam sair com a cabeça erguida. Como o novo RB16B parece ser o mesmo carro do ano passado em quase todos os aspectos, tudo indica que a principal cartada foi mesmo feita no motor, com vistas a, se não facilitar, complicar ao máximo a vida da favorita em potencial Mercedes. No que tange à dupla de pilotos, ao menos o time dos energéticos apostou certo, ao trazer Sergio Pérez para o time, depois da excelente campanha do mexicano no ano passado, diante da inconsistência e resultados um pouco abaixo do esperado oferecidos por Alexander Albon. Se Perez andar no ritmo de Max Verstappen, eles poderão enfim contar com uma dupla extremamente forte, como tinham no tempo em que Daniel Ricciardo defendia o time ao lado do holandês. Mas será que isso será alcançado? No ano passado, muitos apostavam que a Red Bull poderia enfim dar um pouco de dor de cabeça à Mercedes, e o que vimos foi o time alemão arrasar novamente seus adversários, frustrando as expectativas de quem esperava um duelo mais renhido, o que ocorreu em parcos momentos e em apenas alguns GPs, sem conseguir influenciar o andamento da competição. Helmut Marko, consultor do time, disse que os japoneses produziram uma “obra de arte”, referindo-se ao novo propulsor, que inclusive será a base do motor que os dois times de Dietrich Mateschitz utilizarão a partir de 2022, fazendo o desenvolvimento de forma autônoma, comprando o projeto da unidade da Honda. Para o bem da competição, e para a imagem da Honda em si, seria muito bom que isso acontecesse.

            Mas, falta combinar com os russos, digo, os alemães. O novo modelo W12 é tido como uma evolução do modelo W11 do ano passado, apesar de base do chassi ser a mesma, por força do regulamento técnico de contenção de gastos. Mas a escuderia já vinha implantando alguns desenvolvimentos nas últimas provas de 2020, depois de garantir praticamente a conquista dos títulos de construtores e de pilotos. E a nova unidade de potência, ainda a melhor da F-1, apesar de alguns rumores de problemas que circularam, mas desmentidos por Toto Wolf, ainda tem tudo para manter essa posição. E Lewis Hamilton, apesar de fazer parecer não estar tão interessado em ampliar recordes, é o que deverá continuar fazendo, se não tiver uma oposição de fato na temporada. O inglês renovou tardiamente, e por apenas um ano, dando a entender que, se chegar ao oitavo título, poderia até pendurar o capacete e ir cuidar de outros assuntos, garantido como o maior vencedor da história da F-1. Será? De uma coisa todos concordam: é melhor que Hamilton aproveite mesmo este ano, porque em 2022, com as novas regras técnicas, ninguém pode prever como se tornará a relação de forças. Lewis Hamilton, contudo, pode muito bem seguir competindo, se a Mercedes, se não for a melhor, mas disponibilizar um carro competitivo, para mostrar que pode encarar os rivais na pista sem um carro superior. Mas, isso é para o ano que vem, e no momento, o que se pergunta para este ano é se Valtteri Bottas conseguirá mostrar mais empenho em pelo menos andar no ritmo do seu companheiro inglês, ou pode dar seu lugar ao promissor George Russel no próximo ano... E, óbvio, todo mundo vai ficar de olho na performance do chassi W12 nestes três dias de testes. Constância, velocidade, fiabilidade, tudo vai estar sendo observado, especialmente porque na apresentação do carro, os detalhes das mudanças feitas no bólido foram discretamente ocultadas, como forma de não “entregar o ouro” aos rivais...

Sebastian Vettel quer renascer na Aston Martin (acima), enquanto a Williams (abaixo) quer renascer na F-1 a longo prazo.


            Com “novo” nome, a Racing Point, agora Aston Martin, chama curiosidade para ver o que Sebastian Vettel, depois de uma saída por baixo da Ferrari, poderá fazer no novo time, que espera-se, tenha sabido fazer a lição de casa com o seu carro, derivado do modelo Mercedes, mas agora com maior desenvolvimento do próprio time, que também resolveu comprar os conjuntos traseiros do carro permitidos pelo regulamento, a exemplo do que a Hass sempre fez em relação à Ferrari, desde que estreou na F-1. Será interessante ver se o “velho” Vettel que foi campeão do mundo estará de volta. Ele mesmo já declarou que ainda pode ser campeão, que não está “velho”, e fez grandes elogios à unidade de potência da Mercedes, além de dizer que não está nem aí para as críticas que tem recebido. Livre da politicagem da Ferrari, o que já é um alívio, o piloto alemão, porém, terá que dar mostras de estar realmente de volta. Lance Stroll, seu novo companheiro de equipe, não é exatamente um piloto ruim, mas também não é tão bom assim, e se o canadense andar melhor do que o tetracampeão, como ficará sua imagem, combalida pelos erros cometidos na pista e pela performance irregular nos últimos três anos? Apesar de ter conseguido bons resultados no ano passado, Stroll fou superado por Sergio Pérez, e por pouco sua performance não ficou chamuscada pelo desempenho de Nico Hulkenberg, chamado às pressas para substituir um dos pilotos titulares do time, devido a terem testado positivo para Covid-19. Vettel pode estar com a cabeça fria agora, mas se começar a tomar tempo de Lance, como ele ficará? Lidará com isso numa boa, ou poderá entrar novamente em parafuso? E Stroll, conseguirá aproveitar melhor o potencial bom carro que terá nas mãos, cometendo menos erros do que em 2020? A própria escuderia precisa fazer o seu dever de casa, e errar menos também, o que comprometeu resultados que poderiam ter sido melhores no ano passado, fossem um pouco mais ágeis em algumas decisões e estratégias tomadas.

            E isso porque a competição promete ser dura. Se no ano passado eles perderam o 3º lugar para a McLaren na última corrida, por conta dos erros cometidos, este ano, o perigo não vem apenas do time de Woking, que estará equipado também com os propulsores da Mercedes, mas com o possível renascimento da Ferrari, depois do ano ruim que tiveram em 2020, além da evolução de uma crescente Renault, agora chamada Alpine, que traz Fernando Alonso de volta ao grid, após dois anos. O duelo aqui tem tudo para ser mesmo pau a pau.

            A Ferrari redesenhou completamente sua unidade de potência, resolvendo o problema da falta de performance vista em 2020, vista como uma “punição” imposta pela FIA por irregularidades no propulsor vistas em 2019. Mas este não era o único problema: o carro também tinha deficiências conceituais que acabaram exacerbadas diante da falta de potência, de modo que seus pilotos sofreram para alcançar resultados condizentes com o histórico da escuderia, que não tinha um campeonato tão ruim desde 1980. Com o novo SF21 retrabalhado para tentar sanar estes problemas, e uma nova e muito mais possante unidade de potência, se não tivermos o retorno da Ferrari às vitórias, ao menos ela pode sonhar com pódios mais frequentes, e amainar um pouco a crise que tiveram em 2020. Charles LeClerc continua a ser o grande destaque do time, que conta agora com Carlos Sainz Jr., que tentará andar no nível do monegasco, e quem sabe, até melhor, mas admitindo que isso a princípio poderá ser um pouco difícil, devido à seu entrosamento inicial com o time vermelho. Portanto, se Mercedes e Red Bull continuarem acima dos demais, os italianos mirarão pelo menos o terceiro lugar como ponto de honra.

            Na McLaren, a ordem é tentar manter o terceiro posto alcançado no ano passado. Se por um lado eles agora possuem novamente a unidade de potência da Mercedes, superior à Renault utilizada no ano passado, por outro lado eles tiveram que gastar boa parte de suas fichas de desenvolvimento disponíveis para acomodar o novo propulsor no seu chassi, projetado para a unidade Renault. Por isso mesmo, o ajuste fino com o restante do carro, de modo a otimizar o desempenho e equilíbrio com o novo equipamento se tornou a meta, de modo que o carro não sofresse alguma perda de desempenho com essa troca. E se eles perderam Carlos Sainz Jr. para a Ferrari, eles conseguiram Daniel Ricciardo, um dos pilotos mais capazes do grid, que comandou a evolução da Renault na pista em 2020, e vem com fôlego renovado para exercer o mesmo papel na McLaren, e atuar em sintonia com Lando Norris, que tem tudo para continuar crescendo no time, ao lado do experiente e capaz australiano. A ordem é não cair para trás, e se possível, tentar avançar para a frente, mesmo que admitindo que a diferença para Mercedes e Red Bull ainda é considerável.

A pista do Bahrein receberá os testes coletivos da pré-temporada, e abrirá o campeonato da Fórmula 1 de 2021.

            E na nova Alpine, ex-Renault, todos querem ver se Fernando Alonso manterá o nível de performance depois de dois anos longe da categoria, apesar de não ter ficado ocioso neste meio tempo. O time mostrou considerável evolução no ano passado, chegando a disputar o TOP 3 com McLaren e Racing Point, mas acabou perdendo a disputa, em parte porque Esteban Ocón demorou a reengrenar em seu retorno à F-1. O francês conseguiu se recuperar no fim do ano, e agora terá de mostrar isso, se não quiser ser eclipsado por seu novo companheiro de time, que nunca cultivou exatamente uma boa relação com seus parceiros de equipe, mas que parece bem mais relaxado e consciente de suas possibilidades neste retorno à categoria máxima do automobilismo, o que pode ajuda-lo a manter um relacionamento bem mais civilizado com seu parceiro de time. O que não muda é sua atenção aos detalhes e seu grau de exigência aos detalhes, no que o time se diz extremamente espantado com sua motivação e determinação, e admitir que suas cobranças tem levado o time a dar o melhor de si. E, com a competição do pelotão “B” se acirrando, os franceses tem mesmo é que dar o melhor de si, se não quiserem ficar para trás.

            A Alpha Tauri quer manter o nível demonstrado no ano passado em termos de resultados, e quem sabe, avançar um pouco mais à frente. Pierre Gasly tem tudo para repetir a boa performance e liderar o time, como fez em 2020, tendo agora o novato Yuki Tsunoda a seu lado, que certamente precisará de algum tempo até “entrar nos eixos”, mas com bom potencial para brilhar na categoria.

            De quem não se pode esperar muito é a Hass. O time norte-americano vem com uma dupla de novatos: Mick Schumacher tentará mostrar seu talento, e que certamente será comparado por muitos com o seu pai, Michael Schumacher, heptacampeão mundial da categoria. E Nikita Mazepin, bem, até agora chamou mais atenção pelo que fez fora da pista do que dentro dela. Mas, noviciado da dupla à parte, o time já anunciou que pouco trabalhará no carro deste ano, concentrando seus esforços para 2022, de modo que uma melhoria de performance só virá pela nova unidade de potência da Ferrari, muito mais potente que a do ano passado, o que pode ajudar um pouco, já que o desempenho do carro foi dos piores na temporada de 2020.

            O mesmo vale para a Alfa Romeo, que manteve sua dupla de pilotos, Antonio Giovinazzi e Kimi Raikkonen. E na Williams, vai ser um ano de arrumação de casa, procurando deixar tudo em ordem para 2022, na primeira temporada do time agora sob propriedade do Fundo de Investimentos Dorilton, que promete recuperar o nome Williams na F-1, respeitando o seu histórico na categoria, o que de fato seria muito bom. Resta saber como e quando conseguirão fazer isso...

            Então, hora de ir para a pista, porque é hora de acelerar! A F-1 está de volta...

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