sexta-feira, 31 de julho de 2020

NÃO À AMÉRICA


Não teremos o Grande Prêmio do Brasil este ano. A pandemia inviabilizou as corridas da F-1 no continente americano.
            Ninguém deveria se surpreender com o resultado, dado o momento complicado em que vivemos, e que está sendo particularmente bem mais difícil por estes lados do Oceano Atlântico. Pela primeira vez em sua história, a Fórmula 1 não terá nenhuma corrida em seu calendário nesta temporada. Os Grandes Prêmios dos Estados Unidos, México e Brasil foram limados da competição em 2020, levando a etapa do Canadá junto com elas.
            O motivo maior é o mais óbvio possível. Estados Unidos e Brasil ocupam as primeiras posições no ranking mundial de novos casos do coronavírus Covid-19, bem como de mortes decorrentes da doença. Enquanto outros países conseguiram exercer algum controle sobre a pandemia, e mesmo assim estão dando passos rápidos para trás ao menor sinal de um recrudescimento dos números da doença, por aqui estamos vendo os números dispararem, sem que tenhamos uma política que nos forneça um horizonte confiável de como deter a explosão de casos que estamos vendo surgir dia após dia. Mesmo que não estivéssemos com as fronteiras dos países fechadas, quem iria querer vir para cá, do jeito que a situação está?
            E olhe que não são corridas exatamente dispensáveis. Cada uma, à sua maneira, cativa não apenas torcedores, mas profissionais da F-1, seus pilotos, e claro, o pessoal da imprensa que trabalha na cobertura da F-1. Os Estados Unidos, para começar, são o maior mercado comercial do mundo, e a F-1 tem mais do que óbvios interesses de divulgar as marcas de seus patrocinadores nas terras do Tio Sam, ainda mais que, nos últimos anos, ganhou um palco para ninguém botar defeito, o excelente Circuito das Américas, em Austin, Texas, prova que tem oferecido boas alternativas de disputas nos últimos anos.
            O México, por sua vez, tem apresentado também boas corridas, e os mexicanos tem feito uma promoção ímpar de sua corrida, tornando o GP na Cidade do México um dos preferidos de todos no calendário, tendo sempre casa cheia, o que certamente resulta em lucros para todas as partes envolvidas. Das provas no continente americano, é certamente a corrida que mais fará falta para todos.
            O Brasil, por sua vez, possui um circuito à moda antiga, Interlagos, que sempre agrada aos pilotos. Possui um bom público, e neste ano, contaria ainda com o término das reformas no seu paddock, motivo de muitas críticas por parte dos times da categoria máxima do automobilismo, mal acostumadas que ficaram com as megaestruturas de circuitos concebidas por Hermann Tilke desde que este projetou a pista de Sepang, na Malásia, que teve sua primeira corrida realizada em 1999. Se é verdade que as condições de segurança sempre renderam críticas, dado que em certos momentos, integrantes do circo da F-1 passaram por apertos diante da bandidagem que existe na maior cidade da América do Sul, nosso país possui, através da exibição na TV Globo, um dos maiores índices de audiência, algo que certamente agrada à Liberty Media, dona da competição.
A prova do Canadá também não será realizada este ano.
            A pista do circuito Gilles Villeneuve, em Montreal, sempre rende boas disputas, uma vez que o circuito, com seus guard-rails bem próximos à pista, e seu traçado que possui características similares às de pistas de rua, costuma proporcionar dificuldades inerentes deste tipo de pista, resultando em incidentes que por vezes exigem a intervenção do Safety Car, o que costuma embaralhar as estratégias de pilotos e equipes. Além disso, Montreal é uma cidade que vivencia sua semana de Grande Prêmio como poucas no calendário, criando uma atmosfera extremamente agradável, para público, e profissionais envolvidos com a corrida.
            Atrativos não faltam, mas isso em tempos normais, e nestes momentos atuais, onde infelizmente a pandemia da Covid-19 está deixando o mundo virado de cabeça para baixo, não há como argumentar com este revés. Em primeiro lugar, pela logística envolvida com o transporte. Se já é complicado todo o circo da F-1 viajar para fora da Europa, em condições normais, nestes tempos de pandemia, então, nem pensar. Por mais que tentemos ser otimistas com a situação e sua evolução, na melhor das hipóteses, para o mês de outubro/novembro, ainda temos problemas de vulto para justificar a realização destas provas. A primeira delas, de cunho econômico: o fluxo de caixa da F-1 foi severamente afetado pela pandemia, e neste momento, tem de priorizar a disputa de corridas cujo deslocamento seja o menor possível, a fim dos gastos de transporte serem reduzidos ao máximo possível. Viajar para o continente americano gera uma despesa que já é alta, mas neste momento de vacas magras, fica proporcionalmente bem mais custoso.
            E ainda temos a burocracia decorrente dos problemas desencadeados pela Covid-19. As fronteiras dos países estão fechadas, com raras exceções, e mesmo com contingente reduzido, e seus protocolos de segurança implantados para garantir que ninguém no paddock esteja contaminado, não há garantias de ter a entrada de todo este pessoal liberada no país.
O GP do México, muito aplaudido nos últimos anos, fica para 2021.
            Embora estejamos vendo até as competições sendo realizadas nos Estados Unidos, o clima não parece tão calmo como se pode imaginar. O país é o recordista em número de casos e mortes decorrentes da Covid-19, e o fato dos movimentos de reabertura da economia estarem sendo comprometidos pelo aumento do número de casos e mortes indica que tudo pode parar novamente a qualquer momento, se a situação ficar ainda mais fora de controle. A Indycar, por exemplo, já precisou cancelar mais corridas de seu já sofrido calendário estipulado para este ano, situação que pode afetar também a Nascar, o certame automobilístico mais popular do país. E como desgraça pouca é bobagem, o presidente Donald Trump não tem ajudado a coordenar as atividades de contenção da pandemia como deveria caber a um presidente, interessado mais que está em sua campanha de reeleição que se aproxima. E nem estou incluindo o clima ruim decorrente das manifestações contra o racismo que estão pipocando em vários locais do país recentemente, que não ajudam em nada a criar um ambiente mais calmo.
            Um panorama similar ao que vemos aqui no Brasil, com nosso presidente também se negando a assumir seu papel de união nacional, desdenhando da doença e seriedade da situação, e ainda por cima se vangloriando de sua “vitória” sobre o coronavírus, que já o infectou recentemente. Some-se a isso a um desencontro das ações entre governadores, prefeitos, e governo federal, além das picuinhas políticas a que estamos assistindo, e o Brasil, mais do que nunca, é uma terra de ninguém, onde cada um é por si, sem se importar com os demais. E ainda por cima, com uma flexibilização das atividades econômicas em pleno aumento do número de casos e de mortes, que certamente não contribuem para se passar um clima de maior segurança.
Com os casos da Covid-19 aumentando a olhos vistos nos Estados Unidos, não teremos a corrida da F-1 na bela pista de Austin, no Texas.
            A situação no México, embora não tão desastrosa quando nos Estados Unidos ou no Brasil, também inspira cuidados, podendo seguir o mesmo rumo desgovernado que nos dois mencionados países. Todo cuidado é pouco, e não dá para se arriscar tanto neste momento.
            O Canadá seria o único país com condições razoáveis de sediar uma corrida, uma vez que tem conseguido controlar os casos de Covid-19 em seu território até o presente momento, feito não igualado por México, Brasil, e principalmente Estados Unidos. O problema é que, com caixa baixo da F-1, fazer apenas uma corrida no continente americano não seria viável economicamente. Fora o fato de que, a partir de outubro, o clima em Montreal começa a ficar cada vez mais frio, o que poderia comprometer as condições meteorológicas para se disputar a corrida.
            Infelizmente, este ano está sendo de sacrifícios. A pandemia da Covid-19 fez tudo ter de mudar, e lamentavelmente, para algumas coisas seguirem em frente, foi necessário efetuar mudanças a fim de evitar o pior. As etapas da América ficarem de fora do calendário da F-1 é algo a nos entristecer, mas não estamos sozinhos nessa. Temos de lembrar que outros países também tiveram de abdicar de suas corridas, e não estamos falando de provas apenas para constar na competição. A Austrália ficou de fora. A Holanda, que voltava ao calendário depois de mais de trinta anos de ausência, também teve de adiar seu retorno. Japão e Singapura, dois locais que teriam, em tese, plenas condições de realizar seus GPs, mesmo no presente momento, também abdicaram de suas etapas deste ano. Temos que pensar que, dos males, o menor, e nos concentrar na esperança de que este momento difícil passe o quanto antes, e que em 2021 possamos ter a situação normalizada, e que nos permita desfrutar de todo o campeonato da F-1 tal como esperávamos fazer neste ano, com todas as corridas de volta ao certame.
            É o que melhor podemos fazer.


Enquanto cancelava em definitivo as corridas que seriam realizadas no continente americano, a Liberty Media e a FIA confirmavam a realização de mais três provas no calendário de 2020, todas na Europa. Com as etapas de Mugello (13.09) e Rússia (27.09) já anunciadas, a sequência do campeonato terá uma prova em Nurburgring, na Alemanha, no dia 11 de outubro (Grande Prêmio de Eifel); o GP de Portugal (em Portimão) no dia 25 de outubro; e o GP da Emilia-Romagna (em Ímola) no dia 1º de novembro. Com isso, já teremos 13 corridas garantidas na temporada 2020, lembrando que a direção da F-1 trabalha com a meta de no mínimo 15 corridas, as quais poderão ser o GP do Bahrein e o GP de Abu Dhabi. Ainda há a possibilidade de Sakhir ter uma rodada dupla, o que faria a competição ter 16 provas, número que seria mais do que suficiente para finalizar a temporada, diante de todos os problemas enfrentados. Mas podemos ter novidades ainda nas próximas semanas, e esperemos que possam ser positivas para a competição.


E a F-1 está reunida em Silverstone para a rodada dupla que será realizada no tradicional circuito inglês, com os GPs da Grã-Bretanha, e dos 70 anos da F-1. Mas haverá um desfalque no grid: o mexicano Sérgio Perez, da equipe Racing Point, foi diagnosticado com Covid-19, e está praticamente fora das duas provas que teremos em solo inglês. Perez havia relatado ter sentido algumas tonturas no fim de semana na Hungria, mas no espaço de duas semanas entre aquela corrida e esta primeira em Silverstone, Sérgio teria viajado para o México junto com sua esposa, que divulgou o fato em suas redes sociais. O casal também teria viajado pela Itália, no retorno à Europa, e isso pode ter sido um passo tremendamente equivocado do piloto, que teria se exposto desnecessariamente, vindo a se infectar com o coronavírus. Felizmente, Perez está se sentindo bem, mas o momento é delicado em sua carreira, uma vez que ele pode perder seu lugar no time que se chamará Aston Martin em 2021, que poderia ter Sebastian Vettel como piloto, e que obter bons resultados seria crucial para fortalecer sua posição no time, e na disputa por um lugar em outra escuderia, caso tenha de sair. Alguns nomes foram considerados para substituir o mexicano na Racing Point, entre eles Esteban Gutiérrez, mas no final, quem ganhou a chance foi Nico Hulkenberg, que ficou de fora da F-1 este ano, após ser dispensado pela Renault ao fim do ano passado, e agora irá disputar pelo time as duas provas em Silverstone.


A Formula-E está reunida em Berlim para a disputa das seis corridas no aeroporto de Tempelhof, a fim de encerrar sua temporada 2019/2020. O campeonato já tinha cinco provas realizadas, quando a pandemia da Covid-19 obrigou a suspensão da competição, com o cancelamento das etapas planejadas até o mês de julho. A fim de evitar as aglomerações que suas pistas, normalmente montadas em ruas de cidades, provocariam, a direção da categoria resolveu promover uma rodada sêxtupla no circuito que seria montado no antigo aeroporto da capital da Alemanha. E, para garantir a emoção da competição, serão adotadas três configurações de traçado nas corridas, com duas provas cada uma. Para as primeiras quatro corridas, será utilizada a configuração de traçado que todos conhecem nas últimas temporadas, com cerca de 2,355 Km de extensão, com cerca de 10 curvas. A primeira rodada dupla, que será disputada nos próximos dias 5 e 6 de agosto, contudo, será feita no sentido inverso da pista, em sentido horário. Teremos uma pausa no dia 7 de agosto, e nos dias 8 e 9, as duas corridas seguintes, que agora serão realizadas no sentido original do traçado, como feito nos últimos anos. O dia de intervalo entre a primeira e a segunda rodada dupla será utilizado pela direção da categoria para efetuar as mudanças de segurança que a mudança de sentido da pista exige, mesmo que isso possa parecer simples à primeira vista. A terceira rodada dupla será realizada nos dias 12 e 13 de agosto. A pausa entre a segunda e a terceira rodada, mais do que oferecer um descanso às equipes e pilotos, também será necessária para se efetuar mudanças no traçado do circuito, que será diferente, e um pouco mais extenso, com cerca de 2,505 Km de extensão, e 16 curvas, além de manter o sentido anti-horário da pista. No campeonato, o português Antonio Félix da Costa, da Techeetah, lidera a competição, com 67 pontos. O neozelandês Mith Evans, da Jaguar, é o vice-líder, com 56 pontos.
As configurações do traçado para a rodada sêxtupla da F-E em Berlim.


O Brasil terá mais um piloto nesta rodada sêxtupla da F-E. Sergio Sette Camara vai defender a equipe Dragon no lugar de Brendon Hartley, que deixou o time. Lucas Di Grassi e Felipe Massa são nossos outros representantes na categoria, defendendo as equipes Audi e Venturi, respectivamente. Lucas é o 5º colocado no campeonato, com 38 pontos, enquanto Massa ocupa a 19º posição, com apenas 2 pontos.

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