Fernando Alonso estará de volta à F-1 em 2021, defendendo a equipe Renault. |
O piloto asturiano
voltará ao time pelo qual conquistou dois títulos, em 2005 e 2006, mas com uma
missão e uma realidade completamente diferentes de quando desbancou Michael
Schumacher do posto de principal protagonista da categoria máxima do
automobilismo em meados da década passada. A Renault hoje, mesmo sendo um time
oficial de fábrica, ainda luta para se reafirmar na categoria, de modo que
ninguém espere ver Alonso disputando vitórias com as favoritas Mercedes, e suas
rivais Red Bulls. Mais do que vencer, Alonso afirma que sua missão agora é dar
um rumo para o time francês, e fazer com que volte a ser protagonista na F-1.
Chega até mesmo a dizer que o sucesso do time não precisa ser necessariamente
com ele, mas com algum novo talento que possa usufruir do seu trabalho de
ajudar a escuderia francesa a retornar a seus tempos de glórias.
Alonso deixou a
categoria ao fim da temporada de 2018, alegando procurar outros desafios, e não
querer ser apenas “mais um” piloto no grid. Pesou na decisão as três temporadas
de resultados pífios na McLaren em sua associação com a Honda, cuja unidade de
potência era tremendamente problemática, a ponto do espanhol forçar o time a
romper a parceria, firmando uma nova associação com a Renault para 2018. Os
resultados melhoraram, mas o carro ainda precisava de muitas melhorias, de
forma que novas vitórias, ou mesmo pódios, não vieram. Só no ano passado a
McLaren acertou o seu rumo, mas com uma nova dupla de pilotos, e com uma nova
administração do time que considerou Fernando “passado” do time, e não seu
“futuro”, uma vez que a saída do piloto dava mais ares de procurar um ano
sabático, fora da categoria, do que pendurar o capacete para a F-1. Isso
evidenciava também algo que todo mundo já sabia há muito tempo: o ambiente
desestruturador que Alonso acaba promovendo nos times por onde compete, e que
foram determinantes para certas portas da categoria máxima do automobilismo se
fecharem para ele.
O seu estilo
centralizador, exigente, e muitas vezes egocêntrico, além das cobranças e
críticas públicas, tornarem-se um ônus muitas vezes desgastante para as
escuderias que defendeu, a ponto de muitos se questionarem se valia a pena
tê-lo como piloto. Dentro da pista, Alonso é um dos melhores pilotos de todos
os tempos da F-1, sendo capaz de entregar resultados que muitas vezes os carros
não seriam capazes de proporcionar. Extremamente combativo e determinado, porém
fora da pista, ele sempre gostou de ter todas as atenções voltadas para si, de
modo a canalizar todos os recursos à sua volta, nem que precisasse gerar alguns
desentendimentos no box da escuderia. E o espanhol não era de se intimidar, o
que o levou a se indispor com nomes importantes em alguns times por onde
passou.
Como não poderia
deixar de ser, as reações à notícia de sua contratação por parte da Renault
para 2021 foram divididas. Muitos apoiam a volta do asturiano ao grid, pelo
nome que ele possui, como um bicampeão mundial, e piloto que pode ser o
elemento que ajude a levar a Renault de volta para a dianteira do grid. Mas
para muitos outros, a contratação de Alonso é mais um erro que a fábrica
francesa está cometendo, e que isso não lhe trará os resultados almejados, para
não mencionar, claro, que o ambiente nos boxes da escuderia tem tudo para virar
uma verdadeira tormenta, especialmente se o time não evoluir como alguns
esperam. Cada lado tem suas razões, e ambas são até válidas e compreensíveis.
Mas Fernando não seria o primeiro campeão mundial a se “aposentar” da F-1, e
depois retornar à categoria. Se outros fizeram, e se apareceu quem o queira, é
direito dele voltar à competição.
Diferentemente de quando
retornou à McLaren, após ser “desconsiderado” pela Ferrari no segundo semestre
de 2014, quando todo mundo nutria grandes esperanças pela nova associação do
time inglês com a Honda, que tantas glórias haviam conquistado juntos muitos
anos antes, Fernando sabe que não há muito o que esperar da Renault para a
temporada de 2021. O time parece ter feito progressos do ano passado para cá,
uma vez que Daniel Ricciardo até que andou bem na Áustria, antes de abandonar.
Mas terá dificuldades para encarar a Racing Point com seu novo carro “clonado”
da Mercedes de 2019, e sua própria equipe cliente, a McLaren, que já foi
superior a ela no ano passado. É verdade que foi apenas a primeira corrida, e a
Renault pode ter melhores performances nas próximas corridas, mas numa
comparação pelo que vimos em Zeltweg, o time pode ser no momento a 6ª força no
campeonato, posição que não parece muito promissora. E se levarmos em conta que
a temporada de 2021 será disputada com os carros atuais, que terão apenas
melhorias limitadas com vistas a cortar custos de competição, além do teto
orçamentário que passará a vigorar na F-1 no próximo ano, as expectativas de
que o time francês apresente um salto de desempenho parece meio distante, de
modo que Alonso já deve encarar o ano de seu retorno como de parcos resultados.
O objetivo de fato
seria 2022, quando entrará em vigor o novo regulamento técnico, e para o qual a
Renault já vem concentrando esforços. Com as novas regras de concepção dos
carros, a esperança é que o time sediado em Enstone consiga fazer um melhor
aproveitamento do novo regulamento, e consiga retornar às primeiras colocações
nas corridas. A nova unidade de potência francesa parece ter evoluído bem para
este ano, e isso, pelo menos, já é um alento. Faltaria o carro evoluir como se
deve, algo que a Renault ainda não conseguiu produzir a contento. Em 2018, o
time terminou o ano em 4º lugar, mas em 2019, o que deveria ser uma evolução do
projeto acabou andando para trás, de modo que o time não conseguiu repetir a
mesma performance. E com a melhor forma potencial de Racing Point e McLaren
neste ano, o desafio de tentar crescer novamente se torna mais difícil.
Alonso diz que está
preparado para esta situação, e dá a entender plenamente que as condições que
encontrará não serão as ideais. Declarou que, fisicamente, está na sua melhor
forma, e que terá muito a contribuir para a melhoria da escuderia, e que
trabalhará firme com este propósito. De certa forma, falou o óbvio. Vai ser
preciso muito trabalho mesmo na Renault para se conseguir voltar às vitórias, e
se lembrarmos que no ano que vem a McLaren ainda voltará a usar unidades de
potência da Mercedes, a marca francesa ficará praticamente sozinha utilizando
seus propulsores, o que em tese é um revés por não ter mais times que possam
compartilhar seus dados de performance, o que pode resultar em um
desenvolvimento menor, frente às unidades dos concorrentes. É uma possibilidade
a se considerar.
Já com relação ao
ambiente ficar tenso com a presença do asturiano no time, também é uma
possibilidade a se considerar, especialmente se o time decair no grid. Por mais
ciente de como esteja a posição e a condição da Renault, vai ser um teste de
paciência esperar pela evolução dos resultados. Há quem afirme que Cyril
Abiteboul pode não durar muito no comando do time se Alonso começar a se
indispor com ele, e como o francês ainda não mostrou a que veio no comando do
time da Renault na F-1, não demoraria a ser fritado caso algo desande. Por
outro lado, muitos antigos profissionais do time ainda são da época em que o
espanhol foi campeão em 2005 e 2006, e são mais do que favoráveis à sua volta à
escuderia, como alguém que pode efetivamente levantar o time e colocá-lo no
rumo certo, por mais críticos que digam que Alonso não é tudo isso que diz ser.
A confirmação de
Alonso como piloto da Renault para a temporada de 2021 já coloca também outros
dois nomes de pilotos na corda bamba. O primeiro deles é Sebastian Vettel, que
tal como Alonso em 2014, foi simplesmente “dispensado” de Maranello sem maiores
cerimônias, e era um nome cotado para o time francês. Para muitos, Vettel seria
uma aquisição bem mais positiva para a escuderia do que Alonso, uma vez que ele
dificilmente deixaria o ambiente conturbado nos boxes, além de ser também um
talento comprovado e um tetracampeão mundial. Mas aparentemente, os erros
crassos cometidos por Sebastian em tempos recentes deixaram um ar de
desconfiança sobre a capacidade do piloto alemão, que domingo passado,
inclusive, acabou cometendo um novo erro que comprometeu suas chances de
alcançar um melhor resultado na prova da Áustria. Por mais egocêntrico que
Alonso possa ser, o espanhol raramente comete erros na pista, e ainda possui
uma imagem de piloto extremamente combativo, a ponto de ser considerado uma
aposta mais confiável que Vettel neste momento, que por sua vez, já estaria até
se “oferecendo” para voltar à Red Bull, sua antiga casa. Ainda correm boatos
sobre a Aston Martin, futuro nome da Racing Point. Deixarei as especulações
sobre o futuro de Vettel para a semana que vem, ou talvez depois, quando
discorrerei um pouco mais sobre o assunto.
Quem também vai ter de
se cuidar é Esteban Ócon. O piloto francês retornou à F-1 este ano, e logo em
sua primeira corrida pela Renault, acabou sendo facilmente ofuscado por Daniel
Ricciardo, e só não se saiu pior porque conseguiu chegar ao final da corrida e
marcar seus primeiros pontos pelo time logo na primeira corrida, enquanto o
australiano acabou ficando pelo caminho, por quebra mecânica no seu carro. Se
levarmos em conta a capacidade de pilotagem de Alonso, sem desmerecer o talento
de Ricciardo, o francês pode ir se preparando para viver dias difíceis na
escuderia no próximo ano. Por enquanto, a relação é amistosa, mas e quando
ambos começarem a dividir atenções no box? Fernando tem o dom de massacrar, ou
de dificultar sobremaneira a vida de seus companheiros de equipe, por isso
Esteban tem de aproveitar os tempos mais calmos na Renault este ano. Nada
garante que em 2021 terá a mesma tranquilidade, se bem que sempre existe a
possibilidade de Fernando voltar mais “sociável” e solidário, em função de
saber muito bem que o time não terá condições de vencer corridas. E vamos
lembrar que, na McLaren/Honda, ele até conviveu bem com Jenson Button, não
arrumando treta com o inglês, se bem que, com a ruindade do carro naqueles
anos, do que adiantava arrumar confusão com o companheiro de equipe?
Em termos de
marketing, a F-1 ganha com o retorno do espanhol. Até porque, na pior das
hipóteses, a categoria ficaria apenas com um piloto campeão em atividade, Lewis
Hamilton, com a possível “aposentadoria” de Sebastian Vettel, e de Kimi
Raikkonem, e isso nunca é bom em uma competição esportiva. Pelo talento que
possui, Alonso mereceria uma última chance de brilhar, já que os anos de
ostracismo com a recente McLaren/Honda não lhe fazem justiça, por mais que
muitos digam que o asturiano, por seu caráter desagregador e egocêntrico, teve
por merecer. Mas, em nome da competição, se a Renault lhe der um bom carro em
2022, seria muito bom poder vê-lo duelar a fundo com Hamilton, Verstappen,
Ricciardo, LeClerc, para mostrar o que ainda é capaz de fazer ao volante de um
carro de competição.
Claro que muitos ainda
dirão que Alonso, a esta altura da vida, não rende mais o que poderia render,
frente a uma nova geração de talentos que está fazendo por merecer seu novo
protagonismo. Talvez estejam certos, mas isso é algo que o piloto decidirá se
vale a pena ou não. Muitos citam como exemplo o retorno de Michael Schumacher,
que não era mais o piloto que costumava ser, não conseguindo se adaptar a uma
F-1 que se tornou diferente do que era em seus tempos. É uma possibilidade, mas
ninguém pode dizer que é impossível acontecer o oposto, como vimos com Niki
Lauda, que saiu da F-1 em 1979, e em 1982 estava de novo no grid, e ainda tendo
sido campeão em 1984, mesmo que digam que foi por causa do carro superior da
McLaren, como se Alain Prost tivesse sido um adversário fácil de bater.
O campeonato de F-1 de
2020 mal começou, mas todo mundo já está querendo saber mesmo é de 2021, e do
que Alonso poderá fazer na Renault, mesmo com o time francês sem ter condições
de vencer ou disputar o título. Vão ser meses de uma longa espera, e de muita
torcida, a favor e contra, dos amantes do esporte a motor. A bem ou mal,
Fernando Alonso mobiliza multidões a respeito de seu nome, e isso não é pouca
coisa. Vejamos no que isso vai dar...
Valtteri Bottas saiu na frente na
estréia da temporada 2020 da F-1, ao vencer o GP da Áustria domingo passado. Já
Lewis Hamilton até teria motivos válidos para comemorar o segundo lugar, não
fosse a disputa com Alexander Alboon, onde foi considerado novamente culpado
pelo toque com o tailandês da Red Bull, na tentativa de ultrapassagem por fora
em uma curva. Olhando pela câmera onboard, não se vê o inglês manobrando para
“empurrar” o rival para fora da pista, em uma manobra que entendi ser apenas um
incidente de corrida. Espero que os fiscais e comissários não voltem com aquela
caça às bruxas que tomou conta da categoria em tempos recentes, onde qualquer
toque de um carro no outro já era motivo para punição de algum piloto. Por
causa da punição de 5s que acabou tirando Lewis do pódio, o clima entre as
equipes Mercedes e Red Bull anda bem quente, e tem tudo para esquentar ainda
mais neste final de semana, com a segunda corrida da F-1 em Zeltweg, com o GP
da Estíria. De favorita, a Red Bull saiu da pista zerada domingo passado, e
está a fim de uma revanche, enquanto a Mercedes, obviamente, não vai aceitar
levar desaforo para casa. Podemos ver uma boa briga na pista, e fora dela, por
causa disso. Vamos ver se teremos sorte de assistir a uma corrida com várias
surpresas, como foi a de domingo passado...
A Indycar disputa neste final de
semana sua primeira rodada dupla, na pista de Elkhart Lake, com corrida no
sábado, às 18:00; e no domingo, às 13:00, ambas pelo horário de Brasília.
Bandsports, e o DAZN, transmitirão as provas ao vivo, que terão presença
controlada de público no circuito do Wisconsin. Scott Dixon manterá sua
invencibilidade na atual temporada?
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