sexta-feira, 10 de julho de 2020

FERNANDO ALONSO, O RETORNO


 
Fernando Alonso estará de volta à F-1 em 2021, defendendo a equipe Renault.
          
A Fórmula 1 deu sua largada para a temporada de 2020 no último final de semana na Áustria, e felizmente, tudo correu bem, e tivemos uma corrida com vários lances interessantes, e alguns até meio polêmicos, com a expectativa de termos um repeteco a partir de hoje, quando todo mundo volta aos treinos na pista de Zeltweg, ainda na Áustria, na segunda parte da rodada dupla no país europeu, com a prova deste domingo ganhando o nome de Grande Prêmio da Estíria, região onde está situado o Red Bull Ring. Mas o assunto da semana mesmo é o retorno do bicampeão Fernando Alonso à F-1, anunciado pela Renault na última quarta-feira.
            O piloto asturiano voltará ao time pelo qual conquistou dois títulos, em 2005 e 2006, mas com uma missão e uma realidade completamente diferentes de quando desbancou Michael Schumacher do posto de principal protagonista da categoria máxima do automobilismo em meados da década passada. A Renault hoje, mesmo sendo um time oficial de fábrica, ainda luta para se reafirmar na categoria, de modo que ninguém espere ver Alonso disputando vitórias com as favoritas Mercedes, e suas rivais Red Bulls. Mais do que vencer, Alonso afirma que sua missão agora é dar um rumo para o time francês, e fazer com que volte a ser protagonista na F-1. Chega até mesmo a dizer que o sucesso do time não precisa ser necessariamente com ele, mas com algum novo talento que possa usufruir do seu trabalho de ajudar a escuderia francesa a retornar a seus tempos de glórias.
            Alonso deixou a categoria ao fim da temporada de 2018, alegando procurar outros desafios, e não querer ser apenas “mais um” piloto no grid. Pesou na decisão as três temporadas de resultados pífios na McLaren em sua associação com a Honda, cuja unidade de potência era tremendamente problemática, a ponto do espanhol forçar o time a romper a parceria, firmando uma nova associação com a Renault para 2018. Os resultados melhoraram, mas o carro ainda precisava de muitas melhorias, de forma que novas vitórias, ou mesmo pódios, não vieram. Só no ano passado a McLaren acertou o seu rumo, mas com uma nova dupla de pilotos, e com uma nova administração do time que considerou Fernando “passado” do time, e não seu “futuro”, uma vez que a saída do piloto dava mais ares de procurar um ano sabático, fora da categoria, do que pendurar o capacete para a F-1. Isso evidenciava também algo que todo mundo já sabia há muito tempo: o ambiente desestruturador que Alonso acaba promovendo nos times por onde compete, e que foram determinantes para certas portas da categoria máxima do automobilismo se fecharem para ele.
Em 2005, o piloto espanhol levou a Renault ao seu primeiro título na F-1 como equipe, repetindo o feito em 2006. Agora, sua missão é ajudar a marca a voltar a ser grande e vencedora como naqueles tempos.
            O seu estilo centralizador, exigente, e muitas vezes egocêntrico, além das cobranças e críticas públicas, tornarem-se um ônus muitas vezes desgastante para as escuderias que defendeu, a ponto de muitos se questionarem se valia a pena tê-lo como piloto. Dentro da pista, Alonso é um dos melhores pilotos de todos os tempos da F-1, sendo capaz de entregar resultados que muitas vezes os carros não seriam capazes de proporcionar. Extremamente combativo e determinado, porém fora da pista, ele sempre gostou de ter todas as atenções voltadas para si, de modo a canalizar todos os recursos à sua volta, nem que precisasse gerar alguns desentendimentos no box da escuderia. E o espanhol não era de se intimidar, o que o levou a se indispor com nomes importantes em alguns times por onde passou.
            Como não poderia deixar de ser, as reações à notícia de sua contratação por parte da Renault para 2021 foram divididas. Muitos apoiam a volta do asturiano ao grid, pelo nome que ele possui, como um bicampeão mundial, e piloto que pode ser o elemento que ajude a levar a Renault de volta para a dianteira do grid. Mas para muitos outros, a contratação de Alonso é mais um erro que a fábrica francesa está cometendo, e que isso não lhe trará os resultados almejados, para não mencionar, claro, que o ambiente nos boxes da escuderia tem tudo para virar uma verdadeira tormenta, especialmente se o time não evoluir como alguns esperam. Cada lado tem suas razões, e ambas são até válidas e compreensíveis. Mas Fernando não seria o primeiro campeão mundial a se “aposentar” da F-1, e depois retornar à categoria. Se outros fizeram, e se apareceu quem o queira, é direito dele voltar à competição.
            Diferentemente de quando retornou à McLaren, após ser “desconsiderado” pela Ferrari no segundo semestre de 2014, quando todo mundo nutria grandes esperanças pela nova associação do time inglês com a Honda, que tantas glórias haviam conquistado juntos muitos anos antes, Fernando sabe que não há muito o que esperar da Renault para a temporada de 2021. O time parece ter feito progressos do ano passado para cá, uma vez que Daniel Ricciardo até que andou bem na Áustria, antes de abandonar. Mas terá dificuldades para encarar a Racing Point com seu novo carro “clonado” da Mercedes de 2019, e sua própria equipe cliente, a McLaren, que já foi superior a ela no ano passado. É verdade que foi apenas a primeira corrida, e a Renault pode ter melhores performances nas próximas corridas, mas numa comparação pelo que vimos em Zeltweg, o time pode ser no momento a 6ª força no campeonato, posição que não parece muito promissora. E se levarmos em conta que a temporada de 2021 será disputada com os carros atuais, que terão apenas melhorias limitadas com vistas a cortar custos de competição, além do teto orçamentário que passará a vigorar na F-1 no próximo ano, as expectativas de que o time francês apresente um salto de desempenho parece meio distante, de modo que Alonso já deve encarar o ano de seu retorno como de parcos resultados.
Em 2007, na McLaren, Alonso se desentendeu com o time e com seu novo parceiro, o então novato Lewis Hamilton (acima), perdendo a chance de vencer seu terceiro campeonato. Entre 2015 e 2018, ele retornaria ao time inglês, em uma fracassara reunião com a Honda (abaixo) que não deu os resultados esperados.
            O objetivo de fato seria 2022, quando entrará em vigor o novo regulamento técnico, e para o qual a Renault já vem concentrando esforços. Com as novas regras de concepção dos carros, a esperança é que o time sediado em Enstone consiga fazer um melhor aproveitamento do novo regulamento, e consiga retornar às primeiras colocações nas corridas. A nova unidade de potência francesa parece ter evoluído bem para este ano, e isso, pelo menos, já é um alento. Faltaria o carro evoluir como se deve, algo que a Renault ainda não conseguiu produzir a contento. Em 2018, o time terminou o ano em 4º lugar, mas em 2019, o que deveria ser uma evolução do projeto acabou andando para trás, de modo que o time não conseguiu repetir a mesma performance. E com a melhor forma potencial de Racing Point e McLaren neste ano, o desafio de tentar crescer novamente se torna mais difícil.
            Alonso diz que está preparado para esta situação, e dá a entender plenamente que as condições que encontrará não serão as ideais. Declarou que, fisicamente, está na sua melhor forma, e que terá muito a contribuir para a melhoria da escuderia, e que trabalhará firme com este propósito. De certa forma, falou o óbvio. Vai ser preciso muito trabalho mesmo na Renault para se conseguir voltar às vitórias, e se lembrarmos que no ano que vem a McLaren ainda voltará a usar unidades de potência da Mercedes, a marca francesa ficará praticamente sozinha utilizando seus propulsores, o que em tese é um revés por não ter mais times que possam compartilhar seus dados de performance, o que pode resultar em um desenvolvimento menor, frente às unidades dos concorrentes. É uma possibilidade a se considerar.
            Já com relação ao ambiente ficar tenso com a presença do asturiano no time, também é uma possibilidade a se considerar, especialmente se o time decair no grid. Por mais ciente de como esteja a posição e a condição da Renault, vai ser um teste de paciência esperar pela evolução dos resultados. Há quem afirme que Cyril Abiteboul pode não durar muito no comando do time se Alonso começar a se indispor com ele, e como o francês ainda não mostrou a que veio no comando do time da Renault na F-1, não demoraria a ser fritado caso algo desande. Por outro lado, muitos antigos profissionais do time ainda são da época em que o espanhol foi campeão em 2005 e 2006, e são mais do que favoráveis à sua volta à escuderia, como alguém que pode efetivamente levantar o time e colocá-lo no rumo certo, por mais críticos que digam que Alonso não é tudo isso que diz ser.
            A confirmação de Alonso como piloto da Renault para a temporada de 2021 já coloca também outros dois nomes de pilotos na corda bamba. O primeiro deles é Sebastian Vettel, que tal como Alonso em 2014, foi simplesmente “dispensado” de Maranello sem maiores cerimônias, e era um nome cotado para o time francês. Para muitos, Vettel seria uma aquisição bem mais positiva para a escuderia do que Alonso, uma vez que ele dificilmente deixaria o ambiente conturbado nos boxes, além de ser também um talento comprovado e um tetracampeão mundial. Mas aparentemente, os erros crassos cometidos por Sebastian em tempos recentes deixaram um ar de desconfiança sobre a capacidade do piloto alemão, que domingo passado, inclusive, acabou cometendo um novo erro que comprometeu suas chances de alcançar um melhor resultado na prova da Áustria. Por mais egocêntrico que Alonso possa ser, o espanhol raramente comete erros na pista, e ainda possui uma imagem de piloto extremamente combativo, a ponto de ser considerado uma aposta mais confiável que Vettel neste momento, que por sua vez, já estaria até se “oferecendo” para voltar à Red Bull, sua antiga casa. Ainda correm boatos sobre a Aston Martin, futuro nome da Racing Point. Deixarei as especulações sobre o futuro de Vettel para a semana que vem, ou talvez depois, quando discorrerei um pouco mais sobre o assunto.
            Quem também vai ter de se cuidar é Esteban Ócon. O piloto francês retornou à F-1 este ano, e logo em sua primeira corrida pela Renault, acabou sendo facilmente ofuscado por Daniel Ricciardo, e só não se saiu pior porque conseguiu chegar ao final da corrida e marcar seus primeiros pontos pelo time logo na primeira corrida, enquanto o australiano acabou ficando pelo caminho, por quebra mecânica no seu carro. Se levarmos em conta a capacidade de pilotagem de Alonso, sem desmerecer o talento de Ricciardo, o francês pode ir se preparando para viver dias difíceis na escuderia no próximo ano. Por enquanto, a relação é amistosa, mas e quando ambos começarem a dividir atenções no box? Fernando tem o dom de massacrar, ou de dificultar sobremaneira a vida de seus companheiros de equipe, por isso Esteban tem de aproveitar os tempos mais calmos na Renault este ano. Nada garante que em 2021 terá a mesma tranquilidade, se bem que sempre existe a possibilidade de Fernando voltar mais “sociável” e solidário, em função de saber muito bem que o time não terá condições de vencer corridas. E vamos lembrar que, na McLaren/Honda, ele até conviveu bem com Jenson Button, não arrumando treta com o inglês, se bem que, com a ruindade do carro naqueles anos, do que adiantava arrumar confusão com o companheiro de equipe?
            Em termos de marketing, a F-1 ganha com o retorno do espanhol. Até porque, na pior das hipóteses, a categoria ficaria apenas com um piloto campeão em atividade, Lewis Hamilton, com a possível “aposentadoria” de Sebastian Vettel, e de Kimi Raikkonem, e isso nunca é bom em uma competição esportiva. Pelo talento que possui, Alonso mereceria uma última chance de brilhar, já que os anos de ostracismo com a recente McLaren/Honda não lhe fazem justiça, por mais que muitos digam que o asturiano, por seu caráter desagregador e egocêntrico, teve por merecer. Mas, em nome da competição, se a Renault lhe der um bom carro em 2022, seria muito bom poder vê-lo duelar a fundo com Hamilton, Verstappen, Ricciardo, LeClerc, para mostrar o que ainda é capaz de fazer ao volante de um carro de competição.
            Claro que muitos ainda dirão que Alonso, a esta altura da vida, não rende mais o que poderia render, frente a uma nova geração de talentos que está fazendo por merecer seu novo protagonismo. Talvez estejam certos, mas isso é algo que o piloto decidirá se vale a pena ou não. Muitos citam como exemplo o retorno de Michael Schumacher, que não era mais o piloto que costumava ser, não conseguindo se adaptar a uma F-1 que se tornou diferente do que era em seus tempos. É uma possibilidade, mas ninguém pode dizer que é impossível acontecer o oposto, como vimos com Niki Lauda, que saiu da F-1 em 1979, e em 1982 estava de novo no grid, e ainda tendo sido campeão em 1984, mesmo que digam que foi por causa do carro superior da McLaren, como se Alain Prost tivesse sido um adversário fácil de bater.
            O campeonato de F-1 de 2020 mal começou, mas todo mundo já está querendo saber mesmo é de 2021, e do que Alonso poderá fazer na Renault, mesmo com o time francês sem ter condições de vencer ou disputar o título. Vão ser meses de uma longa espera, e de muita torcida, a favor e contra, dos amantes do esporte a motor. A bem ou mal, Fernando Alonso mobiliza multidões a respeito de seu nome, e isso não é pouca coisa. Vejamos no que isso vai dar...


Valtteri Bottas saiu na frente na estréia da temporada 2020 da F-1, ao vencer o GP da Áustria domingo passado. Já Lewis Hamilton até teria motivos válidos para comemorar o segundo lugar, não fosse a disputa com Alexander Alboon, onde foi considerado novamente culpado pelo toque com o tailandês da Red Bull, na tentativa de ultrapassagem por fora em uma curva. Olhando pela câmera onboard, não se vê o inglês manobrando para “empurrar” o rival para fora da pista, em uma manobra que entendi ser apenas um incidente de corrida. Espero que os fiscais e comissários não voltem com aquela caça às bruxas que tomou conta da categoria em tempos recentes, onde qualquer toque de um carro no outro já era motivo para punição de algum piloto. Por causa da punição de 5s que acabou tirando Lewis do pódio, o clima entre as equipes Mercedes e Red Bull anda bem quente, e tem tudo para esquentar ainda mais neste final de semana, com a segunda corrida da F-1 em Zeltweg, com o GP da Estíria. De favorita, a Red Bull saiu da pista zerada domingo passado, e está a fim de uma revanche, enquanto a Mercedes, obviamente, não vai aceitar levar desaforo para casa. Podemos ver uma boa briga na pista, e fora dela, por causa disso. Vamos ver se teremos sorte de assistir a uma corrida com várias surpresas, como foi a de domingo passado...


A Indycar disputa neste final de semana sua primeira rodada dupla, na pista de Elkhart Lake, com corrida no sábado, às 18:00; e no domingo, às 13:00, ambas pelo horário de Brasília. Bandsports, e o DAZN, transmitirão as provas ao vivo, que terão presença controlada de público no circuito do Wisconsin. Scott Dixon manterá sua invencibilidade na atual temporada?

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