Não teremos o Grande Prêmio do Brasil este ano. A pandemia inviabilizou as corridas da F-1 no continente americano. |
Ninguém deveria se
surpreender com o resultado, dado o momento complicado em que vivemos, e que
está sendo particularmente bem mais difícil por estes lados do Oceano
Atlântico. Pela primeira vez em sua história, a Fórmula 1 não terá nenhuma
corrida em seu calendário nesta temporada. Os Grandes Prêmios dos Estados
Unidos, México e Brasil foram limados da competição em 2020, levando a etapa do
Canadá junto com elas.
O motivo maior é o
mais óbvio possível. Estados Unidos e Brasil ocupam as primeiras posições no
ranking mundial de novos casos do coronavírus Covid-19, bem como de mortes
decorrentes da doença. Enquanto outros países conseguiram exercer algum
controle sobre a pandemia, e mesmo assim estão dando passos rápidos para trás
ao menor sinal de um recrudescimento dos números da doença, por aqui estamos
vendo os números dispararem, sem que tenhamos uma política que nos forneça um
horizonte confiável de como deter a explosão de casos que estamos vendo surgir
dia após dia. Mesmo que não estivéssemos com as fronteiras dos países fechadas,
quem iria querer vir para cá, do jeito que a situação está?
E olhe que não são
corridas exatamente dispensáveis. Cada uma, à sua maneira, cativa não apenas
torcedores, mas profissionais da F-1, seus pilotos, e claro, o pessoal da
imprensa que trabalha na cobertura da F-1. Os Estados Unidos, para começar, são
o maior mercado comercial do mundo, e a F-1 tem mais do que óbvios interesses
de divulgar as marcas de seus patrocinadores nas terras do Tio Sam, ainda mais
que, nos últimos anos, ganhou um palco para ninguém botar defeito, o excelente
Circuito das Américas, em Austin, Texas, prova que tem oferecido boas
alternativas de disputas nos últimos anos.
O México, por sua vez,
tem apresentado também boas corridas, e os mexicanos tem feito uma promoção
ímpar de sua corrida, tornando o GP na Cidade do México um dos preferidos de
todos no calendário, tendo sempre casa cheia, o que certamente resulta em
lucros para todas as partes envolvidas. Das provas no continente americano, é
certamente a corrida que mais fará falta para todos.
O Brasil, por sua vez,
possui um circuito à moda antiga, Interlagos, que sempre agrada aos pilotos.
Possui um bom público, e neste ano, contaria ainda com o término das reformas
no seu paddock, motivo de muitas críticas por parte dos times da categoria
máxima do automobilismo, mal acostumadas que ficaram com as megaestruturas de
circuitos concebidas por Hermann Tilke desde que este projetou a pista de
Sepang, na Malásia, que teve sua primeira corrida realizada em 1999. Se é
verdade que as condições de segurança sempre renderam críticas, dado que em
certos momentos, integrantes do circo da F-1 passaram por apertos diante da
bandidagem que existe na maior cidade da América do Sul, nosso país possui,
através da exibição na TV Globo, um dos maiores índices de audiência, algo que
certamente agrada à Liberty Media, dona da competição.
A prova do Canadá também não será realizada este ano. |
A pista do circuito
Gilles Villeneuve, em Montreal, sempre rende boas disputas, uma vez que o
circuito, com seus guard-rails bem próximos à pista, e seu traçado que possui
características similares às de pistas de rua, costuma proporcionar
dificuldades inerentes deste tipo de pista, resultando em incidentes que por
vezes exigem a intervenção do Safety Car, o que costuma embaralhar as
estratégias de pilotos e equipes. Além disso, Montreal é uma cidade que
vivencia sua semana de Grande Prêmio como poucas no calendário, criando uma
atmosfera extremamente agradável, para público, e profissionais envolvidos com
a corrida.
Atrativos não faltam,
mas isso em tempos normais, e nestes momentos atuais, onde infelizmente a
pandemia da Covid-19 está deixando o mundo virado de cabeça para baixo, não há
como argumentar com este revés. Em primeiro lugar, pela logística envolvida com
o transporte. Se já é complicado todo o circo da F-1 viajar para fora da
Europa, em condições normais, nestes tempos de pandemia, então, nem pensar. Por
mais que tentemos ser otimistas com a situação e sua evolução, na melhor das hipóteses,
para o mês de outubro/novembro, ainda temos problemas de vulto para justificar
a realização destas provas. A primeira delas, de cunho econômico: o fluxo de
caixa da F-1 foi severamente afetado pela pandemia, e neste momento, tem de
priorizar a disputa de corridas cujo deslocamento seja o menor possível, a fim
dos gastos de transporte serem reduzidos ao máximo possível. Viajar para o
continente americano gera uma despesa que já é alta, mas neste momento de vacas
magras, fica proporcionalmente bem mais custoso.
E ainda temos a
burocracia decorrente dos problemas desencadeados pela Covid-19. As fronteiras
dos países estão fechadas, com raras exceções, e mesmo com contingente
reduzido, e seus protocolos de segurança implantados para garantir que ninguém
no paddock esteja contaminado, não há garantias de ter a entrada de todo este
pessoal liberada no país.
O GP do México, muito aplaudido nos últimos anos, fica para 2021. |
Embora estejamos vendo
até as competições sendo realizadas nos Estados Unidos, o clima não parece tão
calmo como se pode imaginar. O país é o recordista em número de casos e mortes
decorrentes da Covid-19, e o fato dos movimentos de reabertura da economia
estarem sendo comprometidos pelo aumento do número de casos e mortes indica que
tudo pode parar novamente a qualquer momento, se a situação ficar ainda mais
fora de controle. A Indycar, por exemplo, já precisou cancelar mais corridas de
seu já sofrido calendário estipulado para este ano, situação que pode afetar
também a Nascar, o certame automobilístico mais popular do país. E como
desgraça pouca é bobagem, o presidente Donald Trump não tem ajudado a coordenar
as atividades de contenção da pandemia como deveria caber a um presidente,
interessado mais que está em sua campanha de reeleição que se aproxima. E nem
estou incluindo o clima ruim decorrente das manifestações contra o racismo que
estão pipocando em vários locais do país recentemente, que não ajudam em nada a
criar um ambiente mais calmo.
Um panorama similar ao
que vemos aqui no Brasil, com nosso presidente também se negando a assumir seu
papel de união nacional, desdenhando da doença e seriedade da situação, e ainda
por cima se vangloriando de sua “vitória” sobre o coronavírus, que já o
infectou recentemente. Some-se a isso a um desencontro das ações entre
governadores, prefeitos, e governo federal, além das picuinhas políticas a que
estamos assistindo, e o Brasil, mais do que nunca, é uma terra de ninguém, onde
cada um é por si, sem se importar com os demais. E ainda por cima, com uma
flexibilização das atividades econômicas em pleno aumento do número de casos e
de mortes, que certamente não contribuem para se passar um clima de maior
segurança.
Com os casos da Covid-19 aumentando a olhos vistos nos Estados Unidos, não teremos a corrida da F-1 na bela pista de Austin, no Texas. |
A situação no México,
embora não tão desastrosa quando nos Estados Unidos ou no Brasil, também
inspira cuidados, podendo seguir o mesmo rumo desgovernado que nos dois
mencionados países. Todo cuidado é pouco, e não dá para se arriscar tanto neste
momento.
O Canadá seria o único
país com condições razoáveis de sediar uma corrida, uma vez que tem conseguido
controlar os casos de Covid-19 em seu território até o presente momento, feito
não igualado por México, Brasil, e principalmente Estados Unidos. O problema é
que, com caixa baixo da F-1, fazer apenas uma corrida no continente americano
não seria viável economicamente. Fora o fato de que, a partir de outubro, o
clima em Montreal começa a ficar cada vez mais frio, o que poderia comprometer
as condições meteorológicas para se disputar a corrida.
Infelizmente, este ano
está sendo de sacrifícios. A pandemia da Covid-19 fez tudo ter de mudar, e
lamentavelmente, para algumas coisas seguirem em frente, foi necessário efetuar
mudanças a fim de evitar o pior. As etapas da América ficarem de fora do
calendário da F-1 é algo a nos entristecer, mas não estamos sozinhos nessa.
Temos de lembrar que outros países também tiveram de abdicar de suas corridas,
e não estamos falando de provas apenas para constar na competição. A Austrália
ficou de fora. A Holanda, que voltava ao calendário depois de mais de trinta
anos de ausência, também teve de adiar seu retorno. Japão e Singapura, dois
locais que teriam, em tese, plenas condições de realizar seus GPs, mesmo no
presente momento, também abdicaram de suas etapas deste ano. Temos que pensar
que, dos males, o menor, e nos concentrar na esperança de que este momento
difícil passe o quanto antes, e que em 2021 possamos ter a situação
normalizada, e que nos permita desfrutar de todo o campeonato da F-1 tal como
esperávamos fazer neste ano, com todas as corridas de volta ao certame.
É o que melhor podemos
fazer.
Enquanto cancelava em definitivo
as corridas que seriam realizadas no continente americano, a Liberty Media e a
FIA confirmavam a realização de mais três provas no calendário de 2020, todas
na Europa. Com as etapas de Mugello (13.09) e Rússia (27.09) já anunciadas, a
sequência do campeonato terá uma prova em Nurburgring, na Alemanha, no dia 11
de outubro (Grande Prêmio de Eifel); o GP de Portugal (em Portimão) no dia 25
de outubro; e o GP da Emilia-Romagna (em Ímola) no dia 1º de novembro. Com
isso, já teremos 13 corridas garantidas na temporada 2020, lembrando que a
direção da F-1 trabalha com a meta de no mínimo 15 corridas, as quais poderão
ser o GP do Bahrein e o GP de Abu Dhabi. Ainda há a possibilidade de Sakhir ter
uma rodada dupla, o que faria a competição ter 16 provas, número que seria mais
do que suficiente para finalizar a temporada, diante de todos os problemas
enfrentados. Mas podemos ter novidades ainda nas próximas semanas, e esperemos
que possam ser positivas para a competição.
E a F-1 está reunida em Silverstone
para a rodada dupla que será realizada no tradicional circuito inglês, com os
GPs da Grã-Bretanha, e dos 70 anos da F-1. Mas haverá um desfalque no grid: o
mexicano Sérgio Perez, da equipe Racing Point, foi diagnosticado com Covid-19,
e está praticamente fora das duas provas que teremos em solo inglês. Perez
havia relatado ter sentido algumas tonturas no fim de semana na Hungria, mas no
espaço de duas semanas entre aquela corrida e esta primeira em Silverstone,
Sérgio teria viajado para o México junto com sua esposa, que divulgou o fato em
suas redes sociais. O casal também teria viajado pela Itália, no retorno à
Europa, e isso pode ter sido um passo tremendamente equivocado do piloto, que
teria se exposto desnecessariamente, vindo a se infectar com o coronavírus.
Felizmente, Perez está se sentindo bem, mas o momento é delicado em sua
carreira, uma vez que ele pode perder seu lugar no time que se chamará Aston
Martin em 2021, que poderia ter Sebastian Vettel como piloto, e que obter bons
resultados seria crucial para fortalecer sua posição no time, e na disputa por
um lugar em outra escuderia, caso tenha de sair. Alguns nomes foram
considerados para substituir o mexicano na Racing Point, entre eles Esteban
Gutiérrez, mas no final, quem ganhou a chance foi Nico Hulkenberg, que ficou de
fora da F-1 este ano, após ser dispensado pela Renault ao fim do ano passado, e
agora irá disputar pelo time as duas provas em Silverstone.
A Formula-E está reunida em
Berlim para a disputa das seis corridas no aeroporto de Tempelhof, a fim de
encerrar sua temporada 2019/2020. O campeonato já tinha cinco provas
realizadas, quando a pandemia da Covid-19 obrigou a suspensão da competição,
com o cancelamento das etapas planejadas até o mês de julho. A fim de evitar as
aglomerações que suas pistas, normalmente montadas em ruas de cidades,
provocariam, a direção da categoria resolveu promover uma rodada sêxtupla no
circuito que seria montado no antigo aeroporto da capital da Alemanha. E, para
garantir a emoção da competição, serão adotadas três configurações de traçado
nas corridas, com duas provas cada uma. Para as primeiras quatro corridas, será
utilizada a configuração de traçado que todos conhecem nas últimas temporadas,
com cerca de 2,355 Km de extensão, com cerca de 10 curvas. A primeira rodada
dupla, que será disputada nos próximos dias 5 e 6 de agosto, contudo, será
feita no sentido inverso da pista, em sentido horário. Teremos uma pausa no dia
7 de agosto, e nos dias 8 e 9, as duas corridas seguintes, que agora serão
realizadas no sentido original do traçado, como feito nos últimos anos. O dia
de intervalo entre a primeira e a segunda rodada dupla será utilizado pela
direção da categoria para efetuar as mudanças de segurança que a mudança de
sentido da pista exige, mesmo que isso possa parecer simples à primeira vista.
A terceira rodada dupla será realizada nos dias 12 e 13 de agosto. A pausa
entre a segunda e a terceira rodada, mais do que oferecer um descanso às
equipes e pilotos, também será necessária para se efetuar mudanças no traçado
do circuito, que será diferente, e um pouco mais extenso, com cerca de 2,505 Km
de extensão, e 16 curvas, além de manter o sentido anti-horário da pista. No campeonato, o português Antonio Félix da Costa, da
Techeetah, lidera a competição, com 67 pontos. O neozelandês Mith Evans, da
Jaguar, é o vice-líder, com 56 pontos.
O Brasil terá mais um piloto
nesta rodada sêxtupla da F-E. Sergio Sette Camara vai defender a equipe Dragon
no lugar de Brendon Hartley, que deixou o time. Lucas Di Grassi e Felipe Massa
são nossos outros representantes na categoria, defendendo as equipes Audi e
Venturi, respectivamente. Lucas é o 5º colocado no campeonato, com 38 pontos,
enquanto Massa ocupa a 19º posição, com apenas 2 pontos.