sexta-feira, 31 de julho de 2020

NÃO À AMÉRICA


Não teremos o Grande Prêmio do Brasil este ano. A pandemia inviabilizou as corridas da F-1 no continente americano.
            Ninguém deveria se surpreender com o resultado, dado o momento complicado em que vivemos, e que está sendo particularmente bem mais difícil por estes lados do Oceano Atlântico. Pela primeira vez em sua história, a Fórmula 1 não terá nenhuma corrida em seu calendário nesta temporada. Os Grandes Prêmios dos Estados Unidos, México e Brasil foram limados da competição em 2020, levando a etapa do Canadá junto com elas.
            O motivo maior é o mais óbvio possível. Estados Unidos e Brasil ocupam as primeiras posições no ranking mundial de novos casos do coronavírus Covid-19, bem como de mortes decorrentes da doença. Enquanto outros países conseguiram exercer algum controle sobre a pandemia, e mesmo assim estão dando passos rápidos para trás ao menor sinal de um recrudescimento dos números da doença, por aqui estamos vendo os números dispararem, sem que tenhamos uma política que nos forneça um horizonte confiável de como deter a explosão de casos que estamos vendo surgir dia após dia. Mesmo que não estivéssemos com as fronteiras dos países fechadas, quem iria querer vir para cá, do jeito que a situação está?
            E olhe que não são corridas exatamente dispensáveis. Cada uma, à sua maneira, cativa não apenas torcedores, mas profissionais da F-1, seus pilotos, e claro, o pessoal da imprensa que trabalha na cobertura da F-1. Os Estados Unidos, para começar, são o maior mercado comercial do mundo, e a F-1 tem mais do que óbvios interesses de divulgar as marcas de seus patrocinadores nas terras do Tio Sam, ainda mais que, nos últimos anos, ganhou um palco para ninguém botar defeito, o excelente Circuito das Américas, em Austin, Texas, prova que tem oferecido boas alternativas de disputas nos últimos anos.
            O México, por sua vez, tem apresentado também boas corridas, e os mexicanos tem feito uma promoção ímpar de sua corrida, tornando o GP na Cidade do México um dos preferidos de todos no calendário, tendo sempre casa cheia, o que certamente resulta em lucros para todas as partes envolvidas. Das provas no continente americano, é certamente a corrida que mais fará falta para todos.
            O Brasil, por sua vez, possui um circuito à moda antiga, Interlagos, que sempre agrada aos pilotos. Possui um bom público, e neste ano, contaria ainda com o término das reformas no seu paddock, motivo de muitas críticas por parte dos times da categoria máxima do automobilismo, mal acostumadas que ficaram com as megaestruturas de circuitos concebidas por Hermann Tilke desde que este projetou a pista de Sepang, na Malásia, que teve sua primeira corrida realizada em 1999. Se é verdade que as condições de segurança sempre renderam críticas, dado que em certos momentos, integrantes do circo da F-1 passaram por apertos diante da bandidagem que existe na maior cidade da América do Sul, nosso país possui, através da exibição na TV Globo, um dos maiores índices de audiência, algo que certamente agrada à Liberty Media, dona da competição.
A prova do Canadá também não será realizada este ano.
            A pista do circuito Gilles Villeneuve, em Montreal, sempre rende boas disputas, uma vez que o circuito, com seus guard-rails bem próximos à pista, e seu traçado que possui características similares às de pistas de rua, costuma proporcionar dificuldades inerentes deste tipo de pista, resultando em incidentes que por vezes exigem a intervenção do Safety Car, o que costuma embaralhar as estratégias de pilotos e equipes. Além disso, Montreal é uma cidade que vivencia sua semana de Grande Prêmio como poucas no calendário, criando uma atmosfera extremamente agradável, para público, e profissionais envolvidos com a corrida.
            Atrativos não faltam, mas isso em tempos normais, e nestes momentos atuais, onde infelizmente a pandemia da Covid-19 está deixando o mundo virado de cabeça para baixo, não há como argumentar com este revés. Em primeiro lugar, pela logística envolvida com o transporte. Se já é complicado todo o circo da F-1 viajar para fora da Europa, em condições normais, nestes tempos de pandemia, então, nem pensar. Por mais que tentemos ser otimistas com a situação e sua evolução, na melhor das hipóteses, para o mês de outubro/novembro, ainda temos problemas de vulto para justificar a realização destas provas. A primeira delas, de cunho econômico: o fluxo de caixa da F-1 foi severamente afetado pela pandemia, e neste momento, tem de priorizar a disputa de corridas cujo deslocamento seja o menor possível, a fim dos gastos de transporte serem reduzidos ao máximo possível. Viajar para o continente americano gera uma despesa que já é alta, mas neste momento de vacas magras, fica proporcionalmente bem mais custoso.
            E ainda temos a burocracia decorrente dos problemas desencadeados pela Covid-19. As fronteiras dos países estão fechadas, com raras exceções, e mesmo com contingente reduzido, e seus protocolos de segurança implantados para garantir que ninguém no paddock esteja contaminado, não há garantias de ter a entrada de todo este pessoal liberada no país.
O GP do México, muito aplaudido nos últimos anos, fica para 2021.
            Embora estejamos vendo até as competições sendo realizadas nos Estados Unidos, o clima não parece tão calmo como se pode imaginar. O país é o recordista em número de casos e mortes decorrentes da Covid-19, e o fato dos movimentos de reabertura da economia estarem sendo comprometidos pelo aumento do número de casos e mortes indica que tudo pode parar novamente a qualquer momento, se a situação ficar ainda mais fora de controle. A Indycar, por exemplo, já precisou cancelar mais corridas de seu já sofrido calendário estipulado para este ano, situação que pode afetar também a Nascar, o certame automobilístico mais popular do país. E como desgraça pouca é bobagem, o presidente Donald Trump não tem ajudado a coordenar as atividades de contenção da pandemia como deveria caber a um presidente, interessado mais que está em sua campanha de reeleição que se aproxima. E nem estou incluindo o clima ruim decorrente das manifestações contra o racismo que estão pipocando em vários locais do país recentemente, que não ajudam em nada a criar um ambiente mais calmo.
            Um panorama similar ao que vemos aqui no Brasil, com nosso presidente também se negando a assumir seu papel de união nacional, desdenhando da doença e seriedade da situação, e ainda por cima se vangloriando de sua “vitória” sobre o coronavírus, que já o infectou recentemente. Some-se a isso a um desencontro das ações entre governadores, prefeitos, e governo federal, além das picuinhas políticas a que estamos assistindo, e o Brasil, mais do que nunca, é uma terra de ninguém, onde cada um é por si, sem se importar com os demais. E ainda por cima, com uma flexibilização das atividades econômicas em pleno aumento do número de casos e de mortes, que certamente não contribuem para se passar um clima de maior segurança.
Com os casos da Covid-19 aumentando a olhos vistos nos Estados Unidos, não teremos a corrida da F-1 na bela pista de Austin, no Texas.
            A situação no México, embora não tão desastrosa quando nos Estados Unidos ou no Brasil, também inspira cuidados, podendo seguir o mesmo rumo desgovernado que nos dois mencionados países. Todo cuidado é pouco, e não dá para se arriscar tanto neste momento.
            O Canadá seria o único país com condições razoáveis de sediar uma corrida, uma vez que tem conseguido controlar os casos de Covid-19 em seu território até o presente momento, feito não igualado por México, Brasil, e principalmente Estados Unidos. O problema é que, com caixa baixo da F-1, fazer apenas uma corrida no continente americano não seria viável economicamente. Fora o fato de que, a partir de outubro, o clima em Montreal começa a ficar cada vez mais frio, o que poderia comprometer as condições meteorológicas para se disputar a corrida.
            Infelizmente, este ano está sendo de sacrifícios. A pandemia da Covid-19 fez tudo ter de mudar, e lamentavelmente, para algumas coisas seguirem em frente, foi necessário efetuar mudanças a fim de evitar o pior. As etapas da América ficarem de fora do calendário da F-1 é algo a nos entristecer, mas não estamos sozinhos nessa. Temos de lembrar que outros países também tiveram de abdicar de suas corridas, e não estamos falando de provas apenas para constar na competição. A Austrália ficou de fora. A Holanda, que voltava ao calendário depois de mais de trinta anos de ausência, também teve de adiar seu retorno. Japão e Singapura, dois locais que teriam, em tese, plenas condições de realizar seus GPs, mesmo no presente momento, também abdicaram de suas etapas deste ano. Temos que pensar que, dos males, o menor, e nos concentrar na esperança de que este momento difícil passe o quanto antes, e que em 2021 possamos ter a situação normalizada, e que nos permita desfrutar de todo o campeonato da F-1 tal como esperávamos fazer neste ano, com todas as corridas de volta ao certame.
            É o que melhor podemos fazer.


Enquanto cancelava em definitivo as corridas que seriam realizadas no continente americano, a Liberty Media e a FIA confirmavam a realização de mais três provas no calendário de 2020, todas na Europa. Com as etapas de Mugello (13.09) e Rússia (27.09) já anunciadas, a sequência do campeonato terá uma prova em Nurburgring, na Alemanha, no dia 11 de outubro (Grande Prêmio de Eifel); o GP de Portugal (em Portimão) no dia 25 de outubro; e o GP da Emilia-Romagna (em Ímola) no dia 1º de novembro. Com isso, já teremos 13 corridas garantidas na temporada 2020, lembrando que a direção da F-1 trabalha com a meta de no mínimo 15 corridas, as quais poderão ser o GP do Bahrein e o GP de Abu Dhabi. Ainda há a possibilidade de Sakhir ter uma rodada dupla, o que faria a competição ter 16 provas, número que seria mais do que suficiente para finalizar a temporada, diante de todos os problemas enfrentados. Mas podemos ter novidades ainda nas próximas semanas, e esperemos que possam ser positivas para a competição.


E a F-1 está reunida em Silverstone para a rodada dupla que será realizada no tradicional circuito inglês, com os GPs da Grã-Bretanha, e dos 70 anos da F-1. Mas haverá um desfalque no grid: o mexicano Sérgio Perez, da equipe Racing Point, foi diagnosticado com Covid-19, e está praticamente fora das duas provas que teremos em solo inglês. Perez havia relatado ter sentido algumas tonturas no fim de semana na Hungria, mas no espaço de duas semanas entre aquela corrida e esta primeira em Silverstone, Sérgio teria viajado para o México junto com sua esposa, que divulgou o fato em suas redes sociais. O casal também teria viajado pela Itália, no retorno à Europa, e isso pode ter sido um passo tremendamente equivocado do piloto, que teria se exposto desnecessariamente, vindo a se infectar com o coronavírus. Felizmente, Perez está se sentindo bem, mas o momento é delicado em sua carreira, uma vez que ele pode perder seu lugar no time que se chamará Aston Martin em 2021, que poderia ter Sebastian Vettel como piloto, e que obter bons resultados seria crucial para fortalecer sua posição no time, e na disputa por um lugar em outra escuderia, caso tenha de sair. Alguns nomes foram considerados para substituir o mexicano na Racing Point, entre eles Esteban Gutiérrez, mas no final, quem ganhou a chance foi Nico Hulkenberg, que ficou de fora da F-1 este ano, após ser dispensado pela Renault ao fim do ano passado, e agora irá disputar pelo time as duas provas em Silverstone.


A Formula-E está reunida em Berlim para a disputa das seis corridas no aeroporto de Tempelhof, a fim de encerrar sua temporada 2019/2020. O campeonato já tinha cinco provas realizadas, quando a pandemia da Covid-19 obrigou a suspensão da competição, com o cancelamento das etapas planejadas até o mês de julho. A fim de evitar as aglomerações que suas pistas, normalmente montadas em ruas de cidades, provocariam, a direção da categoria resolveu promover uma rodada sêxtupla no circuito que seria montado no antigo aeroporto da capital da Alemanha. E, para garantir a emoção da competição, serão adotadas três configurações de traçado nas corridas, com duas provas cada uma. Para as primeiras quatro corridas, será utilizada a configuração de traçado que todos conhecem nas últimas temporadas, com cerca de 2,355 Km de extensão, com cerca de 10 curvas. A primeira rodada dupla, que será disputada nos próximos dias 5 e 6 de agosto, contudo, será feita no sentido inverso da pista, em sentido horário. Teremos uma pausa no dia 7 de agosto, e nos dias 8 e 9, as duas corridas seguintes, que agora serão realizadas no sentido original do traçado, como feito nos últimos anos. O dia de intervalo entre a primeira e a segunda rodada dupla será utilizado pela direção da categoria para efetuar as mudanças de segurança que a mudança de sentido da pista exige, mesmo que isso possa parecer simples à primeira vista. A terceira rodada dupla será realizada nos dias 12 e 13 de agosto. A pausa entre a segunda e a terceira rodada, mais do que oferecer um descanso às equipes e pilotos, também será necessária para se efetuar mudanças no traçado do circuito, que será diferente, e um pouco mais extenso, com cerca de 2,505 Km de extensão, e 16 curvas, além de manter o sentido anti-horário da pista. No campeonato, o português Antonio Félix da Costa, da Techeetah, lidera a competição, com 67 pontos. O neozelandês Mith Evans, da Jaguar, é o vice-líder, com 56 pontos.
As configurações do traçado para a rodada sêxtupla da F-E em Berlim.


O Brasil terá mais um piloto nesta rodada sêxtupla da F-E. Sergio Sette Camara vai defender a equipe Dragon no lugar de Brendon Hartley, que deixou o time. Lucas Di Grassi e Felipe Massa são nossos outros representantes na categoria, defendendo as equipes Audi e Venturi, respectivamente. Lucas é o 5º colocado no campeonato, com 38 pontos, enquanto Massa ocupa a 19º posição, com apenas 2 pontos.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

COTAÇÃO AUTOMOBILÍSTICA – JUNHO/JULHO DE 2020


            Depois de um longo e tenebroso inverno, eis que a Cotação Automobilística está de volta, com o início das competições dos campeonatos de 2020, que haviam sido adiados em março, devido à pandemia do coronavírus, que virou o mundo de cabeça para baixo, e ainda está causando uma dor de cabeça dos diabos, com consequências que ainda não conseguimos mensurar com exatidão. O esquema continua o sendo o de sempre: Em Alta (menções no quadro verde); Na Mesma (quadro azul); e Em Baixa (quadro laranja), com minhas avaliações e alguns comentários a respeito da situação citada). Já estamos encerrando o mês de julho, e prestes a entrar em agosto, já o segundo mês do segundo semestre de 2020, um ano que certamente não deixará saudades para muitos, diante do momento excepcional que vivemos, e que continua a impactar a vida de todos no planeta. E, que aos trancos e barrancos, tenta tentam seguir com a vida adiante, como for possível. Então, aproveitem o texto, e tenham uma boa leitura. E espero que, na próxima Cotação Automobilística, no final de agosto, possamos ter um panorama mais animador e otimista para esse momento excepcional que estamos atravessando.



EM ALTA:

Scott Dixon: O neozelandês mostra porque é o maior nome da Indycar na atualidade. Combinando estratégia, visão de corrida, condução veloz, e ao mesmo tempo, sabendo poupar seu carro, Scott venceu as três primeiras corridas do campeonato 2020 da categoria de monopostos dos Estados Unidos, e mesmo tendo um desempenho mais fraco nas etapas seguintes, conseguiu empreender boas corridas, e manter-se na liderança da competição com uma vantagem de pontos expressiva. Com quase metade das corridas programadas já disputada, ainda é muito cedo para afirmar que o hexacampeonato está garantido, pois os rivais potenciais estão tentando acertar seus rumos e ir à caça do piloto da Ganassi, mas Dixon vem conseguindo fazer uma temporada sem erros, e aproveitando com maestria todas as oportunidades na pista que surgiram até aqui. Com uma pilotagem precisa, ele tem se garantido, mesmo quando a performance do carro indica que não dá para lutar pelas primeiras colocações, surpreendendo quem espera por um resultado abaixo do esperado. Os rivais já viram que não podem subestimar o neozelandês, e além de melhorar seus resultados, precisarão torcer por um azar de Dixon, se quiserem ter melhores chances de lutar pelo título. E Scott está determinado a não baixar a guarda nesta luta, para azar de seus concorrentes.

Lewis Hamilton: O hexacampeão pode ter começado a temporada com um resultado um pouco abaixo do esperado na primeira corrida na Áustria, mas tirou o atraso nas duas etapas seguintes, e já assumiu a liderança do campeonato, e o favoritismo destacado para o título, com chances imensas de não só igualar o heptacampeonato de Michael Schumacher, como de superar o número de vitórias do alemão como maior vencedor da história da F-1. Concentrado, e determinado, Lewis mostra que vai ser difícil batê-lo, mais uma vez, e tem conseguido extrair do novo modelo W11 todo o potencial que o carro demonstra. Na segunda prova na Áustria, fez uma volta de classificação na chuva fenomenal, deixando até mesmo Max Verstappen para trás com imensa facilidade, comprovando porque ele pode vir a ser considerado o maior piloto da história da F-1, por mais que seus críticos diminuam seus feitos, atribuindo seus méritos unicamente ao excelente carro que possui. Valtteri Bottas que o diga, tendo sido superado com alguma facilidade nas duas provas seguintes, depois de vencer a primeira corrida.

Equipe Mercedes na F-1: O time prateado caminha para fazer história com o maior período de hegemonia de uma escuderia na história da F-1, deixando para trás até mesmo os anos de domínio da Ferrari com Michael Schumacher. A escuderia capitaneada por Toto Wolf mostra que, apesar do sucesso obtido na nova era híbrida turbo desde 2014, não tem descansado sobre seus louros, e está sempre evoluindo, e mantendo um grau de excelência ímpar. Mesmo nos momentos de competição mais acirrada vivenciados em 2017 e 2018, a escuderia alemã tem se mantido coesa, e sem perder o foco, mesmo quando tem perdido alguns integrantes de seu corpo técnico, ou efetuando alguma mudança de posto de algum de seus quadros, de modo que nem parece que a equipe mexe em algo em seu vitorioso grupo de profissionais. E mais difícil do que chegar ao topo, é permanecer nele, contrariando as expectativas de ter enfim uma concorrência mais efetiva a cada temporada. Em 2019, o time praticamente “matou” a concorrência na primeira metade da temporada, de modo que não se abalou quando os rivais acertaram melhor o passo na segunda metade, garantindo ambos os títulos de pilotos e construtores sem percalços. E neste ano, ao contrário do que muitos novamente esperavam, o time germânico parece mais forte do que nunca, para azar dos rivais que tinham alguma esperança de conseguir desafiar Lewis Hamilton e Valtteri Bottas na pista. E, com os carros deste ano a serem utilizados também em 2021, isso quer dizer que o domínio da Mercedes deve prosseguir até o fim do próximo ano, no mínimo, perfazendo uma supremacia de nada menos que oito temporadas consecutivas, recorde absoluto na história da F-1, se ele não se mantiver em 2022, quando entra o novo regulamento técnico da categoria, o que já causa calafrios nas expectativas dos rivais...

Fabio Quartararo: A sensação da MotoGP de 2019 começou a temporada de 2020 da melhor forma possível, largando e chegando na frente nas primeiras corridas. Já confirmado para defender o time oficial de fábrica da Yamaha em 2021, Fabio simplesmente deixou os pilotos do time oficial comendo poeira na rodada dupla que abriu o certame da classe rainha do motociclismo na pista de Jerez de La Fronteira. Marcou a pole-position nas duas provas, e obteve duas vitórias contundentes. Por mais que a segunda vitória tenha sido um pouco facilitada pela ausência de Marc Márquez, vale lembrar que o hexacampeão deu luta ao novo jovem leão da categoria na primeira prova, e Quartararo conseguiu se portar bem na pista. Com pelo menos onze corridas ainda pela frente na temporada de tempos anormais deste ano, ainda é cedo para dizer que Fabio assume ares de favoritismo, mas a pontuação perfeita obtida na pista da Andaluzia já obrigam os rivais, especialmente Márquez, a terem de correr atrás do prejuízo. Se a nova estrela da categoria já mostrou sua velocidade, vamos ver como irá se sair quando tiver de defender sua posição na pista quando os rivais apertarem o ritmo. Se ele se mostrar concentrado, e sabendo administrar os resultados quando necessário, vai ser difícil de ser batido. E isso significa que poderemos ver alguns duelos bem empolgantes nas próximas provas, dos candidatos a tentar destronar Quartararo da liderança da competição. Conseguirão brecar o jovem piloto francês?

Lando Norris: O piloto da McLaren mostrou um excelente desempenho nas provas disputadas na Áustria, conseguindo inclusive seu primeiro pódio na F-1, e justificando a confiança do time em sua capacidade de pilotagem, algo que só não foi melhor visto em 2019 diante de quebras que afligiram o jovem piloto inglês em seu ano de estréia. Mostrando capacidade para acelerar fundo, e sem ter um comportamento “estrela”, Norris tem tudo para ser um dos novos ases da F-1 no futuro próximo, ao lado dos também jovens ases Max Verstappen e Charles LeClerc. O piloto pode não ter tido um desempenho brilhante na Hungria, mas não se deixou abalar com isso, reconhecendo que ficou devendo na pista magiar, entendendo as dificuldades enfrentadas, e não se esquivando de aceitar que o desempenho ficou aquém do esperado. Em 2021, tendo Daniel Ricciardo como companheiro de equipe, terá muito a aprender com o australiano, e formarem uma dupla que certamente estará entre as mais descontraídas da categoria, pelo seu modo de agir e encarar os desafios na pista, o que poderá ser uma excelente oportunidade para Lando crescer ainda mais como piloto, em uma McLaren que tem tudo para crescer ainda mais, na busca para voltar a ser um time vencedor na F-1.



NA MESMA:

Max Verstappen: O piloto holandês prometia ser o maior adversário de Lewis Hamilton na temporada de 2020, mas a performance da equipe Red Bull até aqui, se não frustrou, certamente decepcionou o piloto, que já amargou um abandono por problemas mecânicos, e ainda cometeu um erro bisonho que quase o tirou da etapa da Hungria, ao bater seu carro quando ia para o grid de largada. Max conseguiu fazer uma boa corrida, mas só conseguiu chegar em segundo lugar pelo circuito húngaro ser muito ruim para ultrapassagens, pois do contrário, poderia ter sido superado por ambas as Mercedes, a exemplo do que aconteceu na segunda corrida da Áustria. O piloto tem reclamado do comportamento do carro, muito mais nervoso do que o esperado, e já andou também reclamando da falta de velocidade – e potência, nas retas. Confiando que a Red Bull teria um carro em condições bem mais competitivas, Max tinha esperança de poder desafiar os pilotos da Mercedes em melhores condições este ano, mas já notou que, dependendo da situação, pode ter problemas até mesmo com a Racing Point, e na pior das hipóteses, até com a McLaren, que podem complicar a vida do holandês em algumas corridas. Pelo visto, ainda não será desta vez que ele poderá almejar disputar o título da F-1, como tanto sonha.

Equipe Williams: O time de Sir Frank Williams teve sua pior temporada de que há memória em 2019, e para 2020, a única opção era tentar reencontrar o rumo, até porque as finanças do time sofreram um duro golpe com a saída de patrocinadores, e ainda por cima, o time foi literalmente colocado à venda. Se os testes da pré-temporada ao menos indicaram que o novo carro deste ano era melhor que o do ano passado, a dúvida era saber se haviam conseguido recuperar alguma performance, ou apenas conseguiram evitar de cair mais para trás. Depois de três corridas, o que podemos ver é que, em volta rápida, o novo carro é até melhor, e com um piloto de talento, como George Russel, pode até chegar ao Q2 com alguma facilidade. Porém, o ritmo de corrida continua fraco, e a situação só não é pior do que em 2019 porque Hass e Alfa Romeo também decaíram muito este ano. Mesmo assim, estes dois times já conseguiram aproveitar as oportunidades, e marcar seus pontos, que poderão ser bem raros este ano, mas deixam a equipe de Grove novamente na incômoda situação de última colocada no campeonato, até o presente momento o único time sem marcar pontos na competição, algo que poderá continuar sendo extremamente difícil de conseguir. E outra temporada na última posição poderá significar maiores dificuldades de permanecer na F-1, e também de atrair possíveis compradores interessados em adquirir o time. O time ainda está no buraco, e ele não parece menor do que o do ano passado, apenas menos feio. Vai ser outra temporada bem complicada para seus pilotos.

Valtteri Bottas: O piloto finlandês prometeu mais uma vez que iria se preparar como nunca para a temporada de 2020, e lutar com afinco pelo título. E ele, mais uma vez, começou bem, largando na pole na primeira prova da Áustria, e vencendo a corrida de ponta a ponta. Porém, depois disso, nas duas provas seguintes, além de ter largado atrás de Lewis Hamilton, Valtteri perdeu posições nas duas largadas, tendo de recuperar terreno, e travar duelos com Max Verstappen para fazer a dobradinha com seu companheiro de time. Ele conseguiu na Áustria, mas fracassou na Hungria, o que já o fez perder a liderança do campeonato para Hamilton. Dada a superioridade que o modelo W11 da Mercedes tem demonstrado, se Bottas quiser mesmo disputar o título, precisará se aplicar a fundo para repetir nas próximas provas o desempenho perfeito que demonstrou na corrida de estréia do campeonato, ou do contrário, verá Lewis partindo de mala e cuia novamente com facilidade para mais uma conquista do título da F-1. O único consolo de Valtteri é que a Mercedes deve renovar seu contrato para 2021, sabendo que continuará dominando a categoria no próximo ano, e que não seria bom alterar sua dupla de pilotos no momento. Mesmo assim, o finlandês precisa mostrar serviço, até para continuar a convencer Toto Wolf de que merece seguir na escuderia alemã...

Tony Kanaan em sua temporada de despedida da Indycar: Sem melhores perspectivas, eis que Tony Kanaan resolveu se despedir das categorias Indy, após mais de duas décadas competindo nestes certames, onde estreou no final dos anos 1990. Sem ter conseguido patrocínio para disputar toda a temporada, o piloto brasileiro teve de optar para pelo menos conseguir correr nas etapas em pistas ovais, onde poderia ter alguma chance de obter um resultado menos ruim, visto que a equipe Foyt continua a ser uma das mais fracas do grid da Indycar, mesmo nesta temporada. E Tony tem se aplicado para, ao menos, fazer o melhor que pode com um carro que só ajudou a enterrar sua carreira na categoria nos últimos dois anos, além de deixar o compatriota Matheus Leist fora da competição. Mesmo assim, tem sido difícil conseguir terminar as corridas dentro dos dez primeiros colocados, como vimos no Texas, e em Iowa. O carro do time do campeão A. J. Foyt não vai permitir uma despedida mais digna ao brasileiro, que já foi campeão da Indy Racing League em 2004, pelo que tem demonstrado até aqui. Resta a esperança de um brilho melhor nas 500 Milhas de Indianápolis, onde a Foyt concentrará esforços para obter um melhor resultado na prova mais famosa dos Estados Unidos, e esperar que, ao contrário do que vimos nos últimos dois anos, os esforços de Tony sejam melhor recompensados.

Equipe Renault na F-1: O time francês ficou devendo na temporada do ano passado, onde perdeu a disputa pela posição de melhor “do resto” do grid para sua própria cliente, McLaren, e ambicionava ao menos dar o troco este ano, até porque para 2021, perderá o time de Woking, que já acertou para voltar a usar as unidades de potência da Mercedes. Mas a equipe nem começou a competição, e já teve outra má notícia: Daniel Ricciardo, seu principal piloto, acertou para defender a McLaren no próximo ano, mostrando desconfiança no projeto da Renault em tentar voltar a vencer na F-1. Como desgraça pouca é bobagem, o time confirmou, depois dos resultados da pré-temporada, que está atrás da Racing Point, e também da McLaren, o que torna mais difícil sua meta de ser novamente a 4ª força no grid. O único ponto positivo, e ainda assim dependendo do ponto de vista, é o retorno de Fernando Alonso à escuderia em 2021. Mas pairam dúvidas se isso será mais positivo do que negativo, pelo histórico que o espanhol tem de tornar o ambiente nos boxes mais turbulentos quando os resultados não aparecem. Como em 2021 ainda serão utilizados os carros deste ano, ao menos Alonso já chegará ao time sabendo o que o espera, e pelo menos, estará ciente de que muito trabalho será necessário para fazer o time evoluir, em especial para 2022. Resta esperar que Fernando ainda esteja em ponto de bala em sua performance ao volante de um carro de corrida, para pelo menos mostrar à F-1 do que ainda é capaz de fazer, lembrando porque foi bicampeão mundial da categoria.



EM BAIXA:

Equipe Ferrari: O time de Maranello iniciou a temporada 2020 comprovando os receios da pré-temporada. O novo modelo SF-1000 não tem velocidade em reta, e isso não foi compensado por maior estabilidade nas curvas, ponto fraco do projeto do ano passado, cuja grande vantagem era a velocidade em reta, aliada à potência do propulsor, que atraiu suspeitas de estar burlando o regulamento. O time não foi punido por estas irregularidades, mas obviamente, teve de se comprometer a não repetir o ardil na unidade de potência de 2020. Como resultado, os pilotos reclamam de falta de potência, enquanto o desempenho do carro deixou os pilotos sem perspectivas de lutarem pelo título da temporada de 2020, e também da de 2021, já que o projeto não terá como ser alterado substancialmente para corrigir o problema. Em performance bruta, a Ferrari parece estar atrás não apenas de Mercedes e Red Bull, mas também da Racing Point, e até da McLaren, sendo então a 5ª força no grid. Como desgraça pouca é bobagem, Sebastian Vettel e Charles LeClerc também já começaram a sofrer seus percalços na pista. Vettel rodou na primeira corrida na Áustria e comprometeu sua performance, mas LeClerc fez lambança ainda pior na segunda corrida e acabou tirando tanto ele quanto Sebastian da prova. Já na Hungria, se Vettel ainda conseguiu fazer uma corrida razoável, o time errou na estratégia de pneu com Charles, deixando o monegasco fora da zona de pontos. A escuderia rossa já iniciou algumas mudanças internas para tentar achar um meio de coordenar melhor seus esforços internos, mas a sempre impaciente torcida e imprensa italiana já começaram a cobrar melhores resultados. Não vai ser um ano muito entusiasmante para a Ferrari, muito pelo contrário...

Corridas da F-1 na América em 2020: Diante da pandemia da Covid-19, que anda descontrolada nos Estados Unidos e no Brasil, não podia dar outra. As corridas do calendário deste ano da F-1 que seriam realizadas no continente americano foram para o brejo. Com o risco de segurança sanitária, ainda teria todo o complexo sistema de logística que teria de ser feito para o transporte do pessoal e dos equipamentos das equipes, um gasto que já é alto em tempos normais, mas que diante deste momento excepcional, em que foi preciso racionalizar os custos ao máximo, já que as corridas estão sendo feitas sem público, foi necessário deixar de fora. O Canadá, único país onde as condições da pandemia estão mais ou menos sob controle, acabou sofrendo as consequências, e todo mundo ficará de fora. A situação do Brasil é a mais complicada, pois o contrato do GP do Brasil terminava este ano, e com o cancelamento, será preciso sua renovação para que tenhamos uma corrida de F-1 aqui em 2021, algo que ainda está em negociação com o grupo Liberty Media. As corridas do México e Canadá retornam no próximo ano, enquanto a etapa dos Estados Unidos ainda tem alguns percalços a serem resolvidos para ser confirmada na próxima temporada. Em todo caso, é a primeira vez que a F-1 ficará sem ter nenhuma corrida fazendo parte de seu calendário em uma temporada, desde que o campeonato começou, em 1950.

Equipe Hass: O time de Gene Hass não fez uma boa temporada em 2019, e esperava-se que pudesse corrigir o projeto de seu carro para 2020, e tentar voltar a lutar por posições melhores no segundo pelotão da F-1. Infelizmente, o time parece ter descido ainda mais a ladeira, não tendo conseguido melhorar seu bólido, e ainda por cima também acabar vitimado pelo desempenho menor da nova unidade de potência da Ferrari. Como desgraça pouca é bobagem, seus pilotos ainda sofreram com problemas de freios na Áustria, comprometendo as poucas chances de fazer uma corrida mais razoável. Mas a temporada vai ser difícil, e até mesmo quando conseguiram dar o pulo do gato na estratégia, como vimos na Hungria, a falta de ritmo de corrida do bólido mostra que até mesmo pontuar vai ser complicado, frente à melhor forma dos outros times, à exceção de Alfa Romeo e Williams. E já começaram as especulações sobre os pilotos que o time poderá ter em 2021, dando a entender que Kevin Magnussem e Romain Grosjean terão de ficar espertos para não ficarem a pé no próximo ano, em que pese os boatos que começam a questionar se a própria Hass vai se manter na categoria em 2021, se tiver outra temporada sem resultados que justifiquem os gastos que Gene Hass tem feito para competir na F-1 até agora. Na pior das hipóteses, podemos ficar com um time a menos na categoria, apesar da implantação do teto de gastos a partir do próximo ano...

Bia Figueiredo: A piloto Bia não vem tendo o ano que gostaria. Seu nome acabou ligado a um escândalo de corrupção na área da saúde do Rio de Janeiro, com acusação de desvio de aproximadamente R$ 10 milhões em um esquema que teria participação do marido e do sogro da piloto. Enquanto as investigações prosseguem sobre o caso, Bia acabou por deletar seus perfis nas redes sociais, e acabou dispensada da equipe Ipiranga Racing, até que tudo seja esclarecido, de acordo com a empresa, que já é patrocinadora de longa data de Bia. De qualquer forma, a piloto já havia se afastado da competição por estar grávida, mas esse caso acaba prejudicando seus planos iniciais de retorno às corridas, além de prejudicar sua reputação, enquanto os fatos não são apurados e esclarecidos. Segundo o Ministério Público, uma verba da Saúde do Estado do Rio de Janeiro encaminhada a uma empresa onde o marido e sogro de Bia eram proprietários, teria sido desviada para uma empresa da piloto, que segundo as investigações, seria uma empresa de fachada, sem existência real. Outros pagamentos teriam sido feitos para apoio à carreira de Bia na Stock Car, e até no pagamento do casamento dela, ocorrido em 2016. Vai ser complicado resolver essa situação, que pode arruinar a carreira de Bia no automobilismo, se comprovarem que infelizmente ela esteve envolvida nessa situação.

Disputa Rio-São Paulo pelo Grande Prêmio do Brasil de F-1: Com o contrato atual da F-1 para o GP do Brasil encerrando-se este ano, as tratativas para um novo acordo continuam seguindo em frente, e certamente sofreram um revés com o cancelamento da prova brasileira, diante das dificuldades oriundas da pandemia do coronavírus, que inviabilizou as corridas da categoria máxima do automobilismo no continente americano. Infelizmente, algo que a pandemia não freou foi a disputa com o Rio de Janeiro para sediar o GP de F-1 em 2021, continuando a discussão de que a capital carioca terá um novo e moderno autódromo para receber a corrida, no já conhecido caso de Deodoro, que até agora, não deu em nada, além dos tradicionais bate-bocas e promessas de toda ordem dos políticos, e empresas supostamente envolvidas na promoção da corrida no novo circuito que ainda nem sequer começou a ser construído. Como um empreendimento desse porte não ficaria pronto em menos de dois anos, é completamente inconcebível que ainda fiquem apregoando essa disputa pueril e descabida a respeito da realização do GP no próximo ano. Fariam muito melhor se concentrassem os esforços em primeiro construir o autódromo, e depois tentar negociar para realizar a corrida de F-1, além da já “prometida” etapa da MotoGP que seria realizada em 2022. Nota-se que nem mesmo em um período de pandemia, nosso país consegue reunir um mínimo de seriedade para tratar deste assunto da maneira como se deveria, muito pelo contrário, continuamos reféns de oportunistas e interessados com objetivos inconfessáveis se aproveitando para iludir as esperanças dos fãs do esporte que realmente gostariam de ver esse novo autódromo ser viabilizado e que pudéssemos ter mais competições internacionais por aqui... Vai mal o nosso país...