sexta-feira, 1 de novembro de 2019

O FIM DE UMA ERA

Com a vitória obtida no Rali da Suécia, Ott Tanak iniciava sua luta pelo título do Mundial de Rali de 2019, que conquistou com o 2º lugar no Rali da Catalunha, pondo fim à "era Sébastien" no WRC.

            Demorou, mas aconteceu. Como diz o ditado, não há império ou domínio que sempre dure. Mas, haja paciência! Para quem curte as competições off-road, vivenciamos nos últimos anos a “era Sébastien”, ou “era francesa” no Campeonato Mundial de Rali. E não foi pouco: foram nada menos do que 15 anos na principal competição de rali do mundo, com 9 títulos enfileirados por Sébastien Loeb, seguidos por 6 títulos, também consecutivos, de seu compatriota Sébastien Ogier. E olha que o domínio de Loeb poderia ter sido até maior...
            Com 9 títulos conquistados de forma ininterrupta, entre 2004 e 2012, Sébastien Loeb só não conquistou o 10º título porque resolveu se aventurar em outras disputas no universo do esporte a motor, do contrário, poderia ter até ter sido campeão por uma década inteira. Mas os anos de domínio de Loeb não foram tão monótonos como podem parecer. Em algumas temporadas o francês teve dores de cabeça com rivais finlandeses, como Marcus Grönholm (2006 e 2007), Mikko Hirvonen (2008, 2009, e 2011), onde os títulos foram conquistados na raça e no braço, com diferenças bem pequenas; e em menor escala, fez Jari-Matti Latvala comer sua poeira no campeonato de 2010. De início, Loeb teve dificuldades com o norueguês Petter Solberg nas temporadas de 2004 e 2005, após este ter sido campeão em 2003, mas nada que fosse muito dramático. Mesmo assim, domínio é domínio, e o francês conseguiu uma hegemonia que faria inveja até mesmo ao heptacampeonato de Michael Schumacher na F-1.
            Nada mais natural que, ao anunciar que deixaria de competir no WRC, fazendo apenas participações esporádicas desde então, todo mundo ficasse empolgado com o “fim” da “Era Loeb” na categoria, ansiosos por encontrarem um novo campeão. Só que aí entrou outro Sébastien na jogada, Sébastien Ogier, que praticamente assumiu o lugar de Loeb, e de forma categórica, vencendo todos os campeonatos desde então. Se Loeb havia defendido a Citroen em 7 de seus 9 títulos (os outros dois foram pela Ford), Ogier levou a Volkswagen ao topo da competição do mundial, de forma impactante, pelos quatro anos seguintes, de 2013 a 2016. E pior: ganhando todos os seus títulos até com mais facilidade do que Loeb. O tiro de achar um novo campeão saiu pela culatra, pois o “novo” Sébastien parecia mais matador do que o anterior.
            Ficava a dúvida se a “era” Ogier duraria tanto ou até mais do que de seu antecessor. Quando a Volkswagen pulou fora, seu grande campeão rumou então para a M-Sport, e lá, conquistou mais um título, mesmo tendo um pouco mais de dificuldade, não exibindo o mesmo domínio de seu tetracampeonato pelas mãos da fábrica alemã. Para 2018, defendendo ainda a M-Sport, Ogier chegou a mais um título, o 6º consecutivo. Pelo visto, a “dinastia” de Sébastiens no WRC parecia que poderia durar ainda um bom tempo, para desespero dos rivais, propriamente. Já se iam 15 títulos de apenas 2 pilotos na categoria. E alguém aí ainda fala que a F-1 é que anda chata e monótona...
Finalmente superado pelos rivais no campeonato, o hexacampeão Sébastien Ogier tentou a reação: venceu a etapa da Turquia, mas não conseguiu se impor novamente sobre os concorrentes como costumava fazer nos últimos anos.
            E, dentre os rivais, quem mais sentiu a frustração da derrota foi o belga Thierry Neuville durante todos estes anos. Foram quatro vice-campeonatos, em 2013, 2016, 2017, e 2018. Por mais que se esforçasse, havia uma pedra francesa no meio do caminho, e que parecia intransponível, não apenas a ele, mas a todos os outros competidores. Mas, mesmo com a expectativa de poder ser tantas vezes campeão quanto Loeb, Ogier declarou que não tinha isso como objetivo, tanto que declarou, já no ano passado, que disputaria o Mundial de Rali até o fim de 2020, quando daria outros rumos à sua carreira de piloto, talvez até pendurando o capacete. Isso já significava, na melhor das hipóteses, que Ogier poderia alcançar no máximo 8 títulos, ficando a apenas 1 de igualar a antológica marca de Loeb. A curto prazo, o WRC enfim poderia ver um novo campeão em 2021, na pior das hipóteses.
            Não foi preciso esperar tanto. Nesta temporada, Ogier mudou de time, deixando a M-Sport, e retornando à Citroen, marca que defendeu entre 2010 e 2011 no WRC. A marca francesa, que havia dominado a competição com Loeb, queria tentar recuperar o seu trono, e ninguém melhor para isso do que o sucessor de seu grande campeão Loeb. E a temporada começou bem para os franceses: com 3 etapas disputadas, Ogier já tinha 2 triunfos, dando a entender que o 7º título poderia começar a ser encaminhado, para deleite da Citroen. Ott Tanak, da Toyota, por sua vez, vencera a 2º etapa, e estava por ali, mas nada que fosse de preocupar muito: Ogier já tinha tido campeonatos que iniciara com certa disputa com outros pilotos, e depois costumava deslanchar na classificação, deixando todos comendo poeira. Poderia ser o mesmo panorama já visto em anos anteriores.
            Só que não foi. Não que Ogier tenha feito um mau campeonato, o problema é que, desta vez, ele não conseguiu deslanchar como costumava fazer. Os rivais trataram de “grudar” no hexacampeão francês. Thierry Neuville venceu duas etapas consecutivas, e depois, foi a vez de Tanak repetir a proeza. Depois de um triunfo solitário de Dani Sordo no Rali da Sardenha, o “pesadelo” de Ogier virou mesmo realidade, e com nome definido: Ott Tanak, que venceu mais duas etapas seguidas, na Finlândia e na Alemanha. O sinal vermelho pareceu ter despertado Ogier, que não subia ao alto do pódio desde a 3ª etapa do campeonato, no Rali do México, e então o hexacampeão reagiu vencendo o Rali da Turquia. O problema é que, a esta altura, o francês já havia sido superado na classificação, inclusive até por Neuville, e não bastava reagir ganhando uma etapa, era necessário realizar um retorno fulminante, para não apenas descontar a desvantagem, como retomar a ponta. Meio difícil, mas não impossível para um campeão como Ogier.
Thierry Neuville: quatro vezes vice-campeão, perdendo para Ogier, agora deve ser novamente vice-campeão, mas derrotando por Ott Tanak. Karma de segundo colocado?
            Só que Ott Tanak desferiu um golpe decisivo ao vencer a etapa seguinte, no País de Gales. E não foi apenas ele: Neuville, já escaldado depois de tantos anos sendo superado pelo rival francês, tratou também de manter sua vantagem na classificação, e foi 2º colocado, com Ogier ficando em 3º lugar. Pela primeira vez em muitos anos, Ogier teria de suar o macacão se quisesse mais um título. E os rivais, que tanta poeira comeram dele, estavam no seu direito de tirar sua lasquinha, fazendo o francês engolir a poeira deles. E eles não ficaram na ameaça, cumpriram o prometido: no Rali da Catalunha, acabou a “dinastia” de Ogier: a vitória foi de Thierry Neuville, e Ott Tanak foi o 2º colocado. Com um inexpressivo 8º lugar, Sébastien Ogier capitulou, vendo suas chances de conquistar o 7º título consecutivo caírem por terra. O estoniano Tanak encerrava 15 anos de domínio francês no WRC, e com todos os méritos.
Sete vezes campeã com Sébastien Loeb, a Citroen tentou reconquistar sua coroa com Sébastien Ogier, que até tentou, mas viu o sonho do 7º título consecutivo virar poeira nas pistas do WRC 2019.
            Quanto a Neuville, o belga não tem muito o que comemorar... ainda. Se perdeu novamente a chance de ser campeão do Mundial de Rali, ele ainda tem de batalhar pelo vice: Ogier está apenas 10 pontos atrás de Thierry, e faltando apenas o Rali da Austrália, Sébastien tem chance de conseguir pelo menos o vice-campeonato como ponto de honra para a primeira temporada em que foi derrotado na luta pelo título na competição. E nesta disputa, 10 pontos podem não significar muita coisa. Neuville terá de batalhar para ser de novo vice-campeão, e pelo menos ter o sabor de derrotar o seu grande rival dos últimos anos. É o seu troféu de compensação pela temporada, onde acabou vendo Tanak, e não ele, ser o grande responsável por destronar Ogier do título de campeão do WRC.
            Com o título do estoniano, mais um troféu para a Toyota em 2019. A fábrica japonesa havia sido campeã no Rali Dakar, na categoria carros, com a dupla Nasser Al-Attiyah/Matthieu Baumel; conquistou o título na supertemporada 2018/2019 do Mundial de Endurance na classe LMP1 com o trio Fernando Alonso/Sébastien Buemi/Kazuki Nakajima; e agora, vem a conquista do WRC. A marca japonesa só não conquistou mais títulos por não participar efetivamente de mais certames.
            E Tanak venceu a temporada 2019 do WRC com categoria: foram 6 triunfos, contra apenas 3 de Neuville e Ogier. O estoniano só ficou de fora dos primeiros colocados na Turquia, e foi bem mais regular que seus rivais diretos, especialmente Ogier, que apesar de manter uma certa constância, acabou efetivamente surpreendido pelos concorrentes este ano. Como ocorreu nos anos anteriores, este trio acabou por se distanciar de todos os demais competidores, que viraram apenas figurantes na disputa. Até mesmo sendo o único a vencer fora do trio, Dani Sordo pouco fez na temporada, ocupando no momento a 8ª posição, com apenas 89 pontos.
            Com um novo campeão reinante, os torcedores do Mundial de Rali já se perguntam se Tanak conseguirá defender seu título em 2020. Afinal, Ogier, em seu último campeonato, certamente vai querer sair por cima, enquanto Neuville continuará sua eterna busca pelo primeiro título. E, mais uma vez, veremos muita poeira rolar nas várias etapas da competição, com os pilotos e seus navegadores voando baixo pelos caminhos das etapas mundo afora. Parabéns a Tanak pela conquista, finalizando enfim a “era Sébastiens” no WRC. Se o estoniano agora iniciará sua própria era, só o futuro dirá...


Hoje começam os treinos oficiais para o Grande Prêmio dos Estados Unidos, e a expectativa é de que Lewis Hamilton feche matematicamente aqui em Austin a conquista do hexacampeonato. Precisando apenas de um 8º lugar para liquidar a fatura, a conquista oficial é mera formalidade, porque salvo um desastre de proporções monumentais, ninguém pode tirar o título do piloto inglês, que domingo passado, mais uma vez, mostrou sua classe e talento para vencer o Grande Prêmio do México, mesmo dispondo do que ele mesmo classificou de o “terceiro melhor carro” do GP mexicano. Com uma estratégia que precisava de azares dos rivais, e estes azares surgiram, Hamilton se aguentou na pista com os pneus duros, e soube fazê-los durar, ainda que não tenha sido o único piloto na corrida a alcançar tais feitos, mas acaba levando a maior parte das atenções por ter vencido a corrida, chegado à 83ª vitória na F-1, e ficando a apenas 8 triunfos de igualar o recorde, até então considerado imbatível, de 91 vitórias conquistadas por Michael Schumacher, o maior vencedor da história da categoria máxima do automobilismo, título que Hamilton poderá avocar para si no ano que vem, se igualar o número de títulos do alemão. Lewis já tem seis campeonatos, e ninguém pode duvidar de que ele será o piloto a ser batido no próximo ano, mais uma vez, pelos rivais. Para a Mercedes, que já comemorou a conquista de mais um título de construtores ao vencer a corrida de Suzuka, ficará faltando tão somente a confirmação do vice-campeonato de Valtteri Bottas, o que pode demorar um pouco mais a acontecer. O finlandês tem 53 pontos de vantagem para Charles LeClerc, com 78 pontos ainda em jogo nas três provas finais, e há algumas corridas atrás, sua posição na tabela de classificação estava seriamente ameaçada pela escalada demonstrada pela Ferrari, com LeClerc tendo boas chances de superar Valtteri. Mas o finlandês, com ajuda de seu time, aliado às pisadas na bola do time italiano em se tratando de estratégia, além da punição aplicada ao monegasco em Suzuka, e onde Bottas venceu a prova, deram uma reforçada em sua posição, de modo que será muito difícil tirar-lhe o vice-campeonato. Se Bottas mantiver a vantagem para LeClerc ao fim da bandeirada da corrida domingo, terá garantido matematicamente o vice-campeonato, uma vez que aí ficarão apenas 52 pontos em jogo.


Max Verstappen tinha tudo para ser o grande nome do GP do México, mas ele próprio acabou sendo seu pior inimigo na etapa mexicana. Já detentor da pole-position para a corrida, o holandês cometeu o erro de não aliviar na reta de chegada no final do Q3, diante das bandeiras amarelas exibidas devido à batida de Valtteri Bottas no muro externo do que sobrou da Peraltada, estando o carro do finlandês em posição perigosa. Mas Max errou ainda mais ao dizer com todas as letras que realmente não tirou o pé, de modo que os comissários lhe aplicaram uma pena que o rebaixou para o 4º lugar no grid. Um erro crasso e falta de tato sem justificativa, pois todos os pilotos sabem que devem diminuir a velocidade ao receberem o sinal da bandeira amarela, e ao entrar na reta, a mesma estava sendo mostrada aos pilotos, avisando da situação de perigo no trecho adiante da pista, onde o carro de Bottas se encontrava. Se sua postura soou arrogante, pior foi fazer parecer não dar a mínima para a situação de perigo potencial na pista, pois se acaso perdesse o controle do carro por ali, mantendo a alta velocidade, ele poderia atingir direto o carro parado de Bottas, o que poderia desencadear um acidente gravíssimo. E depois do que aconteceu com Jules Bianchi em Suzuka anos atrás, quando os pilotos não diminuíram a velocidade de seus carros na curva, onde o então piloto da Manor acabou escapando e atingindo um trator, ninguém na categoria máxima do automobilismo vai perdoar uma atitude dessas de desrespeito, ainda que velado, a uma situação de segurança na pista. Largando mais atrás, depois de ter perdido uma pole garantida, Verstappen, como já se era de esperar, largou “mordido”, e logo na primeira curva já bateu rodas com Lewis Hamilton, cujo carro deu uma balançada, e acertou de volta, de leve, a Red Bull do holandês, que caiu mais para trás, perdendo mais posições. E depois, novamente arriscando, acabou tendo um pneu traseiro furado na disputa de posição com Vallteri Bottas, obrigando-o a uma parada de box e voltando em último, para fazer uma recuperação espantosa, que o levou até o 6º lugar. Uma performance digna de elogios, claro, mas insuficiente para acalmar o holandês, que viu ter jogado uma chance de vitória certa por culpa própria. Max vinha fazendo uma temporada irrepreensível até o GP da Hungria, sem cometer erros, mas mantendo todo o seu arrojo e velocidade na pista, mas desde a etapa da Bélgica parece ter regredido um pouco, exagerando nas manobras de pista novamente, e em alguns momentos, tendo azares que comprometeram suas corridas. Mas, no que tange às atitudes, mesmo tendo apenas 22 anos, Verstappen já está para completar 100 GPs na F-1, o que não o faz mais ser nenhum novato. A esta altura, ele já deveria saber como se portar em algumas situações, do contrário, ele não precisará bater seus adversários quando ele próprio se comprometerá sozinho. Não por acaso, como Hamilton declarou na entrevista coletiva, Max parece não respeitar o espaço dos outros na pista, e por isso mesmo, ele não pode esperar que os demais pilotos o respeitem quando ele tentar intimidá-los em alguma ultrapassagem. Muito pelo contrário, eles irão jogar duro, para demarcarem suas posições, e não dar moleza alguma ao holandês, que por vezes parece ter a sensação de que os pilotos tem de lhe dar passagem na pista...
Tentando recuperar posições logo na primeira volta, Max Verstappen tocou rodas com Lewis Hamilton e levou a pior. Mas o resultado seria muito mais ruim com Valtteri Bottas, onde teve o pneu furado e toda sua corrida comprometida.

Nenhum comentário: