Com a vitória obtida no Rali da Suécia, Ott Tanak iniciava sua luta pelo título do Mundial de Rali de 2019, que conquistou com o 2º lugar no Rali da Catalunha, pondo fim à "era Sébastien" no WRC. |
Demorou, mas
aconteceu. Como diz o ditado, não há império ou domínio que sempre dure. Mas,
haja paciência! Para quem curte as competições off-road, vivenciamos nos
últimos anos a “era Sébastien”, ou “era francesa” no Campeonato Mundial de
Rali. E não foi pouco: foram nada menos do que 15 anos na principal competição
de rali do mundo, com 9 títulos enfileirados por Sébastien Loeb, seguidos por 6
títulos, também consecutivos, de seu compatriota Sébastien Ogier. E olha que o
domínio de Loeb poderia ter sido até maior...
Com 9 títulos
conquistados de forma ininterrupta, entre 2004 e 2012, Sébastien Loeb só não
conquistou o 10º título porque resolveu se aventurar em outras disputas no
universo do esporte a motor, do contrário, poderia ter até ter sido campeão por
uma década inteira. Mas os anos de domínio de Loeb não foram tão monótonos como
podem parecer. Em algumas temporadas o francês teve dores de cabeça com rivais
finlandeses, como Marcus Grönholm (2006 e 2007), Mikko Hirvonen (2008, 2009, e
2011), onde os títulos foram conquistados na raça e no braço, com diferenças
bem pequenas; e em menor escala, fez Jari-Matti Latvala comer sua poeira no
campeonato de 2010. De início, Loeb teve dificuldades com o norueguês Petter
Solberg nas temporadas de 2004 e 2005, após este ter sido campeão em 2003, mas
nada que fosse muito dramático. Mesmo assim, domínio é domínio, e o francês
conseguiu uma hegemonia que faria inveja até mesmo ao heptacampeonato de
Michael Schumacher na F-1.
Nada mais natural que,
ao anunciar que deixaria de competir no WRC, fazendo apenas participações
esporádicas desde então, todo mundo ficasse empolgado com o “fim” da “Era Loeb”
na categoria, ansiosos por encontrarem um novo campeão. Só que aí entrou outro
Sébastien na jogada, Sébastien Ogier, que praticamente assumiu o lugar de Loeb,
e de forma categórica, vencendo todos os campeonatos desde então. Se Loeb havia
defendido a Citroen em 7 de seus 9 títulos (os outros dois foram pela Ford),
Ogier levou a Volkswagen ao topo da competição do mundial, de forma impactante,
pelos quatro anos seguintes, de 2013 a 2016. E pior: ganhando todos os seus
títulos até com mais facilidade do que Loeb. O tiro de achar um novo campeão
saiu pela culatra, pois o “novo” Sébastien parecia mais matador do que o
anterior.
Ficava a dúvida se a
“era” Ogier duraria tanto ou até mais do que de seu antecessor. Quando a
Volkswagen pulou fora, seu grande campeão rumou então para a M-Sport, e lá,
conquistou mais um título, mesmo tendo um pouco mais de dificuldade, não
exibindo o mesmo domínio de seu tetracampeonato pelas mãos da fábrica alemã. Para
2018, defendendo ainda a M-Sport, Ogier chegou a mais um título, o 6º
consecutivo. Pelo visto, a “dinastia” de Sébastiens no WRC parecia que poderia
durar ainda um bom tempo, para desespero dos rivais, propriamente. Já se iam 15
títulos de apenas 2 pilotos na categoria. E alguém aí ainda fala que a F-1 é
que anda chata e monótona...
E, dentre os rivais,
quem mais sentiu a frustração da derrota foi o belga Thierry Neuville durante
todos estes anos. Foram quatro vice-campeonatos, em 2013, 2016, 2017, e 2018.
Por mais que se esforçasse, havia uma pedra francesa no meio do caminho, e que
parecia intransponível, não apenas a ele, mas a todos os outros competidores.
Mas, mesmo com a expectativa de poder ser tantas vezes campeão quanto Loeb,
Ogier declarou que não tinha isso como objetivo, tanto que declarou, já no ano
passado, que disputaria o Mundial de Rali até o fim de 2020, quando daria
outros rumos à sua carreira de piloto, talvez até pendurando o capacete. Isso
já significava, na melhor das hipóteses, que Ogier poderia alcançar no máximo 8
títulos, ficando a apenas 1 de igualar a antológica marca de Loeb. A curto
prazo, o WRC enfim poderia ver um novo campeão em 2021, na pior das hipóteses.
Não foi preciso
esperar tanto. Nesta temporada, Ogier mudou de time, deixando a M-Sport, e
retornando à Citroen, marca que defendeu entre 2010 e 2011 no WRC. A marca
francesa, que havia dominado a competição com Loeb, queria tentar recuperar o
seu trono, e ninguém melhor para isso do que o sucessor de seu grande campeão
Loeb. E a temporada começou bem para os franceses: com 3 etapas disputadas,
Ogier já tinha 2 triunfos, dando a entender que o 7º título poderia começar a
ser encaminhado, para deleite da Citroen. Ott Tanak, da Toyota, por sua vez,
vencera a 2º etapa, e estava por ali, mas nada que fosse de preocupar muito:
Ogier já tinha tido campeonatos que iniciara com certa disputa com outros
pilotos, e depois costumava deslanchar na classificação, deixando todos comendo
poeira. Poderia ser o mesmo panorama já visto em anos anteriores.
Só que não foi. Não
que Ogier tenha feito um mau campeonato, o problema é que, desta vez, ele não
conseguiu deslanchar como costumava fazer. Os rivais trataram de “grudar” no
hexacampeão francês. Thierry Neuville venceu duas etapas consecutivas, e
depois, foi a vez de Tanak repetir a proeza. Depois de um triunfo solitário de
Dani Sordo no Rali da Sardenha, o “pesadelo” de Ogier virou mesmo realidade, e
com nome definido: Ott Tanak, que venceu mais duas etapas seguidas, na
Finlândia e na Alemanha. O sinal vermelho pareceu ter despertado Ogier, que não
subia ao alto do pódio desde a 3ª etapa do campeonato, no Rali do México, e então
o hexacampeão reagiu vencendo o Rali da Turquia. O problema é que, a esta
altura, o francês já havia sido superado na classificação, inclusive até por
Neuville, e não bastava reagir ganhando uma etapa, era necessário realizar um
retorno fulminante, para não apenas descontar a desvantagem, como retomar a
ponta. Meio difícil, mas não impossível para um campeão como Ogier.
Thierry Neuville: quatro vezes vice-campeão, perdendo para Ogier, agora deve ser novamente vice-campeão, mas derrotando por Ott Tanak. Karma de segundo colocado? |
Só que Ott Tanak
desferiu um golpe decisivo ao vencer a etapa seguinte, no País de Gales. E não
foi apenas ele: Neuville, já escaldado depois de tantos anos sendo superado
pelo rival francês, tratou também de manter sua vantagem na classificação, e
foi 2º colocado, com Ogier ficando em 3º lugar. Pela primeira vez em muitos
anos, Ogier teria de suar o macacão se quisesse mais um título. E os rivais,
que tanta poeira comeram dele, estavam no seu direito de tirar sua lasquinha,
fazendo o francês engolir a poeira deles. E eles não ficaram na ameaça,
cumpriram o prometido: no Rali da Catalunha, acabou a “dinastia” de Ogier: a
vitória foi de Thierry Neuville, e Ott Tanak foi o 2º colocado. Com um
inexpressivo 8º lugar, Sébastien Ogier capitulou, vendo suas chances de
conquistar o 7º título consecutivo caírem por terra. O estoniano Tanak
encerrava 15 anos de domínio francês no WRC, e com todos os méritos.
Sete vezes campeã com Sébastien Loeb, a Citroen tentou reconquistar sua coroa com Sébastien Ogier, que até tentou, mas viu o sonho do 7º título consecutivo virar poeira nas pistas do WRC 2019. |
Quanto a Neuville, o
belga não tem muito o que comemorar... ainda. Se perdeu novamente a chance de
ser campeão do Mundial de Rali, ele ainda tem de batalhar pelo vice: Ogier está
apenas 10 pontos atrás de Thierry, e faltando apenas o Rali da Austrália,
Sébastien tem chance de conseguir pelo menos o vice-campeonato como ponto de
honra para a primeira temporada em que foi derrotado na luta pelo título na
competição. E nesta disputa, 10 pontos podem não significar muita coisa.
Neuville terá de batalhar para ser de novo vice-campeão, e pelo menos ter o
sabor de derrotar o seu grande rival dos últimos anos. É o seu troféu de
compensação pela temporada, onde acabou vendo Tanak, e não ele, ser o grande
responsável por destronar Ogier do título de campeão do WRC.
Com o título do
estoniano, mais um troféu para a Toyota em 2019. A fábrica japonesa havia sido
campeã no Rali Dakar, na categoria carros, com a dupla Nasser Al-Attiyah/Matthieu
Baumel; conquistou o título na supertemporada 2018/2019 do Mundial de Endurance
na classe LMP1 com o trio Fernando Alonso/Sébastien Buemi/Kazuki Nakajima; e
agora, vem a conquista do WRC. A marca japonesa só não conquistou mais títulos
por não participar efetivamente de mais certames.
E Tanak venceu a
temporada 2019 do WRC com categoria: foram 6 triunfos, contra apenas 3 de
Neuville e Ogier. O estoniano só ficou de fora dos primeiros colocados na
Turquia, e foi bem mais regular que seus rivais diretos, especialmente Ogier,
que apesar de manter uma certa constância, acabou efetivamente surpreendido
pelos concorrentes este ano. Como ocorreu nos anos anteriores, este trio acabou
por se distanciar de todos os demais competidores, que viraram apenas
figurantes na disputa. Até mesmo sendo o único a vencer fora do trio, Dani
Sordo pouco fez na temporada, ocupando no momento a 8ª posição, com apenas 89
pontos.
Com um novo campeão
reinante, os torcedores do Mundial de Rali já se perguntam se Tanak conseguirá
defender seu título em 2020. Afinal, Ogier, em seu último campeonato, certamente
vai querer sair por cima, enquanto Neuville continuará sua eterna busca pelo
primeiro título. E, mais uma vez, veremos muita poeira rolar nas várias etapas
da competição, com os pilotos e seus navegadores voando baixo pelos caminhos
das etapas mundo afora. Parabéns a Tanak pela conquista, finalizando enfim a
“era Sébastiens” no WRC. Se o estoniano agora iniciará sua própria era, só o
futuro dirá...
Hoje começam os treinos oficiais
para o Grande Prêmio dos Estados Unidos, e a expectativa é de que Lewis
Hamilton feche matematicamente aqui em Austin a conquista do hexacampeonato.
Precisando apenas de um 8º lugar para liquidar a fatura, a conquista oficial é
mera formalidade, porque salvo um desastre de proporções monumentais, ninguém
pode tirar o título do piloto inglês, que domingo passado, mais uma vez,
mostrou sua classe e talento para vencer o Grande Prêmio do México, mesmo
dispondo do que ele mesmo classificou de o “terceiro melhor carro” do GP
mexicano. Com uma estratégia que precisava de azares dos rivais, e estes azares
surgiram, Hamilton se aguentou na pista com os pneus duros, e soube fazê-los
durar, ainda que não tenha sido o único piloto na corrida a alcançar tais
feitos, mas acaba levando a maior parte das atenções por ter vencido a corrida,
chegado à 83ª vitória na F-1, e ficando a apenas 8 triunfos de igualar o
recorde, até então considerado imbatível, de 91 vitórias conquistadas por
Michael Schumacher, o maior vencedor da história da categoria máxima do
automobilismo, título que Hamilton poderá avocar para si no ano que vem, se
igualar o número de títulos do alemão. Lewis já tem seis campeonatos, e ninguém
pode duvidar de que ele será o piloto a ser batido no próximo ano, mais uma
vez, pelos rivais. Para a Mercedes, que já comemorou a conquista de mais um
título de construtores ao vencer a corrida de Suzuka, ficará faltando tão
somente a confirmação do vice-campeonato de Valtteri Bottas, o que pode demorar
um pouco mais a acontecer. O finlandês tem 53 pontos de vantagem para Charles
LeClerc, com 78 pontos ainda em jogo nas três provas finais, e há algumas
corridas atrás, sua posição na tabela de classificação estava seriamente
ameaçada pela escalada demonstrada pela Ferrari, com LeClerc tendo boas chances
de superar Valtteri. Mas o finlandês, com ajuda de seu time, aliado às pisadas
na bola do time italiano em se tratando de estratégia, além da punição aplicada
ao monegasco em Suzuka, e onde Bottas venceu a prova, deram uma reforçada em
sua posição, de modo que será muito difícil tirar-lhe o vice-campeonato. Se
Bottas mantiver a vantagem para LeClerc ao fim da bandeirada da corrida
domingo, terá garantido matematicamente o vice-campeonato, uma vez que aí
ficarão apenas 52 pontos em jogo.
Max Verstappen tinha tudo para
ser o grande nome do GP do México, mas ele próprio acabou sendo seu pior
inimigo na etapa mexicana. Já detentor da pole-position para a corrida, o
holandês cometeu o erro de não aliviar na reta de chegada no final do Q3,
diante das bandeiras amarelas exibidas devido à batida de Valtteri Bottas no
muro externo do que sobrou da Peraltada, estando o carro do finlandês em
posição perigosa. Mas Max errou ainda mais ao dizer com todas as letras que
realmente não tirou o pé, de modo que os comissários lhe aplicaram uma pena que
o rebaixou para o 4º lugar no grid. Um erro crasso e falta de tato sem
justificativa, pois todos os pilotos sabem que devem diminuir a velocidade ao
receberem o sinal da bandeira amarela, e ao entrar na reta, a mesma estava
sendo mostrada aos pilotos, avisando da situação de perigo no trecho adiante da
pista, onde o carro de Bottas se encontrava. Se sua postura soou arrogante,
pior foi fazer parecer não dar a mínima para a situação de perigo potencial na
pista, pois se acaso perdesse o controle do carro por ali, mantendo a alta
velocidade, ele poderia atingir direto o carro parado de Bottas, o que poderia
desencadear um acidente gravíssimo. E depois do que aconteceu com Jules Bianchi
em Suzuka anos atrás, quando os pilotos não diminuíram a velocidade de seus
carros na curva, onde o então piloto da Manor acabou escapando e atingindo um
trator, ninguém na categoria máxima do automobilismo vai perdoar uma atitude
dessas de desrespeito, ainda que velado, a uma situação de segurança na pista.
Largando mais atrás, depois de ter perdido uma pole garantida, Verstappen, como
já se era de esperar, largou “mordido”, e logo na primeira curva já bateu rodas
com Lewis Hamilton, cujo carro deu uma balançada, e acertou de volta, de leve,
a Red Bull do holandês, que caiu mais para trás, perdendo mais posições. E
depois, novamente arriscando, acabou tendo um pneu traseiro furado na disputa
de posição com Vallteri Bottas, obrigando-o a uma parada de box e voltando em
último, para fazer uma recuperação espantosa, que o levou até o 6º lugar. Uma
performance digna de elogios, claro, mas insuficiente para acalmar o holandês,
que viu ter jogado uma chance de vitória certa por culpa própria. Max vinha
fazendo uma temporada irrepreensível até o GP da Hungria, sem cometer erros,
mas mantendo todo o seu arrojo e velocidade na pista, mas desde a etapa da
Bélgica parece ter regredido um pouco, exagerando nas manobras de pista
novamente, e em alguns momentos, tendo azares que comprometeram suas corridas.
Mas, no que tange às atitudes, mesmo tendo apenas 22 anos, Verstappen já está
para completar 100 GPs na F-1, o que não o faz mais ser nenhum novato. A esta
altura, ele já deveria saber como se portar em algumas situações, do contrário,
ele não precisará bater seus adversários quando ele próprio se comprometerá
sozinho. Não por acaso, como Hamilton declarou na entrevista coletiva, Max
parece não respeitar o espaço dos outros na pista, e por isso mesmo, ele não
pode esperar que os demais pilotos o respeitem quando ele tentar intimidá-los
em alguma ultrapassagem. Muito pelo contrário, eles irão jogar duro, para
demarcarem suas posições, e não dar moleza alguma ao holandês, que por vezes
parece ter a sensação de que os pilotos tem de lhe dar passagem na pista...
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