Pista com traçado reduzido, mas ainda muito seletiva: Os pilotos gostam de Interlagos, e a pista rende boas disputas. |
Campeão e vice-campeão
foram decididos, assim como as respectivas primeira, segunda, e terceira
colocações no Mundial de Construtores, para Mercedes, Ferrari, e Red Bull, mas
nem por isso as duas corridas finais terão lá seus atrativos. E hoje, aqui em
Interlagos, começam as disputas pelo que sobrou no campeonato de 2019 da
Fórmula 1, com opções que devem quebrar o galho para os fãs do esporte a motor.
Em um circuito das
antigas, que tem alguns bons pontos para se praticar os pegas como antigamente,
teremos a chance de ver alguns bons duelos. O principal é para vermos quem
ficará com a 3ª posição no campeonato. Na briga, temos Charles LeClerc, Max
Verstappen, e Sebastian Vettel. O monegasco está com a vantagem, 14 pontos à
frente do holandês, que por sua vez, tem 5 pontos de vantagem para o tetracampeão
alemão da Ferrari. Com um total de 52 pontos em jogo, podemos dizer que nenhum
dos três está fora da briga, com seus prós e contras. Charles já começa com um
revés este fim de semana perdendo algumas posições no grid por ter de trocar
peças no motor turbo de seu carro, que deu problemas na corrida anterior, em
Austin, obrigando LeClerc a correr com uma unidade antiga. Verstappen, que deu
show aqui no ano passado, pode ter como maior problema ele mesmo: tinha tudo
para vencer em Interlagos ano passado, quando resolveu dividir a freada de
saída do S do Senna com Esteban Ocón, retardatário que tentava tirar a volta de
atraso, e acabaram se tocando. Se o holandês não se meter em confusão, e a Red
Bull render, ele pode novamente batalhar pela vitória na corrida brasileira.
Sebastian Vettel, por outro lado, ainda quer tentar acabar com o azar, que o
fez abandonar as corridas da Rússia e dos Estados Unidos, e mostrar a categoria
que o fez ser quatro vezes campeão. Vai ser uma disputa interessante, e tudo
pode acontecer, então, não aponto nenhum favorito na briga destes três.
E antes que alguém
pergunte: e a Mercedes? Campeonatos fechados matematicamente, o chefão Toto
Wolf nem veio ao Brasil para comandar o time no GP, preferindo ficar na Europa
para tratar de outros assuntos. O que não significa que o time prateado estará
de férias em terras brasilis. Mas tanto Lewis Hamilton, o novo hexacampeão; e
Valtteri Bottas, o vice de 2019, estarão bem mais relaxados e livres para
tentarem vencer a corrida, sem terem de se preocupar com campeonatos. Deverão
dar o melhor de si para se divertirem na pista, e ir em busca da vitória. E, se
o carro se mostrar bem competitivo, os rivais que se preparem para comer poeira
dos prateados...
Um pouco mais atrás,
temos o duelo da “F-1 B”, os demais times fora o trio Mercedes/Ferrari/Red Bull.
Alex Albon, alçado à Red Bull depois que esta “rebaixou” Pierre Gasly,
aproveitou bem a chance para ascender na classificação, e ocupar a 6ª
colocação. Tanto que o time dos energéticos já o confirmou para ser o parceiro
de Verstappen na escuderia principal em 2020, ficando a Toro Rosso mais um ano
com Gasly e Danill Kvyat. Como o tailandês não tem feito bobeira e tem corrido
bem, a tendência é ele reforçar sua 6ª posição na tabela, completando o quadro
do “trio de ferro” da F-1, com seus seis pilotos ocupando as seis primeiras
posições na tabela. E logo atrás, aí sim temos algumas brigas interessantes, se
bem que a McLaren, em um ano de reconstrução, ocupa com méritos a 4ª posição na
classificação. O time de Woking tem 38 pontos de vantagem sobre a Renault, time
de fábrica que tinha planos bem mais ambiciosos para 2019, e se viu regredindo
na competição, a ponto de ser superada até com certa facilidade por seu time
cliente. E o time francês, com seus altos e baixos, não pode bobear, pois a
diferença que o separa de Racing Point e Toro Rosso não é lá muito confortável,
e se as coisas derem errado, podem perder até sua atual 5ª posição na tabela, o
que seria um fecho de temporada pra lá de decepcionante...
Carlos Sainz Jr. tem
80 pontos, e faz uma grande temporada conduzindo a McLaren. O espanhol só não
tem mais pontos porque o carro o deixou na mão em algumas corridas. No seu
calcanhar vem Pierre Gasly, com 77 pontos, mas o francês não tem mais o
excelente carro da Red Bull nas mãos, o que deve facilitar as coisas para o
piloto do time de Woking se sagrar como “melhor do resto” ao fim da temporada.
Mais atrás é que a parada está boa, com Daniel Ricciardo (46 pontos), Sérgio
Pérez (44), Lando Norris (41), Nico Hulkenberg (37), e Danill Kvyat (34), e por
que não, Kimi Raikkonen (31) a se digladiarem para terminar, ou tentar terminar
o campeonato em alta. Como entre estes pilotos o desempenho de suas respectivas
equipes tem oscilado, podemos dizer que todos estão na briga direta entre todos
eles. Talvez Raikkonen fique de fora, já que a Alfa Romeo infelizmente decaiu
bastante nesta segunda metade da temporada; e Kvyat ainda precisaria de um
golpe de sorte maior para ascender mais na pontuação. Pérez volta e meia tira
leite de pedra, enquanto a dupla da Renault precisa que o carro tenha um bom
comportamento para que eles mostrem a que vieram. Mas olho neles que os duelos
podem ser bons.
O que não dá para ter
esperança é na Hass e na Williams. O time norte-americano já deu o ano por
encerrado, e só quer terminar tudo mais breve possível, para tentar se
recuperar em 2020, depois de uma temporada onde nada deu certo, e o carro andou
para trás ao invés de ir para frente. E seus pilotos continuaram a sina de
2018, com algumas confusões na pista. Terem tido os contratos renovados para
2020 foi mais do que ganhar na loteria, sendo quase unanimidade que foi um
tremendo tiro no próprio pé que a Hass cometeu. Mesmo assim, a maior decepção
do ano é nada menos que o tradicional time de Frank Williams, que praticamente
se arrastou na pista esta temporada, com raríssimos lampejos de
competitividade. Tanto que George Russel deve terminar o ano como único piloto
zerado na pontuação. Robert Kubica, que tinha muito a comemorar pela sua volta
à F-1, viu o que poderia ser um triunfo de uma longa luta de superação se
transformar em um tremendo abacaxi onde o polonês nunca conseguiu tirar nada de
positivo de um carro que nasceu ruim e morre torto. Kubica já está dando adeus
novamente à F-1, muito provavelmente em definitivo, se não assumir nenhuma
função de piloto de testes, e ao menos, terá um “troféu” para se orgulhar, de
ter conquistado o único ponto da Williams no ano, mesmo que tenha sido mais por
sorte do que por competência ou performance na pista... Um panorama desanimador
que deverá se manter aqui em São Paulo, em uma pista que não dá muita chance a
carros de baixa performance.
Carlos Sainz Jr. e a McLaren devem ser os "campeões" da "F-1 B" em 2019. |
Aliás, a situação da
Williams anda mesmo complicada. Se George Russel está confirmado para 2020,
ficam as dúvidas de quem vai querer ficar com o segundo cockpit do time de
Grove, que pela performance desta temporada, deixou até Nicholas Latifi sem
desejo de tentar estrear na F-1 no próximo ano, temendo se queimar andando nas
últimas posições como Russel fez este ano. Triste ver a Williams, que tantos
campeões já fez, ter uma temporada tão melancólica...
Até mesmo Nico
Hulkenberg, que ficará a pé na F-1 em 2020, achou uma fria tentar vaga no time pelo
qual estreou em 2010, e conseguiu até marcar uma pole, aqui mesmo em
Interlagos, naquele ano. Ficar se arrastando pela pista é o mesmo motivo que
desanimou o alemão a querer se manter na F-1 apenas para ficar na F-1. Seu
lugar será ocupado pelo francês Esteban Ocón no próximo ano, como novo
companheiro de Daniel Ricciardo.
Interlagos geralmente
tem propiciado boas corridas, e como vimos, temos bons motivos para vermos
alguns bons duelos no domingo. A chance da chuva existe, mas é considerada
mínima para a corrida, o que é uma pena porque, quando São Pedro resolve
aparecer, a corrida costuma surpreender. Mas ela pode surgir hoje, ou até mesmo
amanhã. Se não vier na corrida, que pelo menos ajude a embaralhar o grid, e com
isso, possa aumentar as chances de boas disputas no domingo. Torcer é mais do
que válido. E que venham os primeiros treinos livres...
E a semana da F-1 em São Paulo já
começou com alguns carros acelerando em um evento montado pela Heineken junto
ao Obelisco do Parque do Ibirapuera, no último dia 9, o “Fan Festival”, onde
torcedores e fãs puderam ver dois carros icônicos pilotados por Ayrton Senna: o
carro da Toleman, com o qual ele estreou na F-1, em 1984; e o Lotus de 1985,
com o qual o brasileiro marcou sua primeira pole e vitória na categoria máxima
do automobilismo. Felipe Massa conduziu o modelo TG184 utilizado por Senna em
sua primeira corrida daquele ano. Já o Lotus 97T de 1985 foi conduzido por
Émerson Fittipaldi, que ficou extremamente emocionado por guiar o carro da
primeira vitória de Senna na F-1, para não mencionar a ligação afetiva do
piloto com o lendário time fundado por Colin Chapman, com o qual Fittipaldi foi
campeão em 1972, sendo o primeiro brasileiro a conquistar o título na F-1. No
evento, o público também pôde ver modelos de F-1 da Renault e da Mercedes, que
foram conduzidos pelo brasileiro Caio Collet e o mexicano Esteban Gutiérrez,
respectivamente. E o público compareceu em peso, não apenas para ver os carros,
mas também para honrar o legado de Ayrton Senna, morto há 25 anos atrás no
acidente na curva Tamburello, na corrida de San Marino.
E Senna terá mais uma homenagem
neste final de semana. O público que estiver presente no autódromo domingo
poderá ver o carro com o qual Ayrton conquistou o seu primeiro título mundial,
em 1988, o modelo MP4/4 Honda, que será pilotado por Bruno Senna, na pista de
Interlagos. Ontem, o ex-piloto Martin Brundle e Bruno fizeram o checkdown do
carro, que chegou a apresentar problemas quando o brasileiro saiu para dar
algumas voltas na pista. Este modelo nunca competiu em Interlagos: em 1988, o
GP do Brasil foi disputado em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Apenas em 1990 a
corrida voltaria ao autódromo paulistano, com Senna conduzindo o modelo MP4/5B
naquela ocasião. Em 2011, Nélson Piquet brindou o público presente em
Interlagos ao guiar o Brabham BT49C, carro de seu primeiro título mundial,
levantando a torcida na arquibancada, e ainda provocou os torcedores ao
desfilar com uma bandeira do seu time do coração, o Vasco...
Oficialmente, o Grande Prêmio do
Brasil está garantido até o ano que vem, mas as tratativas de renovação do GP
já estão em andamento. Continuam as conversas de que vai sair a pista de
Deodoro no Rio de Janeiro, e que a corrida de F-1 irá para lá, apesar das
confusões e rolos que cercam este assunto. Mas tudo indica que a corrida fica
em Interlagos mesmo, e no que depender dos pilotos, a pista carioca não terá
defensores. Lewis Hamilton, em sua nova postura mais “ambientalista”, diz que
não pretende correr em uma pista construída em uma área de proteção ambiental.
E Max Verstappen declarou que prefere ter dois GPs do Brasil a ver a pista de
Interlagos fora do calendário da F-1. Vettel disse que é fã do autódromo paulistano
por conta das corridas dramáticas já vividas aqui. E Raikkonem também se
mostrou contra a mudança de autódromo, defendendo a história de Interlagos na
F-1. Bom, história nunca foi garantia de manutenção de um GP, mas das as
enrolações que cercam o projeto da nova pista carioca, poderíamos até dizer que
Interlagos não corre perigo. O problema é que estamos no Brasil, e por conta
disso, muita coisa pode acontecer, e não necessariamente boa, é bom lembrar...
Vamos torcer para que essa história termine da maneira mais óbvia e prática
possível, com a renovação firme de Interlagos como sede do GP, e não se
inventem planos mirabolantes sem pé nem cabeça... Já temos confusão demais
neste país com um monte de imbecis na política... Que eles não venham a ter
mais idéias de jerico...
A F-1 chegou a Interlagos com uma
boa discussão de bastidores, que diz respeito a uma possível burla da Ferrari
no regulamento no que tange ao fluxo de combustível de sua unidade de potência,
com os italianos possivelmente se aproveitando de uma brecha na medição dos
sensores para fazer uso de uma maior injeção de combustível, o que poderia ter
gerado o grande salto de performance do modelo SF-90 nas corridas desde o GP da
Bélgica, considerado pelos rivais suspeito. Pelo sim, pelo não, a FIA passou a
fazer uma fiscalização mais acurada do sistema, e na etapa dos Estados Unidos,
a Ferrari já não exibiu a mesma performance superior que vinha demonstrando. O
sistema de fluxo possui sensores que monitoram a injeção do combustível na
unidade de potência, de modo a garantir que se disponha apenas dos 100 Kilos
regulamentares. Mas a medição não era feita a tempo integral, mas a intervalos
de tempo. A trapaça seria que, conhecendo os momentos da medição, se poderia
manipular o fluxo, de modo que este ficasse “normal” nos momentos de atuação
dos sensores, mas nos intervalos entre as medições, promover um fluxo maior do
combustível, e com isso, gerando muito mais potência. Como os tanques dos
carros tem capacidade livre, poderia ser abastecido com mais carga de
combustível do que o regulamentado. Ao aumentar a fiscalização dos sensores, as
chances de se constatar um fluxo maior do que o permitido também aumentam.
Mercedes e Honda estariam deduzindo que a “queda” da performance da Ferrari nos
Estados Unidos seria devido ao time ter deixado de usar o artifício para não
ser pego em flagrante, mas os dados analisados não foram conclusivos. Charles
LeClerc, por problemas na unidade de potência, teve de usar uma unidade antiga
na corrida, menos potente e desenvolvida, e isso justificaria sua queda de
performance, tendo ficado longe da luta pela vitória. Já Sebastian Vettel por
pouco não conquistou a pole, mas na corrida, seu carro perdeu rendimento logo
no início, e depois, uma quebra de suspensão retirou o alemão da corrida, o que
também contribuiu para que se mantivesse a dúvida sobre o uso ou não do
artifício do aumento do fluxo de combustível. Os rivais apostam que Interlagos
poderá produzir uma análise mais esclarecedora de se o time italiano estava ou
não infringindo as regras. A rigor, isso deveria voltar a ser como era
antigamente: limite de tantos litros de combustível fixo para a corrida, com consumo
livre. Quem quiser usar mais combustível que corra o risco de uma pane seca, ou
faça o equipamento ser mais econômico que o da concorrência, sem perder sua
potência. Esse lance de fluxo controlado é outra regra complicada que já encheu
o saco do público, que gostaria de ver uma F-1 mais simples e objetiva, e não
cheia de regras complicadas como essa...
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