sexta-feira, 15 de novembro de 2019

DISPUTAS EM INTERLAGOS

Pista com traçado reduzido, mas ainda muito seletiva: Os pilotos gostam de Interlagos, e a pista rende boas disputas.

            Campeão e vice-campeão foram decididos, assim como as respectivas primeira, segunda, e terceira colocações no Mundial de Construtores, para Mercedes, Ferrari, e Red Bull, mas nem por isso as duas corridas finais terão lá seus atrativos. E hoje, aqui em Interlagos, começam as disputas pelo que sobrou no campeonato de 2019 da Fórmula 1, com opções que devem quebrar o galho para os fãs do esporte a motor.
            Em um circuito das antigas, que tem alguns bons pontos para se praticar os pegas como antigamente, teremos a chance de ver alguns bons duelos. O principal é para vermos quem ficará com a 3ª posição no campeonato. Na briga, temos Charles LeClerc, Max Verstappen, e Sebastian Vettel. O monegasco está com a vantagem, 14 pontos à frente do holandês, que por sua vez, tem 5 pontos de vantagem para o tetracampeão alemão da Ferrari. Com um total de 52 pontos em jogo, podemos dizer que nenhum dos três está fora da briga, com seus prós e contras. Charles já começa com um revés este fim de semana perdendo algumas posições no grid por ter de trocar peças no motor turbo de seu carro, que deu problemas na corrida anterior, em Austin, obrigando LeClerc a correr com uma unidade antiga. Verstappen, que deu show aqui no ano passado, pode ter como maior problema ele mesmo: tinha tudo para vencer em Interlagos ano passado, quando resolveu dividir a freada de saída do S do Senna com Esteban Ocón, retardatário que tentava tirar a volta de atraso, e acabaram se tocando. Se o holandês não se meter em confusão, e a Red Bull render, ele pode novamente batalhar pela vitória na corrida brasileira. Sebastian Vettel, por outro lado, ainda quer tentar acabar com o azar, que o fez abandonar as corridas da Rússia e dos Estados Unidos, e mostrar a categoria que o fez ser quatro vezes campeão. Vai ser uma disputa interessante, e tudo pode acontecer, então, não aponto nenhum favorito na briga destes três.
            E antes que alguém pergunte: e a Mercedes? Campeonatos fechados matematicamente, o chefão Toto Wolf nem veio ao Brasil para comandar o time no GP, preferindo ficar na Europa para tratar de outros assuntos. O que não significa que o time prateado estará de férias em terras brasilis. Mas tanto Lewis Hamilton, o novo hexacampeão; e Valtteri Bottas, o vice de 2019, estarão bem mais relaxados e livres para tentarem vencer a corrida, sem terem de se preocupar com campeonatos. Deverão dar o melhor de si para se divertirem na pista, e ir em busca da vitória. E, se o carro se mostrar bem competitivo, os rivais que se preparem para comer poeira dos prateados...
A Mercedes e seus pilotos, com os títulos já confirmados, vão brigar pela vitória com muito mais liberdade na corrida, apostam muitos. Ameaça ou blefe? Por via das dúvidas, os concorrentes que se preparem...
            Um pouco mais atrás, temos o duelo da “F-1 B”, os demais times fora o trio Mercedes/Ferrari/Red Bull. Alex Albon, alçado à Red Bull depois que esta “rebaixou” Pierre Gasly, aproveitou bem a chance para ascender na classificação, e ocupar a 6ª colocação. Tanto que o time dos energéticos já o confirmou para ser o parceiro de Verstappen na escuderia principal em 2020, ficando a Toro Rosso mais um ano com Gasly e Danill Kvyat. Como o tailandês não tem feito bobeira e tem corrido bem, a tendência é ele reforçar sua 6ª posição na tabela, completando o quadro do “trio de ferro” da F-1, com seus seis pilotos ocupando as seis primeiras posições na tabela. E logo atrás, aí sim temos algumas brigas interessantes, se bem que a McLaren, em um ano de reconstrução, ocupa com méritos a 4ª posição na classificação. O time de Woking tem 38 pontos de vantagem sobre a Renault, time de fábrica que tinha planos bem mais ambiciosos para 2019, e se viu regredindo na competição, a ponto de ser superada até com certa facilidade por seu time cliente. E o time francês, com seus altos e baixos, não pode bobear, pois a diferença que o separa de Racing Point e Toro Rosso não é lá muito confortável, e se as coisas derem errado, podem perder até sua atual 5ª posição na tabela, o que seria um fecho de temporada pra lá de decepcionante...
            Carlos Sainz Jr. tem 80 pontos, e faz uma grande temporada conduzindo a McLaren. O espanhol só não tem mais pontos porque o carro o deixou na mão em algumas corridas. No seu calcanhar vem Pierre Gasly, com 77 pontos, mas o francês não tem mais o excelente carro da Red Bull nas mãos, o que deve facilitar as coisas para o piloto do time de Woking se sagrar como “melhor do resto” ao fim da temporada. Mais atrás é que a parada está boa, com Daniel Ricciardo (46 pontos), Sérgio Pérez (44), Lando Norris (41), Nico Hulkenberg (37), e Danill Kvyat (34), e por que não, Kimi Raikkonen (31) a se digladiarem para terminar, ou tentar terminar o campeonato em alta. Como entre estes pilotos o desempenho de suas respectivas equipes tem oscilado, podemos dizer que todos estão na briga direta entre todos eles. Talvez Raikkonen fique de fora, já que a Alfa Romeo infelizmente decaiu bastante nesta segunda metade da temporada; e Kvyat ainda precisaria de um golpe de sorte maior para ascender mais na pontuação. Pérez volta e meia tira leite de pedra, enquanto a dupla da Renault precisa que o carro tenha um bom comportamento para que eles mostrem a que vieram. Mas olho neles que os duelos podem ser bons.
Max Verstappen e Esteban Ocón se estranharam na pista de Interlagos ano passado, com direito até a briga depois da prova. O holandês precisa manter a cabeça no lugar de vez em quanto... Acelerar todo mundo já viu que ele sabe...
            O que não dá para ter esperança é na Hass e na Williams. O time norte-americano já deu o ano por encerrado, e só quer terminar tudo mais breve possível, para tentar se recuperar em 2020, depois de uma temporada onde nada deu certo, e o carro andou para trás ao invés de ir para frente. E seus pilotos continuaram a sina de 2018, com algumas confusões na pista. Terem tido os contratos renovados para 2020 foi mais do que ganhar na loteria, sendo quase unanimidade que foi um tremendo tiro no próprio pé que a Hass cometeu. Mesmo assim, a maior decepção do ano é nada menos que o tradicional time de Frank Williams, que praticamente se arrastou na pista esta temporada, com raríssimos lampejos de competitividade. Tanto que George Russel deve terminar o ano como único piloto zerado na pontuação. Robert Kubica, que tinha muito a comemorar pela sua volta à F-1, viu o que poderia ser um triunfo de uma longa luta de superação se transformar em um tremendo abacaxi onde o polonês nunca conseguiu tirar nada de positivo de um carro que nasceu ruim e morre torto. Kubica já está dando adeus novamente à F-1, muito provavelmente em definitivo, se não assumir nenhuma função de piloto de testes, e ao menos, terá um “troféu” para se orgulhar, de ter conquistado o único ponto da Williams no ano, mesmo que tenha sido mais por sorte do que por competência ou performance na pista... Um panorama desanimador que deverá se manter aqui em São Paulo, em uma pista que não dá muita chance a carros de baixa performance.
Carlos Sainz Jr. e a McLaren devem ser os "campeões" da "F-1 B" em 2019.
            Aliás, a situação da Williams anda mesmo complicada. Se George Russel está confirmado para 2020, ficam as dúvidas de quem vai querer ficar com o segundo cockpit do time de Grove, que pela performance desta temporada, deixou até Nicholas Latifi sem desejo de tentar estrear na F-1 no próximo ano, temendo se queimar andando nas últimas posições como Russel fez este ano. Triste ver a Williams, que tantos campeões já fez, ter uma temporada tão melancólica...
            Até mesmo Nico Hulkenberg, que ficará a pé na F-1 em 2020, achou uma fria tentar vaga no time pelo qual estreou em 2010, e conseguiu até marcar uma pole, aqui mesmo em Interlagos, naquele ano. Ficar se arrastando pela pista é o mesmo motivo que desanimou o alemão a querer se manter na F-1 apenas para ficar na F-1. Seu lugar será ocupado pelo francês Esteban Ocón no próximo ano, como novo companheiro de Daniel Ricciardo.
            Interlagos geralmente tem propiciado boas corridas, e como vimos, temos bons motivos para vermos alguns bons duelos no domingo. A chance da chuva existe, mas é considerada mínima para a corrida, o que é uma pena porque, quando São Pedro resolve aparecer, a corrida costuma surpreender. Mas ela pode surgir hoje, ou até mesmo amanhã. Se não vier na corrida, que pelo menos ajude a embaralhar o grid, e com isso, possa aumentar as chances de boas disputas no domingo. Torcer é mais do que válido. E que venham os primeiros treinos livres...


E a semana da F-1 em São Paulo já começou com alguns carros acelerando em um evento montado pela Heineken junto ao Obelisco do Parque do Ibirapuera, no último dia 9, o “Fan Festival”, onde torcedores e fãs puderam ver dois carros icônicos pilotados por Ayrton Senna: o carro da Toleman, com o qual ele estreou na F-1, em 1984; e o Lotus de 1985, com o qual o brasileiro marcou sua primeira pole e vitória na categoria máxima do automobilismo. Felipe Massa conduziu o modelo TG184 utilizado por Senna em sua primeira corrida daquele ano. Já o Lotus 97T de 1985 foi conduzido por Émerson Fittipaldi, que ficou extremamente emocionado por guiar o carro da primeira vitória de Senna na F-1, para não mencionar a ligação afetiva do piloto com o lendário time fundado por Colin Chapman, com o qual Fittipaldi foi campeão em 1972, sendo o primeiro brasileiro a conquistar o título na F-1. No evento, o público também pôde ver modelos de F-1 da Renault e da Mercedes, que foram conduzidos pelo brasileiro Caio Collet e o mexicano Esteban Gutiérrez, respectivamente. E o público compareceu em peso, não apenas para ver os carros, mas também para honrar o legado de Ayrton Senna, morto há 25 anos atrás no acidente na curva Tamburello, na corrida de San Marino.
 
Émerson Fittipaldi agita a bandeira brasileira após andar com o Lotus 97T que foi de Ayrton Senna, gesto imortalizado pelo compatriota.

E Senna terá mais uma homenagem neste final de semana. O público que estiver presente no autódromo domingo poderá ver o carro com o qual Ayrton conquistou o seu primeiro título mundial, em 1988, o modelo MP4/4 Honda, que será pilotado por Bruno Senna, na pista de Interlagos. Ontem, o ex-piloto Martin Brundle e Bruno fizeram o checkdown do carro, que chegou a apresentar problemas quando o brasileiro saiu para dar algumas voltas na pista. Este modelo nunca competiu em Interlagos: em 1988, o GP do Brasil foi disputado em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Apenas em 1990 a corrida voltaria ao autódromo paulistano, com Senna conduzindo o modelo MP4/5B naquela ocasião. Em 2011, Nélson Piquet brindou o público presente em Interlagos ao guiar o Brabham BT49C, carro de seu primeiro título mundial, levantando a torcida na arquibancada, e ainda provocou os torcedores ao desfilar com uma bandeira do seu time do coração, o Vasco...


Oficialmente, o Grande Prêmio do Brasil está garantido até o ano que vem, mas as tratativas de renovação do GP já estão em andamento. Continuam as conversas de que vai sair a pista de Deodoro no Rio de Janeiro, e que a corrida de F-1 irá para lá, apesar das confusões e rolos que cercam este assunto. Mas tudo indica que a corrida fica em Interlagos mesmo, e no que depender dos pilotos, a pista carioca não terá defensores. Lewis Hamilton, em sua nova postura mais “ambientalista”, diz que não pretende correr em uma pista construída em uma área de proteção ambiental. E Max Verstappen declarou que prefere ter dois GPs do Brasil a ver a pista de Interlagos fora do calendário da F-1. Vettel disse que é fã do autódromo paulistano por conta das corridas dramáticas já vividas aqui. E Raikkonem também se mostrou contra a mudança de autódromo, defendendo a história de Interlagos na F-1. Bom, história nunca foi garantia de manutenção de um GP, mas das as enrolações que cercam o projeto da nova pista carioca, poderíamos até dizer que Interlagos não corre perigo. O problema é que estamos no Brasil, e por conta disso, muita coisa pode acontecer, e não necessariamente boa, é bom lembrar... Vamos torcer para que essa história termine da maneira mais óbvia e prática possível, com a renovação firme de Interlagos como sede do GP, e não se inventem planos mirabolantes sem pé nem cabeça... Já temos confusão demais neste país com um monte de imbecis na política... Que eles não venham a ter mais idéias de jerico...


A F-1 chegou a Interlagos com uma boa discussão de bastidores, que diz respeito a uma possível burla da Ferrari no regulamento no que tange ao fluxo de combustível de sua unidade de potência, com os italianos possivelmente se aproveitando de uma brecha na medição dos sensores para fazer uso de uma maior injeção de combustível, o que poderia ter gerado o grande salto de performance do modelo SF-90 nas corridas desde o GP da Bélgica, considerado pelos rivais suspeito. Pelo sim, pelo não, a FIA passou a fazer uma fiscalização mais acurada do sistema, e na etapa dos Estados Unidos, a Ferrari já não exibiu a mesma performance superior que vinha demonstrando. O sistema de fluxo possui sensores que monitoram a injeção do combustível na unidade de potência, de modo a garantir que se disponha apenas dos 100 Kilos regulamentares. Mas a medição não era feita a tempo integral, mas a intervalos de tempo. A trapaça seria que, conhecendo os momentos da medição, se poderia manipular o fluxo, de modo que este ficasse “normal” nos momentos de atuação dos sensores, mas nos intervalos entre as medições, promover um fluxo maior do combustível, e com isso, gerando muito mais potência. Como os tanques dos carros tem capacidade livre, poderia ser abastecido com mais carga de combustível do que o regulamentado. Ao aumentar a fiscalização dos sensores, as chances de se constatar um fluxo maior do que o permitido também aumentam. Mercedes e Honda estariam deduzindo que a “queda” da performance da Ferrari nos Estados Unidos seria devido ao time ter deixado de usar o artifício para não ser pego em flagrante, mas os dados analisados não foram conclusivos. Charles LeClerc, por problemas na unidade de potência, teve de usar uma unidade antiga na corrida, menos potente e desenvolvida, e isso justificaria sua queda de performance, tendo ficado longe da luta pela vitória. Já Sebastian Vettel por pouco não conquistou a pole, mas na corrida, seu carro perdeu rendimento logo no início, e depois, uma quebra de suspensão retirou o alemão da corrida, o que também contribuiu para que se mantivesse a dúvida sobre o uso ou não do artifício do aumento do fluxo de combustível. Os rivais apostam que Interlagos poderá produzir uma análise mais esclarecedora de se o time italiano estava ou não infringindo as regras. A rigor, isso deveria voltar a ser como era antigamente: limite de tantos litros de combustível fixo para a corrida, com consumo livre. Quem quiser usar mais combustível que corra o risco de uma pane seca, ou faça o equipamento ser mais econômico que o da concorrência, sem perder sua potência. Esse lance de fluxo controlado é outra regra complicada que já encheu o saco do público, que gostaria de ver uma F-1 mais simples e objetiva, e não cheia de regras complicadas como essa...

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