Voltando a trazer um de meus antigos
textos, esta coluna foi publicada no dia 4 de dezembro de 1998, e fazia um
pequeno balanço do que fora o campeonato da F-CART, a F-Indy original, naquele
ano, que coroou o bicampeonato de Alessandro Zanardi. Foi talvez o momento do
auge do italiano, que já de malas prontas para retornar à F-1 no ano seguinte,
como piloto da Williams, nem imaginava o calvário que sua carreira teria a
partir dali. Mais um que não tivera chances em carros competitivos na F-1 na
primeira metade da década, Alessandro migrou para os EUA, e encontrou na
categoria norte-americana de monopostos as condições ideais para mostrar do que
era capaz, ao assumir um dos carros da equipe Ganassi, quando o time do velho
Chip começaria a dar as cartas na competição. Com um bom carro nas mãos, ele
deixou na sobra o piloto veterano do time, o estadunidense Jimmy Vasser, e
passaria a ser o homem a ser batido no certame. O ano de 1998 tinha começado de
forma um pouco mais equilibrada, mas a meio da temporada, Alessandro
simplesmente desancou a concorrência, e rumou para o seu merecidíssimo
bicampeonato. A F-CART estava com uma força e popularidade incríveis, e mesmo
que nunca tenha ameaçado efetivamente a posição da F-1 como principal
campeonato de monopostos do planeta, era uma opção muito viável para os amantes
do automobilismo, mostrando boas disputas e muitos pilotos de talento na briga
por posições na pista. Confiram o texto com mais alguns detalhes do que foi
aquele ano na competição, e boa leitura a todos...
F-CART 98: SHOW DE
ZANARDI
Um
passeio de Alessandro Zanardi. Assim podemos considerar o campeonato deste ano
da Fórmula CART. Apesar de, ao longo do campeonato, nada dar tanta vista do
domínio do piloto italiano, olhando-se para trás, é possível notar a supremacia
da atuação de Zanardi, que fechou o ano com o mais novo recorde de pontos da
categoria obtidos em uma única temporada, que poderia muito bem ter chegado à
casa dos 300 pontos, não fossem alguns atropelos do italiano durante suas
negociações com a Williams, ocasião em que suas performances na pista caíram
momentaneamente.
Méritos
para a Chip Ganassi, que chega a seu terceiro título consecutivo. Se houvesse
campeonato de construtores como o da Fórmula 1, seria também tricampeã
consecutiva. Um verdadeiro show de competência, que desbancou equipes
financeiramente mais poderosas e mais bem estruturadas, como a Penske e a
Newmann-Hass, novamente derrotadas em seus objetivos de conquistar o título da
categoria.
A
Penske se viu derrotada pelo seu novo chassi PC27, revolucionário e também
cheio de problemas. Já a Newmann-Hass viu seu principal piloto, Michael
Andretti, começar bem a temporada, vencendo em Homestead, e definhar na maior
parte do resto do campeonato. Fora os azares que afligiram o time, em boa parte
centrados em
Christian Fittipaldi, em algumas ocasiões Andrettinho cometeu
erros grosseiros devido ao seu excesso de ousadia ao volante, como em Long Beach, onde teve
um pneu estourado que o jogou no muro, mesmo sabendo que o composto estava para
ceder a qualquer momento. O chassi Swift mostrou sua classe nos circuitos
ovais, mas nos mistos, ainda ficou devendo.
Outro
ponto a favor de Alessandro Zanardi foi o fato de que apenas o italiano
conseguiu arrancar tudo o que podia render o excelente chassi Reynard 98R com
motor Honda e pneus Firestone. Uma prova disso foi seu parceiro Jimmy Vasser,
que só conseguiu conquistar o vice-campeonato na última etapa, em Fontana,
depois de ficar totalmente obscurecido pelas performances do companheiro de equipe
durante todo o campeonato. O ponto alto de Zanardi foram suas 4 vitórias
consecutivas obtidas em Detroit, Portland, Cleveland e Toronto, ocasião em que Alex finalmente
disparou no campeonato. Até então, a competição estava relativamente
equilibrada, com muita disputa, e onde ninguém podia prever exatamente quem
seria o campeão. E o show de Zanardi foi completo, com vitórias mescladas da
mais pura garra de pilotagem à perfeita estratégia de corrida. No caso de
estratégia temos o exemplo de Long Beach, onde Zanardi não era um dos pilotos
de destaque da prova, até que a poucas voltas do final, lá estava ele entre os
primeiros para disputar a vitória, graças à estratégia montada por seu time na
corrida. Já em Cleveland assistimos ao maior show de arrojo da temporada, com
Zanardi a arrancar uma vitória espetacular que parecia totalmente impossível de
ser conseguida, dados os percalços enfrentados pelo italiano na prova.
Enquanto
o italiano deitava e rolava a cada vitória, os concorrentes se afundavam por
conta própria, cada um enfrentando os mais diversos problemas. A Walker pecou
muito na preparação de seu equipamento, a ponto de nem mesmo Gil de Ferran
conseguir descontar no braço a diferença, como havia conseguido no ano passado.
Penske e Newmann-Hass, como já mencionei, tiveram diversos desaires este ano.
Na Forsythe, Greg Moore alterou bons momentos com bobagens monumentais,
perdendo excelentes oportunidades. Na Patrick, Adrian Fernandez encobriu o
experiente Scott Pruet, sendo a estrela inicial do campeonato, com uma vitória
competente em Motegi, no Japão, onde travou um belo duelo com Al Unser Jr.
Pruett ainda conseguiu recuperar terreno, mas terminou o ano atrás do piloto
mexicano. E a Patrick também não conseguiu mostrar o mesmo grau de afinação
exibido pela Ganassi na preparação de seus carros, razão pela qual não foi
possível entrar com tudo na luta pelo título. Esta situação ficou ainda mais
patente no final da temporada, quando as esperanças de conquistar pelo menos o
vice-campeonato também se esvaíram.
Equipe-revelação
em 1997, a PacWest levou um sério tombo este ano. Com estratégias equivocadas
no início e meio da temporada, onde o time tentou alguns vôos ousados na área
técnica, as aspirações de disputa do primeiro título na categoria praticamente
sumiram quase que imediatamente. Nem mesmo no final do campeonato o time
parecia ter reencontrado o rumo para voltar a crescer. Em contrapartida, a
equipe Green ocupou seu lugar como time-surpresa, embora os resultados só
tenham começado a aparecer de forma patente na segunda metade do campeonato,
com as vitórias de Dario Franchiti, que colocou Paul Tracy no vinagre. Tracy,
aliás, não perdeu o velho estilo: poderia ter tido e dado muito mais resultados
à sua equipe se não fosse tão encrenqueiro dentro da pista, onde arrumou briga
com vários pilotos. Christian Fittipaldi foi um deles, tendo se enroscado com o
piloto canadense em mais de uma ocasião.
Tentando
subir de produção, a Tasman teve um ano relativamente melhor do que em 97 ao
nível de resultados, mas ainda está distante de tornar-se uma equipe de ponta.
Como é de praxe, pretende mudar isso em 99, mas será que desta vez vai? A
Bettenhausen manteve o nível de resultados, mas poderia ter brilhado um pouco
mais, não fossem alguns erros da equipe e do piloto, o novato Hélio Castro
Neves, em seu primeiro ano na F-CART.
Quem
conseguiu mostrar um pouco de serviço, ainda que tenha brilhado mais apenas em
qualificações, foi a equipe Rahal, que conseguiu voltar a vencer, com Brian
Herta finalmente a desencalhar na categoria em Laguna Seca, onde
conseguiu se vingar de Alessandro Zanardi, vencendo o italiano numa luta e
tanto, depois de apanhar do piloto da Ganassi em algumas corridas onde tinha a
vitória praticamente à vista. Já o veterano Bobby Rahal, infelizmente, não
conseguiu voltar a vencer, ainda mais neste que foi seu ano de despedida como
piloto. A partir de agora, o tricampeão só vai administrar seu time de
competição e tentar fazê-lo novamente campeão, como no ano de sua estréia como
dono de equipe, em 1992.
Ao
nível de chassis, a Reynard reinou absoluta. A Penske debateu-se com inúmeros
problemas. O chassi Swift mostrou bom desempenho apenas nas pistas ovais. Já a
Lola, restrita à tímida equipe Davis, não teve como mostrar praticamente nada,
mas a fábrica inglesa quer tentar dar a volta por cima n próximo ano. Se vai
conseguir, é outra história.
No
campo dos motores, a Honda mostrou novamente possuir os melhores propulsores,
apesar de, tecnologicamente, os Mercedes terem demonstrado muito mais potencial.
O Ford também mostrou evolução, mas as qualidades de fiabilidade dos Honda
falaram mais alto. O motor Toyota, que ainda faz figuração na categoria desde
que estreou, promete um motor revolucionário para 99, especialmente para se
livrar do estigma de ver sua maior concorrente nas pistas (Honda) ganhar
campeonatos enquanto ela só arruma fiascos. Se um time melhor se dispor a
utilizar o motor japonês, ajudaria muito também.
E,
para encerrar, pelo terceiro ano consecutivo a Goodyear foi nocauteada pela
Firestone. O domínio da marca de propriedade da japonesa Bridgestone foi
arrasador: de 19 corridas, venceu 18. À Goodyear, restou somente a vitória de
Michael Andretti em Miami, e foi só. Com a retirada da Goodyear da F-1, é
lógico imaginar que a fábrica passe a dedicar-se em tempo integral à F-CART. E,
com o provável reforço adicional de fornecer pneus para todos os times da F-1
em 99, a Bridgestone/Firestone pode acabar ficando meio sobrecarregada, o que
poderia comprometer a qualidade de seus compostos para a F-CART. São
possibilidades que ajudam a colocar mais lenha na fogueira das expectativas
para o próximo campeonato. A Chip Ganassi terá a dura tarefa de manter o seu
domínio, mas sem contar com Alessandro Zanardi, que voltou para a F-1. E, mais
do que nunca, adversários não faltam para a empreitada de acabar com o fim da
escuderia que é campeã há 3 anos seguidos. Será que vão conseguir em 99? Vamos
esperar que sim, do contrário, a categoria corre o risco de cair na vala da
monotonia, tal como a F-1 em anos recentes...
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