quarta-feira, 23 de outubro de 2019

ARQUIVO PISTA & BOX – NOVEMBRO DE 1998 – 27.11.1998


            Mais uma vez, trago aos leitores um de meus antigos textos, e este foi publicado no dia 27 de novembro de 1998, fazendo um pequeno balanço do que foi a temporada daquele ano na Fórmula 1. Um ano que prometia muito, começou com um domínio assustador da McLaren, e terminou com uma disputa pelo título na última corrida, mas não entre os pilotos de Woking, mas entre Mika Hakkinen, pela McLaren; e Michael Schumacher, da Ferrari, que conseguiu dar uma equilibrada na disputa e presentear os fãs com mais emoções do que se poderia imaginar depois do que tínhamos visto na primeira corrida. Seria mais um ano de poucas alegrias para os torcedores brasileiros, enquanto a Williams enfrentava o primeiro ano após sua última conquista na F-1, que foram os títulos de pilotos e construtores de 1997. Já são praticamente 21 anos, e o tempo realmente parece passar voando. Curtam o texto, e boa leitura para todos...



UM BOM ANO NA FÓRMULA 1

            Fazendo um balanço do Mundial de Fórmula 1 de 1998, posso afirmar que este foi um bom ano para a categoria. Após as primeiras etapas, tudo indicava que veríamos uma verdadeira procissão da equipe McLaren, com vitórias fáceis e sem possibilidade de reação da concorrência. Felizmente, a Ferrari desmentiu este panorama e, pelo terceiro ano consecutivo, a decisão do campeonato foi para a última etapa. Nada mal para um ano que prometia muito em termos de luta pelo título e que, de repente, dava-se a sensação de que a McLaren repetiria o seu massacre de 10 anos atrás, quando Alain Prost e Ayrton Senna praticamente monopolizaram as vitórias no campeonato, deixando todos os outros praticamente como meros figurantes.
            A vitória da McLaren mostrou que privilegiar o talento e a competência dão resultados. Adrian Newey, contratado pela McLaren no ano retrasado, foi o ponto-chave para o sucesso do time de Ron Dennis nesta temporada. Newey foi apenas mais um talento que Frank Williams não soube dar o devido valor em seu staff, e depois de uma briga jurídica nos tribunais ingleses, acabou ficando de molho durante uns tempos, até poder estrear em seu novo time. Assim como Frank demitiu Damon Hill em 1996 por achá-lo incompetente para defender o time naquele ano (curiosamente, o ano em que Hill foi campeão pela escuderia inglesa), o panorama foi quase o mesmo em relação ao projetista inglês: ele não faria falta à equipe. Mas fez: a Williams este ano foi uma sombra do que foi em 1997, não conseguindo nenhuma vitória e muito menos uma pole, e pela primeira vez desde 1990, ficou sem conseguir lutar pelo título.
            Se a Williams caiu e a McLaren subiu, foi preciso também que o time prateado soubesse canalizar seus esforços na luta pelo título. Mika Hakkinen acabou sendo o foco de atenções do time, por ter se mostrado desde o início do campeonato o piloto mais rápido da escuderia, que precisou fazer a opção pelo finlandês a certa altura, o que se mostrou a escolha correta, pois enquanto Hakkinen ia à luta, seu companheiro de equipe David Coulthard protagonizava performances pífias, ou era afligido por falhas mecânicas em seu carro. Coulthard acabou ficando à sombra de Mika este ano. Para a próxima temporada, a opção natural da McLaren, caso continue a dar as cartas na F-1, é fazer do escocês o próximo campeão. Resta saber se ele irá corresponder às expectativas, o que não fez este ano.
            Pelo segundo ano consecutivo a Ferrari bateu na trave. Mas o time de Maranello teve sua melhor performance em muitos anos, levando-se em conta o balanço geral do campeonato. Conseguiu, através de muito esforço e determinação, reduzir o seu déficit de performance para a McLaren a tempo ainda de disputar o título. Michael Schumacher brilhou nas provas da Argentina, França, Hungria e Itália, onde conseguiu vencer de forma memorável, mas sua temporada ficou marcada por novos pontos negativos no currículo, como o que se viu no Canadá e na Bélgica, onde sua conduta anti-esportiva mais uma vez colocam seu caráter em dúvida. Eddie Irvinne finalmente foi um pouco mais valorizado pela Ferrari, que decidiu apoiar o irlandês um pouco mais, mas claro que não o suficiente para permitir que ele desafiasse Schumacher. Mesmo assim, conseguiu fazer duas dobradinhas para o time italiano, na França, e principalmente na Itália, em Monza, perante a fanática torcida ferrarista, no melhor momento para o time italiano no campeonato, pois ali o bicampeão alemão igualava seus pontos aos de Hakkinen, e previa que o título seria da Ferrari. Melhor sorte para o time de Maranello em 99. Expectativa positiva não falta para que tudo dê certo, e que enfim a Ferrari consiga quebrar o seu jejum de títulos.
            A Benetton teve um ano de recomeço, com novos pilotos e novo grupo técnico. O resultado foi desanimador: o time multicolorido acabou superado pela Williams e até pela Jordan. Quem reclamava que Jean Alesi e Gerhard Berger não valiam nada e que eram os responsáveis pela decadência do time deve ter ficado com saudade dos dois pilotos e dos anos anteriores. Mas a culpa não cabe inteiramente a Giancarlo Fisichella e Alexander Wurz. A Benetton, assim como a Williams, também padeceu com a falta de desempenho e desenvolvimento dos motores Renault, agora chamados de Mecachrome. Mas o desenvolvimento do novo chassi B198 ficou muito aquém do esperado, além dos pilotos do time terem se envolvido em algumas confusões, aliada a uma performance bastante irregular dos carros durante todo o campeonato. A equipe também perdeu David Richards, que tinha assumido o lugar de Flavio Briatore, devido à falta de resultados e a algumas atitudes tomadas sem consultar Luciano Benetton. Espera-se que o time reencontre seu rumo no próximo ano.
            Na Sauber, que manteve seu nível de performance, o destaque foi Jean Alesi. Desprestigiado na Ferrari e na Benetton, o intrépido piloto francês que no início da década foi considerado o sucessor de Alain Prost deu boas mostras de que ainda não está acabado para a F-1. Alesi eclipsou totalmente seu companheiro de equipe Johnny Herbert, o que fez o inglês perder o lugar no time suíço para 99, indo para a equipe Stewart, onde poderá ficar novamente à sombra de outro piloto muito talentoso, Rubens Barrichello.
            A Stewart, por sua vez, teve um ano muito ruim em 98, mas as lições dos erros foram aprendidas, e as devidas providências estão sendo tomadas para que não sejam repetidos na próxima temporada. Assim como a Sauber, a Stewart está redobrando seu staff e estrutura para evoluir consideravelmente de performance em 1999. Conseguirão cumprir o prometido?
            Um time com perspectivas indefinidas para o próximo ano é a TWR-Arrows. O time prometia muito para 98 e o que sei viu foi um retrocesso até mesmo em relação ao apresentado em 1997. O carro e o motor deram muito mais trabalho do que se esperava, sem apresentar nenhum ganho de performance. John Barnard pulou fora e Pedro Paulo Diniz também saiu. Tom Walkinshaw havia prometido que o time seria uma potência na F-1 quando adquiriu a escuderia. Fica para 99, quem sabe...
            A Jordan teve dois momentos distintos no campeonato de 98: até o meio do ano, o time se debatia com a falta de performance e fiabilidade mecânica. A partir da chegada do novo projetista Mike Gascoyne, o time reencontrou o rumo e voltou a disputar posições pontuáveis. O ponto alto da escuderia foi sem dúvida a vitória em dobradinha no Grande Prêmio da Bélgica, com Damon Hill a voltar ao topo do pódio, mostrando sua classe e competência como piloto de ponta. É claro que a hecatombe de carros ocorrida na largada que vitimou vários pilotos, além do acidente esdrúxulo de Michael Schumacher em cima de David Couthard facilitou as coisas. No Japão, Hill superou nada menos do que a Williams, seu ex-time, superando Jacques Villeneuve e Heinz-Harald Frentzen na reta de chegada. Em franca ascenção, a Jordan promete vôos mais altos em 99, contando agora com o apoio total da Honda para desenvolver plenamente seus motores para voltar como um time completo em 2000.
            Já a Prost teve um ano para ser esquecido. O novo chassi AP02, projetado por Loic Bigois, foi incapaz de mostra a competitividade esperada que o novo e superpotente motor Peugeot V-10 poderia proporcionar ao time do tetracampeão Alain Prost. Comparado a 97, foi um tremendo retrocesso. Espera-se que, com a chegada de John Barnard ao corpo técnico do time, Alain Prost consiga fazer com que seu time decole na F-1. Vamos esperar para ver...
            A Minardi e a Tyrrel foram, como já se esperava, as “carroças” do ano nos grids de largada. A Tyrrel, em sua última temporada, apenas cumpriu tabela devido ao desentendimento entre Ken Tyrrel e Craig Pollock, que vai gerir o novo time BAR em 99. Isso prejudicou seus pilotos e o trabalho da escuderia, que praticamente correram à toa neste campeonato, apenas fazendo figuração. Já a Minardi, vítima da tradicional falta de recursos, praticamente nada conseguiu mostrar, além de, novamente, dizer que no próximo ano as coisas serão melhores. Enquanto a Tyrrel fez seu adeus à F-1 com performances pífias, espera-se muito do novo time BAR que irá assumir seu lugar em 1999. Com relação à Minardi, resta apenas esperar que a escuderia italiana consiga crescer um pouco...
            Este foi um pequeno panorama geral do que vimos na Fórmula 1 em 1998. Que melhores ventos soprem na categoria em 1999 e nos dêem ainda mais emoção e disputas do que vimos nesta temporada...

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