Mais uma vez, trago aos leitores um
de meus antigos textos, e este foi publicado no dia 27 de novembro de 1998,
fazendo um pequeno balanço do que foi a temporada daquele ano na Fórmula 1. Um
ano que prometia muito, começou com um domínio assustador da McLaren, e
terminou com uma disputa pelo título na última corrida, mas não entre os
pilotos de Woking, mas entre Mika Hakkinen, pela McLaren; e Michael Schumacher,
da Ferrari, que conseguiu dar uma equilibrada na disputa e presentear os fãs
com mais emoções do que se poderia imaginar depois do que tínhamos visto na
primeira corrida. Seria mais um ano de poucas alegrias para os torcedores
brasileiros, enquanto a Williams enfrentava o primeiro ano após sua última
conquista na F-1, que foram os títulos de pilotos e construtores de 1997. Já
são praticamente 21 anos, e o tempo realmente parece passar voando. Curtam o
texto, e boa leitura para todos...
UM BOM ANO NA FÓRMULA
1
Fazendo um balanço do Mundial de
Fórmula 1 de 1998, posso afirmar que este foi um bom ano para a categoria. Após
as primeiras etapas, tudo indicava que veríamos uma verdadeira procissão da
equipe McLaren, com vitórias fáceis e sem possibilidade de reação da
concorrência. Felizmente, a Ferrari desmentiu este panorama e, pelo terceiro
ano consecutivo, a decisão do campeonato foi para a última etapa. Nada mal para
um ano que prometia muito em termos de luta pelo título e que, de repente, dava-se
a sensação de que a McLaren repetiria o seu massacre de 10 anos atrás, quando
Alain Prost e Ayrton Senna praticamente monopolizaram as vitórias no
campeonato, deixando todos os outros praticamente como meros figurantes.
A vitória da McLaren mostrou que
privilegiar o talento e a competência dão resultados. Adrian Newey, contratado
pela McLaren no ano retrasado, foi o ponto-chave para o sucesso do time de Ron
Dennis nesta temporada. Newey foi apenas mais um talento que Frank Williams não
soube dar o devido valor em seu staff, e depois de uma briga jurídica nos
tribunais ingleses, acabou ficando de molho durante uns tempos, até poder
estrear em seu novo time. Assim como Frank demitiu Damon Hill em 1996 por
achá-lo incompetente para defender o time naquele ano (curiosamente, o ano em que Hill foi campeão pela
escuderia inglesa), o panorama foi quase o mesmo em relação ao projetista
inglês: ele não faria falta à equipe. Mas fez: a Williams este ano foi uma
sombra do que foi em 1997, não conseguindo nenhuma vitória e muito menos uma
pole, e pela primeira vez desde 1990, ficou sem conseguir lutar pelo título.
Se a Williams caiu e a McLaren
subiu, foi preciso também que o time prateado soubesse canalizar seus esforços
na luta pelo título. Mika Hakkinen acabou sendo o foco de atenções do time, por
ter se mostrado desde o início do campeonato o piloto mais rápido da escuderia,
que precisou fazer a opção pelo finlandês a certa altura, o que se mostrou a
escolha correta, pois enquanto Hakkinen ia à luta, seu companheiro de equipe
David Coulthard protagonizava performances pífias, ou era afligido por falhas
mecânicas em seu carro. Coulthard acabou ficando à sombra de Mika este ano.
Para a próxima temporada, a opção natural da McLaren, caso continue a dar as
cartas na F-1, é fazer do escocês o próximo campeão. Resta saber se ele irá
corresponder às expectativas, o que não fez este ano.
Pelo segundo ano consecutivo a
Ferrari bateu na trave. Mas o time de Maranello teve sua melhor performance em
muitos anos, levando-se em conta o balanço geral do campeonato. Conseguiu,
através de muito esforço e determinação, reduzir o seu déficit de performance
para a McLaren a tempo ainda de disputar o título. Michael Schumacher brilhou
nas provas da Argentina, França, Hungria e Itália, onde conseguiu vencer de
forma memorável, mas sua temporada ficou marcada por novos pontos negativos no
currículo, como o que se viu no Canadá e na Bélgica, onde sua conduta
anti-esportiva mais uma vez colocam seu caráter em dúvida. Eddie Irvinne
finalmente foi um pouco mais valorizado pela Ferrari, que decidiu apoiar o
irlandês um pouco mais, mas claro que não o suficiente para permitir que ele
desafiasse Schumacher. Mesmo assim, conseguiu fazer duas dobradinhas para o
time italiano, na França, e principalmente na Itália, em Monza, perante a
fanática torcida ferrarista, no melhor momento para o time italiano no
campeonato, pois ali o bicampeão alemão igualava seus pontos aos de Hakkinen, e
previa que o título seria da Ferrari. Melhor sorte para o time de Maranello em
99. Expectativa positiva não falta para que tudo dê certo, e que enfim a
Ferrari consiga quebrar o seu jejum de títulos.
A Benetton teve um ano de recomeço,
com novos pilotos e novo grupo técnico. O resultado foi desanimador: o time
multicolorido acabou superado pela Williams e até pela Jordan. Quem reclamava
que Jean Alesi e Gerhard Berger não valiam nada e que eram os responsáveis pela
decadência do time deve ter ficado com saudade dos dois pilotos e dos anos
anteriores. Mas a culpa não cabe inteiramente a Giancarlo Fisichella e
Alexander Wurz. A Benetton, assim como a Williams, também padeceu com a falta
de desempenho e desenvolvimento dos motores Renault, agora chamados de
Mecachrome. Mas o desenvolvimento do novo chassi B198 ficou muito aquém do
esperado, além dos pilotos do time terem se envolvido em algumas confusões,
aliada a uma performance bastante irregular dos carros durante todo o
campeonato. A equipe também perdeu David Richards, que tinha assumido o lugar
de Flavio Briatore, devido à falta de resultados e a algumas atitudes tomadas
sem consultar Luciano Benetton. Espera-se que o time reencontre seu rumo no
próximo ano.
Na Sauber, que manteve seu nível de
performance, o destaque foi Jean Alesi. Desprestigiado na Ferrari e na
Benetton, o intrépido piloto francês que no início da década foi considerado o
sucessor de Alain Prost deu boas mostras de que ainda não está acabado para a
F-1. Alesi eclipsou totalmente seu companheiro de equipe Johnny Herbert, o que
fez o inglês perder o lugar no time suíço para 99, indo para a equipe Stewart,
onde poderá ficar novamente à sombra de outro piloto muito talentoso, Rubens
Barrichello.
A Stewart, por sua vez, teve um ano
muito ruim em 98, mas as lições dos erros foram aprendidas, e as devidas
providências estão sendo tomadas para que não sejam repetidos na próxima
temporada. Assim como a Sauber, a Stewart está redobrando seu staff e estrutura
para evoluir consideravelmente de performance em 1999. Conseguirão cumprir o
prometido?
Um time com perspectivas indefinidas
para o próximo ano é a TWR-Arrows. O time prometia muito para 98 e o que sei
viu foi um retrocesso até mesmo em relação ao apresentado em 1997. O carro e o
motor deram muito mais trabalho do que se esperava, sem apresentar nenhum ganho
de performance. John Barnard pulou fora e Pedro Paulo Diniz também saiu. Tom
Walkinshaw havia prometido que o time seria uma potência na F-1 quando adquiriu
a escuderia. Fica para 99, quem sabe...
A Jordan teve dois momentos
distintos no campeonato de 98: até o meio do ano, o time se debatia com a falta
de performance e fiabilidade mecânica. A partir da chegada do novo projetista
Mike Gascoyne, o time reencontrou o rumo e voltou a disputar posições
pontuáveis. O ponto alto da escuderia foi sem dúvida a vitória em dobradinha no
Grande Prêmio da Bélgica, com Damon Hill a voltar ao topo do pódio, mostrando
sua classe e competência como piloto de ponta. É claro que a hecatombe de
carros ocorrida na largada que vitimou vários pilotos, além do acidente
esdrúxulo de Michael Schumacher em cima de David Couthard facilitou as coisas.
No Japão, Hill superou nada menos do que a Williams, seu ex-time, superando
Jacques Villeneuve e Heinz-Harald Frentzen na reta de chegada. Em franca
ascenção, a Jordan promete vôos mais altos em 99, contando agora com o apoio
total da Honda para desenvolver plenamente seus motores para voltar como um
time completo em 2000.
Já a Prost teve um ano para ser
esquecido. O novo chassi AP02, projetado por Loic Bigois, foi incapaz de mostra
a competitividade esperada que o novo e superpotente motor Peugeot V-10 poderia
proporcionar ao time do tetracampeão Alain Prost. Comparado a 97, foi um
tremendo retrocesso. Espera-se que, com a chegada de John Barnard ao corpo
técnico do time, Alain Prost consiga fazer com que seu time decole na F-1.
Vamos esperar para ver...
A Minardi e a Tyrrel foram, como já
se esperava, as “carroças” do ano nos grids de largada. A Tyrrel, em sua última
temporada, apenas cumpriu tabela devido ao desentendimento entre Ken Tyrrel e
Craig Pollock, que vai gerir o novo time BAR em 99. Isso prejudicou seus
pilotos e o trabalho da escuderia, que praticamente correram à toa neste
campeonato, apenas fazendo figuração. Já a Minardi, vítima da tradicional falta
de recursos, praticamente nada conseguiu mostrar, além de, novamente, dizer que
no próximo ano as coisas serão melhores. Enquanto a Tyrrel fez seu adeus à F-1
com performances pífias, espera-se muito do novo time BAR que irá assumir seu
lugar em 1999. Com relação à Minardi, resta apenas esperar que a escuderia
italiana consiga crescer um pouco...
Este foi um pequeno panorama geral
do que vimos na Fórmula 1 em 1998. Que melhores ventos soprem na categoria em
1999 e nos dêem ainda mais emoção e disputas do que vimos nesta temporada...
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