Com mais uma vitória, Marc Márquez comemora com seu time o hexacampeonato na MotoGP na prova da Tailândia. |
E a disputa pelo
título da MotoGP terminou. Com mais uma vitória, a 9ª na temporada 2019, Marc
Márquez, piloto da equipe oficial da Honda, liquidou a fatura, conquistando o
seu 6º título na classe rainha do motociclismo. Junte-se a isso o título
conquistado na classe 125cc (atual Moto3) em 2010, e mais o título de 2012 da
Moto2, e já são 8 títulos em apenas uma década de competição. Uma marca
impressionante. A conquista foi na etapa da Tailândia, mas a comemoração mesmo
virá na semana que vem, aqui no Japão, onde será disputada a etapa nipônica, na
pista de Motegi, onde no ano passado Márquez havia conquistado o
pentacampeonato mundial, na pista de propriedade da Honda. Este ano, ele já
entrará no circuito de Motegi com seu título de campeão renovado pela sexta
vez. E ainda pode conquistar mais vitórias ainda em 2019. Afinal, temos quatro
provas para encerrar a competição, no Japão, Austrália, Malásia, e o fechamento
em Valência, na Espanha.
Com o triunfo, Márquez
atingiu 325 pontos, 110 a mais que Andrea Dovizioso, da Ducati, o vice-líder,
com 215. Como só restam 100 pontos em jogo, os concorrentes nada mais podem
fazer, além de se resignar, e partir para nova tentativa em 2020. Dovizioso,
aliás, tem tudo para reprisar pelo terceiro ano consecutivo o vice-campeonato,
mas apenas em 2017 o piloto italiano de fato foi um adversário mais difícil
para Marc, quando conseguiu levar a luta pelo título até a última prova da
temporada, onde sofreu a derrota. No ano passado, Márquez foi campeão ainda
restando 3 provas, marca batida este ano. Com 215 pontos, Andrea Dovizioso tem
uma vantagem de 48 pontos sobre Alex Rins, da Suzuki, o 3º colocado, e ainda
pode ser alcançado, embora seja difícil descontar essa diferença. A disputa
pelo terceiro lugar no certame, por outro lado, tem tudo para ser acirrada,
pois vários pilotos estão próximos, e o desempenho deles no ano tem sido bem
inconstante, indo bem em algumas provas, e não tão bem em outras. Aliás, essa
inconstância foi algo que afetou também o mesmo Dovizioso, que não apresentou
uma performance tão boa em algumas corridas, além da Ducati também ter tido um
desempenho com altos e baixos no ano.
Com uma moto que não
pode ser considerada a melhor do grid, mas certamente tem tudo para ser a mais
temperamental, haja visto críticas que são feitas ao equipamento por outros
pilotos da marca, como Cal Crutchlow, Marc Márquez fez toda a diferença com o
seu enorme talento e capacidade de domar a moto nipônica. Basta vez a
performance de seu colega de time, Jorge Lorenzo, no que pode ser considerada a
grande decepção do ano, tendo deixado uma Ducati oficial quando finalmente
estava começando a obter os resultados que esperava, e se imaginava que poderia
formar junto com Márquez o “time dos sonhos” da categoria na escuderia oficial
da Honda. Lorenzo é apenas o 19º colocado na competição, tendo como melhor
resultado um 11º lugar na etapa da França. Um desempenho absurdo tamanha a
discrepância para o novo hexacampeão, que com a mesma moto, venceu 9 provas na
temporada até aqui. Por mais que se possa justificar os problemas de saúde que
Lorenzo enfrentou desde antes da pré-temporada, e os azares durante o ano, nem
em sonho se imaginava um cenário tão desalentador para o tricampeão, que
chegava à escuderia com esperanças de reviver os tempos de glória vividos
quando defendia a Yamaha.
Muitos se perguntavam
se Dani Pedrosa não estava mais tendo o que demonstrar na MotoGP, após ser
literalmente engolido por Márquez desde sua estréia no time da Honda, e tendo
tantos percalços, incluídos problemas de saúde decorrentes de acidentes
sofridos nos últimos anos. Mas Pedrosa ainda conseguia andar próximo de
Márquez, e até ganhar uma ou outra corrida, à exceção de 2018, quando não conseguiu
vencer nenhuma corrida. Mesmo assim, a Honda já tinha se tornado um time de
apenas um piloto, Márquez. A contratação de Jorge Lorenzo visava remediar essa
posição, mas o resultado saiu literalmente pela culatra, e há dúvidas se Jorge
realmente cumprirá seu contrato com o time no próximo ano, como prometeu fazer.
Afinal, muitos começaram a sentir saudades de Pedrosa, e nesta temporada, a
Honda foi mesmo equipe de apenas um piloto. E na prova que Marc conquistou o
hexa, Lorenzo passou longe, finalizando a corrida em 18º. Impossível fazer uma
avaliação decente da temporada do tricampeão.
Para os rivais, ver
Lorenzo praticamente fora de combate com performances tão ridículas era um
bônus inesperado, ou justamente o contrário. Afinal, muitos esperavam uma briga
renhida dentro da Honda, com Márquez e Lorenzo, na pior das hipóteses, se
digladiando em todas as provas, teoricamente roubando pontos um do outro, e que
poderia favorecer os rivais na disputa, aproveitando-se deste duelo
provavelmente fraticida, como já havíamos visto antes em outras disputas de
outros campeonatos do mundo do esporte a motor, e dentro da própria MotoGP. Com
Lorenzo fora do caminho, seria um adversário a menos, mas também tendo um
Márquez reinando absoluto na pista, e infelizmente, foi o que se viu. Em 15
corridas, 9 triunfos, e apenas um abandono, na etapa dos Estados Unidos, em
Austin. No restante, um cenário assombroso: quando não vencia, era no mínimo 2º
colocado, uma constância que os rivais não tiveram durante todo o ano.
Não faltaram
candidatos. A Ducati, como de costume, andou forte na etapa inicial, em Losail,
com Andrea Dovizioso vencendo novamente, e dando mais uma vez a impressão de
que agora a equipe italiana seria mesmo uma rival para a Honda em tempo
integral. Qual nada: a escuderia de Borgo Panigale só foi mostrar um desempenho
novamente à altura em Mugello e Zeltweg, sendo que nas demais provas, apesar de
andar até bem, foi superada com alguma facilidade pelos rivais. E tanto Andrea
Dovizioso como Danilo Petrucci deixaram a desejar em várias corridas, ficando
assim bem para trás na pontuação, e permitindo que Márquez escapasse e abrisse
uma imensa vantagem, impossível de ser descontada. Alex Rins, com a Suzuki, foi
outro que fez uma boa temporada, mas a exemplo da dupla da Ducati, também teve
muitos altos e baixos, conseguindo alguns pódios, mas passando fora dele em
muitas corridas. E quando o principal rival termina todas as corridas no pódio,
não se pode permitir ficar de fora dele, se quiser de fato disputar o título. E
três abandonos não ajudaram também...
Pelo terceiro ano consecutivo, Andrea Dovizioso, com a Ducati, deve ser vice-campeão, sucumbindo novamente no duelo com a "Formiga Atômica". |
Ainda assim, Ducati e
Suzuki tiveram mais a mostrar do que a Yamaha, que só nas últimas corridas vem
começando a mostrar força, e ainda por cima, não exatamente com os pilotos do
time oficial de fábrica. A grande estrela da marca dos três diapasões é o jovem
francês Fabio Quartararo, que vem conseguindo demonstrar performances melhores
até que Maverick Viñales e Valentino Rossi. Viñales ainda conseguiu levar a
Yamaha oficial a uma vitória solitária na Holanda, mas fora isso, o espanhol e
o “Doutor” vem tendo uma temporada mais de baixos do que de altos, ficando
completamente longe da disputa até mesmo pelo vice-campeonato. Maverick, que já
chegou a ser chamado de “cavalo paraguaio” por não ter deslanchado na Yamaha
como fazia na Suzuki, melhorou seu rendimento nas últimas corridas, mas tudo o
que pode almejar é disputar a 3ª colocação final com Alex Rins, piloto de seu
ex-time. E Rossi, com vários azares e problemas, além da falta de rendimento de
sua moto, vem com Quartararo já na sua cola, com o intrépido francês a deixar o
veterano italiano para trás na classificação, mas tudo isso muito, muito longe
de ameaçar a supremacia imposta por Marc Márquez.
Curiosamente, tem sido
uma boa temporada da MotoGP. Certo, Márquez tem sido dominador, mas tivemos
provas com disputas de tirar o fôlego. Em algumas onde acabou derrotado,
Márquez se viu superado na última curva da última volta, depois de duelar por
toda a corrida praticamente. Impossível de não apreciar a intensidade dos
duelos. E foi o que vimos na Tailândia, com Marc e Quartararo praticamente
disputando a ponta por toda a prova, até o então pentacampeão tomar a dianteira
no final da corrida, para levar o triunfo. Em compensação, o espanhol se viu
derrotado em Silverstone e Zeltweg, em disputas praticamente decididas na linha
de chegada, com vários duelos em muitas corridas. Se Márquez não estivesse na
pista, o campeonato seria ainda mais incrível, pela paridade dos resultados dos
demais pilotos. Infelizmente, se há alguém que está desequilibrando a competição
na MotoGP, é Marc Márquez. E isso não é de hoje.
A “Formiga Atômica”, desde
sua estréia na classe rainha, em 2013, surgiu como um verdadeiro rolo
compressor sobre a concorrência, que desde então só teve um único título,
obtido em 2015 por Jorge Lorenzo para o time oficial da Yamaha, que ainda teve
Valentino Rossi como vice-campeão naquele ano, com Marc Márquez terminando a
temporada em 3º lugar, o que não pode ser considerado um ano “ruim”, uma vez
que o espanhol ainda venceu 5 provas naquele ano, e só não reprisou o título
porque ainda era mais adepto do estilo “tudo ou nada”, onde quando não vencia,
geralmente caía com a moto ou se envolvia em alguma confusão, em seu ímpeto
avassalador de vencer a todo custo.
Aliás, foi com esse
ímpeto arrasador que Márquez estreou em 2013, como novo companheiro de Dani
Pedrosa na equipe Honda oficial. E Márquez chegou mais do que chegando: foram 6
vitórias, que garantiram o título logo em sua primeira temporada, ao derrotar
Jorge Lorenzo por poucos pontos (334 a 330). O estilo “tudo ou nada” de Márquez
atingiria seu ápice na temporada seguinte, em 2014, onde a nova sensação da
MotoGP esmagaria a concorrência como jamais se havia visto, conquistando o bicampeonato
com 13 vitórias em 18 corridas, um verdadeiro assombro para todos. E, se não
vencia, o que mais costumava acontecer era Márquez se envolver em algum atrito
ou acidente na pista, dado seu caráter de nunca desistir. Mas uma hora, esse
estilo cobraria seu preço, e veio na temporada de 2015, onde Marc se viu
superado pela dupla da Yamaha, e de tanto tentar vencer, mesmo quando não dava,
abandonou pelo menos seis corridas.
Mas ele então se deu
conta de que não precisava manter essa postura kamikaze. E a partir dali, o que
já era complicado para os rivais ficou ainda mais difícil. Márquez não deixou
de ser rápido como já era, mas agregou à sua pilotagem uma maior visão de
corrida, e passou a ser mais cerebral, calculando melhor suas disputas, e não indo
com sede demais ao pote. Com uma pilotagem ainda arrojada, mas menos agressiva
nas manobras, Marc foi errando cada vez menos, para desespero dos rivais. O
resultado foi a conquista do tricampeonato em 2016, em sua 4ª temporada na
classe rainha. Uma conquista feita com menos vitórias, mas muito mais eficiente
do que as duas primeiras. Segurar a “Formiga Atômica” passaria a ser uma tarefa
cada vez mais inglória desde então. O primeiro a tentar foi Andrea Dovizioso,
em 2017, e o italiano até surpreendeu a todos, não apenas pela grande forma
exibida pela Ducati naquele ano, mas por ele próprio. Andrea acabaria
capitulando apenas na corrida final, ficando com o vice, mas mostrando um novo
Marc Márquez, que continuava a mostrar uma força imensa na luta pelas vitórias,
mas sabendo conservar resultados importantes em outros momentos, quando
arriscar poderia ser demasiado. Assim, o tetracampeonato foi conquistado com 6
vitórias no ano, mesma marca de sua temporada de estréia.
Seis títulos em sete temporadas na MotoGP: o fenômeno Marc Márquez parece quase impossível de ser derrotado. |
Se alguém achou que
isso tornaria Marc menos vencedor, errou feio. No ano passado, o 5º título veio
com impressionantes 9 vitórias. Com uma tocada mais precisa, e sem deixar de
ser arrojado ao extremo, Márquez se tornava cada vez mais eficiente no duelo
com os rivais na pista. Qualquer brecha exposta era um ponto fraco mortal numa
disputa com o piloto da Honda. E ele continua demonstrando essa nova postura
com cada vez mais eficiência, como visto este ano, tendo apenas um abandono, e
por erro próprio, como ele mesmo admitiu, e terminando todas as demais corridas
em 1º ou 2º. Passar a admitir seus próprios erros na pista foi outro ponto
crucial para evoluir sua performance ainda mais, um ponto que seus rivais até
souberam explorar nas primeiras temporadas do piloto, mas não mais.
E, claro, Márquez
também contou com uma grande sorte em alguns momentos. E vimos isso na
Tailândia, onde o piloto sofreu dois acidentes pavorosos, sendo que em um deles
sua moto ficou completamente destruída. Mas Marc escapou praticamente ileso
destes acidentes, dada a violência das pancadas, e até de ter ficado sem
respiração durante alguns segundos. Poderia ter sofrido ferimentos
consideráveis. Mesmo assim, mostrou também uma determinação e coragem ímpares,
para alinhar no grid, mesmo depois destes dois acidentes, e duelar como sempre
fazia, e averbar mais uma vitória. Um feito para poucos.
Com a perspectiva de
renovar com a Honda para até o fim da temporada de 2023, todos já se perguntam
se Márquez irá superar a marca de oito títulos de Giácomo Agostini, o maior
campeão da classe rainha do motociclismo até hoje, da mesma maneira como
apostam que Lewis Hamilton poderá superar os 7 títulos de Michael Schumacher na
F-1. E as chances disso acontecer são bem grandes. Estamos presenciando um mito
do esporte, da mesma maneira como vimos as conquistas de Valentino Rossi nas
duas rodas, ou de Michael Schumacher na F-1. Um momento privilegiado, e que
ainda pode durar por um bom tempo, rumo a novas marcas e recordes.
Felicidade para os
amantes do esporte a motor... Azar dos adversários na pista...
A F-1 disputa neste final de
semana o Grande Prêmio do Japão, e a expectativa aqui em Suzuka é de como
veremos a Ferrari na pista, depois do que ocorreu na Rússia. Lewis Hamilton já
adianta que os carros vermelhos deverão continuar sendo os mais rápidos na
pista, jogando o favoritismo nas costas de Sebastian Vettel e Charles LeClerc.
Vai ser interessante de ver como o time vermelho irá gerenciar a postura de sua
dupla, que segundo alguns, já não estaria mais se dando bem, e até nem
conversando mais dentro do time. Se a Ferrari deixar sua postura cretina de
lado, que deixe seus pilotos se entenderem na pista, e sem conchavos ou
acordos. Fica ridículo um piloto “pedir” posição para o time, como se este
tivesse que deixar seu competidor fazer tal solicitação. Ora bolas, que vá para
cima, e trate de passar. O título da temporada já é de Lewis Hamilton,
praticamente. Que Vettel e LeClerc se entendam na pista de Suzuka, sozinhos, ou
será que delegaram ao time a capacidade de pilotarem seus carros? O que se preocupa
por aqui, realmente, é a chegada do tufão Hagibis, que pode complicar a
situação, dependendo de como vier a tormenta. Por precaução, a FIA cancelou os
treinos deste sábado, quando o tufão deverá chegar a esta região, ao lado de
Nagoya. Para o domingo, tudo já deverá estar bem, e teremos o treino de
classificação às 10 horas locais, para definir o grid para a corrida, quatro
horas depois. Já tivemos situações assim antes, com outros tufões interrompendo
treinos e até colocando a corrida em questão em anos anteriores. O melhor é
torcer para tudo dar certo, e nada de ruim ocorrer, não apenas em relação ao
GP, mas a todo o Japão, onde estes fenômenos podem causar muitos estragos.
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