Olá a todos. Hoje trago mais uma de
minhas antigas colunas, publicada no dia 20 de novembro de 1998, fazendo um
apanhado do que foi a temporada de nossos pilotos na temporada daquele ano da
F-CART, a F-Indy original. Muitas expectativas que acabaram não se confirmando,
apesar de grande número de representantes nacionais na competição. Os maus
resultados, mais a briga interna na TVS/SBT, ajudaram a fazer decair
enormemente a qualidade da transmissão das corridas, que chegariam ao ponto
mais baixo na emissora de Silvio Santos no ano seguinte. Mesmo assim, o panorama
para a torcida de nossos representantes naquele ano ainda era melhor do que o
que tivemos este ano na Indycar, sucessora da antiga Indy. Curiosamente, o
único que teve uma temporada satisfatória naquele ano foi justamente Tony
Kanaan, que agora em 2019 padeceu no inferno da pouca competitividade de seu
time. O tempo voa mesmo: naquele ano Tony era estreante na competição da
F-CART, e este ano foi praticamente o decano da competição. Uma boa leitura a
todos, e em breve trago mais textos antigos...
O QUE DEU ERRADO?
Pela
primeira vez desde 1984, ano em que Émerson Fittipaldi estreou na categoria,
tivemos um ano sem nenhuma vitória brasileira no campeonato da F-CART. Sem
dúvida alguma, foi o pior desempenho dos últimos tempos dos pilotos brasileiros
na categoria americana. Em termos de pilotos, tivemos quantidade e qualidade.
Só que, por motivos diversos, todos eles tiveram um ano de perfeito calvário no
campeonato, com exceção de Tony Kanaan.
Não
que o piloto baiano não tenha enfrentado problemas em seu ano de estréia na
F-CART, depois de brilhar na conquista do título da Indy Lights. Só que Tony
enfrentou os problemas normais de todos os estreantes no certame. Apesar de
tudo, saiu-se bem, conquistando o título de “novato do ano” com todos os méritos.
E isso apesar dos problemas da equipe Tasman, que perdeu boa parte da estrutura
de 97 e também o engenheiro Dan Halliday, que foi para a equipe Green cuidar do
carro de Dario Franchiti. O resultado da competência de Halliday pode ser
comprovado nas vitórias conquistadas pelo escocês na segunda metade da
temporada. Tony também enfrentou problemas com a falta de testes da escuderia.
Steve Horne, numa atitude elogiável, recusou-se a manter o patrocínio da
Marlboro, dando um exemplo de que se pode fazer automobilismo sem contar com o
dinheiro da indústria tabagista. Só que Horne pecou em não garantir de maneira
eficiente a falta do patrocínio da Phillip Morris, o que limitou as verbas
disponíveis, o que se traduziu na quantidade reduzida de testes para poupar
recursos. Mas Kanaan superou tudo isso, e com a premissa da Tasman se reerguer
em 99, nosso baiano voador com certeza terá condições de brilhar muito mais na
categoria do que neste ano.
Já
Gil de Ferran teve um ano apático. Vice-campeão em 97, superando as limitações
dos pneus Goodyear, este ano os problemas de Gil foram muito além dos pneus da
fábrica americana, que levaram uma surra ainda maior da Firestone. A equipe
Walker marcou bobeira em diversas etapas, não foi eficiente na preparação do
carro (que sofreu com a falta de fiabilidade em diversas corridas,
especialmente no motor Honda), e para complicar, o brasileiro ainda acabou se
envolvendo em alguns acidentes, que minaram suas esperanças no campeonato. E
para se ter uma idéia de como a temporada de Gil foi fraca, se em 97 ele foi um
dos pilotos mais regulares no pódio, este ano só conseguiu subir neles em duas
etapas, Motegi e Detroit. O resto do ano foi muito ruim. Gil ainda pilota com a
mesma garra de sempre, mas até o talento nada pode fazer quando o carro piora
muito. Para o próximo ano a equipe Walker terá dois pilotos, e quem sabe,
melhor estrutura, para que Gil lute novamente pelo título.
Pelo
terceiro ano consecutivo, Christian Fittipaldi foi vítima de constantes azares
na equipe Newmann-Hass, enquanto seu companheiro Michael Andretti consegue
vencer corridas e até disputar o título. O azar foi tanto que, a certa altura
do campeonato, o lugar do jovem Fittipaldi na equipe esteve em perigo, podendo
ter de procurar emprego para 1999. O pior azar do sobrinho de Émerson este ano
foram os pilotos canadenses. Em cerca de 4 ocasiões Christian perdeu a chance
de bons resultados por causa da imprudência deles. Em Long Beach e Detroit
foi Paul Tracy a se enroscar com o brasileiro na pista; já em Portland e
Houston, o enguiço foi com Greg Moore, que todo afobado, acertou o carro de
Fittipaldi e tirá-lo das corridas onde tinha tudo para lutar pelas primeiras
posições. Mas, além disso, houve uma série de outros problemas que complicaram
o resto da temporada, como a violenta batida em Milwaukee nos treinos, partindo
o carro ao meio e o tirando da corrida para observação médica. O fato da
Newmann-Hass competir com os pneus da Goodyear foi outro revés, apesar de
Michael Andretti ter conseguido vencer a corrida inaugural em Homestead.
Agora,
quem levou um sério tombo este ano foram Mauricio Gugelmim e André Ribeiro.
Gugelmim, correndo pela PacWest, o time que terminou 1997 como mais uma equipe
de ponta na categoria, passou 98 praticamente em branco. A escuderia,
numa opção conservadora, temendo pela confiabilidade dos novos motores e
chassis 98, correu as primeiras provas com os carros do ano passado, que haviam
terminado o ano apresentando excelente desempenho. Mas a medida se mostrou
totalmente equivocada, pois os times que usaram os novos equipamentos
apresentaram uma performance muito melhor, e quando passaram a utilizar o
equipamento novo, já tinham ficado para trás em relação aos outros times, e não
teve como recuperar o tempo perdido no desenvolvimento do carro, que ainda
ficou prejudicado pela tentativa, que foi malsucedida, do time em fabricar
amortecedores próprios para seus carros. Quando retornaram aos amortecedores
convencionais, o atraso já era grande, e a temporada estava praticamente
perdida, e ainda era preciso reencontrar os ajustes dos equipamentos. Para
1999, a ordem é voltar ao básico, e não tentar nenhuma aventura “técnica”, e
tentar reencontrar o caminho das vitórias.
Já
André Ribeiro recebeu um verdadeiro “presente de grego”. Contratado pela
Penske, o maior time da categoria, André confiava em finalmente disputar o
título da F-CART, mas para complicar a situação, o time resolveu inovar muito
no seu chassi 98, incluindo até o bico “tubarão” já em moda na F-1. O resultado
foi catastrófico para uma equipe do porte da Penske: Al Unser Jr. só conseguiu
um ou outro bom resultado, enquanto André padeceu o ano inteiro com a falta de
fiabilidade do carro, que quebrava adoidado em todas as corridas. Nem Al Jr.
escapou ileso, também abandonando em várias etapas. A situação ficou complicada
para a Penske, a ponto de se colocar até André Ribeiro em dúvida como piloto,
segundo a imprensa especializada, de tão ruim que eram seus resultados. André,
entretanto, sempre teve a confiança de Roger Penske. Para o ano que vem, a
maior escuderia da categoria é um enorme ponto de interrogação. Único time da
F-CART a construir seus próprios carros, a Penske ainda não sabe o que irá
fazer em 99, se continuará construindo um novo carro, ou se irá adotar chassis
prontos, como fazem todos os demais times. Mas pior do que está não pode
ficar...
Hélio
Castro Neves, nosso outro estreante na categoria, fez uma temporada razoável,
tendo em conta a falta de estrutura e recursos da equipe Bettenhausen. A falta
de testes foi o fator decisivo para a limitação de performance em diversas
etapas. Mas, comparada com 97, a Bettenhausen até que manteve-se estável, sendo
que Helinho poderia ter brilhado até mais, não fossem alguns erros grosseiros em Long Beach e Vancouver.
A dúvida agora é o que esperar de 99, uma vez que Helinho ainda tem contrato
com Gary Bettenhausen, e o principal patrocinador do time, a Alumax, não
renovou para o próximo ano, o que reduz sobremaneira as finanças do time.
Nossos
outros representantes na categoria, Roberto Moreno e Guálter Salles, não
passaram de pilotos-tampão, substituindo pilotos titulares. Guálter ainda
conseguiu mostrar um pouco de suas capacidades em algumas provas na equipe
Payton/Coyne, especialmente em
Long Beach, onde assombrou a concorrência na classificação.
Mas, sem patrocínio, ficou sem maiores possibilidades de mostrar do que é
capaz. Moreno, por sua vez, não teve chance de mostrar praticamente nada.
Foi
um ano apático e de poucos resultados. Em 99, é de se esperar que tenhamos
melhor sorte. Gil, Mauricio, Christian, Tony, Helinho, e André, são nomes
garantidos e a eles deve se juntar Cristiano da Matta, campeão da Indy Lights
este ano. Guálter Salles ainda tenta a sorte de achar um lugar. Já Moreno
seguirá sua sina: poderá ser, novamente, um piloto-tampão. Mas a maior
esperança é de que consigamos finalmente disputar e ganhar o título da F-CART.
Sonhar é preciso...
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