Hoje começo
uma série de textos falando a respeito dos circuitos já utilizados pela Fórmula
1 desde o início de suas competições, em 1950. Algumas pistas se tornaram
antológicas e clássicas, garantindo lugar no coração dos fãs da velocidade,
como Silverstone ou Monza. Já outras são praticamente esquecíveis, por nunca
proporcionarem boas corridas, ou simplesmente terem se tornado uma exibição do
poder econômico de alguns lugares que, ao contrário de antigamente, quando se
disputava o privilégio de sediar uma corrida pela paixão do público local pelas
corridas, apenas se exibem para o mundo, sem ter tradição alguma no mundo das
corridas, ou possuir um público apaixonado que justifique a existência de tal
prova.
Mas cada
circuito, com raras exceções, passou por mudanças e evoluções ao longo do
tempo, algumas delas imperceptíveis, e até desconhecidas para o público, ou que
ficaram esquecidas na memória dos torcedores, enquanto outras acabaram por mudar
a face de tais pistas, na maioria dos casos, para pior, como Hockenhein.
Esta série
de matérias que começo a publicar hoje pretende mostrar um pouco das histórias
destas pistas, e contar um pouco sobre as mudanças pelas quais elas passaram ao
longo dos anos, além de alguns outros detalhes. E há também algumas pistas que
o público atual nem faz idéia de que já fizeram parte do campeonato mundial de
F-1, como Avus, na Alemanha, ou Riverside, nos Estados Unidos. Alguns circuitos
até já não existem mais nos dias de hoje, enquanto outras pistas passaram a
sediar corridas de outros campeonatos, desistindo da F-1, e até não sentindo
saudade alguma da categoria máxima do automobilismo.
Várias
pistas, infelizmente, hoje nunca teriam chance de sediar um GP de F-1. A
opulência que a categoria passou a exigir dos autódromos chegou às raias do
absurdo, para não falar que, em tempos recentes, ainda na administração de
Bernie Ecclestone à frente da FOM, passaram a exigir taxas que foram ficando
cada vez mais altas, impossíveis de serem pagas e ainda conseguir obter lucro
com a corrida, dificuldades que só foram se avolumando para cima dos
administradores das corridas, uma vez que as melhores opções de faturamento,
como a venda dos espaços publicitários, passou a ser feita exclusivamente pela
FOM, tirando dos promotores de GPs outra fonte potencial de renda, que ficou
limitada quase que exclusivamente ao arrecadado com os ingressos vendidos ao
público. Um panorama que, agora sob administração do Liberty Media, ainda não
mudou como muitos gostariam.
Então,
vamos começar o nosso giro pelos circuitos do mundo da F-1. Uma boa leitura a
todos, e espero que gostem dos textos...
SILVERSTONE
Principal
autódromo da Grã-Bretanha, a pista de Silverstone está localizada na região das
East Midlands, na Inglaterra. O terreno do circuito está situado entre duas
pequenas vilas: Silverstone, que lhe dá o nome da pista, e Whittlebury.
Distante cerca de 100 Km ao norte de Londres, Silverstone serviu como pista de
pouso para a Real Força Aérea Britânica durante o período da Segunda Guerra
Mundial. Próximo ao autódromo, a 15 Km, está Brackley, onde a Mercedes tem a
fábrica de sua equipe de F-1. E temos também Milton Keynes, onde a Red Bull
também tem sua sede, a cerca de 25 Km. E não podemos nos esquecer que, bem ao
lado do circuito, apenas atravessando a pista, temos também a sede da Force
India, que ali começou em 1991, quando ainda era a equipe de Eddie Jordan,
estreando na F-1.
Com o fim
da guerra, o local passou a ter outras utilidades, e em 1948, foi inaugurado o
circuito, com as primeiras corridas de carros acontecendo ali, em um traçado
montado utilizando-se as antigas pistas de decolagem e aterrissagem dos aviões.
Em 1950, o circuito seria um dos que sediariam provas do primeiro campeonato
mundial de Fórmula 1, que estava sendo lançado. Na verdade, Silverstone deu a
largada para a Fórmula 1, sediando a primeira corrida oficial da história da
competição, que teve o italiano Giuseppe “Nino” Farina como primeiro
pole-position e também como primeiro vencedor de um GP de F-1, defendendo a
equipe Alfa Romeo.
De lá para
cá, Silverstone já foi palco de 52 GPs de F-1, tendo como maiores vencedores o
francês Alain Prost, e o inglês Lewis Hamilton, cada um com 5 vitórias. Mas, de
sua primeira corrida, até a última, a pista de Silverstone passou por nada
menos do que 12 mudanças, algumas mais conhecidas, outras nem tanto. Vamos a
elas:
1ª Configuração: Com uma extensão de 4,649 Km, a primeira
corrida de F-1 foi disputada em 70 voltas, com 22 carros, sendo que apenas a
metade recebeu a bandeirada. A pista tinha 8 curvas, e um detalhe interessante:
a reta de largada e área de pits ficava entre as curvas Abbey e Woodcote. Esta
configuração foi utilizada por apenas dois anos, em 1950 e 1951, tendo como
recorde oficial a marca de 1min44s, de Giuseppe “Nino” Farina, em 1951, com uma
velocidade média de 169,927 km/h.
2ª Configuração: A nova configuração de Silverstone,
utilizada a partir de 1952, foi a mais utilizada pela F-1, com 12 GPs
disputados ali. A reta de largada, bem como a área dos boxes, foi mudada para o
trecho entre a Woodcote e a Copse, onde estão até hoje, embora não sejam mais
utilizados para a F-1 atualmente. A extensão do circuito passou a ser de 4,711
Km, e a corrida de 1952 foi disputada em 85 voltas. A curva Abbey foi recuada,
eliminando a chicane que fazia para se entrar na antiga reta dos boxes,
aumentando sua extensão em alguns metros, e passando a se chamar de Farm
Straight. Esta configuração foi utilizada de 1952 até 1973, tendo como volta
mais rápida a marca de 1min18s6, de James Hunt, obtida em 1973, com March. A
corrida, então, já era disputada em um número variável de voltas. Foi de 67
voltas em 1973, 76 em 1972, 68 em 1971, e 80 em 1970, por exemplo.
3ª Configuração: Utilizada de 1975 a 1985, sediando 6
provas, a nova configuração deixou o circuito com uma extensão de 4,719 Km,
tendo como principal mudança a nova curva Woodcote, tendo sido puxada para
dentro, de forma a reduzir a velocidade dos carros para entrada na reta dos
boxes. Alain Prost, com McLaren, em 1985, foi o recordista desta configuração,
com 1min09s886.
4ª Configuração: A nova configuração de Silverstone deixou a
pista com 4,778 Km de extensão, com modificação na curva Woodcote, e a
introdução da curva Luffield, antes da reta dos boxes. Sediou apenas as provas
de 1987 e 1988, com a melhor volta sendo anotada por Nigel Mansell, com
Williams em 1987, com a marca de 1min09s832.
5ª Configuração: A configuração seguinte da pista a deixou
com 4,780 Km de extensão, com pequenas alterações, praticamente imperceptíveis
a olho nu. Foi sede das etapas de 1989 e 1990. A melhor volta anotada foi de
Nigel Mansell, com Ferrari, em 1990, com 1min11s291.
6ª Configuração: A nova configuração adotada a partir de
1991 reduziu a velocidade do circuito de Silverstone, procurando deixa-lo mais
seguro para a competição. A extensão passou a ser de 5,226 Km, com a inversão
do sentido da curva Becketts, a introdução de mudanças na curva Club, e o novo
trecho com as curvas Bridge, Priory e o novo traçado da Luffield. Damon Hill,
com a Williams, em 1993, detém a volta mais rápida nesta configuração, com a
marca de 1min22s515.
7ª Configuração: Em 1994, em virtude do trágico GP de San
Marino, onde morreram Ayrton Senna e Roland Ratzemberger, a FIA passou a exigir
mudanças a rodo nos circuitos, procurando torna-los mais seguros a toque de
caixa. Silverstone também passou por alterações, deixando a curva Copse mais
fechada, assim como na Stowe, na Abbey e na Priory, visando diminuir a
velocidade ainda mais nos trechos. A extensão do circuito ficou em 5,057 Km,
tendo sido utilizada em 1994 e 1995, com recorde oficial da volta pertencente a
Damon Hill, com Williams, em 1994, com a marca de 1min27s100. A velocidade
média caiu quase 20 Km/h em relação à configuração anterior, de 228 para 209,
nesta marca recorde da volta.
8ª Configuração: Utilizada apenas em 1996, esta configuração
se caracterizou por pequenas mudanças na curva Stowe, deixando o circuito com
5,072 Km de extensão. A média de velocidade da melhor marca, obtida naquele ano
por Jacques Villeneuve, da Williams, caiu para 204,498 Km/h, com 1min29s288.
9ª Configuração: Entre 1997 e 1999, o circuito passou novamente
por pequenas mudanças, com alterações nos trechos da Priory e Luffield, além de
alterações na Copse. A extensão da pista aumentou para 5,140 km, e a média
horária da melhor volta oficial voltou a subir, para 219,047 Km/h, obtida por
Michael Schumacher, com Ferrari, com 1min24s475.
10ª Configuração: Depois de tantas mudanças em poucos anos,
a configuração seguinte assentou um pouco a poeira em Silverstone, sendo
utilizada de 2000 a 2009, sediando 10 corridas. Foram alterações praticamente
imperceptíveis a olho nu, tanto que a extensão da pista cresceu apenas 1 metro,
passando para 5,141 km. A melhor marca continuou sendo de Michael Schumacher,
com a Ferrari, obtida em 2004, com nova elevação da performance dos carros,
cuja média horária do novo recorde passou para 235,05 km/h, com 1min18s739.
11ª Configuração: Novas mudanças ocorreram no circuito,
agora provocadas pela FOM, que exigia melhores estruturas de boxes e paddock,
similares às dos megacircuitos que passavam a inundar a F-1, e cujos
promotores, geralmente países, pagavam rios de dinheiro a Bernie Ecclestone,
que começou a ameaçar Silverstone de ser retirado do calendário, se não
melhorassem a infraestrutura da pista. Ecclestone tinha planos de levar o GP
para Donnington Park, mas o dirigente caiu do cavalo porque a outra pista não
conseguiu os fundos necessários para as mudanças faraônicas que ele exigia, e
queria ter coo trunfo para pressionar Silverstone, que conseguiu então manter o
GP, e reformar a pista em suas condições, pelo menos o suficiente para
Ecclestone dar o braço a torcer e voltar atrás na manutenção do GP britânico no circuito. O
resultado foi a supressão da Farm Straight, e a criação de um novo trecho,
reaproveitando outros trechos de pista dentro da área interna, após a curva
Abbey, com a criação da nova Wellington Straight, desembocando na curva
Brooklands, o que elevou a extensão da pista para 5,891 Km, além da criação de
um novo paddock e boxes entre as curvas Club e Abbey. O novo recorde oficial do
circuito passou a ser de 1min30s874, obtido em 2010, por Fernando Alonso, com
Ferrari.
12ª Configuração: É a configuração atual, utilizada pela F-1
desde 2011, com a nova área de Paddock e boxes já plenamente instalada.
Atualmente, a volta mais rápida é de Lewis Hamilton, obtida em 2017 com
Mercedes, com 1min30s621, na média horária de 234,025 km/h.
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