Em sua 5ª temporada, a Formula-E adota os novos carros Gen2, com um visual completamente diferente e prometendo muito mais velocidade e desempenho. |
O campeonato de carros
monopostos totalmente elétricos está pronto para acelerar novamente, agora em
sua 5ª temporada. E maior e mais forte do que nunca, chegando até mesmo a
superar a F-1 em alguns parâmetros. Nada que vá ameaçar o status quo da
categoria máxima do automobilismo, claro, mas é inegável o avanço que a
Formula-E vem apresentando ano após ano, depois de disputar sua primeira
corrida em setembro de 2014, nas ruas de Pequim, tendo com primeiro vencedor o
brasileiro Lucas Di Grassi, e Nelsinho Piquet como primeiro campeão.
O futuro da indústria
automobilística é a eletrificação, e a Europa caminha a passos largos para
banir os carros movidos a combustão em um futuro próximo, visando diminuir a poluição
causada pelos veículos depois de mais de um século de emissão de gases que
contribuem para o efeito estufa que pode ter sérias consequências para o clima
de nosso mundo, e até comprometer a sobrevivência da humanidade. E a F-E tem
sido uma excelente oportunidade para se desenvolver a tecnologia dos carros
movidos puramente a eletricidade.
Ainda há muitos
desafios nessa área a serem vencidos. E um deles é com relação à durabilidade e
autonomia dos veículos, ainda aquém dos carros a combustão. Mas estão sendo
feitos grandes progressos, e o potencial de desenvolvimento desta tecnologia
ainda está apenas no começo. Outro problema, bem mais sério, ainda é lidar com
os problemas ambientais, e suas consequências. Afinal, produzir tanta
eletricidade não é tão fácil assim. Usinas termelétricas são muito poluidoras,
e as usinas atômicas, apesar de tudo, sempre dão um frisson quando o assunto é
segurança, e o destino dos rejeitos radioativos. Felizmente, a geração de
energia eólica e fotovoltaica caminha a passos largos. Ainda não conseguem
produzir toda a energia que nossa civilização consome, mas é o caminho mais
viável e ecologicamente seguro para se tornar o mundo autossuficiente na
produção de eletricidade.
Mas não é o único
problema: há outro muito complicado, que é o que fazer com as baterias depois
que sua vida útil termina. Seus compostos, se não manuseados adequadamente,
podem causar uma poluição tão ou até pior do que a dos combustíveis fósseis, e
isso precisa ser enfrentado e resolvido. O consolo é que o domínio sobre este
tipo de poluição é teoricamente maior do que o da poluição dos derivados de
petróleo, uma vez que os gases derivados da queima de combustíveis precisam ser
contrabalançados com mais florestas e plantas verdes nas cidades e outros lugares,
uma equação difícil de se controlar. Caberá ao homem manter sob controle a
reciclagem das baterias e seus componentes, desenvolvendo tecnologia que
permita seu manuseio sem comprometer o meio ambiente. Ainda há muito o que se
fazer nesta área. E o homem não poderá ser complacente neste quesito.
A BMW chegou para fazer companhia à sua compatriota Audi, e Mercedes e Porsche já estão a caminho para a próxima temporada. |
A F-E é apenas uma das
ferramentas para se desenvolver a tecnologia mais eficiente na motorização
veicular movida a eletricidade. Sozinha não vai revolucionar o mundo. Mas está
se mostrando um campeonato onde as grandes fábricas, ávidas por atuarem na
vanguarda tecnológica que se tornou o desafio dos carros elétricos, querem
marcar presença para não ficarem para trás em relação às outras. Não é pelo
desejo de construir um bom campeonato de corridas, mas dos lucros que ganharão
na disputa para produzirem a melhor tecnologia.
Os nomes são de gente
de peso. A alemã Audi terá agora a companhia de sua rival BMW, e para o próximo
ano, Mercedes e Porsche engrossarão o número de fábricas alemãs na disputa. O
Grupo Renault preferiu concentrar a marca francesa na F-1, e em seu lugar
entrou a Nissan, marca pertencente ao conglomerado, como nova parceira da
e.dams. Acho interessante, afinal, os japoneses sempre andam na vanguarda
tecnológica em muitos setores... Por que não nos carros elétricos? Isso não
quer dizer que os franceses ficarão órfãos na competição, afinal, ainda temos a
DS, leia-se Citroen, firme na competição, agora com um novo time, a Techeetah,
enquanto a Virgin optou pelo powertrain da Audi. A Jaguar é outro nome que
espera crescer ainda mais em sua terceira temporada. E, dos Estados Unidos,
embora com resultados ainda modestos na competição, temos o Grupo Penske, um
dos maiores conglomerados ligados à indústria automotiva norte-americana.
Some-se a eles os
pequenos, mas firmes fabricantes de carros elétricos que lutam por seu lugar ao
sol no enorme mercado em ascenção, como a Mahindra (Índia), Venturi (Mônaco), e
Nio (China), e temos um rol de
participantes de fazer inveja à F-1, onde temos apenas Mercedes, Ferrari,
Renault e Honda, como nomes da indústria automotiva participando da competição.
E todo mundo não veio para fazer número, mas para vencer os demais. Ninguém
quer marcar bobeira nesta competição movida a eletricidade.
Uma disputa que ganha
novos parâmetros nesta 5ª temporada, com a introdução de um novo bólido, muito
mais avançado, que exigiu novas gerações de trens de força de seus
participantes, muito mais evoluídos e eficientes do que os anteriores. E novas
baterias, muito maiores e melhores, que permitirão aos pilotos fazer a corrida
inteira sem precisar das trocas de carro que se tornaram uma das marcas
características da F-E nestes primeiros quatro campeonatos disputados. Confesso
que vou sentir falta destes momentos, pois era um procedimento onde times e
pilotos podiam ganhar ou perder posições dependendo de sua eficiência e de seu
piloto. E não acho que a substituição pelo tal “Modo de Ataque” que está sendo
introduzido compense tanto. Talvez eu mude de idéia depois de vê-lo em ação,
quem sabe... Mas em um primeiro momento, não fico entusiasmado com sua
implantação, e alguns pilotos, entre eles Nelsinho Piquet, também não acha isso
algo interessante.
Os circuitos de rua continuam firmes na categoria, mesmo com a adoção dos novos monopostos. |
Os novos carros
possuem um visual arrojado, e um difusor que chama muito a atenção, com o objetivo
de gerar downforce sem criar turbulência aerodinâmica que comprometa o
equilíbrio do carro que vem atrás. Isso pode ser notado também nas minúsculas
asas sobre os pneus, dando a impressão até de que os novos bólidos praticamente
não tem asa traseira. E, diferentemente da F-1, o halo acabou se harmonizando
muito mais ao conjunto do carro, sem parecer algo enfiado à força e com pouco
estudo sobre sua necessidade e utilidade. Espera-se que os novos carros possam
andar mais juntos uns dos outros que o modelo anterior, ajudando nas disputas
na pista.
A maior potência das
baterias, que agora pesam cerca de 385kg, do peso total de 900 Kg do novo
bólido Gen2 – piloto incluso), permitem alcançar a marca de 250 Kw de energia,
cerca de 50 Kw a mais que o proporcionado pelas antigas baterias. E esse
incremento de potência, aliado à nova aerodinâmica dos monopostos, permitirá
que os carros atinjam até 280Km/h de velocidade máxima, ante os 225 Km/h
alcançados pela primeira geração de bólidos elétricos. Quem reclamava que os
carros da F-E eram “tartarugas” deverá rever seus conceitos. Esse aumento de
velocidade, contudo, pode dificultar um pouco o desenvolvimento das disputas
durante as corridas, uma vez que os circuitos permanecem os mesmos, e em alguns
casos, são bem curtos. Os tempos de volta devem cair bastante, e com a maior
velocidade que os pilotos poderão alcançar, os trechos de reta serão vencidos
em menos tempo, o que pode resultar em um intervalo potencial para
ultrapassagens muito menor. E, sem as trocas de carros, todas as posições
precisarão ser ganhas na pista, em disputa direta. Não que isso seja ruim, mas
perde-se uma opção que os pilotos tinham para tentar avançar na corrida. E em
alguns circuitos onde o traçado é estreito, isso pode resultar em corridas
menos disputadas, devido às dificuldades inerentes ao circuito. Por outro lado,
os pilotos também terão de ser menos “passivos”, e partir para o ataque desde já,
pressionando o adversário na luta por posição e força-lo a cometer um erro que
permita assumir sua posição e ganhar a ultrapassagem. E é disputa na pista que
os fãs querem ver, acima de tudo, e não procissões insossas. Os sistemas de
recuperação de energia ficaram mais eficientes, de modo a recuperar mais Kw do
que anteriormente nas freadas das chicanes. A capacidade de recuperação sofreu
um incremento considerável sobre os sistemas anteriores.
Há outro detalhe que
os pilotos precisarão tomar cuidado, agora mais do que nunca: antes, cada
piloto tinha dois carros à disposição. Como as baterias não possuíam carga
suficiente para durar toda a prova, era necessário trocar de carro durante a
corrida. Como isso agora não é mais necessário, cada piloto terá apenas um
carro à sua disposição. E, por isso mesmo, erros deverão ser evitados a todo
custo. Se um piloto errar no treino livre e bater o carro, pode danificá-lo de
modo que não tenha como participar do segundo treino livre, ou até pior, não
ter como disputar o treino de classificação. Ou, em um caso mais extremo, pode
até nem conseguir participar da corrida propriamente. Afinal, para conter
custos, tudo continua sendo realizado em um único dia, o sábado. Na parte da
manhã são feitos os dois treinos livres, e logo após o almoço, o treino de
classificação. E, para o fim da tarde, é realizada a corrida.
A Renault deu lugar à Nissan na equipe e.dams, que quer voltar à luta pelo título. |
Com dois carros à
disposição, em caso de algum erro ou azar, que resultasse em danos ao carro, o
piloto podia continuar com suas atividades no segundo carro, enquanto o time
concentrava seus esforços no reparo do carro acidentado. Agora, se o piloto der
azar, ele poderá ficar até sem carro para a corrida. Prudência e cautela serão
mais necessários do que nunca aos competidores, que certamente não vão querer
ficar de fora da corrida. O problema é que às vezes, não há muito o que fazer
em relação a algum percalço que ocorra na pista. Nem toda rodada, batida ou
toque é culpa do piloto em si, muitas vezes decorrendo do andamento da prova e
dos acontecimentos do momento. Manter apenas um carro por piloto é uma boa
economia de recursos, mas também pode ser um tiro pela culatra. Dependendo do
tipo de dano que o bólido venha a sofrer, ou enguiço que o equipamento
apresentar por causas variadas, pode não haver tempo hábil para seu conserto ou
correção do problema.
As corridas
infelizmente ficarão mais curtas nesta nova temporada. Todas terão a duração de
45 minutos, mais uma volta. Saber gerenciar a energia da bateria continuará a
ser um desafio para os pilotos, afinal, terão de economizar para não ficarem
pela pista, evitando sofrer uma “pane seca elétrica”, sem deixarem de ser
rápidos e disputarem posições. E ainda tem outro fator complicador: os pneus.
Antes, com a troca de carros, os pilotos praticamente não precisavam se
preocupar tanto com a conservação de seus compostos. Agora isso mudou: os
pneus, que continuam sendo fornecidos pela Michelin, terão de ser conservados
até a bandeirada. Parar nos boxes em caso de necessidade jogará o piloto lá
para trás, arruinando suas chances e expectativas de um bom resultado.
Portanto, cada piloto também precisará refinar sua pilotagem, de modo a ser
rápido sem desgastar os pneus prematuramente, o que poderá comprometer a
performance na parte final da corrida.
O desafio de
economizar também se estende ao “Modo de Ataque” e ao “fanboost”. Tanto um recurso
quanto o outro permitem ao piloto usar um incremento de energia, durante um
período a ser determinado pela direção de prova ou pelo piloto, dependendo das
circunstâncias. Mas isso também significa um consumo mais alto de energia, que
pode comprometer a autonomia da carga, que precisa durar toda a prova. Tudo
precisará ser calculado pelo piloto, sobre a melhor maneira e o melhor momento
de se poder usar tais ferramentas, e ver se o custo-benefício de sua utilização
compensará.
O campeonato, que
começa neste sábado, irá até o mês de julho do ano que vem. Mais uma vez, Nova
Iorque fechará a disputa com a única rodada dupla da competição, no circuito
montado no bairro do Brooklin. As novidades do calendário nesta nova temporada
ficam pela entrada da Arábia Saudita, onde será realizada a corrida de estréia,
e os novos circuitos das etapas da Suíça e Chile, e da China. No caso do país
sul-americano, Santiago continua como palco da corrida, mas utilizará um outro
traçado, em outra parte da cidade, em substituição ao utilizado na primeira
corrida. Na Suíça, a prova não será mais realizada em Zurique, mas em Berna, em
um traçado que ainda está sendo elaborado. E a cidade de Sanya na China também
sediará uma etapa do calendário, logo após a disputa da corrida de Hong Kong.
Marrakesh, Cidade do México, Roma, Paris e Berlim mantêm os circuitos das
últimas corridas. Mônaco volta ao calendário, com a prova ainda sendo disputada
no circuito menor, junto ao porto e à marina. Especulou-se de se poder utilizar
o circuito integral usado na F-1, devido aos novos bólidos da competição, mas
infelizmente as negociações não foram em frente.
Lucas Di Grassi e
Nelsinho Piquet continuam firmes em seus respectivos times, a Audi e a Jaguar,
e agora terão a companhia de Felipe Massa, que alinhará pela Venturi, tendo
assinado um contrato de três temporadas para competir no certame de carros
elétricos. Aliás, a categoria se torna um destino, a bem ou mal, muito
procurado pelos pilotos que acabaram perdendo suas chances de competição na F-1.
E neste novo ano, mais dois deles acabaram ficando sem cockpit na categoria
máxima do automobilismo. Pascal Wehrlein competirá pela Mahindra a partir de
janeiro, uma vez que a Mercedes não teve onde encaixá-lo e o está liberando de
seu contrato. E Stoffeel Vandoorne, tido como talento em potencial, acabou
“queimado” pela McLaren neste ano, e sendo substituído pela nova promessa Lando
Norris, tendo buscado refúgio na F-E, e acertado para competir pela nova
escuderia HWA. Outros novatos na competição serão Gary Paffet (HWA), Oliver
Rowland (e.dams), e Maximilian Guenther (Dragon).
A Virgin trocou seu trem de força da DS-Citroen pelo da Audi, e promete continuar lutando por vitórias e também pelo título. |
Como acontece desde que
a categoria iniciou suas disputas, lá em 2014, os fãs brasileiros poderão
acompanhar tudo no novo campeonato da F-E através do canal por assinatura Fox
Sports, parceiro da categoria. Neste sábado, no canal Fox Sports 2, o telespectador
poderá acompanhar tudo a partir das 8 horas da manhã, horário de Brasília, com
explicações detalhadas dos últimos acontecimentos, o que rolou nos treinos
livres e na classificação, e por fim, a corrida, cuja largada está marcada para
as 10hrs05min, com transmissão ao vivo.
Com quatro campeonatos
disputados até aqui, os torcedores brasileiros têm sua expectativa, afinal,
nossos pilotos ganharam metade dos títulos. Lucas Di Grassi segue firme para
tentar o bicampeonato, enquanto Nelsinho Piquet quer retomar as vitórias, e
também voltar a lutar pelo título da competição. Falta combinar com Jean-Éric
Vergne, que também quer seu segundo título, e Sébastien Buemi, louco para
apagar a má impressão da última temporada. E isso sem falar nos demais
concorrentes na pista, que prometem mais uma vez muita briga pelas vitórias e
melhores posições nas corridas. É hora de acelerar fundo, e em voltagem
redobrada na F-E!
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