sexta-feira, 12 de outubro de 2018

REPETECO DE 2017


Lewis Hamilton averbou outra vitória no Grande Prêmio do Japão e ficou muito perto do pentacampeonato mundial, que poderá vir já na próxima corrida.



            O campeonato de 2018 acabou. Depois do que vimos domingo passado, em Suzuka, só um verdadeiro milagre para Lewis Hamilton não faturar o seu 5º título na Fórmula 1, o que pode acontecer já na corrida da semana que vem, nos Estados Unidos, no Circuito das Américas, em Austin, ou com certeza na Cidade do México, corrida seguinte. Com o triunfo obtido na pista da Honda no Japão, mais o 6º lugar de Sebastian Vettel na corrida, o inglês abriu 67 pontos de vantagem, e só precisa de mais 8 pontos a mais do que o piloto da Ferrari para fechar a conquista do título. Isso o levaria a uma vantagem de 75 pontos, exatamente o total de pontos em jogo nas 3 corridas finais do certame, no México, Brasil, e Abu Dhabi. De modo que mesmo que Sebastian vencesse essas 3 corridas e Hamilton não marcasse mais nenhum ponto, ainda assim ele levaria o título nos critérios de desempate.
            Pelo visto, a Ferrari vai ficar mais um ano na fila, e na Itália, a imprensa, sempre passional quando o assunto é a rossa, já começou a detonar o time e o piloto alemão. E até certo ponto, não estão errados. A Ferrari e Vettel cometeram erros crassos em Suzuka que ajudaram a Mercedes a triunfar com mais facilidade do que eles próprios esperavam. Não bastasse a Mercedes ter conseguido refinar o acerto de seu modelo W09, de modo a neutralizar a vantagem que os ferraristas haviam obtido a meio da temporada para o seu modelo SF71-H, o time bateu cabeça na classificação ao mandar seus pilotos para o Q3 com pneus intermediários, apostando na queda iminente da chuva, que já estava nas cercanias da pista. Só que o piso do circuito ainda estava demasiado seco, de modo que com exceção do time italiano, todos os demais saíram com pneus slicks para aproveitar o asfalto ainda seco. E, enquanto Vettel e Kimi Raikkonen constatavam o erro da operação, e perderam tempo voltando aos boxes para colocar os pneus corretos, os demais pilotos fizeram seus tempos, com Hamilton a conquistar sua 80ª pole-position, com Valtteri Bottas a garantir a primeira fila para a Mercedes. E quando a dupla da Ferrari veio para sua tentativa, eis que a chuva chegou, em um chuvisqueiro que arruinou as chances de Vettel de largar logo atrás dos prateados, ficando relegado à 9ª posição, que depois viraria 8ª, com a punição de Esteban Ocon, da Force India. Domingo seria um dia complicado, mas ainda haveria possibilidade de redenção, e por isso mesmo, apesar do desaire da classificação, a ordem era manter a cabeça fria e se concentrar na corrida.
Sebastian Vettel vê o título de 2018 praticamente perdido para o rival. Equipe errou na classificação do GP do Japão e o alemão ainda se enroscou durante a corrida com Max Verstappen (abaixo).
            Fácil falar, difícil fazer. Vettel até que começou bem, superando quem estava à sua frente, e aproveitando-se de um enrosco entre Max Verstappen e Kimi Raikkonen para superar seu colega de time e assumir sem delongas a 4ª colocação. Era só manter a cabeça fria e o ritmo, e pelo menos o 3º lugar estava garantido. Mas Sebastian resolveu partir para cima de Verstappen, e arriscou passar o holandês na curva Spoon, quando viu uma brecha. E não deu outra: Max, bem ao seu estilo, fechou a porta, mas sem ser exatamente desleal, e ambos se tocaram. Um carro seguiu em frente, enquanto o outro rodou e caiu para os últimos lugares, depois de ambos saírem da pista. E adivinhem quem se deu mal? Justamente Vettel. Se o alemão tinha esperanças de pressionar as Mercedes e quem sabe até chance de vencer a corrida, tudo foi para o brejo ali naquela manobra. Sebastian foi demasiado otimista, e já devia estar de sobreaviso depois de ter visto Kimi e Max se enroscarem na última chicane, um pouco antes. E nem era preciso fazer força: pelo toque em Raikkonen, Verstappen teria de pagar uma punição de 5s, o que o faria perder fatalmente sua posição para o piloto da Ferrari. Mas Vettel não teve paciência para esperar, e se Max, mesmo com sua punição, ainda chegou colado em Bottas na bandeirada, só dá para imaginar a raiva do alemão pensando no que ele poderia ter feito se não tivesse cometido aquele erro.
            Caindo lá para trás, Sebastian teve que remar tudo de novo, e cruzou a linha em 6º lugar, até com alguma facilidade, mas sem conseguir alcançar Raikkonen, o 5º colocado, que ainda ficou tão à frente que não tinha como a Ferrari ordenar ao finlandês que cedesse sua posição a Vettel. E, com mais uma dobradinha da Mercedes, certamente não faltou quem achou que o time de Maranello cometeu um perfeito haraquiri na luta pelo campeonato, seja de pilotos, e também de construtores.
            Curiosamente, isso lembra como tudo parece repetir o que aconteceu por volta desta altura da competição no ano passado. A diferença é que em 2017, a Mercedes havia saído de Monza na frente, mas com mais moral e ares de favoritismo na luta pelo título, pois seu carro era considerado mais competitivo do que o da Ferrari, àquela altura. Mas, nem por isso, o time de Maranello poderia ser subestimado: a luta se desenhava acirrada, pelo menos nas provas seguintes, onde o carro vermelho teria boas chances de enfrentar e até suplantar a flecha de prata. A confiança dos vermelhos era grande, e a Mercedes tinha boas razões para se preocupar. Só que, de repente, tudo começou a dar errado para os ferraristas, implodindo qualquer chance de discutir o título com a Mercedes, e de Vettel conseguir derrotar Lewis Hamilton.
Até houve boas disputas no pelotão intermediário, mas não conseguiram evitar que a corrida japonesa fosse fraca em termos de emoção.
            Começando por Cingapura, onde a Ferrari esteve imbatível nos treinos, e largava na frente, com Hamilton apenas em 5º. Era a chance de um contra-ataque fulminante, depois da derrota sofrida em Monza. Mas, na largada, Vettel acabou prensando Max Verstappen, que sem ter para onde ir, acertou Kimi Raikkonen, resultando numa colisão entre os três carros que eliminou a Ferrari da prova de Marina Bay. Escapando da confusão, Hamilton assumiu a liderança e rumou para uma vitória tão fácil que nem ele mesmo acreditava. Neste ano, a Ferrari novamente pintava como favorita, mas acabou surpreendida pela Mercedes, e com um Hamilton pilotando como nunca, que conquistou mais uma vitória, e marcou outro golpe forte nos rivais, que ficaram sem conseguir reagir, vendo o inglês escapar ainda mais na frente.
            Depois veio a corrida da Malásia, onde a Ferrari também tinha tudo para vencer a prova. Mas aí, um problema no turbo acabou fazendo sua dupla de pilotos ter de trocar a peça e alguns outros componentes do motor, o que os fez serem punidos e largarem do fundo do grid. Um golpe e tanto nas pretensões ferraristas para a corrida. Raikkonen ficaria fora de combate logo de cara, e Vettel, mostrando como seu carro era mesmo forte naquela prova, terminou em 4º, depois de uma corrida combativa. Hamilton foi 2º, mas terminou à frente do rival alemão da Ferrari, e isso bastava. Neste ano, Sepang caiu fora, e a corrida na ordem foi na Rússia, onde a Mercedes acabou mostrando já ter de novo um ritmo não apenas igual mas levemente superior ao da Ferrari, o que resultou numa dobradinha do time alemão, e nova derrota para os ferraristas, com Hamilton a acumular agora 50 pontos de vantagem para a corrida seguinte, no Japão. No ano passado, Lewis chegou a Suzuka com 34 pontos de vantagem, algo significativo.
            E então chegamos a Suzuka, onde Vettel pelo menos faria pressão desde o início em Hamilton, largando em 2º, dividindo a primeira fila com o inglês. Seria um duelo e tanto na luta para manter-se na disputa, com o alemão como franco-atirador, e Lewis tendo de tomar cuidado para não se envolver em nenhuma confusão e comprometer sua vantagem na pontuação. E a prova começou bem, com Vettel partindo logo atrás de Hamilton. Mas, uma esperança efêmera: um problema numa vela de ignição, que já havia sido detectado no grid antes da largada, fez o carro de Sebastian ir a nocaute, e junto, quaisquer esperanças de título. Afinal, Hamilton venceu a prova, e Vettel, sem marcar pontos, viu a vantagem do inglês da Mercedes pular para 59 pontos. Este ano, o resultado não foi tão desastroso, mas o efeito foi praticamente o mesmo, com Hamilton ostentando 67 pontos à frente. Quem disse que a história não costuma se repetir? Estamos vendo praticamente um repeteco de 2017 nestas últimas corridas. Só que no ano passado a Mercedes ainda possuía um favoritismo destacado maior do que o desse ano, apesar do sufoco que sofreram da Ferrari em várias corridas. Este ano, o time de Maranello evoluiu, enquanto os prateados, pela primeira vez desde o início da era híbrida, precisaram correr atrás do prejuízo no início do campeonato. E, a meio da competição, os ferraristas tinham tudo para disparar na frente e voltarem a ser campeões. Mas daí então... Não preciso recordar os acontecimentos desde Hockenhein...
            O pior de tudo é que, na hora de dar o golpe de misericórdia, Vettel e a Ferrari perderam a oportunidade, e por culpa própria. A Mercedes, acuada como nunca esteve desde 2014, aguentou firme a pressão, e conseguiu reagir, mas não foi só isso: ganhou tempo para desenvolver o seu carro, que nunca foi um projeto ruim, só precisava ser, como eles mesmos disseram, melhor entendido. Claro que, com algumas atualizações aqui e ali, conseguiram o que os ferraristas mais temiam, que foi a primazia de carro mais competitivo do grid, mesmo que por uma margem pequena, mas que já faz diferença, uma vez que o time italiano, assim como Vettel, tem facilitado as coisas ao inimigo. Hamilton, que não tem nada com os desaires no box vermelho, simplesmente agradece e dispara na frente, tornando ainda mais desnecessário a presepada da Mercedes em Sochi, ao privar Bottas de uma merecida vitória, que se deixada sem interferências, faria Hamilton ostentar agora ainda respeitáveis 60 pontos à frente de Vettel. Será uma mancha no pentacampeonato do piloto inglês, que não merecia, e nem precisava disso. E, com a F-1 mostrando corridas sem graça, e uma disputa pelo título que vai ficando cada vez mais nas mãos do time de Brackley, um desgaste que a imagem da categoria não precisava nem um pouco...
            Semana que vem, no belo Circuito das Américas, a chance de Hamilton encerrar a luta pelo título é bem alta. No ano passado, o inglês largou na pole e venceu praticamente de ponta a ponta. Vettel largou em 2º, e em 2º terminou. A situação agora é um pouco mais complicada. Se Sebastian não for pelo menos 2º lugar, na hipótese de Lewis vencer de novo, a disputa estará fechada, com o inglês comemorando o seu pentacampeonato, igualando-se a Juan Manuel Fangio, e ficando atrás apenas de Michael Schumacher. E, pelo andar da Ferrari nestas últimas corridas, não é difícil a Mercedes obter outra dobradinha e encerrar a contenda. Se Vettel for 3º, o título já era, e a Ferrari continuará na fila por mais um ano, o que já é considerado certo. Não é necessário acalentar esperanças. Já serão então 11 anos desde o último título conquistado por Maranello, em 2007, com Kimi Raikkonen.
            Mesmo que, por algum percalço, a disputa não se encerre em Austin, não deve passar da Cidade do México, a corrida seguinte, onde Lewis conquistou o tetra no ano passado. Mas mesmo essa esperança é bem tênue. O melhor a essa altura já é começar a pensar em 2019. O ano de 2018 já acabou mesmo. Não foi tão ruim, mas não foi melhor como muitos esperavam. Talvez no próximo ano tenhamos melhores emoções e disputas...


A FIA e a Ferrari juram que não tem nada a ver, mas a notícia de que foi instalado um segundo sensor na unidade de potência da Ferrari, a fim de averiguar se a potência disponibilizada de até 160 HPs obedecia ao limite do regulamento, nas últimas corridas, tem dado o que falar nos bastidores, uma vez que a suspeita é que o sistema de recuperação de energia estaria gerando bem mais do que os 160 HPs estipulados. A potência da unidade de combustão não tem limite de restrição, de modo que a incrível força demonstrada pelas unidades V-6 híbridas poderiam estar fora do regulamento. Claro que o novo sensor, em conjunto com o já existente, não acusou nada de errado, mas e antes de ele ser instalado? Todo mundo ficou surpreso com a força demonstrada pela unidade de potência italiana a meio da temporada, com até a Hass e a Sauber a usufruírem disso. Nada demais, se a potência impressionante viesse da unidade de combustão, o propulsor turbo V-6 de 1,6 litros, e não dos sistemas de recuperação de energia híbridos que completam a força do propulsor. Mas é inegável que, de lá para cá, a usina de potência fabricada em Maranello parece não exibir mais aquela força prodigiosa de antes. E, com menos potência disponível, a Ferrari precisou comprometer parte da estabilidade de seu carro ao usar menos asa para manter a alta velocidade nas retas. Ocorre que, com menos estabilidade, o equilíbrio do carro não é o mesmo, e isso tem se traduzido em um dado até então inusitado no modelo SF71-H: o consumo de pneus. O equilíbrio menos harmônico do conjunto estaria sacrificando a conservação dos compostos, um fator que sempre foi um dos pontos fortes do carro da Ferrari, desde o ano passado. E, de repente, seus pilotos não tem mais conseguido fazer seus pneus durarem tanto quanto os dos rivais na pista quanto antes. Alguns poderão dizer que a FIA “matou” a disputa do campeonato com essa instalação do segundo sensor, mas se o sistema de recuperação de energia disponibilizava mais potência do que o permitido pelo regulamento, infelizmente ele estaria irregular, e isso seria uma trapaça. Mas isso é só consequência de outra regra imbecil vigente hoje no regulamento da F-1, entre tantas outras. A potência desse sistema de recuperação deveria ser livre, como ocorre no motor a combustão, de modo a incentivar o desenvolvimento do sistema, de modo a oferecer mais potência sempre, através do desenvolvimento do projeto. Claro, a limitação de potência é mais uma desculpa para limitar os gastos, assim como o ridículo limite de apenas 3 sistemas por ano para o piloto, que de economia não tem gerado absolutamente nada, e só tem prejudicado as disputas, com times e pilotos tendo de se preocupar sempre em poupar equipamento... E infelizmente a FIA tem andado cada vez mais teimosa em manter estas regras esdrúxulas na competição...


Atenção, fãs saudosistas dos anos 1980 da Fórmula 1: nesta segunda-feira, no canal pago SporTV2, a partir das 19 horas, teremos a apresentação de um especial sobre o bicampeonato de Nélson Piquet, em 1983, 35 anos atrás, na nova versão do “Túnel do Tempo”, com um retrospecto completo daquele campeonato, com o brasileiro a ser o primeiro campeão da categoria com um motor turbo, o BMW, ao volante do clássico Brabham BT52, no último título que seria conquistado pelo time fundado pelo tricampeão Jack Brabham. O programa, que terá detalhes da corrida da conquista do título, em Kyalami, na África do Sul, terá a participação de Sergio Mauricio, Reginaldo Leme, e Pedro Piquet, um dos filhos do tricampeão Nélson Piquet. Uma excelente oportunidade para os fãs de automobilismo reverem e/ou conhecerem os detalhes daquela temporada. E este não será o único programa que eles irão apresentar nesta temática. Virão outros por aí... Aguardem!

Nenhum comentário: