Lewis Hamilton averbou outra vitória no Grande Prêmio do Japão e ficou muito perto do pentacampeonato mundial, que poderá vir já na próxima corrida. |
O campeonato de 2018
acabou. Depois do que vimos domingo passado, em Suzuka, só um verdadeiro
milagre para Lewis Hamilton não faturar o seu 5º título na Fórmula 1, o que
pode acontecer já na corrida da semana que vem, nos Estados Unidos, no Circuito
das Américas, em Austin, ou com certeza na Cidade do México, corrida seguinte.
Com o triunfo obtido na pista da Honda no Japão, mais o 6º lugar de Sebastian
Vettel na corrida, o inglês abriu 67 pontos de vantagem, e só precisa de mais 8
pontos a mais do que o piloto da Ferrari para fechar a conquista do título.
Isso o levaria a uma vantagem de 75 pontos, exatamente o total de pontos em
jogo nas 3 corridas finais do certame, no México, Brasil, e Abu Dhabi. De modo que
mesmo que Sebastian vencesse essas 3 corridas e Hamilton não marcasse mais
nenhum ponto, ainda assim ele levaria o título nos critérios de desempate.
Pelo visto, a Ferrari
vai ficar mais um ano na fila, e na Itália, a imprensa, sempre passional quando
o assunto é a rossa, já começou a detonar o time e o piloto alemão. E até certo
ponto, não estão errados. A Ferrari e Vettel cometeram erros crassos em Suzuka
que ajudaram a Mercedes a triunfar com mais facilidade do que eles próprios
esperavam. Não bastasse a Mercedes ter conseguido refinar o acerto de seu
modelo W09, de modo a neutralizar a vantagem que os ferraristas haviam obtido a
meio da temporada para o seu modelo SF71-H, o time bateu cabeça na
classificação ao mandar seus pilotos para o Q3 com pneus intermediários,
apostando na queda iminente da chuva, que já estava nas cercanias da pista. Só
que o piso do circuito ainda estava demasiado seco, de modo que com exceção do
time italiano, todos os demais saíram com pneus slicks para aproveitar o
asfalto ainda seco. E, enquanto Vettel e Kimi Raikkonen constatavam o erro da
operação, e perderam tempo voltando aos boxes para colocar os pneus corretos,
os demais pilotos fizeram seus tempos, com Hamilton a conquistar sua 80ª
pole-position, com Valtteri Bottas a garantir a primeira fila para a Mercedes.
E quando a dupla da Ferrari veio para sua tentativa, eis que a chuva chegou, em
um chuvisqueiro que arruinou as chances de Vettel de largar logo atrás dos
prateados, ficando relegado à 9ª posição, que depois viraria 8ª, com a punição
de Esteban Ocon, da Force India. Domingo seria um dia complicado, mas ainda
haveria possibilidade de redenção, e por isso mesmo, apesar do desaire da
classificação, a ordem era manter a cabeça fria e se concentrar na corrida.
Sebastian Vettel vê o título de 2018 praticamente perdido para o rival. Equipe errou na classificação do GP do Japão e o alemão ainda se enroscou durante a corrida com Max Verstappen (abaixo). |
Fácil falar, difícil
fazer. Vettel até que começou bem, superando quem estava à sua frente, e
aproveitando-se de um enrosco entre Max Verstappen e Kimi Raikkonen para
superar seu colega de time e assumir sem delongas a 4ª colocação. Era só manter
a cabeça fria e o ritmo, e pelo menos o 3º lugar estava garantido. Mas
Sebastian resolveu partir para cima de Verstappen, e arriscou passar o holandês
na curva Spoon, quando viu uma brecha. E não deu outra: Max, bem ao seu estilo,
fechou a porta, mas sem ser exatamente desleal, e ambos se tocaram. Um carro
seguiu em frente, enquanto o outro rodou e caiu para os últimos lugares, depois
de ambos saírem da pista. E adivinhem quem se deu mal? Justamente Vettel. Se o
alemão tinha esperanças de pressionar as Mercedes e quem sabe até chance de
vencer a corrida, tudo foi para o brejo ali naquela manobra. Sebastian foi
demasiado otimista, e já devia estar de sobreaviso depois de ter visto Kimi e
Max se enroscarem na última chicane, um pouco antes. E nem era preciso fazer
força: pelo toque em Raikkonen, Verstappen teria de pagar uma punição de 5s, o
que o faria perder fatalmente sua posição para o piloto da Ferrari. Mas Vettel
não teve paciência para esperar, e se Max, mesmo com sua punição, ainda chegou
colado em Bottas na bandeirada, só dá para imaginar a raiva do alemão pensando
no que ele poderia ter feito se não tivesse cometido aquele erro.
Caindo lá para trás,
Sebastian teve que remar tudo de novo, e cruzou a linha em 6º lugar, até com
alguma facilidade, mas sem conseguir alcançar Raikkonen, o 5º colocado, que
ainda ficou tão à frente que não tinha como a Ferrari ordenar ao finlandês que
cedesse sua posição a Vettel. E, com mais uma dobradinha da Mercedes,
certamente não faltou quem achou que o time de Maranello cometeu um perfeito
haraquiri na luta pelo campeonato, seja de pilotos, e também de construtores.
Curiosamente, isso
lembra como tudo parece repetir o que aconteceu por volta desta altura da
competição no ano passado. A diferença é que em 2017, a Mercedes havia saído de
Monza na frente, mas com mais moral e ares de favoritismo na luta pelo título,
pois seu carro era considerado mais competitivo do que o da Ferrari, àquela
altura. Mas, nem por isso, o time de Maranello poderia ser subestimado: a luta
se desenhava acirrada, pelo menos nas provas seguintes, onde o carro vermelho
teria boas chances de enfrentar e até suplantar a flecha de prata. A confiança
dos vermelhos era grande, e a Mercedes tinha boas razões para se preocupar. Só
que, de repente, tudo começou a dar errado para os ferraristas, implodindo
qualquer chance de discutir o título com a Mercedes, e de Vettel conseguir
derrotar Lewis Hamilton.
Até houve boas disputas no pelotão intermediário, mas não conseguiram evitar que a corrida japonesa fosse fraca em termos de emoção. |
Começando por
Cingapura, onde a Ferrari esteve imbatível nos treinos, e largava na frente,
com Hamilton apenas em 5º. Era a chance de um contra-ataque fulminante, depois
da derrota sofrida em Monza. Mas, na largada, Vettel acabou prensando Max
Verstappen, que sem ter para onde ir, acertou Kimi Raikkonen, resultando numa
colisão entre os três carros que eliminou a Ferrari da prova de Marina Bay.
Escapando da confusão, Hamilton assumiu a liderança e rumou para uma vitória
tão fácil que nem ele mesmo acreditava. Neste ano, a Ferrari novamente pintava
como favorita, mas acabou surpreendida pela Mercedes, e com um Hamilton
pilotando como nunca, que conquistou mais uma vitória, e marcou outro golpe
forte nos rivais, que ficaram sem conseguir reagir, vendo o inglês escapar
ainda mais na frente.
Depois veio a corrida
da Malásia, onde a Ferrari também tinha tudo para vencer a prova. Mas aí, um
problema no turbo acabou fazendo sua dupla de pilotos ter de trocar a peça e
alguns outros componentes do motor, o que os fez serem punidos e largarem do
fundo do grid. Um golpe e tanto nas pretensões ferraristas para a corrida.
Raikkonen ficaria fora de combate logo de cara, e Vettel, mostrando como seu
carro era mesmo forte naquela prova, terminou em 4º, depois de uma corrida
combativa. Hamilton foi 2º, mas terminou à frente do rival alemão da Ferrari, e
isso bastava. Neste ano, Sepang caiu fora, e a corrida na ordem foi na Rússia,
onde a Mercedes acabou mostrando já ter de novo um ritmo não apenas igual mas
levemente superior ao da Ferrari, o que resultou numa dobradinha do time
alemão, e nova derrota para os ferraristas, com Hamilton a acumular agora 50
pontos de vantagem para a corrida seguinte, no Japão. No ano passado, Lewis
chegou a Suzuka com 34 pontos de vantagem, algo significativo.
E então chegamos a
Suzuka, onde Vettel pelo menos faria pressão desde o início em Hamilton,
largando em 2º, dividindo a primeira fila com o inglês. Seria um duelo e tanto
na luta para manter-se na disputa, com o alemão como franco-atirador, e Lewis
tendo de tomar cuidado para não se envolver em nenhuma confusão e comprometer
sua vantagem na pontuação. E a prova começou bem, com Vettel partindo logo
atrás de Hamilton. Mas, uma esperança efêmera: um problema numa vela de
ignição, que já havia sido detectado no grid antes da largada, fez o carro de
Sebastian ir a nocaute, e junto, quaisquer esperanças de título. Afinal,
Hamilton venceu a prova, e Vettel, sem marcar pontos, viu a vantagem do inglês
da Mercedes pular para 59 pontos. Este ano, o resultado não foi tão desastroso,
mas o efeito foi praticamente o mesmo, com Hamilton ostentando 67 pontos à
frente. Quem disse que a história não costuma se repetir? Estamos vendo
praticamente um repeteco de 2017 nestas últimas corridas. Só que no ano passado
a Mercedes ainda possuía um favoritismo destacado maior do que o desse ano,
apesar do sufoco que sofreram da Ferrari em várias corridas. Este ano, o time
de Maranello evoluiu, enquanto os prateados, pela primeira vez desde o início
da era híbrida, precisaram correr atrás do prejuízo no início do campeonato. E,
a meio da competição, os ferraristas tinham tudo para disparar na frente e
voltarem a ser campeões. Mas daí então... Não preciso recordar os
acontecimentos desde Hockenhein...
O pior de tudo é que,
na hora de dar o golpe de misericórdia, Vettel e a Ferrari perderam a
oportunidade, e por culpa própria. A Mercedes, acuada como nunca esteve desde
2014, aguentou firme a pressão, e conseguiu reagir, mas não foi só isso: ganhou
tempo para desenvolver o seu carro, que nunca foi um projeto ruim, só precisava
ser, como eles mesmos disseram, melhor entendido. Claro que, com algumas
atualizações aqui e ali, conseguiram o que os ferraristas mais temiam, que foi
a primazia de carro mais competitivo do grid, mesmo que por uma margem pequena,
mas que já faz diferença, uma vez que o time italiano, assim como Vettel, tem
facilitado as coisas ao inimigo. Hamilton, que não tem nada com os desaires no
box vermelho, simplesmente agradece e dispara na frente, tornando ainda mais
desnecessário a presepada da Mercedes em Sochi, ao privar Bottas de uma
merecida vitória, que se deixada sem interferências, faria Hamilton ostentar
agora ainda respeitáveis 60 pontos à frente de Vettel. Será uma mancha no
pentacampeonato do piloto inglês, que não merecia, e nem precisava disso. E,
com a F-1 mostrando corridas sem graça, e uma disputa pelo título que vai
ficando cada vez mais nas mãos do time de Brackley, um desgaste que a imagem da
categoria não precisava nem um pouco...
Semana que vem, no
belo Circuito das Américas, a chance de Hamilton encerrar a luta pelo título é
bem alta. No ano passado, o inglês largou na pole e venceu praticamente de
ponta a ponta. Vettel largou em 2º, e em 2º terminou. A situação agora é um
pouco mais complicada. Se Sebastian não for pelo menos 2º lugar, na hipótese de
Lewis vencer de novo, a disputa estará fechada, com o inglês comemorando o seu
pentacampeonato, igualando-se a Juan Manuel Fangio, e ficando atrás apenas de
Michael Schumacher. E, pelo andar da Ferrari nestas últimas corridas, não é
difícil a Mercedes obter outra dobradinha e encerrar a contenda. Se Vettel for
3º, o título já era, e a Ferrari continuará na fila por mais um ano, o que já é
considerado certo. Não é necessário acalentar esperanças. Já serão então 11
anos desde o último título conquistado por Maranello, em 2007, com Kimi
Raikkonen.
Mesmo que, por algum percalço,
a disputa não se encerre em Austin, não deve passar da Cidade do México, a
corrida seguinte, onde Lewis conquistou o tetra no ano passado. Mas mesmo essa
esperança é bem tênue. O melhor a essa altura já é começar a pensar em 2019. O
ano de 2018 já acabou mesmo. Não foi tão ruim, mas não foi melhor como muitos
esperavam. Talvez no próximo ano tenhamos melhores emoções e disputas...
A FIA e a Ferrari juram que não
tem nada a ver, mas a notícia de que foi instalado um segundo sensor na unidade
de potência da Ferrari, a fim de averiguar se a potência disponibilizada de até
160 HPs obedecia ao limite do regulamento, nas últimas corridas, tem dado o que
falar nos bastidores, uma vez que a suspeita é que o sistema de recuperação de
energia estaria gerando bem mais do que os 160 HPs estipulados. A potência da
unidade de combustão não tem limite de restrição, de modo que a incrível força
demonstrada pelas unidades V-6 híbridas poderiam estar fora do regulamento.
Claro que o novo sensor, em conjunto com o já existente, não acusou nada de
errado, mas e antes de ele ser instalado? Todo mundo ficou surpreso com a força
demonstrada pela unidade de potência italiana a meio da temporada, com até a
Hass e a Sauber a usufruírem disso. Nada demais, se a potência impressionante
viesse da unidade de combustão, o propulsor turbo V-6 de 1,6 litros, e não dos
sistemas de recuperação de energia híbridos que completam a força do propulsor.
Mas é inegável que, de lá para cá, a usina de potência fabricada em Maranello
parece não exibir mais aquela força prodigiosa de antes. E, com menos potência
disponível, a Ferrari precisou comprometer parte da estabilidade de seu carro
ao usar menos asa para manter a alta velocidade nas retas. Ocorre que, com
menos estabilidade, o equilíbrio do carro não é o mesmo, e isso tem se
traduzido em um dado até então inusitado no modelo SF71-H: o consumo de pneus.
O equilíbrio menos harmônico do conjunto estaria sacrificando a conservação dos
compostos, um fator que sempre foi um dos pontos fortes do carro da Ferrari,
desde o ano passado. E, de repente, seus pilotos não tem mais conseguido fazer
seus pneus durarem tanto quanto os dos rivais na pista quanto antes. Alguns
poderão dizer que a FIA “matou” a disputa do campeonato com essa instalação do
segundo sensor, mas se o sistema de recuperação de energia disponibilizava mais
potência do que o permitido pelo regulamento, infelizmente ele estaria
irregular, e isso seria uma trapaça. Mas isso é só consequência de outra regra
imbecil vigente hoje no regulamento da F-1, entre tantas outras. A potência
desse sistema de recuperação deveria ser livre, como ocorre no motor a
combustão, de modo a incentivar o desenvolvimento do sistema, de modo a
oferecer mais potência sempre, através do desenvolvimento do projeto. Claro, a
limitação de potência é mais uma desculpa para limitar os gastos, assim como o
ridículo limite de apenas 3 sistemas por ano para o piloto, que de economia não
tem gerado absolutamente nada, e só tem prejudicado as disputas, com times e
pilotos tendo de se preocupar sempre em poupar equipamento... E infelizmente a
FIA tem andado cada vez mais teimosa em manter estas regras esdrúxulas na
competição...
Atenção, fãs saudosistas dos anos
1980 da Fórmula 1: nesta segunda-feira, no canal pago SporTV2, a partir das 19
horas, teremos a apresentação de um especial sobre o bicampeonato de Nélson
Piquet, em 1983, 35 anos atrás, na nova versão do “Túnel do Tempo”, com um
retrospecto completo daquele campeonato, com o brasileiro a ser o primeiro
campeão da categoria com um motor turbo, o BMW, ao volante do clássico Brabham
BT52, no último título que seria conquistado pelo time fundado pelo tricampeão
Jack Brabham. O programa, que terá detalhes da corrida da conquista do título,
em Kyalami, na África do Sul, terá a participação de Sergio Mauricio, Reginaldo
Leme, e Pedro Piquet, um dos filhos do tricampeão Nélson Piquet. Uma excelente
oportunidade para os fãs de automobilismo reverem e/ou conhecerem os detalhes
daquela temporada. E este não será o único programa que eles irão apresentar
nesta temática. Virão outros por aí... Aguardem!
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