quarta-feira, 10 de outubro de 2018

ARQUIVO PISTA & BOX – JULHO DE 1998 – 17.07.1998


            Hora de trazer mais um texto antigo aqui no blog, e o de hoje foi publicado em 17 de julho de 1998. Quem acha que as punições da F-1 hoje são uma palhaçada, verão que isso já começou há 20 anos atrás, como descrito no texto principal daquela coluna. O resultado, aliás, acabou sendo aquele mesmo, com o triunfo de Michael Schumacher mantido. E, depois daquilo, podemos dizer que a F-1 tomou gosto em aplicar punições aqui e ali. Já tivemos tempos piores, mas ainda assim, o que vemos hoje ainda é muito. No mais, notas rápidas sobre os acontecimentos da semana, tanto na F-1 quanto na F-CART. Um detalhe interessante é que na época especulava-se sobre a possível entrada da Volkswagen na F-1, e a Benetton até poderia ser o seu time oficial na categoria, algo que nunca se concretizou, até hoje. E que parece não se tornará realidade tão cedo, do modo como vão as coisas. Uma boa leitura a todos, e em breve trago mais textos antigos por aqui...


BALANÇO DE SILVERSTONE

            O fim de semana em Silverstone teve mais barulho do que muitos esperavam. Michael Schumacher venceu o Grande Prêmio da Inglaterra e as McLarens foram derrotadas praticamente no seu quintal, deixando a disputa pelo título mais do que equiparada. O problema é que a situação sobre a corrida inglesa ainda está em dúvida: pela bagunça que ocorreu nos boxes no final da prova, sobre a punição de Schumacher, a McLaren apelou, e tudo vai a julgamento no tribunal da FIA.
            Schumacher fez uma ultrapassagem sob bandeira amarela em um ponto da pista onde havia um carro parado em situação perigosa. Pouco depois, entrou o Safety Car para permitir a remoção adequada dos diversos carros que rodaram e esperar a chuva diminuir um pouco. No retorno à corrida, o alemão da Ferrari aproveitou a saída de pista de Mika Hakkinem e rumou para a vitória. Na volta final, Schumacher entrou nos boxes inesperadamente para cumprir a punição de 10s estipulada para a infração cometida. Na pista, Hakkinem chegou a comemorar a vitória, mas Schumacher acabou como o vencedor da corrida.
            Fica a dúvida do que aconteceu. Até o momento, tudo indica que a culpa fica para os comissários da corrida, que demoraram demais para comunicar a Ferrari sobre a punição de seu piloto. Se eles erraram, não há porque tirar a vitória de Michael, que aparentemente, não fez nada de errado. Mesmo adicionando os 10s de punição a seu tempo, sua vantagem na pista ainda o deixaria com a vitória, pois baixaria de 22s para 12s, ainda à frente de Hakkinem. O problema é se a Ferrari foi comunicada antes da punição. Como todo mundo foi pego de surpresa com a entrada de Schumacher nos boxes, só depois de encerrada a prova viemos a saber o porquê de tal ato. Nos computadores a que toda a imprensa e redes de TV têm acesso, não havia nada indicando que o piloto da Ferrari sofreria uma punição. Há quem afirme que a Ferrari tomou conhecimento da punição a Schumacher a cerca de 12 voltas do final da corrida, mas oficialmente, dizem que só na última volta veio o comunicado. Se esta última versão for a verdade, nada há que se fazer. O time italiano não pode ser penalizado quando o erro for dos comissários de prova, nem pode ser imputada qualquer penalidade ao piloto. Mas, se a primeira versão for a verdadeira, a Ferrari deverá ser penalizada, pois simplesmente agiu de má fé, chamando seu piloto ao Box somente na última volta, quando a vitória já estava assegurada, independente dos 10s de punição.
            Isso se deve ao fato de que na verdade a punição de 10s é sempre maior do que isso para o piloto, pois ele deve atravessar todo o pit line, parar em seu Box, e aí cumprir os 10s de punição, antes de voltar à pista. E como nos boxes há limitação da velocidade dos carros, e os pilotos não podem desrespeitar esse limite, em Silverstone na verdade perde-se mais de 20s na operação. E como a vantagem de Schumacher só chegou aos 22s nas últimas voltas, é certo de que se o alemão tivesse parado antes, provavelmente perderia a corrida para Hakkinem. Agora, vamos esperar a decisão da FIA sobre o caso, e esperar que a verdade seja apurada...


Confirmada ou não a vitória de Michael Schumacher em Silverstone, a situação da McLaren no campeonato está complicada. A Ferrari evoluiu a passos largos e o time prateado não apresentou nenhuma melhora substancial desde o início avassalador do início do ano. Desse modo, a McLaren pode perder o título que desde 1991 não conquista. Se Mika Hakkinen está fazendo tudo o que pode, David Coulthard já não está ajudando muito, pois rodou e abandonou a prova inglesa, depois de fazer várias voltas a um ritmo muito forte. O escocês perdeu uma boa chance de marcar pontos. Agora, deu um adeus definitivo à luta pelo título, pois a McLaren deve concentrar seus esforços no piloto finlandês.


A Benetton assinou por mais 2 anos para continuar utilizando os motores Renault da Mecachrome, que passarão a ser chamados Supertec Sport em 1999. Com isso, a tão propalada entrada da Volkswagen na F-1 pela equipe Benetton só deverá se dar em 2001. Para muitos, um bom tempo para que a fábrica alemã possa criar, em conjunto com a Cosworth, um propulsor de nível para uma equipe de ponta da F-1.


A BMW, que prepara sua volta à F-1 no ano 2000, contratou o ex-piloto Gerhard Berger para ser o chefe da divisão de competição de F-1. Berger, que aposentou-se como piloto ao fim da temporada do ano passado, foi o último piloto a vencer um GP com motor da BMW, em 1986, no México, naquela que foi também a primeira vitória da equipe Benetton. Seja bem-vindo de volta, Berger. Sua simpatia faz falta no meio carrancudo da F-1.


Na F-CART, Alessandro Zanardi conseguiu em Cleveland sua 5ª vitória no campeonato 98, disparando ainda mais na classificação. Para melhorar ainda mais, Greg Moore, que até o GP de Detroit parecia ser o seu maior adversário, parece ter voltado a seus tempos de piloto afobado na pista. Tal como em Portland, na pista do Burke Lakefront Airport de Cleveland, o piloto canadense bateu logo no início da prova, levando alguns pilotos junto com ele. E, infelizmente, um deles era brasileiro. Se em Portland Moore tirou Christian Fittipaldi da corrida, em Cleveland a vítima foi Hélio Castro Neves, que ficou fora de combate. Alessandro Zanardi agora tem 155 pontos, contra 96 de Moore, ainda na 2ª colocação do certame.


Em Cleveland, aliás, canadense era sinônimo de perigo na pista, e também fora dela. Paul Tracy acertou Al Unser Jr. dentro dos boxes, ao sair de seu pit stop feito um foguete. Al Unser Jr. tentou desviar, mas foi atingido por seu ex-colega de equipe, perdendo todas as chances de fazer uma excelente corrida, pois o chassi Penske vinha rendendo muito bem. Patrick Carpentier, outro canadense, rodou na pista e causou alguns incômodos aos concorrentes. Paul Tracy foi punido com bandeira preta, mas no fim da corrida acabou batendo mais uma vez e ficou fora da prova. Tracy, aliás, pelas estripulias que já vem aprontando desde o início do campeonato, deveria levar uma suspensão de algumas provas. A CART precisa ser mais dura com os pilotos nestes casos.

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