Marc Márquez arrepiou nas pistas da MotoGP em 2018 e faturou mais um título, chegando ao pentacampeonato. Alguém pode deter a "Formiga Atômica" da equipe Honda? |
Muitos esperavam ver a
conquista do pentacampeonato por parte de Lewis Hamilton na Fórmula 1, no GP
dos Estados Unidos, em Austin, no Texas, domingo passado. Passou perto, e
provavelmente virá neste final de semana, na etapa do México. Mas o mundo da
velocidade não ficou sem comemorar a conquista de um pentacampeonato no último
domingo, e ele veio do outro lado do mundo, no Grande Prêmio do Japão de
MotoGp, disputado no circuito misto do complexo de Motegi, com a vitória de
Marc Márquez, e liquidando a fatura da luta pelo título da classe rainha do
motociclismo. E com todos os méritos. E melhor ainda para a Honda, dona da
pista, e da equipe de fábrica de Márquez, que mais uma vez vê o título ser
conquistado em sua propriedade.
A disputa já estava
complicada. Márquez já havia aberto grande vantagem na pontuação, e Andrea
Dovizioso, da equipe oficial da Ducati, o único que ainda poderia almejar lutar
pelo título com a “Formiga Atômica”, só estava vendo o rival distanciar-se nas
etapas de Aragón e da Tailândia, onde ele acabou em 2º lugar nas duas provas,
vendo Marc vencer e distanciar-se cada vez mais na liderança do campeonato. Na
verdade, o resultado iria se repetir em Motegi, uma vez que Márquez superou
Dovizioso na parte final da corrida, caminhando para mais uma vitória. Mas,
Dovizioso acabou caindo no finalzinho, e só tornou mais pronunciada a derrota
sofrida para o rival. Com o 2º lugar, se não tivesse caído, Andrea chegaria a
214 pontos, mas Márquez atingiria os mesmos 296 pontos, abrindo 82 pontos de
vantagem no campeonato. E com apenas três corridas para encerrar a temporada,
na Austrália, onde hoje começam os treinos em Phillip Island; na Malásia, no
autódromo de Sepang; e por fim, a etapa da Comunidade Valenciana, no circuito
Ricardo Tormo, em Valência; teríamos somente 75 pontos em jogo. Se Dovizioso
tivesse conseguido segurar Márquez e vencido a corrida, a diferença entre ambos
seria de 72 pontos, com 75 em disputa. Seria preciso um verdadeiro milagre para
o piloto da Ducati chegar ao título, com vitória nas três provas, e ainda
torcendo para Marc não fazer mais do que um 14º lugar nas mesmas corridas. Algo
que só um desastre completo tornaria possível.
Andrea Dovizioso começou o ano na frente, mas acabou sucumbindo a meio da temporada. Restou a luta pelo vice-campeonato com Valentino Rossi... |
Marc Márquez não teve
rivais nesta temporada. Mesmo a Ducati possuindo um equipamento competitivo, a
exemplo do demonstrado no ano passado, a escuderia de Borgo Panigale não
conseguiu exibir a mesma constância e sorte necessárias para fazer frente ao
piloto da Honda e até então tetracampeão mundial da categoria. O campeonato até
começou bem para Dovizioso, com uma vitória no mano a mano contra Márquez em
Losail, dando a entender que assistiríamos a um novo round entre ambos,
conforme havíamos visto e nos surpreendido em 2017. Marc, aliás, zerou na
Argentina, para só vencer pela primeira vez em Austin, nos Estados Unidos. Até
então, a briga estava parelha, com Dovizioso liderando com 46, contra 45 de
Márquez. O duelo entre ambos parecia promissor, apesar do italiano ter ficado a
dever na Argentina e Estados Unidos com um 5º e 6ºs lugares, após a vitória no
Qatar. O clima viraria na etapa seguinte, na Espanha, em Jerez, onde a “Formiga
Atômica” partiria para uma trinca de vitórias iniciada na corrida anterior,
incluindo a França, em Le Mans, em um arranque fulminante para mostrar que não
estava para brincadeira.
Jerez e Le Mans foram
pontos negros para Dovizioso, que abandonou as duas etapas e viu o rival vencer
e disparar na liderança. E pior, com uma ajuda de Jorge Lorenzo, que na
Espanha, ao resistir a ser ultrapassado pelo companheiro de equipe, deu o “X”
para retomar a posição sem atentar que Dani Pedrosa já estava na trajetória. Ambos
foram para o chão e ainda levaram Andrea junto. O clima na Ducati a esta altura
do campeonato já não era mais tão amistoso quanto antes entre seus pilotos.
Algo que ficaria ainda mais complicado na Itália, onde as Ducati reinaram e
fizeram dobradinha, mas com Jorge Lorenzo a vencer, finalmente quebrando seu
jejum na marca italiana. Dovizioso foi o 2º colocado, e Márquez, pela segunda
vez no ano, não pontuava. A boa notícia era que a Ducati mostrava ter força
para lutar pelo título contra Márquez e a Honda. A notícia negativa era que
Lorenzo resolveu que mudaria de time para 2019, e comunicou à Ducati que no
próximo ano pilotaria para a rival Honda. Definitivamente, o ambiente nos boxes
da equipe italiana não estava mesmo em seus melhores dias.
Com uma Yamaha longe de seus melhores dias, o "Doutor" não teve como desafiar Márquez na luta pelo título em 2018. |
E a Yamaha? Apesar de
algumas boas provas, tanto Maverick Viñales quanto Valentino Rossi passaram
todo o ano sem vencer, e com uma performance inconstante que ora lhes permitia
lutar pelo pódio, ora apenas por posições pontuáveis. Mas com desempenhos que
deixaram a desejar quando era necessário tentar uma vitória. Mais experiente
que Maverick, Valentino até segurou a vice-liderança do campeonato por um bom
tempo, até ser superado por Dovizioso na classificação, sem chances de lutar
efetivamente pelo título da temporada. E pior, sem que a Yamaha conseguisse ter
uma resposta clara para a falta de performance da YZR-M1, onde por mais ajustes
que fizessem no equipamento, não conseguiam obter um desempenho aceitável.
Enquanto isso, após um
novo triunfo de Lorenzo na Catalunha, onde foi o 2º colocado, Márquez voltou a
abrir vantagem com duas vitórias na Holanda e na Alemanha, enquanto a dupla da
Ducati voltou a ter um desempenho abaixo do esperado, perdendo mais contato com
o piloto da Honda. A Ducati contra-atacou obtendo dobradinha na República
Tcheca, com Dovizioso de volta ao degrau mais alto do pódio após a vitória no
Qatar. Lorenzo foi 2º, mas Márquez, mantendo a constância, foi o 3º, de modo
que a vantagem dele na classificação não sofreu um abalo tão forte quanto o
necessário. Na Áustria, onde a Ducati havia vencido no ano passado, mais um
triunfo para os italianos, mas com Jorge Lorenzo. Dovizioso acabou em 3º,
enquanto Márquez foi o 2º, e mostrava que alcança-lo na pontuação iria ser
mesmo complicado nesta temporada.
O cancelamento da
etapa da Grã-Bretanha, devido ao mau tempo que assolou Silverstone e ao péssimo
recapeamento da pista foi um balde de água fria, literalmente falando, para a
Ducati, que ansiava pela chance de descontar parte da vantagem de Marc. Com uma
corrida a menos no calendário, o trabalho teria de ser dobrado nas etapas
restantes, e Dovizioso até foi para o ataque em San Marino, averbando sua 3ª
vitória no ano. Mas, com Márquez em 2º lugar, a comemoração da vitória não foi
tão efusiva como se gostaria, com a dianteira do piloto da Honda ainda muito
alta. Já não bastava apenas a Ducati fazer tudo certo: era preciso que Márquez
também tivesse um fim de semana ruim, e mais de um, para reequilibrar a
disputa. E foi aí que as coisas azedaram de vez para os italianos.
Marc Márquez
enfileirou três triunfos consecutivos, em Aragón, Tailândia, e Japão, acabando
com qualquer esperança de Andrea permanecer na luta pelo título. Dovizioso bem
que tentou, mas não conseguiu surpreender o rival como fizera em vários
momentos do ano passado. E foi nos extremos a disputa em Aragón e na Tailândia,
com Márquez a vencer por diferenças mínimas. E, calejado pelas disputas em que
perdeu para Dovizioso na última volta na temporada passada, o piloto da Honda tratou
de não dar brechas que o rival pudesse aproveitar na disputa de ambas as
corridas. E assim, encerrou-se a disputa pelo título da temporada 2018 da
MotoGP, ainda com 3 provas por serem disputadas, onde o duelo agora é para
vermos quem será o vice-campeão, em um duelo entre Dovizioso, e Valentino
Rossi. Com a queda de Andrea em Motegi, e o 4º lugar do “Doutor”, ambos estão
separados por apenas 1 ponto na classificação, com o piloto da Ducati à frente
de Rossi.
Pelo melhor conjunto
da Desmosédici, Dovizioso tem tudo para ser vice-campeão pelo segundo ano
consecutivo. Mas a sorte parece não estar muito a seu lado, conforme se pode ver
pela inconstância nos resultados ao longo do ano. Por outro lado, o time dos
três diapasões tenta de todas as formas encerrar o ano com alguma dignidade, e
Valentino ser o vice-campeão seria muito bem-vindo. Mais atrás na pontuação,
Maverick Viñales e Cal Crutchlow até podem sonhar matematicamente com o vice,
mas estão muito atrás para tirarem toda a diferença que os separam de Dovizioso
e Rossi. E Jorge Lorenzo, que a certa altura achava que ia lutar pelo título,
está literalmente fora de combate. Os dois tombos sofridos em Misano e Aragón
já foram um duro golpe por perder resultados importantes em potencial que
poderiam alavancar sua posição na tabela do campeonato, mas o tombo sofrido na
Tailândia foi pavoroso, e não apenas o tirou da etapa do Japão, como das etapas
da Austrália e da Malásia, uma vez que o espanhol precisou passar por uma
cirurgia para corrigir os ferimentos no pulso em decorrência do tombo sofrido.
Jorge tem expectativa de retornar em Sepang, mas muito provavelmente só o
veremos de novo em Valência, no encerramento do campeonato.
E Márquez? Até onde a
“Formiga Atômica” pode ir na MotoGP? Muitos apostam que ele poderá superar as
marcas de Valentino Rossi, o piloto mais vencedor em atividade. Mas
precisaremos ver como se desenrolará o próximo campeonato, quando Marc terá
como companheiro de equipe seu compatriota Jorge Lorenzo, que deverá ser um
rival muito mais forte do que Dani Pedrosa jamais foi nestes seis anos que a
dupla dividiu os boxes do time oficial da Honda. Mas, pelo que já mostrou até
aqui, Márquez não precisa temer ninguém a seu lado no box. Ele já demonstrou
seu imenso talento, e mais importante, aprendeu com seus erros, e hoje, apesar
de ainda sérum piloto extremamente arrojado, sabe quando é preciso pensar antes
de agir, e como superar os rivais na pista quando a disputa fica muito mais
acirrada.
Quando estreou na
classe rainha do motociclismo, em 2013, Márquez era um furacão, atropelando
tudo por onde passava. Com uma moto que era a melhor do grid, ele simplesmente
partia para cima dos rivais, que em muitos casos, não tinham como enfrenta-lo à
altura. Isso ficou ainda mais evidente no ano seguinte, onde já campeão em seu
ano de estréia, simplesmente arrasou a concorrência, vencendo nada menos do que
as 10 primeiras corridas do campeonato. Era um autêntico “tudo ou nada”, e Marc
levava tudo em quase todas as oportunidades. Parecia imparável. Mas, e quando
ele enfrentasse disputas pra valer, precisando rebolar para conseguir superar
os adversários? Manteria o mesmo ritmo de vitórias e superioridade?
A temporada de 2015
deu uma boa resposta: com uma moto que já não era superior aos rivais, teve que
assistir à luta particular da dupla da Yamaha pelo título, ficando “apenas” em
3º lugar no campeonato. Foi também a temporada onde Márquez teve mais
abandonos, a imensa maioria por inconformismo em tentar andar tão ou mais
rápido do que todos, como que não aceitando ser superado de jeito nenhum. Mas
isso foi bom para ele, que começou a aprender que guiar disparado na frente era
fácil, quando se tinha um equipamento superior, e um parceiro de equipe que não
conseguia acompanhar o seu ritmo. Foi ali que Marc viu que tinha suas falhas e
deficiências, e começou a corrigir seu modo de atuar nas corridas.
O resultado foi um
Marc Márquez mais cerebral, estratégico, e para azar dos adversários, ainda
extremamente veloz e arrojado. Lutando sempre pela vitória, mas reconhecendo
quando a situação recomendava cautela, preferindo garantir pontos a tentar
exagerar demais e ficar sem nada. Passou a errar muito menos quando
pressionado, e aprendeu a ser paciente, sabendo aguardar o momento certo de
defender e atacar na pista. E, principalmente, tentar evitar confusões que
comprometessem resultados potenciais. O resultado disso foi que em 2017 Marc teve
apenas 3 abandonos, e sua pior posição na bandeirada foi um 6º lugar em Mugello.
E neste ano, a eficiência foi ainda maior, ficando sem pontuar em apenas 2
provas, mas vencendo nada menos do que 8 corridas em 15 etapas disputadas. A
Ducati venceu 6 provas, mas divididas igualmente entre sua dupla, com 3
triunfos para Andrea Dovizioso, e 3 para Jorge Lorenzo. Cal Cruthlow, da LCR,
ficou com a vitória restante, ao triunfar na Argentina. Um desnível assombroso
para seus rivais.
Alberto Puig, chefe do
time da Honda, tratou de enaltecer seu piloto pentacampeão, afirmando que
Márquez esteve acima do que sua moto poderia oferecer na temporada como um
todo. É uma verdade relativa: a RC213V e a Desmosédici foram as melhores motos
do ano, mas Márquez conseguiu extrair de seu equipamento a velocidade
necessária com muito mais constância e eficiência, algo que Dovizioso e Lorenzo
não conseguiram igualar. Mas a RC213V em nenhum momento foi uma moto pouco
competitiva, a exemplo do que a Yamaha teve em seu modelo YZR-M1 neste ano. Mas
que Márquez fez a diferença, isso fez. Basta ver os parcos resultados obtidos
por Dani Pedrosa, que azares e problemas alheios à parte, faz uma temporada de
despedida lamentável para um piloto de seu currículo.
Foi uma campanha quase
irretocável de Márquez. E seus adversários ficaram devendo, ora pelo
equipamento que dispunham, ora pelo empenho nas corridas. Se não melhorarem,
melhor irem se acostumando com a “Formiga Atômica” enfileirando troféus de
campeão em sequência pelos próximos anos. E isso não é nenhum blefe, muito pelo
contrário...
Com ou sem título já conquistado
por Marc Márquez, ainda temos provas no campeonato da MotoGP, e a parada deste
final de semana é a etapa da Austrália, no já conhecido circuito de Phillip
Island, ao sul de Melbourne. Com 4,4 km de extensão e 12 curvas, a prova será
disputada em 27 voltas. E quem acha que Márquez vai abrandar o ritmo depois de
faturar o pentacampeonato, que tire o cavalo da chuva: no ano passado, o piloto
venceu a corrida australiana, secundado pela dupla da Yamaha. Marc está em
ponto de bala para repetir o resultado este ano. Já a dupla da Yamaha, não se
pode dizer o mesmo, com base no que vimos na temporada até aqui. A corrida será
transmitida ao vivo pelo canal pago SporTV3, com narração do competente Guto
Nejain, e comentários de Fausto Macieira...
Enquanto isso, a F-1 inicia hoje
os treinos oficiais para o GP do México. Lewis Hamilton fecha a fatura do seu
pentacampeonato? Basta um sétimo lugar, independentemente do que Sebastian Vettel
faça. Não deve escapar desta vez... Se bem que não seria nada mal a decisão
ocorrer no Brasil, também... O primeiro título de Hamilton veio em Interlagos,
e fã confesso de Ayrton Senna, o inglês certamente sentiria-se honrado em ser
novamente campeão por aqui...
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