sexta-feira, 26 de outubro de 2018

PENTACAMPEONATO NA MOTOGP

Marc Márquez arrepiou nas pistas da MotoGP em 2018 e faturou mais um título, chegando ao pentacampeonato. Alguém pode deter a "Formiga Atômica" da equipe Honda? 

            Muitos esperavam ver a conquista do pentacampeonato por parte de Lewis Hamilton na Fórmula 1, no GP dos Estados Unidos, em Austin, no Texas, domingo passado. Passou perto, e provavelmente virá neste final de semana, na etapa do México. Mas o mundo da velocidade não ficou sem comemorar a conquista de um pentacampeonato no último domingo, e ele veio do outro lado do mundo, no Grande Prêmio do Japão de MotoGp, disputado no circuito misto do complexo de Motegi, com a vitória de Marc Márquez, e liquidando a fatura da luta pelo título da classe rainha do motociclismo. E com todos os méritos. E melhor ainda para a Honda, dona da pista, e da equipe de fábrica de Márquez, que mais uma vez vê o título ser conquistado em sua propriedade.
            A disputa já estava complicada. Márquez já havia aberto grande vantagem na pontuação, e Andrea Dovizioso, da equipe oficial da Ducati, o único que ainda poderia almejar lutar pelo título com a “Formiga Atômica”, só estava vendo o rival distanciar-se nas etapas de Aragón e da Tailândia, onde ele acabou em 2º lugar nas duas provas, vendo Marc vencer e distanciar-se cada vez mais na liderança do campeonato. Na verdade, o resultado iria se repetir em Motegi, uma vez que Márquez superou Dovizioso na parte final da corrida, caminhando para mais uma vitória. Mas, Dovizioso acabou caindo no finalzinho, e só tornou mais pronunciada a derrota sofrida para o rival. Com o 2º lugar, se não tivesse caído, Andrea chegaria a 214 pontos, mas Márquez atingiria os mesmos 296 pontos, abrindo 82 pontos de vantagem no campeonato. E com apenas três corridas para encerrar a temporada, na Austrália, onde hoje começam os treinos em Phillip Island; na Malásia, no autódromo de Sepang; e por fim, a etapa da Comunidade Valenciana, no circuito Ricardo Tormo, em Valência; teríamos somente 75 pontos em jogo. Se Dovizioso tivesse conseguido segurar Márquez e vencido a corrida, a diferença entre ambos seria de 72 pontos, com 75 em disputa. Seria preciso um verdadeiro milagre para o piloto da Ducati chegar ao título, com vitória nas três provas, e ainda torcendo para Marc não fazer mais do que um 14º lugar nas mesmas corridas. Algo que só um desastre completo tornaria possível.
Andrea Dovizioso começou o ano na frente, mas acabou sucumbindo a meio da temporada. Restou a luta pelo vice-campeonato com Valentino Rossi...
            Marc Márquez não teve rivais nesta temporada. Mesmo a Ducati possuindo um equipamento competitivo, a exemplo do demonstrado no ano passado, a escuderia de Borgo Panigale não conseguiu exibir a mesma constância e sorte necessárias para fazer frente ao piloto da Honda e até então tetracampeão mundial da categoria. O campeonato até começou bem para Dovizioso, com uma vitória no mano a mano contra Márquez em Losail, dando a entender que assistiríamos a um novo round entre ambos, conforme havíamos visto e nos surpreendido em 2017. Marc, aliás, zerou na Argentina, para só vencer pela primeira vez em Austin, nos Estados Unidos. Até então, a briga estava parelha, com Dovizioso liderando com 46, contra 45 de Márquez. O duelo entre ambos parecia promissor, apesar do italiano ter ficado a dever na Argentina e Estados Unidos com um 5º e 6ºs lugares, após a vitória no Qatar. O clima viraria na etapa seguinte, na Espanha, em Jerez, onde a “Formiga Atômica” partiria para uma trinca de vitórias iniciada na corrida anterior, incluindo a França, em Le Mans, em um arranque fulminante para mostrar que não estava para brincadeira.
            Jerez e Le Mans foram pontos negros para Dovizioso, que abandonou as duas etapas e viu o rival vencer e disparar na liderança. E pior, com uma ajuda de Jorge Lorenzo, que na Espanha, ao resistir a ser ultrapassado pelo companheiro de equipe, deu o “X” para retomar a posição sem atentar que Dani Pedrosa já estava na trajetória. Ambos foram para o chão e ainda levaram Andrea junto. O clima na Ducati a esta altura do campeonato já não era mais tão amistoso quanto antes entre seus pilotos. Algo que ficaria ainda mais complicado na Itália, onde as Ducati reinaram e fizeram dobradinha, mas com Jorge Lorenzo a vencer, finalmente quebrando seu jejum na marca italiana. Dovizioso foi o 2º colocado, e Márquez, pela segunda vez no ano, não pontuava. A boa notícia era que a Ducati mostrava ter força para lutar pelo título contra Márquez e a Honda. A notícia negativa era que Lorenzo resolveu que mudaria de time para 2019, e comunicou à Ducati que no próximo ano pilotaria para a rival Honda. Definitivamente, o ambiente nos boxes da equipe italiana não estava mesmo em seus melhores dias.
Com uma Yamaha longe de seus melhores dias, o "Doutor" não teve como desafiar Márquez na luta pelo título em 2018.
            E a Yamaha? Apesar de algumas boas provas, tanto Maverick Viñales quanto Valentino Rossi passaram todo o ano sem vencer, e com uma performance inconstante que ora lhes permitia lutar pelo pódio, ora apenas por posições pontuáveis. Mas com desempenhos que deixaram a desejar quando era necessário tentar uma vitória. Mais experiente que Maverick, Valentino até segurou a vice-liderança do campeonato por um bom tempo, até ser superado por Dovizioso na classificação, sem chances de lutar efetivamente pelo título da temporada. E pior, sem que a Yamaha conseguisse ter uma resposta clara para a falta de performance da YZR-M1, onde por mais ajustes que fizessem no equipamento, não conseguiam obter um desempenho aceitável.
            Enquanto isso, após um novo triunfo de Lorenzo na Catalunha, onde foi o 2º colocado, Márquez voltou a abrir vantagem com duas vitórias na Holanda e na Alemanha, enquanto a dupla da Ducati voltou a ter um desempenho abaixo do esperado, perdendo mais contato com o piloto da Honda. A Ducati contra-atacou obtendo dobradinha na República Tcheca, com Dovizioso de volta ao degrau mais alto do pódio após a vitória no Qatar. Lorenzo foi 2º, mas Márquez, mantendo a constância, foi o 3º, de modo que a vantagem dele na classificação não sofreu um abalo tão forte quanto o necessário. Na Áustria, onde a Ducati havia vencido no ano passado, mais um triunfo para os italianos, mas com Jorge Lorenzo. Dovizioso acabou em 3º, enquanto Márquez foi o 2º, e mostrava que alcança-lo na pontuação iria ser mesmo complicado nesta temporada.
            O cancelamento da etapa da Grã-Bretanha, devido ao mau tempo que assolou Silverstone e ao péssimo recapeamento da pista foi um balde de água fria, literalmente falando, para a Ducati, que ansiava pela chance de descontar parte da vantagem de Marc. Com uma corrida a menos no calendário, o trabalho teria de ser dobrado nas etapas restantes, e Dovizioso até foi para o ataque em San Marino, averbando sua 3ª vitória no ano. Mas, com Márquez em 2º lugar, a comemoração da vitória não foi tão efusiva como se gostaria, com a dianteira do piloto da Honda ainda muito alta. Já não bastava apenas a Ducati fazer tudo certo: era preciso que Márquez também tivesse um fim de semana ruim, e mais de um, para reequilibrar a disputa. E foi aí que as coisas azedaram de vez para os italianos.
O clima esquentou nos boxes da Ducati, com Andrea Dovizioso e Jorge Lorenzo se desentendendo na pista e nos boxes. E Lorenzo ainda deu azar de sofrer vários tombos, como em Aragón (abaixo), onde largou na pole e foi para o chão logo na primeira curva...
            Marc Márquez enfileirou três triunfos consecutivos, em Aragón, Tailândia, e Japão, acabando com qualquer esperança de Andrea permanecer na luta pelo título. Dovizioso bem que tentou, mas não conseguiu surpreender o rival como fizera em vários momentos do ano passado. E foi nos extremos a disputa em Aragón e na Tailândia, com Márquez a vencer por diferenças mínimas. E, calejado pelas disputas em que perdeu para Dovizioso na última volta na temporada passada, o piloto da Honda tratou de não dar brechas que o rival pudesse aproveitar na disputa de ambas as corridas. E assim, encerrou-se a disputa pelo título da temporada 2018 da MotoGP, ainda com 3 provas por serem disputadas, onde o duelo agora é para vermos quem será o vice-campeão, em um duelo entre Dovizioso, e Valentino Rossi. Com a queda de Andrea em Motegi, e o 4º lugar do “Doutor”, ambos estão separados por apenas 1 ponto na classificação, com o piloto da Ducati à frente de Rossi.
            Pelo melhor conjunto da Desmosédici, Dovizioso tem tudo para ser vice-campeão pelo segundo ano consecutivo. Mas a sorte parece não estar muito a seu lado, conforme se pode ver pela inconstância nos resultados ao longo do ano. Por outro lado, o time dos três diapasões tenta de todas as formas encerrar o ano com alguma dignidade, e Valentino ser o vice-campeão seria muito bem-vindo. Mais atrás na pontuação, Maverick Viñales e Cal Crutchlow até podem sonhar matematicamente com o vice, mas estão muito atrás para tirarem toda a diferença que os separam de Dovizioso e Rossi. E Jorge Lorenzo, que a certa altura achava que ia lutar pelo título, está literalmente fora de combate. Os dois tombos sofridos em Misano e Aragón já foram um duro golpe por perder resultados importantes em potencial que poderiam alavancar sua posição na tabela do campeonato, mas o tombo sofrido na Tailândia foi pavoroso, e não apenas o tirou da etapa do Japão, como das etapas da Austrália e da Malásia, uma vez que o espanhol precisou passar por uma cirurgia para corrigir os ferimentos no pulso em decorrência do tombo sofrido. Jorge tem expectativa de retornar em Sepang, mas muito provavelmente só o veremos de novo em Valência, no encerramento do campeonato.
            E Márquez? Até onde a “Formiga Atômica” pode ir na MotoGP? Muitos apostam que ele poderá superar as marcas de Valentino Rossi, o piloto mais vencedor em atividade. Mas precisaremos ver como se desenrolará o próximo campeonato, quando Marc terá como companheiro de equipe seu compatriota Jorge Lorenzo, que deverá ser um rival muito mais forte do que Dani Pedrosa jamais foi nestes seis anos que a dupla dividiu os boxes do time oficial da Honda. Mas, pelo que já mostrou até aqui, Márquez não precisa temer ninguém a seu lado no box. Ele já demonstrou seu imenso talento, e mais importante, aprendeu com seus erros, e hoje, apesar de ainda sérum piloto extremamente arrojado, sabe quando é preciso pensar antes de agir, e como superar os rivais na pista quando a disputa fica muito mais acirrada.
            Quando estreou na classe rainha do motociclismo, em 2013, Márquez era um furacão, atropelando tudo por onde passava. Com uma moto que era a melhor do grid, ele simplesmente partia para cima dos rivais, que em muitos casos, não tinham como enfrenta-lo à altura. Isso ficou ainda mais evidente no ano seguinte, onde já campeão em seu ano de estréia, simplesmente arrasou a concorrência, vencendo nada menos do que as 10 primeiras corridas do campeonato. Era um autêntico “tudo ou nada”, e Marc levava tudo em quase todas as oportunidades. Parecia imparável. Mas, e quando ele enfrentasse disputas pra valer, precisando rebolar para conseguir superar os adversários? Manteria o mesmo ritmo de vitórias e superioridade?
            A temporada de 2015 deu uma boa resposta: com uma moto que já não era superior aos rivais, teve que assistir à luta particular da dupla da Yamaha pelo título, ficando “apenas” em 3º lugar no campeonato. Foi também a temporada onde Márquez teve mais abandonos, a imensa maioria por inconformismo em tentar andar tão ou mais rápido do que todos, como que não aceitando ser superado de jeito nenhum. Mas isso foi bom para ele, que começou a aprender que guiar disparado na frente era fácil, quando se tinha um equipamento superior, e um parceiro de equipe que não conseguia acompanhar o seu ritmo. Foi ali que Marc viu que tinha suas falhas e deficiências, e começou a corrigir seu modo de atuar nas corridas.
            O resultado foi um Marc Márquez mais cerebral, estratégico, e para azar dos adversários, ainda extremamente veloz e arrojado. Lutando sempre pela vitória, mas reconhecendo quando a situação recomendava cautela, preferindo garantir pontos a tentar exagerar demais e ficar sem nada. Passou a errar muito menos quando pressionado, e aprendeu a ser paciente, sabendo aguardar o momento certo de defender e atacar na pista. E, principalmente, tentar evitar confusões que comprometessem resultados potenciais. O resultado disso foi que em 2017 Marc teve apenas 3 abandonos, e sua pior posição na bandeirada foi um 6º lugar em Mugello. E neste ano, a eficiência foi ainda maior, ficando sem pontuar em apenas 2 provas, mas vencendo nada menos do que 8 corridas em 15 etapas disputadas. A Ducati venceu 6 provas, mas divididas igualmente entre sua dupla, com 3 triunfos para Andrea Dovizioso, e 3 para Jorge Lorenzo. Cal Cruthlow, da LCR, ficou com a vitória restante, ao triunfar na Argentina. Um desnível assombroso para seus rivais.
            Alberto Puig, chefe do time da Honda, tratou de enaltecer seu piloto pentacampeão, afirmando que Márquez esteve acima do que sua moto poderia oferecer na temporada como um todo. É uma verdade relativa: a RC213V e a Desmosédici foram as melhores motos do ano, mas Márquez conseguiu extrair de seu equipamento a velocidade necessária com muito mais constância e eficiência, algo que Dovizioso e Lorenzo não conseguiram igualar. Mas a RC213V em nenhum momento foi uma moto pouco competitiva, a exemplo do que a Yamaha teve em seu modelo YZR-M1 neste ano. Mas que Márquez fez a diferença, isso fez. Basta ver os parcos resultados obtidos por Dani Pedrosa, que azares e problemas alheios à parte, faz uma temporada de despedida lamentável para um piloto de seu currículo.
            Foi uma campanha quase irretocável de Márquez. E seus adversários ficaram devendo, ora pelo equipamento que dispunham, ora pelo empenho nas corridas. Se não melhorarem, melhor irem se acostumando com a “Formiga Atômica” enfileirando troféus de campeão em sequência pelos próximos anos. E isso não é nenhum blefe, muito pelo contrário...


Com ou sem título já conquistado por Marc Márquez, ainda temos provas no campeonato da MotoGP, e a parada deste final de semana é a etapa da Austrália, no já conhecido circuito de Phillip Island, ao sul de Melbourne. Com 4,4 km de extensão e 12 curvas, a prova será disputada em 27 voltas. E quem acha que Márquez vai abrandar o ritmo depois de faturar o pentacampeonato, que tire o cavalo da chuva: no ano passado, o piloto venceu a corrida australiana, secundado pela dupla da Yamaha. Marc está em ponto de bala para repetir o resultado este ano. Já a dupla da Yamaha, não se pode dizer o mesmo, com base no que vimos na temporada até aqui. A corrida será transmitida ao vivo pelo canal pago SporTV3, com narração do competente Guto Nejain, e comentários de Fausto Macieira...


Enquanto isso, a F-1 inicia hoje os treinos oficiais para o GP do México. Lewis Hamilton fecha a fatura do seu pentacampeonato? Basta um sétimo lugar, independentemente do que Sebastian Vettel faça. Não deve escapar desta vez... Se bem que não seria nada mal a decisão ocorrer no Brasil, também... O primeiro título de Hamilton veio em Interlagos, e fã confesso de Ayrton Senna, o inglês certamente sentiria-se honrado em ser novamente campeão por aqui...

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