sexta-feira, 5 de outubro de 2018

QUEIMANDO O FILME...

Um pódio extremamente constrangedor em Sochi, com Lewis Hamilton e Valtteri Bottas visivelmente pouco à vontade com o jogo de equipe ocorrido na pista (abaixo), onde o finlandês teve de ceder sua posição ao inglês. E ainda tendo de aguentar a presença de Putin na cerimônia de premiação...

            Conforme eu havia mencionado na coluna da semana passada, a prova da F-1 na Rússia foi novamente um porre, sem atrativo algum. Tirando as recuperações da dupla da Red Bull, que largou nas duas últimas filas, até se posicionarem em 5º e 6º, onde receberam a bandeirada, a corrida em Sochi só será lembrada mesmo pela presepada de Toto Wolf, que fez Valtteri Bottas ceder uma vitória para Lewis Hamilton, numa manobra descarada de jogo de equipe para, nas palavras dele, garantir mais vantagem a Lewis, e salvaguardar o triunfo do inglês, que estava ameaçado por Sebastian Vettel, da Ferrari, que andava muito próximo da dupla prateada. Deu no que deu... Wolf queimou bonito o filme, até então razoavelmente íntegro, da imagem esportiva da Mercedes...
            Desnecessário dizer novamente minha opinião nesse campo. Compreendo os jogos de equipe, e até os aceito, mas unicamente na última, ou nas últimas duas provas, quando apenas um dos pilotos está em condições de discutir o título, e ainda por cima, contra um rival que esteja em posição de ameaça real à conquista. E nada mais. Fora isso, é um acinte ao espírito esportivo, e podem me chamar de ingênuo, tonto, ou até idiota, mas nada me fará mudar de opinião. E também não adianta evocar o lance do interesse coletivo do time, que se Hamilton está lá, isso é unicamente graças ao trabalho coletivo de todos na Mercedes. Não nego isso. Mas certas medidas são completamente desnecessárias, e até covardes e ofensivas. Estou fazendo muito estardalhaço por algo que sempre existiu na categoria? Posso estar, mas mantenho minha posição, e não abro mão dela. E este tipo de atitude que a F-1 toma hoje em dia pode muito bem se voltar contra ela própria, e que depois ninguém vá reclamar.
            Em primeiro lugar, Vettel esteve realmente sempre próximo da dupla prateada a corrida inteira, e até conseguiu tomar o 2º lugar de Hamilton após o pit stop deste. Mas o inglês partiu para o ataque e recuperou a posição até com alguma facilidade, demonstrando um detalhe importante: a vantagem técnica que a Ferrari exibiu nas últimas corridas já foi anulada pelo time de Brackley, que conseguiu passar à frente, e tem no momento uma pequena vantagem sobre o time de Maranello. O que significa um golpe fatal para os italianos, pois perderam o melhor momento na competição para tentarem abrir folga na liderança, graças aos erros de Vettel, e do próprio time, quando errou nas estratégias. Mantidas as posições na pista, Hamilton ampliaria sua vantagem para 43 pontos, com 5 corridas e 125 pontos em jogo. Tudo bem que, agora, são 50 pontos, mas tal ato só revela falta de confiança, e até medo da equipe Mercedes, que demonstra com isso não confiar no próprio taco. Bottas, pelo que fazia no fim de semana, merecia um pouco mais de consideração, até porque também está em luta no campeonato com seu compatriota Kimi Raikkonen. Mas Wolf, nas suas próprias palavras, preferiu ser o vilão e o idiota do momento, para depois não se culpar pela perda do campeonato pelos pontos a mais que angariou para Hamilton em Sochi.
            Mas, a exemplo daquele fim de corrida sórdido em Zeltweg em 2002, quando a Ferrari privou Rubens Barrichello de um triunfo legítimo e merecido para dar a Michael Schumacher o primeiro lugar, aposto que estes pontos não farão falta alguma no encerramento do campeonato em Abu Dhabi, e até com facilidade. Lewis Hamilton vem guiando como nunca nesta temporada, e poderia passar sem essa mancha em seu currículo e no título do pentacampeonato mundial. Mas pesará contra ele a peça de “fraco”, por não ter tido a iniciativa e peito de, talvez na reta de chegada, devolver a posição da Bottas, e permitir que o parceiro tivesse o merecido respeito pelo que fez na primeira metade da corrida, com méritos próprios. Para alguém que chegou na McLaren em 2007 enfrentando Fernando Alonso, um bicampeão mundial, mostrando ousadia e arrojo logo de cara, Lewis fraquejou feio domingo passado em Sochi. Certamente, o triunfo na Rússia este ano não vai ser um GP que Hamilton gostará de relembrar...
O circuito de Suzuka recebe mais uma vez o Grande Prêmio do Japão de F-1.
            A patacoada ainda é o tema central das conversas de bastidores aqui em Suzuka, onde hoje começam os treinos livres para o GP do Japão, e tão cedo não serão esquecidos, por mais que boa parte dos chefes de equipe achem natural o que foi feito, assim como muitos torcedores que aceitam isso, e também o defendem. Não foi surpresa alguma Sebastian Vettel defender a manobra da Mercedes. Os pilotos campeões sempre serão a favor, porque em geral são eles que são os favorecidos por tais atos. Queria ver eles aceitarem isso tão tranquilamente assim se estivessem na outra posição, sendo os prejudicados pelas manobras.
            O forte argumento de que é um investimento milionário, obtido graças aos esforços de centenas de funcionários nas fábricas, e que o piloto é apenas a ponta final do processo, e que portanto deve obedecer aos desígnios da escuderia, que tem o direito de escolher como gerir o seu modo de agir, desde que não seja contra as regras, é compreensível. Mas fica a pergunta: e como fica a credibilidade do time, e da marca, quando algo assim acontece? Muitos vão dizer que estou sendo mimizento, e que tem muitos torcedores que não dão a mínima para isso, e até apoiam escancaradamente tal procedimento. Admito que isso não é mentira, que muitos torcedores pensam assim, e não acham nada demais. Mas, e os outros?
            Como um campeonato de escala mundial, o pináculo da competição automobilística, pelo menos em fama, já que em disputa mesmo a F-1 vem devendo melhores apresentações há muito tempo, a categoria máxima do automobilismo vem tendo problemas para renovar a sua base de fãs, que vem decrescendo, e já não é de hoje. O Liberty Media, que no início do ano passado, tomou posse como novo proprietário da competição, está dando duro para tentar reverter essa tendência de queda na popularidade da categoria, promovendo mudanças aqui e ali que deixem a competição mais “relax”, menos sisuda e séria, e menos asséptica e intragável na atitude de seus participantes. É algo necessário, até porque a F-1 havia se fechado em si mesmo, e agora, aos poucos, tenta se mostrar mais acessível e aberta ao público. Um público que, na opinião de Bernie Ecclestone, chegava a ser incômodo em determinados momentos, preferindo, como ele dizia, velhacos endinheirados a uma legião de jovens sem dinheiro para comprar os produtos da F-1.
A recuperação de Max Verstappen, largando do fim do grid, foi uma das poucas coisas positivas que tivemos no GP da Rússia.
            Bem, os velhacos endinheirados não estarão aí para sempre. E o grosso do público jovem de hoje que podem ser os consumidores de amanhã tem vários outros interesses, com os quais a F-1 precisa competir para atrair a sua atenção. Mas, com atitudes como a de domingo passado, a imagem que a categoria passa é de um jogo de cartas marcadas, onde o esporte deve se subjugar aos interesses dos times. Mas o grosso do público quer ver é disputa, briga, ultrapassagens, e até toques entre os competidores. Eles querem ver gladiadores na pista, e não um bando de pilotos autômatos que não podem duelar, se o interesse do time não for aquele. E as disputas já andam ruins há muito tempo, ainda mais por causa do esdrúxulo regulamento da categoria, que restringe o uso disso, daquilo. Uma das poucas coisas que poderiam salvar seria ver uma disputa a ferro e fogo entre os pilotos, mas nem isso estamos vendo a fundo. Max Verstappen surgiu como um furacão exatamente por não compactuar com essa mesmice. O holandês até fez certas bobagens exageradas, mas ele levanta a torcida porque vai para cima. Mas aceitaria jogo de equipe? E se fosse ele o prejudicado na ocasião?
Como de costume desde que estreou no calendário da F-1, a corrida em Sochi foi bem monótona e sem muitos atrativos...
            Se os torcedores virarem a cara para a F-1 por causa do jogo de equipe praticado nela, todos perderão. Com a diminuição do público, e consequentemente da audiência, e do interesse, será que a categoria conseguiria se manter, nos níveis estratosféricos de gastos a que se acostumou? E, pior, os torcedores ligarem as marcas dos times, a estes gestos antiesportivos? Valerá a pena a Mercedes ficar “marcada” com a imagem de marca esportiva “de araque”? Dá-se muito duro para se adquirir credibilidade e confiança. Perdê-la, contudo, pode ocorrer em questão de minutos, às vezes por causa de um único gesto impensado, ou cujas consequências não foram devidamente avaliadas. Estou sendo muito negativo? Muitos patrocinadores podem preferir perder com honra a vencerem com atos desleais. A imagem limpa de um esportista é algo valioso, e que pode render muito na batalha do marketing, que é o motivo de todos que patrocinam o esporte. Ter essa imagem manchada, ou comprometida, pode ser desastroso. Talvez mais, talvez menos. A F-1 ainda tem muita força, e torcida mundo afora, legiões de fãs apaixonados que a seguem, muitos não importando se tem jogo de equipe ou não. Mas os tempos são outros, e a audiência e a paixão já não são como outrora. Perder a atratividade, e talvez a credibilidade, por gestos dispensáveis como o de domingo passado poderá ser um passo em falso fatal para a F-1, se não tomarem os devidos cuidados.
            Calcados na cultura norte-americana de competições, o Liberty Media certamente deverá ter algo a dizer sobre isso, se ver que seus esforços para revitalizar a fama e a atratividade da categoria forem prejudicados por manobras de jogos de equipe, sejam elas em que posições forem. Proibir o jogo de equipe? Já foi tentado, em vão. De um jeito ou de outro, as escuderias fazem valer os seus interesses. Vai ser preciso mexer com isso em algum momento, para evitar que a credibilidade da disputa não seja maculado, ou pelo menos, não comprometido como pode ficar. Ou então, passemos a ter apenas um piloto por time, e aí, ficamos todos resolvidos.
            É uma situação que poderá ser muito complicada de se resolver. Isso ainda vai dar muita discussão, e boa parte delas bem acalorada. Bem, os times acabam pedindo por isso, então, que aguentam a enxurrada de críticas. Resta saber se as diretorias das empresas gostarão da brincadeira... Acho que o pessoal da Mercedes em Stuttgart deve ter tido uma semana cheia desde domingo...


Daniil Kvyat está de volta como piloto titular na F-1. O piloto russo, despromovido e enxotado da Red Bull e despedido da Toro Rosso, vai voltar como piloto... Da Toro Rosso! A seca de pilotos, consequência da truculência de Helmut Marko no programa de desenvolvimento da Red Bull, deixou os taurinos praticamente sem nomes para promover a seu time B em 2019. E acabaram engolindo em seco, e tendo de trazer Kvyat de volta, que acabou aceitando retornar como piloto daqueles que há quase dois ano atrás lhe deram uma tremenda rasteira na carreira, na ânsia de promoverem o seu queridinho Max Verstappen, algo que até se justificou, em razão do talento do holandês atrevidinho, mas que não precisava ter feito uma baixaria daquela com o russo, que não era nenhum pé de breque, embora estivesse tendo alguns problemas. Resta saber se darão o devido valor a ele agora, mas querem apostar que, na primeira oportunidade, vão espinafrar o piloto novamente? Não duvido muito não... Só espero que Kvyat responda à altura à nova chance, e cale a boca dos mada-chuvas da Red Bull. Por enquanto, só elogios, dizendo que Daniil é um piloto mais maduro e experiente agora, graças a sua experiência como piloto de simulador na Ferrari... Para elogiarem assim, tiveram que engolir mesmo os erros que fizeram com muitos pilotos de seu programa de formação...


A Hass, contrariando as expectativas de muita gente, renovou com sua dupla de pilotos para a próxima temporada da F-1, fechando assim duas vagas que estavam sendo muito cobiçadas por pilotos que estão sem cockpit definido para 2019. Kevin Magnussen e Romain Grosjean ganharam mais um voto de confiança de Gene Hass, e terão uma nova temporada para mostrar o que valem, apesar dos rolos e confusões que se meteram neste ano, e que poderiam ter feito o time americano ser facilmente o 4º colocado no campeonato de construtores. A escuderia faz sua melhor temporada desde que estreou na F-1, e tem tudo para continuar evoluindo no próximo ano. E, se Magnussen e Grosjean pararem de se envolver em confusões na pista, quando não tem azares alheios a seu controle, tem tudo para fazerem um excelente ano. Na opinião de alguns, contudo, faltou mais ousadia e determinação à escuderia, que poderia ter tentado arrumar novos titulares, para tentar dar um salto de performance ainda mais elevado. Mas também pode significar que muitos nomes visados infelizmente não eram viáveis, ou tinham algum fator que complicava a situação, como é o caso de Esteban Ocon, que até o presente momento, está praticamente sem vaga para o próximo ano, sendo que seu vínculo com a Mercedes acabou até atrapalhando algumas negociações envolvendo o nome do piloto. Portanto, Magnussen e Grosjean que deem graças aos céus pela nova chance, e tenham um pouco mais de juízo nas próximas corridas, começando aqui mesmo em Suzuka...


Quem também fechou sua dupla de pilotos para o próximo ano é a Sauber/Alfa Romeo, com a confirmação de Antonio Giovinazzi como companheiro de Kimi Raikkonen para 2019. Com isso, Marcus Ericsson finalmente dança, devido aos poucos resultados que sempre demonstrou na escuderia, desde os tempos em que era companheiro de Felipe Nasr. Mas o sueco ainda está ligado ao time, onde permanecerá como piloto reserva e de testes.


E a MotoGP chegou à Tailândia para a estréia do país do sudeste asiático na classe rainha do motociclismo. A pista do Chang International Circuit tem uma extensão de 4,6 Km, com 5 curvas para a esquerda e 7 para a direita. A corrida, que terá transmissão ao vivo pelo SporTV2 a partir das 4 da manhã, horário de Brasília no domingo, terá 26 voltas, com um percurso total de 118,4 Km. Na pista, Marc Márquez tentará aumentar ainda mais a sua já imensa vantagem de 72 pontos na classificação do campeonato, à frente do italiano Andrea Dovizioso, da Ducati, que vai tentar dar o máximo para evitar que isso aconteça. Até o fechamento desta coluna, ainda estava em dúvida a participação de Jorge Lorenzo na prova. O piloto espanhol machucou o pé na queda que sofreu na largada da última corrida, na pista de Aragón, Espanha. Lorenzo largou na pole, mas logo na primeira curva, caiu sozinho da moto, dando adeus à corrida, e ainda sofrendo esse ferimento. Jorge desandou a acusar Márquez de ter lhe forçado a ir para aquele ponto da pista, onde acabou caindo, o que foi visto como uma desculpa completamente esfarrapada, já que as imagens mostraram que o piloto da Honda em nenhum momento empurrou seu compatriota da Ducati na tomada do traçado da curva. Posteriormente, Lorenzo esfriou a cabeça e retirou suas críticas, mas isso já prenuncia que o clima na equipe oficial da Honda em 2019 tende a pegar fogo, já que Lorenzo e Márquez serão companheiros na escuderia...

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