Conforme eu havia
mencionado na coluna da semana passada, a prova da F-1 na Rússia foi novamente
um porre, sem atrativo algum. Tirando as recuperações da dupla da Red Bull, que
largou nas duas últimas filas, até se posicionarem em 5º e 6º, onde receberam a
bandeirada, a corrida em Sochi só será lembrada mesmo pela presepada de Toto
Wolf, que fez Valtteri Bottas ceder uma vitória para Lewis Hamilton, numa
manobra descarada de jogo de equipe para, nas palavras dele, garantir mais
vantagem a Lewis, e salvaguardar o triunfo do inglês, que estava ameaçado por
Sebastian Vettel, da Ferrari, que andava muito próximo da dupla prateada. Deu
no que deu... Wolf queimou bonito o filme, até então razoavelmente íntegro, da
imagem esportiva da Mercedes...
Desnecessário dizer
novamente minha opinião nesse campo. Compreendo os jogos de equipe, e até os
aceito, mas unicamente na última, ou nas últimas duas provas, quando apenas um
dos pilotos está em condições de discutir o título, e ainda por cima, contra um
rival que esteja em posição de ameaça real à conquista. E nada mais. Fora isso,
é um acinte ao espírito esportivo, e podem me chamar de ingênuo, tonto, ou até
idiota, mas nada me fará mudar de opinião. E também não adianta evocar o lance
do interesse coletivo do time, que se Hamilton está lá, isso é unicamente
graças ao trabalho coletivo de todos na Mercedes. Não nego isso. Mas certas
medidas são completamente desnecessárias, e até covardes e ofensivas. Estou
fazendo muito estardalhaço por algo que sempre existiu na categoria? Posso
estar, mas mantenho minha posição, e não abro mão dela. E este tipo de atitude
que a F-1 toma hoje em dia pode muito bem se voltar contra ela própria, e que
depois ninguém vá reclamar.
Em primeiro lugar,
Vettel esteve realmente sempre próximo da dupla prateada a corrida inteira, e
até conseguiu tomar o 2º lugar de Hamilton após o pit stop deste. Mas o inglês
partiu para o ataque e recuperou a posição até com alguma facilidade,
demonstrando um detalhe importante: a vantagem técnica que a Ferrari exibiu nas
últimas corridas já foi anulada pelo time de Brackley, que conseguiu passar à
frente, e tem no momento uma pequena vantagem sobre o time de Maranello. O que
significa um golpe fatal para os italianos, pois perderam o melhor momento na
competição para tentarem abrir folga na liderança, graças aos erros de Vettel,
e do próprio time, quando errou nas estratégias. Mantidas as posições na pista,
Hamilton ampliaria sua vantagem para 43 pontos, com 5 corridas e 125 pontos em
jogo. Tudo bem que, agora, são 50 pontos, mas tal ato só revela falta de
confiança, e até medo da equipe Mercedes, que demonstra com isso não confiar no
próprio taco. Bottas, pelo que fazia no fim de semana, merecia um pouco mais de
consideração, até porque também está em luta no campeonato com seu compatriota
Kimi Raikkonen. Mas Wolf, nas suas próprias palavras, preferiu ser o vilão e o
idiota do momento, para depois não se culpar pela perda do campeonato pelos
pontos a mais que angariou para Hamilton em Sochi.
Mas, a exemplo daquele
fim de corrida sórdido em Zeltweg em 2002, quando a Ferrari privou Rubens
Barrichello de um triunfo legítimo e merecido para dar a Michael Schumacher o
primeiro lugar, aposto que estes pontos não farão falta alguma no encerramento
do campeonato em Abu Dhabi, e até com facilidade. Lewis Hamilton vem guiando
como nunca nesta temporada, e poderia passar sem essa mancha em seu currículo e
no título do pentacampeonato mundial. Mas pesará contra ele a peça de “fraco”,
por não ter tido a iniciativa e peito de, talvez na reta de chegada, devolver a
posição da Bottas, e permitir que o parceiro tivesse o merecido respeito pelo
que fez na primeira metade da corrida, com méritos próprios. Para alguém que
chegou na McLaren em 2007 enfrentando Fernando Alonso, um bicampeão mundial,
mostrando ousadia e arrojo logo de cara, Lewis fraquejou feio domingo passado
em Sochi. Certamente, o triunfo na Rússia este ano não vai ser um GP que
Hamilton gostará de relembrar...
O circuito de Suzuka recebe mais uma vez o Grande Prêmio do Japão de F-1. |
A patacoada ainda é o
tema central das conversas de bastidores aqui em Suzuka, onde hoje começam os
treinos livres para o GP do Japão, e tão cedo não serão esquecidos, por mais
que boa parte dos chefes de equipe achem natural o que foi feito, assim como
muitos torcedores que aceitam isso, e também o defendem. Não foi surpresa
alguma Sebastian Vettel defender a manobra da Mercedes. Os pilotos campeões
sempre serão a favor, porque em geral são eles que são os favorecidos por tais
atos. Queria ver eles aceitarem isso tão tranquilamente assim se estivessem na
outra posição, sendo os prejudicados pelas manobras.
O forte argumento de
que é um investimento milionário, obtido graças aos esforços de centenas de
funcionários nas fábricas, e que o piloto é apenas a ponta final do processo, e
que portanto deve obedecer aos desígnios da escuderia, que tem o direito de
escolher como gerir o seu modo de agir, desde que não seja contra as regras, é
compreensível. Mas fica a pergunta: e como fica a credibilidade do time, e da
marca, quando algo assim acontece? Muitos vão dizer que estou sendo mimizento,
e que tem muitos torcedores que não dão a mínima para isso, e até apoiam
escancaradamente tal procedimento. Admito que isso não é mentira, que muitos
torcedores pensam assim, e não acham nada demais. Mas, e os outros?
Como um campeonato de
escala mundial, o pináculo da competição automobilística, pelo menos em fama,
já que em disputa mesmo a F-1 vem devendo melhores apresentações há muito
tempo, a categoria máxima do automobilismo vem tendo problemas para renovar a
sua base de fãs, que vem decrescendo, e já não é de hoje. O Liberty Media, que
no início do ano passado, tomou posse como novo proprietário da competição,
está dando duro para tentar reverter essa tendência de queda na popularidade da
categoria, promovendo mudanças aqui e ali que deixem a competição mais “relax”,
menos sisuda e séria, e menos asséptica e intragável na atitude de seus
participantes. É algo necessário, até porque a F-1 havia se fechado em si
mesmo, e agora, aos poucos, tenta se mostrar mais acessível e aberta ao
público. Um público que, na opinião de Bernie Ecclestone, chegava a ser
incômodo em determinados momentos, preferindo, como ele dizia, velhacos
endinheirados a uma legião de jovens sem dinheiro para comprar os produtos da
F-1.
A recuperação de Max Verstappen, largando do fim do grid, foi uma das poucas coisas positivas que tivemos no GP da Rússia. |
Bem, os velhacos
endinheirados não estarão aí para sempre. E o grosso do público jovem de hoje que
podem ser os consumidores de amanhã tem vários outros interesses, com os quais
a F-1 precisa competir para atrair a sua atenção. Mas, com atitudes como a de
domingo passado, a imagem que a categoria passa é de um jogo de cartas
marcadas, onde o esporte deve se subjugar aos interesses dos times. Mas o
grosso do público quer ver é disputa, briga, ultrapassagens, e até toques entre
os competidores. Eles querem ver gladiadores na pista, e não um bando de
pilotos autômatos que não podem duelar, se o interesse do time não for aquele.
E as disputas já andam ruins há muito tempo, ainda mais por causa do esdrúxulo
regulamento da categoria, que restringe o uso disso, daquilo. Uma das poucas
coisas que poderiam salvar seria ver uma disputa a ferro e fogo entre os
pilotos, mas nem isso estamos vendo a fundo. Max Verstappen surgiu como um
furacão exatamente por não compactuar com essa mesmice. O holandês até fez
certas bobagens exageradas, mas ele levanta a torcida porque vai para cima. Mas
aceitaria jogo de equipe? E se fosse ele o prejudicado na ocasião?
Como de costume desde que estreou no calendário da F-1, a corrida em Sochi foi bem monótona e sem muitos atrativos... |
Se os torcedores
virarem a cara para a F-1 por causa do jogo de equipe praticado nela, todos perderão.
Com a diminuição do público, e consequentemente da audiência, e do interesse,
será que a categoria conseguiria se manter, nos níveis estratosféricos de
gastos a que se acostumou? E, pior, os torcedores ligarem as marcas dos times,
a estes gestos antiesportivos? Valerá a pena a Mercedes ficar “marcada” com a
imagem de marca esportiva “de araque”? Dá-se muito duro para se adquirir
credibilidade e confiança. Perdê-la, contudo, pode ocorrer em questão de
minutos, às vezes por causa de um único gesto impensado, ou cujas consequências
não foram devidamente avaliadas. Estou sendo muito negativo? Muitos
patrocinadores podem preferir perder com honra a vencerem com atos desleais. A
imagem limpa de um esportista é algo valioso, e que pode render muito na batalha
do marketing, que é o motivo de todos que patrocinam o esporte. Ter essa imagem
manchada, ou comprometida, pode ser desastroso. Talvez mais, talvez menos. A
F-1 ainda tem muita força, e torcida mundo afora, legiões de fãs apaixonados
que a seguem, muitos não importando se tem jogo de equipe ou não. Mas os tempos
são outros, e a audiência e a paixão já não são como outrora. Perder a
atratividade, e talvez a credibilidade, por gestos dispensáveis como o de
domingo passado poderá ser um passo em falso fatal para a F-1, se não tomarem
os devidos cuidados.
Calcados na cultura
norte-americana de competições, o Liberty Media certamente deverá ter algo a
dizer sobre isso, se ver que seus esforços para revitalizar a fama e a
atratividade da categoria forem prejudicados por manobras de jogos de equipe,
sejam elas em que posições forem. Proibir o jogo de equipe? Já foi tentado, em
vão. De um jeito ou de outro, as escuderias fazem valer os seus interesses. Vai
ser preciso mexer com isso em algum momento, para evitar que a credibilidade da
disputa não seja maculado, ou pelo menos, não comprometido como pode ficar. Ou
então, passemos a ter apenas um piloto por time, e aí, ficamos todos
resolvidos.
É uma situação que
poderá ser muito complicada de se resolver. Isso ainda vai dar muita discussão,
e boa parte delas bem acalorada. Bem, os times acabam pedindo por isso, então,
que aguentam a enxurrada de críticas. Resta saber se as diretorias das empresas
gostarão da brincadeira... Acho que o pessoal da Mercedes em Stuttgart deve ter
tido uma semana cheia desde domingo...
Daniil Kvyat está de volta como
piloto titular na F-1. O piloto russo, despromovido e enxotado da Red Bull e
despedido da Toro Rosso, vai voltar como piloto... Da Toro Rosso! A seca de
pilotos, consequência da truculência de Helmut Marko no programa de
desenvolvimento da Red Bull, deixou os taurinos praticamente sem nomes para
promover a seu time B em 2019. E acabaram engolindo em seco, e tendo de trazer
Kvyat de volta, que acabou aceitando retornar como piloto daqueles que há quase
dois ano atrás lhe deram uma tremenda rasteira na carreira, na ânsia de
promoverem o seu queridinho Max Verstappen, algo que até se justificou, em
razão do talento do holandês atrevidinho, mas que não precisava ter feito uma baixaria
daquela com o russo, que não era nenhum pé de breque, embora estivesse tendo
alguns problemas. Resta saber se darão o devido valor a ele agora, mas querem
apostar que, na primeira oportunidade, vão espinafrar o piloto novamente? Não
duvido muito não... Só espero que Kvyat responda à altura à nova chance, e cale
a boca dos mada-chuvas da Red Bull. Por enquanto, só elogios, dizendo que
Daniil é um piloto mais maduro e experiente agora, graças a sua experiência
como piloto de simulador na Ferrari... Para elogiarem assim, tiveram que
engolir mesmo os erros que fizeram com muitos pilotos de seu programa de
formação...
A Hass, contrariando as
expectativas de muita gente, renovou com sua dupla de pilotos para a próxima
temporada da F-1, fechando assim duas vagas que estavam sendo muito cobiçadas
por pilotos que estão sem cockpit definido para 2019. Kevin Magnussen e Romain
Grosjean ganharam mais um voto de confiança de Gene Hass, e terão uma nova
temporada para mostrar o que valem, apesar dos rolos e confusões que se meteram
neste ano, e que poderiam ter feito o time americano ser facilmente o 4º
colocado no campeonato de construtores. A escuderia faz sua melhor temporada
desde que estreou na F-1, e tem tudo para continuar evoluindo no próximo ano.
E, se Magnussen e Grosjean pararem de se envolver em confusões na pista, quando
não tem azares alheios a seu controle, tem tudo para fazerem um excelente ano.
Na opinião de alguns, contudo, faltou mais ousadia e determinação à escuderia,
que poderia ter tentado arrumar novos titulares, para tentar dar um salto de
performance ainda mais elevado. Mas também pode significar que muitos nomes
visados infelizmente não eram viáveis, ou tinham algum fator que complicava a
situação, como é o caso de Esteban Ocon, que até o presente momento, está
praticamente sem vaga para o próximo ano, sendo que seu vínculo com a Mercedes
acabou até atrapalhando algumas negociações envolvendo o nome do piloto.
Portanto, Magnussen e Grosjean que deem graças aos céus pela nova chance, e
tenham um pouco mais de juízo nas próximas corridas, começando aqui mesmo em
Suzuka...
Quem também fechou sua dupla de
pilotos para o próximo ano é a Sauber/Alfa Romeo, com a confirmação de Antonio
Giovinazzi como companheiro de Kimi Raikkonen para 2019. Com isso, Marcus
Ericsson finalmente dança, devido aos poucos resultados que sempre demonstrou
na escuderia, desde os tempos em que era companheiro de Felipe Nasr. Mas o
sueco ainda está ligado ao time, onde permanecerá como piloto reserva e de
testes.
E a MotoGP chegou à Tailândia
para a estréia do país do sudeste asiático na classe rainha do motociclismo. A
pista do Chang International Circuit tem uma extensão de 4,6 Km, com 5 curvas
para a esquerda e 7 para a direita. A corrida, que terá transmissão ao vivo
pelo SporTV2 a partir das 4 da manhã, horário de Brasília no domingo, terá 26
voltas, com um percurso total de 118,4 Km. Na pista, Marc Márquez tentará
aumentar ainda mais a sua já imensa vantagem de 72 pontos na classificação do
campeonato, à frente do italiano Andrea Dovizioso, da Ducati, que vai tentar
dar o máximo para evitar que isso aconteça. Até o fechamento desta coluna,
ainda estava em dúvida a participação de Jorge Lorenzo na prova. O piloto
espanhol machucou o pé na queda que sofreu na largada da última corrida, na
pista de Aragón, Espanha. Lorenzo largou na pole, mas logo na primeira curva,
caiu sozinho da moto, dando adeus à corrida, e ainda sofrendo esse ferimento.
Jorge desandou a acusar Márquez de ter lhe forçado a ir para aquele ponto da pista,
onde acabou caindo, o que foi visto como uma desculpa completamente
esfarrapada, já que as imagens mostraram que o piloto da Honda em nenhum
momento empurrou seu compatriota da Ducati na tomada do traçado da curva.
Posteriormente, Lorenzo esfriou a cabeça e retirou suas críticas, mas isso já
prenuncia que o clima na equipe oficial da Honda em 2019 tende a pegar fogo, já
que Lorenzo e Márquez serão companheiros na escuderia...
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