sexta-feira, 25 de maio de 2018

DUELO NA CLASSIFICAÇÃO

O belo visual de Monte Carlo é um dos charmes do Grande Prêmio de Mônaco.

            A Fórmula 1 está no seu palco preferido do campeonato, o Grande Prêmio de Mônaco, e tudo indica que poderemos ter mais emoção amanhã, no sábado, do que propriamente no domingo, durante a corrida. E o motivo é simples: Monte Carlo é uma pista de rua, extremamente estreita, e sem pontos de ultrapassagem. Aqui o piloto só supera seu concorrente à frente se ele abrir a guarda e for pego de surpresa. Do contrário, mesmo que tenha um carro muito superior, ganhar a posição na pista é uma tarefa dificílima.
            Não é por acaso que a maior batalha deve ser travada amanhã, durante o treino de classificação. Largar na frente é essencial, e a disputa pela primeira fila tem tudo para ser acirrada, com Ferrari, Mercedes e Red Bull dando tudo por tudo para ver quem largará na pole-position. Pelo resultado dos treinos livres desta quinta-feira, a Red Bull tem tudo para conquistar a primeira fila, com Daniel Ricciardo a marcar o melhor tempo, seguido de Max Verstappen. Mas é no treino livre de amanhã que as escuderias mostrarão sua força para a classificação. Ninguém vai querer ficar atrás de ninguém, o que pode significar a glória ou a ruína de sua estratégia de corrida. Ainda mais se quem ficar na sua frente for Max Verstappen, levando-se em conta o currículo do atrevido holandês na pista...
            É a chance de ouro para o time dos energéticos. O excelente chassi RB14, concebido por Adrian Newey, é um carro ágil e eficiente, cujo único ponto fraco é a unidade de potência da Renault, que não possui a mesma força de suas rivais Mercedes e Ferrari. Mas há apenas um ponto de alta velocidade neste circuito, na saída do túnel, na aproximação da freada da chicane do porto. No restante do traçado, a potência maior não faz tanta diferença, e a agilidade de um chassi bem equilibrado, e o braço do piloto podem fazer uma grande diferença, e estas são as grandes armas da escuderia austríaca. O carro de Ricciardo e Verstappen possui excelente aerodinâmica, e é muito estável, e eles conseguiram se entender muito bem com os novos compostos hipermacios disponibilizados pela Pirelli, que conseguiram se mostrar até mais duráveis do que todos pensavam, e devem ser muito explorados pelos times na estratégia de corrida, que em tese deve ser apenas de uma parada para todos.
            Depois de perder a liderança do campeonato nas últimas duas corridas, Sebastian Vettel e a Ferrari não vão querer dar mole para o azar por aqui. No ano passado o time de Maranello dominou a corrida monegasca, monopolizando a primeira fila, e liderando de ponta a ponta, com vitória de Vettel e Kimi Raikkonen, o pole, chegando em segundo. Lewis Hamilton teve uma classificação pífia, saindo de 14º, para terminar em 7º, enquanto Valtteri Bottas largou em 3º e finalizou em 4º. É o panorama que Vettel espera repetir neste domingo, para tirar o prejuízo dos 17 pontos de vantagem acumulados por Hamilton após o seu triunfo no GP da Espanha. No retrospecto geral do ano, a Ferrari parece bem mais forte que o time alemão, apesar de ontem não termos uma idéia precisa da força dos carros vermelhos nesta pista, lembrando que o time italiano costuma usar os treinos livres de sexta para acumular quilometragem e dados do comportamento dos carros. Menosprezar a competitividade de Vettel e Raikkonen não é aconselhável, e não é pelo fato de o time rosso não ter sido tão competitivo como se esperava em Barcelona que podemos esperar um desempenho similar aqui no Principado, muito pelo contrário. Depois de surpreender nas duas primeiras corridas, a Ferrari acabou superada nas duas seguintes mais pelas circunstâncias do que pelo desempenho dos rivais, tendo apenas a corrida de Barcelona como ponto negativo. É hora de dar o troco e recuperar o favoritismo, reequilibrando a disputa.
Pista mais lenta do campeonato, as estreitas ruas do Principado de Mônaco são um pesadelo para os pilotos, com os guard-rails colados junto à pista, e que não perdoam o menor erro, como a violenta batida de Alex Caffi em 1991 que partiu o seu carro ao meio (abaixo), felizmente sem ferimentos para o piloto.
            Uma nova derrota aqui poderia complicar os planos para as próximas corridas. A Mercedes parece estar um pouco atrás, mas se a Red Bull mostrar estar realmente forte para a disputa como vimos nesta quinta-feira, isso pode embaralhar um pouco a situação para a Ferrari. E um erro poderia colocar seus pilotos atrás de carros mais lentos no grid, portanto, o treino de classificação vira um autêntico vai ou racha. Só que estamos falando não apenas da pista mais travada, mas também da mais estreita. Os guard-rails estão bem ali do lado, e é preciso ser agressivo na pilotagem para conseguir tempo. Mas um pequeno erro na perspectiva de espaço, e tudo pode ir para o brejo. Não importa se o toque for leve, o esforço pode ser integralmente comprometido. Mônaco não perdoa erros, e o equilíbrio entre arrojo e precisão é bem tênue aqui.
            E, nesse quesito, Mônaco é uma pista “democrática”: qualquer piloto pode se azarar no pior momento, ou até mesmo quando tudo parece estar sob controle. Que o diga Ayrton Senna em 1988, quando liderava a corrida com quase um minuto de vantagem para Alain Prost, e mesmo assim perdeu a concentração, e acabou batendo nas grades de proteção em Portier, dando adeus a uma corrida praticamente ganha. Nélson Piquet detestava esta pista, mesmo morando por aqui, e definia a corrida como “andar de bicicleta no meio da sala”, e não era exatamente exagero. Já perdi a conta de quantos acidentes vi nesta pista, alguns bem violentos, como a batida de Karl Wedlinger em 1994,ou Alex Caffi arrebentando seu Arrows nas curvas da piscina em uma batida tão forte que seu carro partiu ao meio.
            O campeonato deste ano tem sido interessante até aqui, com a corrida da Espanha sendo a única completamente maçante e sem disputas que entusiasmassem. Mônaco pode até ser uma corrida igualmente enfadonha, ou até mais, pelo circuito não possibilitar ultrapassagens sem que o piloto à frente baixe a guarda, mas pela natureza da pista, sempre há a possibilidade de algo inesperado acontecer, e ultimamente as intervenções do Safety Car tem bagunçado bastante com o andamento das provas, dependendo de seu momento de necessidade. Podemos ver domingo uma corrida cheia de confusões, uma prova interessante, ou uma procissão em alta velocidade. Tudo isso pode acontecer, ou até nada disso pode acontecer. Por isso mesmo, disputa pra valer, no tudo ou nada, será mesmo amanhã, na classificação. E veremos quem terá mais braço, carro, ou simplesmente sorte para sair ileso das armadilhas que esta pista costuma apresentar àqueles que a desafiam. E com erros que nunca são perdoados... O guard-rails de Monte Carlo sempre são convidativos...


Ed Carpenter conseguiu a pole-position para a edição 2018 das 500 Milhas de Indianápolis neste domingo. O piloto, que é dono de seu próprio time, só corre nos circuitos ovais, e nos últimos anos sempre tem demonstrado uma performance de respeito na Brickyard, mas nunca venceu a corrida. Será que este ano ele finalmente desencantará? Não dá para fazer especulações porque Indianápolis é Indianápolis, e mais do que velocidade, é preciso ter sorte, para ficar longe dos incidentes que fatalmente poderão surgir durante a corrida, competência para tudo dar certo nas paradas de box, e acima de tudo, talento para conseguir superar os desafios do circuito oval mais famoso do mundo, que não apenas impõe, como exige respeito. O Brasil terá três representantes na prova: Tony Kanaan e Matheus Leist fizeram um bom treino de classificação, e largam em 10º e 11º, com boas perspectivas de disputa para as 200 voltas da prova. Hélio Castro Neves, da Penske, é sempre tido como um dos favoritos, e o fato de ser o maior vencedor da Indy500 presente no grid atual só reafirma o retrospecto do brasileiro. Tido como um dos favoritos à pole, Helinho acabou decepcionando no momento decisivo, e vai largar apenas em 8º, o penúltimo do grupo de elite da sessão do “Fast Nine”, os nove pilotos mais rápidos que batalharam pela pole da corrida no último domingo. Mas se Hélio não conseguiu a pole, a ordem agora é centrar forças na corrida, e mesmo com a fama e destaque que a pole-position conferem ao piloto, a posição de largada numa corrida de mais de 800Km como a Indy500 não costuma significar muito, uma vez que já tivemos até ocasiões em que o último piloto no grid venceu a corrida. E isso significa que, se conseguirem fazer sua prova como esperam, nosso trio de pilotos inteiro pode ter chances de vitória. Tony Kanaan tentará seu segundo triunfo em Indianápolis, e Matheus Leist tem tudo para brilhar na prova também. Mas a parada será dura, e pelo menos um terço do grid tem boas chances de vencer. Não fosse Carpenter, a trinca regular da Penske teria monopolizado a primeira fila do grid: Simon Pagenaud larga em 2º, com Will Power em 3º, e Josef Newgarden em 4º. Quem também é um forte candidato à vitória é Sebastien Bourdais, da Dale Coyne, que larga em 5º. E mesmo largando em 9º, Scott Dixon nunca pode ser subestimado. A Bandeirantes e o canal Bandsports transmitem a corrida ao vivo neste domingo, a partir das 13 horas, pelo horário de Brasília. Será a 102ª edição das 500 Milhas de Indianápolis, cuja primeira prova foi disputada no ano de 1911, continuando até hoje, tendo se tornado uma das mais famosas corridas do mundo do esporte a motor.
Takuma Sato venceu a Indy500 no ano passado, com Hélio Castro Neves em 2º lugar. Quem vencerá a corrida este ano?


Pela primeira vez em muitos anos, o número de carros inscritos para as 500 Milhas de Indianápolis superou o número tradicional de 33 vagas no grid. E tivemos boas e más surpresas. Entre as positivas, o retorno de Danica Patrick para sua derradeira prova como piloto profissional, depois de quase uma década competindo na Nascar. Danica conseguiu fechar um acordo com o time de Ed Carpenter para correr na Indy500 deste ano, ganhou um bom carro, e mostrou que o longo tempo longe dos monopostos, pelo menos na pista oval da capital do Estado de Indiana, não a fez perder o jeito: Danica larga em 7º lugar no grid, e tem tudo para fazer uma corrida de despedida digna no domingo, quando irá pendurar o capacete e cuidar de outros assuntos na vida. Em compensação, dois pilotos que poderiam ser sensação na corrida tiveram destinos diferentes no ”Bump Day”: James Hinchcliffe não conseguiu obter um rendimento decente de seu carro, e acabou não conseguindo ficar entre os 33 mais rápidos a garantir vaga no grid, ao lado da veterana Pippa Man. Como em Indianápolis quem se classifica é o carro, e não o piloto, especulou-se que Hinchcliffe poderia assumir o carro de Jay Howard, que larga em 28º lugar, e defende o time da Schmidt/Peterson nas 500 Milhas. Tal procedimento já foi utilizado inúmeras vezes por pilotos que ficaram de fora do grid, e largaram nos carros classificados por colegas de time, dependendo de motivos esportivos e/ou financeiros. Mas o piloto canadense resolveu assumir a derrota, e está de fora da corrida. Aliás, nesta quinta-feira, como consequência da eliminação de James da Indy500, o time demitiu Leena Gade, engenheira de corrida do carro do piloto. Quem também quase ficou de fora foi Alexander Rossi, vencedor da centésima edição da prova, e que larga apenas em 32º lugar. O piloto da equipe Andretti minimiza o mau resultado do treino, alegando que na corrida terão muitas condições de ultrapassar os concorrentes, mas o susto foi grande de acabar ficando de fora da prova, com o carro negando performance no treino decisivo.


Surpresas de eliminação de pilotos vencedores da Indy500 em futuras participações por não conseguirem ser rápidos para conquistar uma vaga no grid não é algo incomum. Se as circunstâncias e a preparação não forem feitas da forma ideal, o treino de classificação não perdoa, seja um piloto campeão, ou alguém que se destacou apenas em Indianápolis. E não há exemplo melhor do que o fiasco da participação da Penske na edição de 1995, quando sua dupla de pilotos, campeões da Indy e das 500 Milhas, simplesmente ficaram de fora da corrida por não conseguirem performance para conquistar uma vaga no grid. E estamos falando da poderosa Penske, que no ano anterior havia massacrado a concorrência na mesma corrida. E os pilotos em questão eram Émerson Fittipaldi e Al Unser Jr., ambos bicampeões na Indy500. E olha que eles tentaram com vários carros, alguns até emprestados. Foi um ponto negativo na história da Penske na Brickyard, mas não foi o fim do mundo: Roger Penske venceria as 500 Milhas outras seis vezes mais tarde, e o time é novamente um dos favoritos à vitória neste domingo.
Com um chassi Lola emprestado da equipe Rahal, Al Unser Jr. e Émerson Fittipaldi tentaram se classificar para a Indy500 em 1995, mas acabaram eliminados do grid, numa falha monumental da Penske.


O Grande Prêmio de Mônaco e as 500 Milhas de Indianápolis raramente foram disputados em fins de semana diferentes nas últimas décadas. E geralmente, quem está cobrindo a corrida de F-1 sempre quer acompanhar pela TV o que está acontecendo do outro lado do Oceano Atlântico. Assim, não era raro o pessoal terminar o quanto antes de produzir seus materiais na sala de imprensa, depois da bandeirada de chegada, enviar as reportagens, e correr para os bares e restaurantes mais próximos onde houvesse uma TV sintonizada na Indy500. Apesar da correria, a maior parte do pessoal até que conseguia resolver tudo e ir descansar curtindo a prova dos Estados Unidos. Só que este ano, com a decisão do Liberty Media de atrasar a largada de várias corridas da F-1 em uma hora e dez minutos, a corrida em Monte Carlo começará mais tarde, e terminará também mais tarde, diminuindo o tempo hábil para finalizarmos o serviço e corrermos para assistir a Indy500 em algum lugar nas imediações. Bom, primeiro o dever, e depois o prazer... Mas a correria na sala de imprensa vai ser bem maior este ano do que nos anteriores...

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